Estamos sentados todos comendo suas refeições compradas no shopping, eu e Anderson pedimos sushi, ele ama assim como eu, as crianças pediram hamburger com fritas. Observando eles, percebo como as coisas mudam principalmente opiniões, há alguns anos atrás eu não me veria aqui sentada com filhos e marido, eu não pensava nem nisso, sempre achei que não conseguiria ser como Helena e ter filhos, família, paciência para constituir tudo isso.

— Mãe – chama Emanuel – posso ir nos brinquedos?

— Claro – digo – pegue o seu cartão.

Ele sai correndo pelo shopping em direção aos brinquedos de playground, eu sempre falo para esse menino não correr por ai, parece que as orelhas são enfeites. Fico vendo ele chegar no play e volto meu olhar para Gabriela comendo seu hamburger, quero proporcionar a elas tudo de bom, escola boa faculdade, tudo o que estiver ao meu alcance para que cheguem onde estou agora, não que eu queira que eles passem por tudo o que passei, mas quero que se dediquem para ter um futuro promissor. Olho para Anderson bebendo seu suco de laranja, como eu o amo, e talvez se eu não tivesse desdenhado dele naquela época, talvez não estivéssemos casados hoje.

— Tô indo dar umas voltas para ver as lojas – diz Gabriela.

— Ta bom, mas não demore. – digo e vejo ela saindo sem me responder.

Penso no dia em que fui à cafeteria com a minha mãe depois que saímos do consultório da doutora, não lembro o nome dela agora, nos sentamos naqueles banquinhos de frente uma para outra, e eu fiquei observando uma família que não estava muito longe de nós, lembro que me peguei pensando se eu estava fugindo daquilo, se eu tinha tomado à decisão certa, se aquilo era só para fugir de algo que alguém estava me impondo. Mas hoje vejo que fazer aquela cirurgia não impediu o futuro que é meu presente, eu tenho aquela família que observei na cafeteria.