As Mais Difíceis Palavras do Mundo escrita por Nonna


Capítulo 1
Quais serão?




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Nunca fui bom com palavras, o silêncio sempre me representou melhor, mas eu decidi que teria, ao menos, dizer aquelas que nunca tive coragem, afinal, esta é a minha última chance. Sim, minha última, e se eu nada disser, nada mais terei, como realmente nunca tive - ou se tive, me foi tirado, há muito tempo. Estou esperando o momento que você vai ficar sozinho, que poderei olhar nos seus olhos uma última vez e dizer o que acho que preciso.

Vim quando ninguém poderia saber, para que não houvesse intervenções ou eu tivesse que lidar com mais lágrimas, ou mais palavras duras, ou, pior, com sua tendência sempre estar do lado dos outros. Eu te entendo. Você sempre fica com quem te faz bem e em todos esses anos, eu só te causei dores, só te provoquei lágrimas, só te fiz sofrer. Eu também não escolheria a mim, se assim acontecesse, mas eu realmente não quero que escolha.

Hoje eu vim em busca de um pouco de sua atenção, vim para ser ouvido, já que é sempre você que fala, sempre é você que tentar enfiar alguma coisa na minha cabeça para me fazer mudar, sempre é você. Não quero que mude, porque sei que não vai acontecer, mas quero que saiba. Quero que saiba do que nunca soube, ou se soube, nunca teve certeza.

Procuro coragem onde não existe. Sempre fui tão forte, tão decidido, tão implacável em minhas resoluções, eu sempre soube o que queria e estava disposto a pagar o preço, mas parece que agora eu não sei se quero. Não sei se quero descobrir quanto terei de pagar pela minha decisão antiga, a de deixar o nosso lar.

Sim, nosso. Você fez desta vila o meu lar também e enquanto você existir nela, será a minha casa, para onde sempre voltarei. Ainda voltarei, para me encher do teu sorriso e do brilho gentil do teu olhar, pois sem isso, não aguentarei viver um dia se quer a mais.

Quando cheguei, todos só falavam do grande acontecimento dessa tarde. É o seu casamento e a vila inteira está feliz. Disfarçado em um jutsu, indetectável como só eu consigo o fazer, caminhei pelas ruas sem ser notado, observando o quanto a tua felicidade conseguia se espalhar por cada casa, cada pessoa, cada rosto, como se o mundo celebrasse a união a qual você vai involucrar. Até o sol parece mais brilhante e a natureza mais viva em tua única e exclusiva homenagem, afinal, você merece tudo isso.

Antes de ir te ver, passei um tempo observando a mulher que você escolheu para ser sua esposa. Lembro-me dela e do quanto ela não se aproximava de ti por medo ou por timidez, nunca soube dizer. Estava se arrumando e me parece feliz, plenamente feliz, apesar de eu não entender, ainda, por que queres casar com ela? O que Hyuuga Hinata tem de diferente, de tão especial, que te faça querer viver com ela uma vida, dividir uma vida?

Sakura me contou das ações dela na grande guerra, do quanto ela te apoiou e ficou ao seu lado. Se penso bem, agora, faz sentido que fique com Hinata. Será o melhor para você, com certeza é nisso que está pensando. Está ficando uma bela noiva, você a verá quando chegar o grande momento, uma noiva adequada para você.

Continuo caminhando pelas ruas de Konoha e vejo o quanto este lugar precisa da tua presença, da tua vitalidade, e refletido neles, eu vejo o quando eu preciso disso. Parado diante da minha antiga casa, ruínas apenas do que um dia foi o grande clã Uchiha, percebo que sou apenas uma sombra do passado dessa vila e do seu próprio passado. Se eu sou passado, então é lá que devo ficar, com todas as coisas antigas e as memórias de tudo o que você viveu. Tenho que virar a página, eu mesmo, para que nunca mais eu te machuque.

Eu entrei em minha antiga casa, pisando com cuidado na madeira antiga e pensei em tudo o que fora deixado ali. Ódio, amargura, insatisfação, inveja, feridas e chagas cicatrizando com os anos, mas… Amor. O amor do meu irmão, da minha mãe, da minha família, do meu clã: somos o clã do amor distorcido. Talvez seja por isso que tenho que te falar, tenho que abrir meu coração uma primeira e última vez.

Meu amor é distorcido, mas é sincero e verdadeiro.

Puro e intenso, como as chamas mais ardentes do fogo, meu amor por ti cresceu, pouco a pouco, alimentado pela tua brisa suave, resistindo ao frio do mundo e às tempestades da vida, aquecendo o meu peito e me dando forças para achar que ainda existiria esperanças para nós.

Começou como fagulha na palha, sem qualquer pretensão, sem que eu percebesse que estava crescendo dentro de mim. Tornou-se a pequena chama de uma vela, que iluminou-me na escuridão dos meus caminhos, fazia-me enxergar o peso da tua existência em minha vida e entender que sem você, tudo era nada… Você sempre foi o combustível do meu fogo.

É verdade, eu tentei por diversas vezes apagar essa chama, dar fim à brisa que lhe dava vida. Por diversas vezes, achei que finalmente ela iria se apagar, se extinguir de vez, mas continuava, como uma pequena luz de lamparina, resistindo, sem que eu visse. Quando dei por conta, já era tarde. Era uma chama eterna, poderosa, que assumia a intensidade e o tamanho que fosse preciso para me lembrar do teu poder sobre mim.

É, Naruto, meu peito queima por ti e essa chama machuca, acalenta, fere, cicatriza, aquece e consome tudo o que resta de mim, até que só exista a labareda inicial. Apego-me essa pequena fagulha para manter-me são, vivo e com forças para seguir, dia a dia, vencendo os obstáculos que me surgem, a fim de nunca fraquejar o meu amor por ti. Farei isso até os últimos dias da minha vida, porque sei que te amar é o alimento da minha alma, do meu fogo.

Sento-me na varanda da cozinha, fechando meus olhos por alguns instantes e me permitindo viajar ao passado, reescrever a minha vida uma vez, fazer você parte dela como agora quero que seja. Sua mãe e a minha seriam boas amigas, as mais íntimas; nossos pais, parceiros do ofício de proteger Konoha; meu irmão seria o nosso exemplo a seguir e eu e você… Nós dois viveríamos como irmãos.

Irmãos. Não, eu não quero isso. Irmãos não.

Acho que meus sentimentos por ti só existiriam nessa realidade dura e difícil, em que éramos rivais, inimigos, amigos e tudo quanto houver nesse mundo. Nessa realidade, nossas almas se completam, se unem, são perfeitos encaixes da criação de Deus, então eu apenas agradeço. Agora, eu sou grato por tudo o que nos aconteceu.

Foram as intempéries que criaram laços e mais laços ao nosso redor, nos unindo, dando mais linha ao longo fio que costurou tua alma na minha.

A morte dos nossos pais.

A exclusão social.

A exigência de nós mesmos em querermos ser melhores.

A nossa rivalidade.

A nossa amizade.

Os nossos medos.

As nossas escolhas.

Os nossos monstros.

As nossas batalhas.

Os nossos punhos.

Quando eu dei por mim, já era teu e somente teu. Cada pedaço de mim reagia a ti como se eu apenas fosse uma parte de ti que se desgarrou. Não, mais que isso. Sou a outra metade, sou o teu oposto, sou aquilo que te faz completo. É, este sou eu em ti.

Abro os olhos e percebo que meu manto está com alguns pingos na barra. Lágrimas. Toco meu rosto e percebo os rastros úmidos que aquelas memórias deixaram. Eu sorrio e tenho certeza que só você, além do meu amado irmão, conseguiu fazer-me chorar. Chorar de felicidade, devo ressaltar. Você me faz feliz, Naruto, muito feliz, mesmo sem saber.

O crepúsculo se aproxima e com ele, a hora da minha partida. Levanto-me da varanda, sussurro adeus para todos aqueles que ficaram presos àquelas paredes, e afasto-me, como fantasma que sou, vagando silencioso para onde eu sabia que você estaria. Ainda tenho que cumprir o que vim fazer aqui, só então poderei realmente partir. Saio de complexo e me vejo na rua novamente.

Sakura passou por mim, mas não me reconheceu. Ela estava com Ino e ela também não me reconheceu. É um alívio, devo dizer, pois não quero que ninguém mais saiba do meu objetivo ao pisar tão cedo os pés em Konoha.

Faz, somente, um ano que estive aqui, protegendo o teu lar tão amado, cuidando dos seus enquanto você lutava pela mulher que te fez um cachecol e através das linhas dele, teceu a declaração de amor que findou neste casamento. Kakashi nunca lhe disse. Eu pedi que nunca dissesse. Não faria sentido nenhum você saber que estive aqui e não te esperei para conversarmos o que quer que estivesse em desacordo entre nós.

Eu não suportaria ouvir da tua boca que você começou a amar outra pessoa, que você se reconheceu amando alguém que nunca fora importante antes para ti. Com certeza eu desabaria, diria o que não podia ser dito, fugiria para sempre e estaria perdido em minhas próprias angústias, procurando meios de me autodestruir para nunca mais sofrer. Eu morreria se te visse naquela noite. Morreria de espírito.

Finalmente, eu te achei, Naruto, na casa do homem que foi sempre a sua inspiração e a figura paterna que sempre lhe faltou. Iruka. Ele olha na minha direção, mas não me nota, ainda que me encare diretamente aos olhos. Apenas me sorri, com naturalidade, e desaparece dentro de sua casa, enquanto eu te vejo, sozinho, arrumando-se para casar.

Você é o homem mais lindo do mundo, Naruto. Com toda certeza, é o homem mais lindo do mundo e merece a eterna felicidade. Seja com quem seja, você merece.

Talvez seja o meu egoísmo falando mais alto agora, mas eu não consigo entender como você se descobriu repentinamente amando alguém que você passou a vida inteira sem notar, sem dedicar o mínimo de atenção, sem absolutamente fazer nada por essa pessoa… Foi o cachecol? Como um cachecol pode ter mudado tanto assim a sua forma de ver o mundo?

Eu imaginava que os sentimentos de Hinata por ti eram fortes, talvez verdadeiros, mas nunca acreditei que fossem recíprocos. O que quer provar, Naruto? Quer me dizer algo?

Não importa. Não mais. Depois de hoje, não vai mais importar.

Desço lentamente do telhado onde estou te observando e me aproximo da casa ao perceber que não há mais ninguém por perto. Uma brisa sopra pétalas de flores, de sakuras, e eu te vejo sorrir para a cena que se desenvolve diante de seus lindos olhos azuis. Nem você me nota, não é? Tudo bem, é melhor assim.

A hora final aproxima-se. O sol começa a deitar-se por trás dos montes e a noite dá as primeiras pinceladas no azul e no dourado, mesclando laranja, roxo e vermelho como só ela consegue fazer. Em poucos minutos você dirá sim para Hinata, em poucos minutos, você será inalcançável para mim, eternamente.

Agora que estou aqui, parando diante de você, sem receber, pela primeira vez, a sua atenção e os seus esforços, eu percebo que vou estragar a sua felicidade se eu falar. Eu vou acabar com a sua chance de ser feliz com uma pessoa que vai retribuir cada um dos teus sentimentos se eu te atormentar com minhas palavras. Não posso falar. Não posso revelar o que queria, não por falta de coragem, mas por respeito a tudo o que você é para mim. Eu quero te ver sorrir e sei que se me ouvir, você não irá sorrir.

Nenhuma daquelas palavras que estão guardadas em meu peito eu poderei revelar, terei que continuar ocultando-as para mim, usando-as como lenha para o fogo que abrasa a minha alma. Eu sempre soube lidar melhor com o silêncio. No fim das contas, eram palavras difíceis demais de serem ditas, então que sejam caladas.

Quando você virou de costas, eu me fiz homem, pois até aquele instante, minha forma era a de um tranquilo felino, um gato preto, que não chamava a atenção de ninguém. Estamos sozinhos, mais uma vez, porque nossas conversas sempre foram na solidão de nossas vidas, na quietude de nossas almas. Novamente, os ventos da primavera fazem mais pétalas voarem até nós e fazem o meu manto se mexer, anunciando a minha presença a ti.

Devagar, incerto pelo o que eu percebo agora, você se vira e me vê, finalmente me nota. Seus olhos azuis se abrem mais e eu vejo um intenso brilho de surpresa, mesclada com felicidade, surgir deles, fazendo-me acreditar, mais uma vez, que você tem joias no olhar. Seu largo sorriso capaz de converter os mais duros corações se abre lentamente para mim, você quer vir me abraçar, mas não move um passo se quer, eu sinto isso, porque é o que desejo fazer também, mas não o farei.

Eu esboço um sorriso pequeno em resposta ao teu, afasto o meu manto para acenar um cumprimento e você me retribui com um aceno de cabeça. É estranho, Naruto, eu sei que é. Sempre acreditei que quando este momento chegasse, meu coração pararia e eu enlouqueceria, mas… Eis-me aqui, sereno, com o coração batendo manso de amor só por te ver, firme em minhas pernas, alimentando a chama de minh’alma.

Não digo nada porque não posso, e você não move os lábios porque não sabe o que me dizer. Há tanto para ser dito entre nós, Naruto, tantas palavras que jamais foram expressadas, tantos sentimentos, tantos pensamentos, mas estamos em silêncio, nos fitando, entendendo pelo o olhar que não podemos falar. Não mais, aquele é o fim.

Suspiro lentamente, repensando em cada passo que eu dera naquela semana só para estar mais perto de você, Naruto, e chego a conclusão que ao menos algo deva ser falado. Você vai se casar, meu melhor amigo, meu grande amor, a minha motivação e razão de viver vai se casar, vai passar por um dos momentos mais importantes da vida. Não posso simplesmente ficar em silêncio diante disso.

—Sasuke… - como sempre, você tomou a dianteira. Sempre mais corajoso e ousado, este é você. - Eu não sabia que viria.

—Vim lhe desejar os meus votos de felicidade e prosperidade. - tentei. Estou indo bem. Mantive-me calmo e inexpressivo, para evitar que meus olhos revelassem o meu coração.

—Disse a Sakura que está aqui?

—Não. E gostaria que mantivesse em segredo a minha visita. - pedi, sincero e ele assentiu, gentil.

Naruto deu um passo a frente, descendo a estrutura de madeira e se sentou. Bateu a mão ali, convidando-me, e sorriu-me menor, porém mais necessitado. Assenti, cedendo a este último desejo, e fiz-lhe companhia.

—Nervoso? - perguntei, observando suas mãos apertarem as pernas das calças cinza que usava, típicas do kimono masculino de casamento.

—Um pouco, mas não com o casamento. - revelou-me. - Eu realmente não esperava vê-lo, Sasuke. - ele desviou o olhar de mim, encarando o crepúsculo. - Achei que… Que não viria ao meu casamento.

—Não vim para ele. - confessei e o vi estremecer, discreto. Fitei o mesmo ponto que Naruto olhava e suspirei. - Eu vim para… - eu não podia dizer, por mais que essas palavras quisessem sair da minha garganta. - Lhe dizer que… - girei meu rosto em sua direção e percebi que Naruto me encarava com expectativa. Não, não farei isso. Ele já sofreu demais por minha causa. - Não importa. Apenas vim lhe desejar felicidades.

Levantei-me, ainda que seu semblante confuso martelasse a minha mente, e segui para a saída do ambiente. É hora de virar a página, para sempre. Fechei meus olhos e senti meu peito doer. Não quero, mas é preciso.

—Você veio me dizer algo, não é, Sasuke? - a voz dele me soou angustiada.

Voltei-me para Naruto, olhando-o por cima do ombro, e o vi ainda sentado, apertando as pernas da calça, sem conseguir me olhar.

Sim, eu vim, mas não direi. Não direi, pois são as palavras mais difíceis do mundo. Eu quero muito lhe dizer, Naruto, mas o respeito que tenho por você, por tudo o que já viveu e superou, obrigam-me a lhe privar de mais essa dor.

—Não há nada mais a ser dito, Naruto. - falei, ainda brando.

—Por favor, Sasuke. - ele estava sério, mas ainda sem me fitar. - Pelo menos desta vez, diga. Não vá sem me dizer, o que quer que seja. - suas mãos se uniram e ele as apertou com muita força, como se tentasse se segurar em alguma coisa. - Por favor.

—Não posso. - confessei, num tom baixo.

—Como assim não pode?

—Simplesmente não posso. - repeti.

Naruto ergueu o olhar para mim, desesperado, e se levantou, dando passos velozes até ficar poucos centímetros de distância de mim. Ele segurou firme em meu manto, puxou-me e socou o meu rosto com alguma força. Franzi o cenho, estranhando essa atitude repentina, e o encarei: ele apertava meu manto para não chorar.

Maldição. Sou eu o eterno causador de tuas lágrimas, não é? O jeito é que eu parta e não volte mais a te importunar, meu amor, pois até mesmo sem que eu nada tenha dito, você já sente a dor que os meus sentimentos podem causar. Respirei fundo, segurando seus pulsos para nos soltar, e dei dois passos para trás, afastando-me.

—Por favor, Sasuke… - ele tentava enxugar o próprio rosto. - Eu estou te implorando. - arregalei meus olhos. - Fale. Diga… Eu preciso ouvir…

—Naruto, eu não pos… - tentei.

—É meu único pedido, Sasuke. - nos fitamos e havia real tristeza em seu olhar, amargura e sofrimento. - Em nome da nossa amizade, de tudo o que existe entre nós… Me diga o que veio me dizer… Eu imploro.

Foi como se as chamas em meu peito tivessem crescido e tomado de conta de cada célula do meu ser. Ver aquele semblante e ouvir aquela voz completamente tomados pelo desespero, assistir aquele choro soluçado e sentir meu corpo tremer em resposta a tudo isso foram os impulsos que fizeram meu corpo se mexer. Conscientemente, abracei Naruto como nunca, em toda a minha vida, eu havia feito.

Ele apertou seus braços ao meu redor, um por cima de meu ombro e o outro pela minha cintura, segurando firmemente os tecidos entre os dedos, como se eu fosse desaparecer a qualquer momento e deixá-lo ali, perdido naquele turbilhão de sentimentos negativos.

Acho que posso fazer isso. Acho que ele merece ouvir, por mais que minhas palavras só vão piorar ainda mais sua situação. Essa é nossa última chance, de fato, não haverá outra oportunidade no futuro para que essas palavras sejam ditas. Se ele tanto quer ouvir, ainda que saiba que vai sofrer mais, eu as direi, em nome de nossa amizade.

Direi para que Naruto saiba que mais alguém o amou com tanta força, com tanta intensidade, que temia sucumbir a este sentimento, sentir-se fraco, sentir-se perecer e desaparecer ante suas ambições. Direi para que Naruto saiba que foi este sentimento puro, o único realmente puro em meu peito, que me curou, me salvou, tirou-me das trevas e arrancou o veneno que matava o meu coração. Direi para que Naruto saiba que mesmo com tudo o que eu fiz e tenha dito a ele antes, o que realmente valia era o que minha alma gritava e era o seu nome: Naruto.

—Eu te amo. - sussurrei e senti seu corpo parar de tremer, talvez de surpresa, pois nós não nos víamos. - Eu te amo. - repeti, fazendo de tudo para não desabar, pois era como se eu perdesse parte de minhas forças ao proferir aquelas palavras. - Eu sempre te amei, sempre vou te amar e te amo como jamais poderei traduzir em palavras… E é por isso que direi adeus, Naruto. - pela pele de sua nuca, eu vi seu sangue fugir.

Tentei me afastar novamente, mas seus braços fortes me mantinham cativo ali. Outra brisa balançou nossas vestes, mas desta vez na direção oposta da primeira vez. Inspirei o ar, fundo, deixando que o cheiro e o calor agradável do meu amor enchesse meus pulmões.

—Deixe-me ir, Naruto. - pedi com um sussurro.

Ele afastou seu rosto, para que nos fitássemos, e me presenteou com um lindo sorriso, apesar que suas lágrimas ainda estavam ali.

—Não posso. - ele falou, segurando seu ímpeto de chorar. - Não posso te deixar ir.

—Precisa me deixar ir. - pedi novamente. Só a ele eu posso pedir algo.

—Não posso. - ele repediu, apertando os lábios. - Não… Posso.

Neguei e usei um jutsu para sair de dentro de seu abraço. Reapareci há um metro de distância, querendo evitar o olhar de Naruto, mas sem poder. Eu sei que Naruto quer que seus amigos estejam por perto, mas ele não entende que meu amor só o fará sofrer? Ele está prestes a se casar com a pessoa que escolheu para a vida inteira.

—Adeus, Naruto. - mais palavras difíceis e pesadas demais para serem ditas. - Obrigado por tudo o que fez por mim. Eu sempre serei grato e sempre te amarei por isso, por me salvar da escuridão, por não desistir de mim, por ter fé em minha bondade. - eu sorri, feliz por finalmente revelar meu coração, mas com medo das consequências disso. - Você é tudo o que eu precisei e preciso para curar minh’alma de cada ferida feita. Você é a brisa que me traz paz e calmaria… É tudo. - senti uma lágrima escorrer de meu olho. Aparei-a e a observei. Uma lágrima de amor. - Adeus, Naruto.

Movi-me para sair dali antes que fosse tarde, mas senti-me repentinamente hesitante. Ele nada fez, então entendi que era a minha permissão para ir. Eu fui. Não aguentava mais, meu coração doía demais com aquela perda, então eu fui. Foram alguns minutos caminhando, chorando, sentindo minh’alma falecer. Eu dissera adeus, e doía como nenhuma outra dor que eu já senti em toda a minha vida. Eu disse adeus ao meu grande amor.

Segui pelas ruas, rápido, aproveitando o escuro para me camuflar e chegar aos portões de Konoha sem ser notado. Antes de sair, fitei a linha de paralelepípedos que havia no chão. O meu limite. Fechei meus olhos e o ultrapassei, mas só consegui dar um passo.

Fui segurado. Não pode ser…! Abaixei meu olhar para as mãos que circundavam o meu peito e reconheci-as, aliás, reconheci o chakra. Encarei minhas costas e vi Naruto ali, afundando o rosto em minhas costas.

—Não vou te deixar ir embora. - nós nos colocamos frente a frente e nos encaramos. Havia uma determinação naqueles olhos cerúleos que me é muito conhecida. - Não posso permitir que simplesmente parta, não depois do que me disse.

—Eu não posso ficar. - tentei desviar meu olhar, mas Naruto segurou meu rosto. - Naruto? Você tem que ir. - fitei o céu noturno e depois suas vestes: eram aquela costumeiras, casaco de botões pretos com detalhes laranja e vermelho, calça laranja e sandálias pretas. Ele estava com sua bandana e arrumado como se fosse para uma batalha. - Seu casamento, Naruto, não pode deixar Hinata esperando.

—Eu não vou me casar. - arregalei meus olhos. - Esperei todos esses anos para te ouvir dizer que me ama, porque eu queria confirmar a verdade. - seus dedos dedilharam meus cabelos e meu rosto com carinho. - Eu também te amo, Sasuke, mas temia que não sentisse o mesmo por mim. Se você não vai abandonar este sentimento, então eu também não irei. Eu vou com você para onde queira ir.

Não resisti. Beijei-o. E dessa vez, eu estava completamente ciente e desejoso pelo ato. Naruto gemeu baixo ao sentir minha boca na sua. Cedeu de imediato, aprofundando aquela demonstração de nossa vontade mais insana. Abraçávamo-nos e nos correspondíamos como realmente queríamos que acontecesse.

Um sonho realizado. Naqueles lábios quentes, eu senti que era um sonho de nós dois, um sonho antigo, mas nunca esquecido ou abandonado. Minh’alma estava com a de Naruto e a dele estava com a minha, como todas as coisas deveriam ser.

Nossos lábios se afastaram com muita demora e lentidão, ansiando captar cada mínimo detalhe que existisse. Ainda lhe dei alguns selinhos, uns mais custosos do que outros, para enfim poder lhe observar. Ele me sorria lindamente.

—O seu sonho, Naruto? - perguntei, pousando minha mão em seu rosto e suspirando, satisfeito, por vê-lo esfregá-lo ali, num ato de carinho. - Não pode abandonar seu sonho por mim. - sussurrei, não lhe negando ficar reclinado em meu peito.

—Eu não sei… - ele respondeu. - Mas não quero te perder, não de novo. - nos fitamos. - Eu te amo, Sasuke, mais do que tudo nessa vida.

—Eu também te amo, com todas as minhas forças, mas não quero que tenha que eleger entre seu sonho de infância e…

—O meu amor de infância. - ele acrescentou, interrompendo-me. - Não posso escolher, mas recuso-me a vê-lo ir para sempre.

Deixei que Naruto tomasse minha boca como achasse melhor. Nos arrastamos para um local mais reservado, perto dos portões, às sombras da muralha, para ali termos mais conforto e intimidade. Encostei-o a parede e tomei as rédeas do beijo, impondo o ritmo que eu queria e sentindo minh’alma inflar ao ouvir o gemido baixo de Naruto.

Suas mãos percorriam meu corpo, sem pudor e sem restrições, invadindo as minhas vestes, em busca da minha pele e do meu calor. Sua boca faminta buscava mais da minha e eu lhe dava tudo quanto queria. Aquela era a concretização da perfeição.

—Não sei o que fazer… - ele sussurrou, quando soltamos nossos lábios e nos fitamos. - Mas sei o que não quero fazer. - sorriu-me pequeno e encostou a testa na minha. - Eu não quero ficar longe de você.

Assenti e segurei sua mão. Se o nosso amor vai se firmar assim, que assim seja. Seguimos lentamente Konoha à fora, de mãos dadas, apertadas, com os dedos entrelaçados, como nunca acontecera antes. Eu lhe sorri e ele riu, feliz.

Ao amanhecer, tão longe quanto pudemos caminhar, eu vi Naruto ressonar baixinho, deitado sobre mim, segurando firme em minhas vestes, com um semblante de quem dorme seguro, confiante de que agora está realmente em paz. Beijei-lhe a testa e fitei o sol. Eu vou ajudá-lo a realizar seu sonho, vou te trazer de volta, meu amor, para seja o líder que Konoha precisa, para que seja o Hokage que ninguém antes foi, para que possa salvar o mundo da mesma forma que me salvou.

Vou te amar a cada dia de minha vida como se fosse o último e vou me orgulhar no momento que te ver se realizando. Eu juro, meu amor, pela minh’alma que é banhada por este novo sol, por este recomeço, que vou estar contigo para sempre e que vou ser o suporte que precisa para realizar cada anseio teu. Eu juro, Naruto, ser tudo o que você foi para mim.

—Você é tudo para mim. - sussurrei, sabendo que ele não ouviria. - Sem você, eu não sou nada. - aninhei-o mais perto de mim e fechei meus olhos, sorrindo. - Eu te amo, Naruto.

 


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