Sonhos opostos, mundos iguais escrita por Sassu


Capítulo 2
I've been here all day




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No dia seguinte o aluno novo não estava na aula e nem no pátio principal (provavelmente deve estar irritando alguém). Durante o almoço fui até a sala do conselho falar com a Sabrina, e encontrei os gêmeos aparentemente me esperando:

— Kate! Que ótimo te ver por aqui. – a Tayla me recebeu com um imenso sorriso enquanto seu irmão jogava no canto da sala – A presidente ouviu sobre um aluno matando aula na biblioteca e pediu para que você resolvesse isso.

— Eu? Por que?

— Bem, seu trabalho é manter os alunos na linha, certo? – ela sorria para mim, mas algo me dizia que eu deveria sair logo.

Subi as velhas escadarias até o último andar daquela imensa construção, amaldiçoando quem quer que fosse aquele aluno a cada degrau. Haviam poucas pessoas naquele imenso salão banhado em livros e a maioria estava apenas conversando, no fundo da biblioteca em uma mesa mais afastada um garoto sem o uniforme do colégio dormia pesadamente (estou com um péssimo pressentimento).

— Ei, Jean, acorde. – eu o cutucava com um lápis que eu tirara da minha mochila, mas ele não se mexia. – Anda Jean. Você não pode dormir na biblioteca, ainda mais para matar aula.

— Ok, ok. Já vou acordar. - disse com voz de sono enquanto virava a cabeça. Ele era muito fofo enquanto dormia.

Eu sentei do seu lado e apoiei a cabeça na mesa olhando para ele. Ele era tão bonito sem aquele sorriso malvado no rosto, parecia até uma criança. Eu sentia que poderia olhá-lo dormir para sempre. Um tempo se passou até eu notar que eu o estava encarando imaginando quão macio seu cabelo poderia ser. Até que ele abriu os olhos e sorriu maliciosamente.

— O que foi? Vai me olhar para sempre? – (eu poderia)

Nesse instante meu corpo esquentou e tive certeza de que estava vermelha. O máximo que consegui falar foi algo como:

— Ah… Am n…

— O que houve? Não sabe mais falar?

— V-você não pode matar as aulas… – (Sério mesmo? É o máximo que você consegue dizer? E ainda gaguejou, o.k.! Vamos tentar de novo) – Você não pode usar a biblioteca para matar as aulas.

— Então posso usar outros espaços da escola para dormir? – ele sorriu enquanto se levantava e meu corpo derreteu – acho que da próxima vez vou dormir no terraço então.

— Não, você não pode dormir na escola principalmente no horário de aula…

— Por que? Não foi o que você disse. O que aconteceu seu papai esqueceu de pagar a alguém para te ensinar a falar? Afinal você não fica nada atraente gaguejando.

— Ok, agora chega! - Eu explodi – Quem você pensa que é para falar de mim assim? Não pense que me conhece porque você não sabe nada sobre mim – eu estava de pé bem na frente dele agora – e só gaguejei porque não esperava que você acordasse tão cedo já que você estava até babando e acabei me surpreendendo.

Eu estava passando por ele para ir em direção a saída quando sua mão no meu pulso me impediu de andar. No momento em que me virei para encará-lo percebi o quanto ele estava próximo (qual o problema desse garoto com espaço pessoal?).

— Eu não babo. – eu podia ver a raiva em seus olhos e isso simplesmente me divertia.

— Você baba sim, e sabe o que mais – eu cheguei perto de seu ouvido e sussurrei sorrindo: – você ronca.

Sua mão escorregou de meu pulso deixando uma onda de eletricidade pela minha pele, mas eu ainda não estava livre. Assim que terminei de falar ele pôs a mão em minha nuca prendendo meu rosto a centímetros do seu.

— M-me s-solta.

— Eu menti antes – ele estava sorrindo de novo agora e meu rosto parecia queimar. – você fica extremamente irresistível quando gagueja.

Ele me soltou e eu quase cai.

— Seu sádico idiota! – eu gritei enquanto saia apressada da biblioteca e pude ouvir a risada dele enquanto eu deixava o lugar.

Desci a escada correndo e fui direto para a sala do conselho fazer a única coisa que me acalmava: tomar sorvete. Quando cheguei lá, a Sabrina estava mexendo em alguns papéis. A sala estava vazia pois todos os outros membros já tinham ido embora.

— Ah Kate, oi. Estava precisando mesmo falar com você. – ela foi dizendo enquanto eu pegava um sorvete de morango e o comia. – Então, tem um garoto novo que foi transferido para a sua sala certo?

— Nem me fale dele. – disse mal humorada, a única coisa que eu queia agora era me afogar naquela sobremesa gelada e esquecer que aquela criatura existia.

— O que houve? – a presidente me olhava preocupada mas apenas balancei a cabeça. – Certo… Parece que esse aluno é um tanto problemático e acabou sendo expulso de três escolas, o diretor acha que é porque ele não tem uma influência responsável por perto. Então o Tony quer que você seja a responsável pelo seu novo colega.

Eu engasguei com um pedaço de morando e a Sabrina precisou me ajudar a voltar a respirar.

— Por que tem que ser eu? Não pode ser mais ninguém? Eu não suporto ele, não quero tomar conta dele.

— Por que você não gosta dele, é apenas o segundo dia dele certo? O que ele pode ter feito que a irritou tanto? Eu soube que ele é muito lindo, mas enfim, foi um pedido especialmente do diretor não tem como você simplesmente recusar.

— Quer dizer que eu não tenho escolha?

— Acho que não, mas você pode tentar falar com o diretor.

— Espero que ele me escute.

O diretor estava no jardim conversando com alguns alunos, quando me aproximei ele sorriu e veio em minha direção deixando os alunos para trás.

— Senhorita, que bom vê-la. A Sabrina já falou com você?

— Sim e é sobre isso que eu …

— Ótimo, muito obrigado por me ajudar com isso e não se preocupe sua orientação ao Jean será posta em seu histórico escolar com uma recomendação feita por mim. – eu o encarava pasma o diretor realmente sabe fazer uma proposta irrecusável, mas por que ele estava fazendo tudo isso apenas para eu ser responsável pelo Jean? – e é claro que você sabe que uma recomendação redigida por mim é uma porta de entrada para quase todas as faculdades daqui certo?

— Certo mas por que? Por que tudo isso para me fazer ser responsável por ele?

— Kate, o Jean é um aluno difícil de lidar mas eu vi vocês na biblioteca hoje mais cedo e os dois pareciam tão próximos – ele pôs as mãos em meus ombros e apertou delicadamente – se alguém consegue colocá-lo na linha é você Kate. Eu sei que você não vai me decepcionar.

Ele me soltou e se voltou novamente aos alunos dando o assunto por encerrado.

Antes de dormir passei um tempo repassando minha conversa com o diretor ainda não consigo entender o por que de tudo isso. As três e meia da manhã eu desisti de tentar dormir e fiquei pensando em como iria ser agora que ele era minha responsabilidade. Definitivamente não queria encará-lo depois do episódio na biblioteca. Estava me decidindo se ainda valia a pena dormir quando o despertador tocou (aparentemente não vale).

Tomei um banho longo e relaxante e me entupi com o máximo de café que consegui. Nada de dormir nas aulas! Me maquiei tentando esconder o máximo que consegui das olheiras e tirando o ar de morta viva.

No colégio os professores se organizavam para passar toda a matéria que cairia nas provas e passavam cada vez mais lição para nos forçar a estudar. Estava tão cansada e com tanto sono que só notei que o Jean havia faltado quando fui a sala do conselho onde o Adam e a Tayla me disseram que ele não havia vindo (ainda bem).

— Se eu fosse você não ficava tão feliz – a voz de Sabrina saia de trás de uma pilha de papéis – Como responsável por ele é seu dever levar as lições e a matéria da prova, assim como checar se está tudo bem – ela levantou a cabeça até conseguir me ver. – Não adianta me olhar assim foram ordens do Diretor.

— Mas como ele espera que eu faça isso? Não tenho a menor ideia de onde ele possa morar.

— Você é membro do conselho Kate, tem acesso as informações básicas de todos os alunos – A voz de Adam era alta e animada – Eu te ajudo a procurar quando as aulas terminarem.

No endereço que achamos uma casa branca de três andares se erguia a minha frente. Toquei a campainha tremendo nervosa por poder ter errado o endereço e mais nervosa ainda pelo que poderia acontecer se eu tivesse acertado. Na terceira tentativa eu já estava desistindo quando a porta abriu e um Jean assustador me encarou:

— O que você faz aqui? – ele estava suando, seus olhos estavam vermelhos e haviam olheiras piores que as minhas em baixo deles.

— Você está bem? Parece doente – ele estava fechando a porta quando pus meu pé travando a porta (se lembre dos créditos estudantis) – Eu trouxe a sua lição e a matéria das provas.

Ele me olhou de cima a baixo e pegou da minha mão a sacola com os cadernos e o conteúdo. Logo que me virei para ir embora ouvi seu corpo se chocar com o piso de madeira.

Seu corpo ridiculamente pesado estava quente, e ele já não tinha quase força alguma para andar sozinho, assim ele apoiava quase que seu corpo inteiro em mim.

— Onde é seu quarto?

— Eu não preciso da sua ajuda – seu corpo estava ficando mais pesado.

— Jean, por favor me deixe te ajudar. Onde é seu quarto?

— Fica no segundo andar. – eu já olhava para aquela imensa escadaria pensando em como eu o levaria lá pra cima. – a sala fica nesse andar, segunda porta a esquerda.

Segui suas instruções e o coloquei em um imenso sofá de couro preto, o móvel estava com vários cobertores espalhados e as cortinas completamente fechadas, encima da mesa de centro consegui ver uma garrafa de água, alguns remédios e um termômetro.

— Onde estão seus pais?

— Eles não estão aqui – ele disse se virando no sofá até ficar de costas para mim. – você pode ir embora agora.

— Certo! – eu me dirigi até a saída do cômodo mas me detive.

Peguei o termômetro da mesa e pus em seu braço.

— O que você pensa que está fazendo? – ele me olhava visivelmente confuso.

— Medindo sua temperatura, o que parece que estou fazendo? – respondi tirando o aparelho depois de ouvir o aviso – Jean você está com 40° C!

— Parabéns você consegue ver números.

(Calma Kate, ele está com febre, agredir alguém doente é crime)

— Onde fica banheiro mais perto aqui? – ele apontou para uma porta ao lado da TV enorme.

Coloquei uma toalha embaixo da torneira aberta e torci para tirar o excesso, quando voltei o garoto tremia dobrado no sofá. Eu o cobri e pus a toalha úmida em sua testa, vasculhei alguns remédios que estavam na mesa e o dei um para abaixar a febre. Em algum momento o Jean acabou adormecendo mas a febre não abaixava, decidi ficar ali mais um pouco até os pais dele chegarem ou a sua temperatura diminuir, o que acontecesse primeiro. Resolvi estudar enquanto esperava mas quando levantei para pegar minha mochila senti sua mão delicadamente segurar a minha, ele me olhava mas não parecia ter foco em seus olhos.

— Não vá, por favor. – Seus olhos pareciam lacrimejar – Não me deixe.


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