The Drawing of The Dark escrita por Young Sorceress


Capítulo 3
Capítulo três


Notas iniciais do capítulo

Sim, foram milênios desde a última vez que postei. Então vou fazer um recap: Ao ser cercado pelos cavaleiros de Camelot quando tenta fugir com Kara, Mordred é preso. Merlin decide ajudá-lo, mas os knights descobrem sobre a ameaça que o druida o fizeram mais cedo e estão dispostos a descobrir o que está acontecendo. Arthur se sente perdido por não entender o que está acontecendo com o melhor amigo.



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Mordred estava entediado. Estar preso em um quarto podia fazer isso com as pessoas. Por um lado, ele tinha tido tempo para refletir na vida dele. Mas por outro, tinha sido tempo demais. Normalmente, ele era uma pessoa paciente. Não se importava em esperar para conseguir as coisas que queria. Mas agora ele sentia que iria enlouquecer. Sentia falta da terra, da sensação do vento no seu rosto, de poder andar livremente. 

Ele também queria saber o que seus amigos estavam pensando. Será que eles iriam perdoá-lo algum dia? Eles conseguiam entender o que ele tinha feito? Aliás, o que eles sabiam do que ele fez?

Arthur tinha ido até a prisão que ele estava antes para o transferir para aquele quarto, porém não falara nada e mantivera a expressão fechada o tempo todo. Mordred até pensou em perguntar qual tinha sido a decisão do rei, mas honestamente não se importava com o seu destino. Kara estava segura e todos os seus amigos achavam que ele era um traidor, bastava saber disso.

“Mordred” alguém falou, o assustando. Fazia quanto tempo que ele não ouvia uma voz? A noção de conversar com alguém já parecia estranha.

“Merlin” ele respondeu após segundos, ao perceber quem era. Uma parte de si perguntava-se por que o menino resolvera ir vê-lo, contudo, ele estava mais do que feliz em receber a visita. Qualquer distração era boa.

“Como você está?” Merlin perguntou em um tom de voz gentil.

Mordred teve vontade de rir. Ele passara tanto tempo da vida dele desejando que Merlin o tratasse bem, como um ser humano, e ele só resolvia fazer isso quando nada mais parecia importar.

“Eu não sei” confessou. Estava mais do que feliz em ter conseguido salvar Kara, mas arriscara tanta coisa por isso que sentia que nunca mais seria o mesmo. Nunca mais poderia servir a Camelot como fazia; Arthur nunca mais confiaria nele de novo. Ele sentia que tinha perdido tudo e, ao mesmo tempo, faria tudo de novo. Mordred nunca tinha se sentido tão confuso na sua vida inteira.

“Pelo lado bom, eu posso praticar magia” falou e imediatamente arrependeu-se quando Merlin o olhou desconfiado. “Posso fazer uma pergunta, Merlin?” disse, querendo mudar de assunto.

“Não garanto que irei responder” falou, o que era mais perto de um sim que Mordred teria.

“Você nunca se cansa de se esconder?” falou, encarando os olhos azuis de Emrys tão diferentes e similares ao seus. Eles pareciam ter uma desconfiança eterna.

Mordred estava exausto, mesmo antes de toda a coisa de Kara acontecer. Odiava ter que mentir para os amigos dias após dias, nunca deixando ninguém conhecê-lo verdadeiramente. Ele sempre fora muito ligado a magia e sentia falta de usar-lá.

Uma das poucas coisas que o compensava era poder sentir a magia de Emrys, sempre tão pulsante e tão diferente. Quando Mordred ainda era uma criança, ele percebeu que tinha uma habilidade rara de poder sentir a magia dentro das pessoas e não só na terra, como fazia a maioria dos feiticeiros. Ele sentia a energia de tudo que estivesse perto dele, do mesmo jeito que conseguia sentir cheiros. Levou um tempo para que ele conseguisse notar as diferenças de energias, mas com o tempo ele foi ficando melhor nisso.

Fora assim que soubera que Merlin era Emrys assim que o vira. Ninguém mais tinha uma energia tão forte, nem remotamente, e algo dentro de si pareceu reconhecer instantaneamente que só havia uma pessoa capaz de ter tamanho poder. E quando falou o nome dele mentalmente, foi que teve certeza. Aquele era Emrys.

“Sim. Você não tem ideia” Merlin respondeu, após ponderar por alguns instantes o que devia dizer.

Mordred queria perguntar então por que ele o mantinha tão distante; se ambos estavam exaustos e eram as únicas pessoas no castelo com quem podiam ser completamente honestos, por que eram tão distantes? Mas sabia que vocalizar isso somente afastaria mais o outro.

“Eu sinto muito pelo que você teve de passar, Merlin” Mordred falou, não conseguindo evitar de suavizar as palavras. Como Merlin deveria ter se sentido, estando bem mais tempo em Camelot e sozinho? “Quer me contar alguma coisa?” não precisou completar, sabia que Merlin entenderia que era alguma coisa que ele não pudesse dizer aos outros, por causa da magia.

Merlin o encarou, tentado. Nunca tinha a oportunidade de falar sobre si e especialmente não sobre magia; antigamente costumava ansiar por momentos como esse, hoje já nem sonhava com isso mais. Tinha tantas coisas que tinha guardado para si que queria poder contar a outra pessoa.

Ainda assim, Mordred era Mordred. Será que não seria pior se abrir com ele? Seria perigoso? Isso iria influenciar o destino de Arthur?

***

Arthur não estava de bom humor. Quase não tinha conseguido dormir de noite, ainda tentando entender tudo que estava acontecendo com Kara, Merlin e Mordred. Como era possível que, mesmo sendo um rei, ele ainda sentia-se um estrangeiro dentro das suas terras? Sempre parecia que ele estava perdendo algo.

Além disso, ele sentia-se inseguro. Toda a sua vida, Arthur fora traído várias e várias vezes, até mesmo por Guinevere. A única pessoa que permaneceu constante na sua lealdade foi Merlin e agora parecia que até ele estava envolvido em algum tipo de problema complexo secreto. Claro que Arthur sabia que Merlin nunca o machucaria, mas saber que o amigo estava estava escondendo algo dele o deixava ansioso. Ele odiava segredos.

Sem falar na preocupação que tinha que Merlin se envolvesse em algo que não conseguisse lidar. O rei não sabia o que faria se o amigo acabasse ferido.

Ele foi visitar Mordred, decidido a conversar mais calmamente com o cavaleiro e quem sabe obter algumas respostas sobre o que estava havendo com Merlin. Ele estava prestes a abrir a porta quando ouviu vozes.

“Quem está dentro desse quarto?” exigiu saber ao guarda, ao qual o olhou estranhamente.

“Seu servo. Ele veio trazer a comida que pediu, senhor” falou com um tom neutro, sabendo que não era o seu lugar questionar o rei.

“Não achei que ele viria mesmo” mentiu Arthur, para evitar que se espalhasse a fofoca que o seu servo mentiu para o guarda. Melhor que achassem que Merlin era incompetente do que mentiroso.

O que diabos Merlin estava fazendo?, Arthur se perguntou. Não conseguia pensar em motivo algum que fosse bom para explicar por que ele decidira visitar Mordred pelas suas costas. Mas também não entendia por que Merlin iria decidir o ajudar depois de ter sido ameaçado.  

Ignorando a confusão de pensamentos, Arthur andou até o quarto de Mordred. Ele aproximou-se, abriu um pouco a porta e ouviu a conversa. Talvez se pudesse ouvi-los sem saberem, isso o ajudasse a entender mais do que estava acontecendo… Claro que se houvesse qualquer sinal que Merlin estava em perigo, ele agiria.

“Eu sinto muito pelo seu pai” Mordred falou em um tom sincero.

Isso não fez sentido nenhum para Arthur. Primeiro, por que eles estavam conversando sobre uma coisa tão pessoal e insignificante se odiavam um ao outro? Segundo, Merlin nunca soubera quem era o pai dele, então como assim sentia muito?

“Eu ainda o vejo. Nos meus pesadelos ele morre de forma diferente. Você também tem esses?” Merlin falou isso com total naturalidade. Como se ver o pai dele morrendo em sonhos fosse normal, como se a pergunta dele não fosse enigmática.

“Sim. Acho que já imaginei todos que eu conheço morrendo desse jeito. Ninguém mais que mim mesmo” falou, fazendo Arthur sentir um calafrio. Que tipo de trauma teria levado a ele fazer tal coisa?

“Você irá se juntar a Morgana?” Merlin perguntou após um longo silêncio.

Arthur se amaldiçoou mentalmente. Tinha esquecido de fazer Mordred prometer que não se juntaria a ela, e se ele quisesse procurará-la para se vingar dele? Não seria tão eficiente quanto o juramento de feitiçaria de Kara, mas o valor da palavra dele devia servir para alguma coisa.

“Não. Mas também não posso não fazer nada, Merlin. Pessoas estão sofrendo. Mas não importa o que eu farei e sim o que você fará”.

Arthur franziu a sobrancelha. Por que algo que um servo faria era tão importante assim?

“Não posso lhe contar nada sobre isso”.

“Então, por favor, me deixe te ajudar.”

Ajudar? Por que alguém iria querer ajudar alguém que ameaçara? Não fazia o menor sentido. E como Mordred poderia ajudar em qualquer coisa, se estava preso ali?

“Não confio em você, Mordred” falou em um tom neutro.

Então Merlin não era tão burro quanto parecia. Uma onda estranha de gratidão passou por Arthur. Se ele fosse obrigado a confessar, teria que dizer que estava preocupado com o amigo e era um alívio ver que ele ainda tinha alguma noção de perigo, mesmo quando resolvia ir atrás de prisioneiros sozinho. 

“Você nunca confiou” disse Mordred amargamente. “Nem quando eu era uma criança”.

Por que Merlin não confiaria numa criança? Ele sempre confiava em todos e era ótimos com crianças. Arthur já o vira brincando com várias crianças perto do castelo, diversas vezes.

“Eu sei. E isso foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Então não torne pior” as palavras podiam ser interpretadas como gentis, mas esse não era o tom dele. Não, ele somente estava dizendo fatos. 

“Eu quero a sua confiança, Merlin. Eu não sei mais o que posso fazer para conquistá-la.”

Isso tudo estava se tornando bizarro demais para Arthur. Além de querer ajudar Merlin, ele queria ter a confiança dele? E aquela ameaça?

“Fique longe de Arthur” falou Merlin e o rei não conseguiu conter a gratidão que sentiu. Seu servo, por mais incompetente que fosse, sempre o tentava manter a salvo.

“Se é isso que deseja” falou em um tom submisso que estranhamente fez Arthur lembrar de um súdito atendendo os desejos do rei.

“Tenho que ir” falou e disse mais alguma coisa, porém Arthur estava muito ocupado correndo para ouvir.

***

Gwaine acenou para Merlin alegremente, o chamando para ir a área que ele atualmente estava usando para treinar.

“Hey, Merlin, como você está?” cumprimentou.

Merlin deu o sorriso dele de sempre.

“Arthur está meio sumido então estou aproveitando para relaxar enquanto isso” falou.

Os dois conversaram sobre amenidades e Merlin não parecia nem um pouco afetado pelo que acontecera com Mordred, era como se nada daquilo tivesse realmente acontecido. Isso desconcertou Gwaine; ele sabia que um evento tão importante devia ter algum impacto em Merlin, afinal não era todo dia que alguém era ameaçado, mas não havia nenhum sinal daquilo.

“Arthur deve estar de mal humor por causa da coisa toda com Mordred” falou Gwaine com cuidado, observando como Merlin reagia. Por um segundo, irritação passou pela sua expressão, mas logo estava tranquilo novamente.

“Ele tem razão para estar assim” falou Merlin, porém algo fez com que Gwaine não acreditasse que ele estava sendo cem por cento honesto.

“Nunca esperei algo assim de Mordred” Gwaine balançou a cabeça. Merlin ficou em silêncio. “Quer dizer, trair Arthur dessa maneira?” ele falou, tentando forçar Merlin a dar a sua opinião.

“E o que Mordred devia ter feito?” falou Merlin com raiva, segurando-se para não dizer: e o que eu devia ter feito com Freya? Não devia ter tentado salvá-la?

Então, essa a verdadeira opinião de Merlin: Mordred não fizera nada de errado. Ou pelo menos fizera a melhor coisa que podia fazer dentre as opções.

“Você sabia, Merlin?” perguntou Gwaine. “Sobre Kara?” Merlin hesitou e então assentiu. “Era sobre isso que ele estava lhe ameaçando?”

Os olhos de Merlin escureceram e Gwaine soube que tinha entrado num lugar perigoso.

“Sir Gwaine, você não devia se meter em assuntos que não entende” falou em um tom frio, controlado.

“Me deixe ajudá-lo” pediu Gwaine.

“Não” e aquela simples palavra continha tanto poder que parecia um comando irrefutável. “Mordred não estava me ameaçando. Mas sugiro que você nunca mais tente se envolver nisso” falou e o encarou por alguns segundos, deixando claro que não estava de brincadeira. Depois, sorriu, como se não estivesse ameaçando o cavaleiro. “Você é meu amigo, Gwaine, mas não sou uma donzela em perigo” falou em um tom divertido, voltando a ser o mesmo Merlin de sempre. A transformação causou calafrios em Gwaine. Havia algo sombrio em Merlin que nunca tinha notado antes.

O que diabos foi isso? pensou Gwaine quando observava o amigo se afastar, após dar alguma desculpa não convincente. Merlin com certeza estava metido em algo com Mordred, e talvez não fosse tão inocente quanto parecia.

De qualquer forma, Gwaine iria lutar por ele. Não importava o que ele fizera; Merlin fora a primeira pessoa a aceitá-lo realmente por quem era e que tinha o ajudado a chegar a onde estava. O que precisasse, ele faria. Até mesmo se fosse para esconder um corpo. Merlin tinha sua lealdade eterna.


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