Tudo aquilo lhe apertava de forma completamente desconfortável e inoportuna.

As meias, os saltos, a saia, e principalmente uma peça desnecessária a qual trajava e não sabia o motivo adicional para a tal a não ser a chacota extrema. Mas não iria simplesmente tirar e encerrar por ali, de maneira nenhuma. Estava apenas pagando a língua, aquilo seria rápido.

— Eu disse que era capaz, Akashicchi. Foi muita maldade de sua parte dizer que eu não iria conseguir. — Apesar da mágoa existente nas palavras de Kise, esse tinha um sorrisinho completamente impagável pela visão que estava tendo de Seijuurou. Aquilo não podia ser comprado ou substituído, era único de muitas formas.

Akashi recusou-se diante do sibilar de Ryouta, apenas encarando a movimentação dali com uma expressão calma até demais, e um tanto cética a respeito de tudo. Não era problema algum o que fora proposto, e iria tirar aquilo completamente de letra. Era uma pena para eles acharem que iria perder.

Apesar de que o que eles realmente queriam, já haviam conseguido: enfiarem o ruivo dentro daquelas vestimentas femininas.

Seijuurou usava meias pretas que chegavam até a metade de suas coxas, apertando essas de forma um pouco dolorosa; trajava uma blusinha fofa com estampa de gato branco, sendo o tecido em um rosa pálido enquanto por seu colo e ombros desciam fios compridos e ruivos. Claramente aquilo não era seu cabelo. Uma bendita peruca a qual estava sendo forçado a usar igualmente com uma saia preta e extremamente curta, assim como o par de botinhas brancas.

Aquilo chegava quase a beirar o ridículo se não fosse verdade. Apesar de que isso não diminuía o fator de estranheza.

— Tetsuya, pare de tirar fotos. — Akashi pediu pela última vez, encarando a figura de Kuroko ainda com um celular em mãos e uma luz de flash junto de um barulho de captura que já estava começando a irritar o ruivo.

Ele já estava naquilo desde que se vestia ao banheiro da estação. Pra que tantas fotos?

— Você está muito bonita, Akashi-kun. — O garoto fizera questão de enfatizar o chamar feminino para com Akashi, sendo que aquilo lhe arrancou até mesmo uma mínima expressão de divertimento por poucos segundos, a qual o ruivo negou-se com a cabeça logo em seguida.

Era indiscutível; realmente, estava bem até demais com aquele traje, chegava a ser estranho de muitas formas. E também ruim de todas as possíveis maneiras existentes. Parecia de fato com uma garota, e somente um homem sabia o quão estranho e de muitas formas preocupante aquilo poderia ser.

Supostamente era para ter denunciado sua figura masculina desde que colocara as peças e peruca, porém, não fora bem assim. As únicas pessoas as quais lhe estranharam foram os homens os quais estavam no banheiro no momento que fora se trocar. Era até compreensível, uma hora você vê entrar um homem bem arrumado e completamente sério, e depois, sai uma garotinha que aparentemente gostava de gatos em um traje quase escolar?

Aquilo chegava a ser errado também em muitos níveis os quais não preferia nem sequer comentar.

— Vou repassar as regras! — Kise cantarolou de forma divertida pela situação, mesmo que Akashi já houvesse repetido que tinha compreendido e não precisava daquilo. Quando o loiro iria abrir a boca novamente, o barulho do trem se aproximando da estação e plataforma se fez soar por ali. — Ei, ei! Espera, Akashicchi. Eu nem repeti! — Ryouta se afobou ao notar ser ignorado pelo ruivo.

— Nah, Kise. Ele não vai roubar, vamos estar de olho. — Takao que até então realizava o mesmo que Tetsuya pronunciou-se num riso que segurava já há muito tempo. Aquilo iria ficar bem mais do que para memória, era quase seu mini troféu.

Seijuurou apenas desprendeu um suspiro breve, deixando à mostra o sutil repuxar de lábios ao canto direito, pensando naquelas palavras enquanto o trem terminava de parar a plataforma e suas portas começarem a abrir. Como se fosse se rebaixar a um nível tão infeliz para precisar de trapaças em algo.

Como o dito, Akashi adentrou um vagão diferente dos outros três, procurando um lugar livre, o qual não era difícil no momento. Não era lá um horário de pico, apesar de ainda ser uma estação de grande movimentação.

Situando-se em um dos bancos em que ficava de costas para as janelas, acabara por fazer exatamente isso de frente para o combinado. Sentar-se em frente a alguém, e esse, obrigatoriamente tinha de ser um homem.

Suspeitava às vezes que aquilo ia até mais um pouco para o pessoal do que o de costume. Não que se fosse algum problema. Notando o fechar das portas o engatar repetido do trem para sua próxima estação, notara de soslaio os “amigos” ao outro canto do vagão, os quais se separavam apenas por uma passagem estreita semelhante a molas. Era perfeito para a visão que queriam.

O foco do ruivo estava em igualmente um dono de madeixas avermelhadas, situado a apenas no máximo dois metros de si, e que para o bem de cumprir aquilo, não estava dormindo. Seijuurou o observou por alguns segundos antes de qualquer ação, determinando que tivesse certo tempo até que ele ousasse sair em seu destino.

O homem com algumas madeixas negras as pontas das rubras assim como seus olhos mais escuros igualmente ao oposto da “garota ruiva” mantinha-se ainda alheio ao novo presente no vagão, já que parecia um tanto cansado de seu dia e focalizava qualquer canto neutro. Provavelmente acabou de sair de serviço e estava tendo o merecido caminho de volta para casa. Sentiria pena de pegar um alvo assim caso não fosse si.

Resolvendo chamar um pouco de atenção, Akashi acabou por ajeitar mais a posição, jogando o cabelo ruivo longo da peruca sobre os ombros, não desfocando a visão do homem que como ele queria, notou-o por tempo o suficiente. Suficiente para sentir o olhar heterocromático pesar sobre si de maneira esquisita, sendo emoldurado por uma beleza diferente.

Seijuurou não perdeu tempo em repetir o máximo da pose a qual o homem ruivo se encontrava, que era um tanto largada demais e um pouco das pernas abertas. E pareceu que aquilo surgiu efeito da forma que pensou.

O rapaz até então que não estava dando muita atenção para os detalhes ao seu arredor mudou de posição, sentando-se de maneira mais ereta ao arrumar também a bolsa preta ao ombro que estava repousada no banco vazio ao seu lado. E para sua curiosidade, a garota fez o mesmo, de imediato trazendo um franzir da testa e sobrancelhas ao semblante do homem.

Se não fosse Kuroko, Takao e Kise já teriam denunciado tudo o que estava acontecendo, porque as duas hienas não conseguiam parar de rir e falar a cada simples respiração que detectavam daqueles dois que observavam. Diferente deles, Tetsuya mantinha-se quieto com um sorriso por de trás da tela de seu celular, o qual estava gravando todos os movimentos que aconteciam naquele vagão em especial. Não era como se fosse deixar aquela cena simplesmente ser apenas gravada em suas mentes, jamais.

Sinceramente, Akashi não tinha muita fé que aquilo daria certo, que no mínimo acabaria parando de frente e imitando alguém sem qualquer resquício de humor e até mesmo bem irritadiço por se incomodar com um detalhe assim, levando isso para outros níveis. Contudo, quando notou o homem largar a mochila e somente sorrir rápido antes de fazer uma careta, na espera que si repetisse, quase soltou um riso desacreditado.

Ele deveria estar achando que era uma criança ou quê?

Seijuurou repetiu os atos, mantendo os traços para o feminino ao que podia, mas não deixando de tentar parecer tão idiota como o homem. O sorriso que despontava de si era desafiador apesar de estar estranhamente divertindo-se com aquilo.

O ruivo começou a realizar movimentos de algum tipo de dança com a parte superior do corpo, que de início era um pouco confuso, todavia logo era notável ser um pouco de “robô” junto ao hip hop ainda sentado. Parecia algo das ruas, e não as do Japão.

Akashi sentiu-se ainda mais intrigado por aquele detalhe, apesar de não achar grande coisas estrangeiros ou só o um detalhe que ele talvez trouxe o momento pelo calor das ações. Não demorou em segui-lo nisso, terminando com um apontar e leve mexer nos dedos finos que estava lhe chamando para mais.

O cansaço que o homem esboçava quando entrou pareceu ter dado lugar para um chama ardente instigada por aquela simples brincadeira. Era extremamente suscetível à desafios por menores que fossem. A vida era composta por coisas normais, mas bem aproveitadas, e tinha que usufruir disso caso pudesse.

Este por sua vez em um movimento rápido que os olhos de poucos acompanharam fora de deixar o solo com os pés do trem, subindo em um agachar para o banco que estava sentado em manter um equilíbrio de trazer surpresa no ato em geral. Algumas pessoas já encaram aquela competição, e assim como os dois, pareciam gostar.

Ele parecia se sentir bem confiante e vitorioso com a postura e sorriso emoldurado diante de Seijuurou. Suas botinhas brancas tinham um pequeno salto no calcanhar, mas ele devia estar subestimando pelo fato da figura ser feminina. Deixou os pensamentos de lado no momento que seus pés saíram o chão do vagão, não tendo dificuldade alguma em ter um equilíbrio de dar inveja a qualquer um.

A saia preta levantou-se um pouco nas coxas devido a posição, mas era o que menos importava. Aquilo claro surpreendeu muitos, e há também os vários que queriam dar uma abaixa e espiada a mais pela vestimenta da menina. Inclusive seus amigos não sabiam mais qual reação ter.

Kise e Takao riam tanto que era basicamente como ter colocado como placa “estamos aqui para zoar com ele”. Porém nada mais daquilo, do desafio, de tudo fazia mais alguma diferença para Akashi. Estava tão entretido quanto o outro homem à sua frente.

Mas diferente de si, ele estava sem muita mais ideia de como fazer algo que a garota não pudesse repetir. Não gostava de partir para o fato de algo injusto, contudo, não tinha mais muita saída. Além disso, tinha que descer na próxima estação.

Como um ultimate, o homem subiu a camisa que usava, ficando nu por essa parte do corpo. Isso não teria como uma menina pudesse fazer.

Akashi sentiu-se rir, e possivelmente isso ficou audível para seu desafiante. No momento que abaixou os braços em insinuar levantar sua vestimenta fofa, foi notável a surpresa do homem, e excitação das demais pessoas com aquilo.

Seus amigos por um momento até pensaram em pará-lo, mas era loucura. Akashi era a pessoa mais sã que conheciam, se ele estava levando até aquele nível tinha motivo.

E assim o fez. No momento que a blusinha rosa pálido com o gatinho subiu por seu torso sem qualquer peça a pele clara e lisa, Kuroko tinha que estar gravando as reações alheias, porque essas eram as melhores. Era literalmente lisa. Para tristeza da maioria, não havia seios ali como era o esperado, e foi o momento que quebrou toda aquela aparência de Seijuurou e disfarce, inclusive diante do homem.

Para sua surpresa, ele sorriu, colocando a própria peça de volta, dando aquilo tudo por encerrado e amenizando o clima aos poucos. Pareceu fuçar a própria bolsa na procura de algo e escrever conforme levantava-se, sendo anunciada a próxima estação.

Seijuurou fez o mesmo com as vestimentas e posição, arrumando-se dentro daquilo tudo ao melhor que podia. Deveria sair dali pelo menos de forma decente.

As portas se abriram com somente algumas pessoas a saírem, inclusive a presença dos dois ruivos, tendo Akashi parar ao meio da plataforma em esperar os amigos lhe acompanharem também.

— Ei, garota. — O tom ironizado do pronome e voz desconhecida fez Seijuurou olhar para trás por curiosidade, gostando da conclusão da visão. — Foi divertido. — Era ele, com uma cara de quem não parecia em algum momento ter se abalado ou algo do tipo. Parecia até mesmo muito simpático.

— Sim, também achei. — Akashi devolveu o humor de forma breve, vendo já seus amigos saindo em risos do outro vagão a se aproximarem.

Mas antes, o homem lhe entregou um papel rabiscado, que fez os olhos heterocromáticos lhe encarem por breves segundos com um arquear interessado de sobrancelha.

— Vamos repetir qualquer dia desses. — Com um sorriso sugestivo apesar de caloroso, se despediu, tomando lugar para subir as escadas do local e ir embora.

— Akashicchi! O que foi aquilo?! Era ele?! — Kise assim como os outros dois viram a cena de relances finais, vendo Akashi encarar a saída do desconhecido.

— Ele sabe que você é um cara, não é? — Takao caçoou levemente, vendo junto a Kuroko as gravações e todas as fotos. Iriam salvar até na nuvem, mas aquilo tinha que ser eterno de todas as formas possíveis!

— Acho que foi por isso mesmo que ele se interessou no Akashi-kun. — Tetsuya que parecia alheio aos seus feitos no celular, comentou pelo olhar do ruivo, notando assim como os outros o que havia no papel.

Um número de telefone celular e o nome.

Kagami Taiga, hn?

— Vamos beber. — Akashi pegou sua bolsa que estava com Kise, verificando o celular por alguns segundos.

Os comentários deles em uma celebração tosca se passou vago por sua cabeça enquanto digitava algo rapidamente, amassando o papel, mas não o jogando fora. Enfiou dentro dos pertences a sua bolsa, olhando a tela do aparelho com o nome Taiga e o novo número na lista de contatos.

Queria e iria repetir com certeza, para melhor.