Ouvi Darella fechar a porta em frente brutalmente pouco tempo depois de eu ter entrado em meu quarto. Retirei os sapatos e me joguei na cama, não me importando se iria amassar o terno ou não. Eu estava cansado e a única coisa que me importava no momento era uma boa noite de sono.

Passei as mãos pelo rosto, encarando a escuridão do quarto que estava sendo iluminado por uma luz quase imperceptível da lua. Me dei por vencido quando o terno começou a incomodar e fui obrigado a retira-lo, ficando apenas de cueca. De qualquer forma estava calor então não vi problema em dormir assim. Cruzei os braços atrás da cabeça e deixei meus pensamentos vagarem. 

A única coisa que fui capaz de pensar foram nos últimos cinco minutos, quando Darella confessou seu ciúme. Soltei uma risada baixa, me lembrando daquele dia na boate. Era uma noite fria de outono e ela estava super bêbada na minha sala VIP.

" Depois de um longo dia cansativo resolvendo algumas questões com a máfia inglesa pude finalmente chegar no apartamento e descansar. Eu estava exausto. Quem diria que negociar armas e munições poderia cansar tanto, principalmente porque a máfia inglesa pensa ser a melhor do mundo e por isso não costuma negociar com outras máfias, mas felizmente, chegamos num acordo.

Os capos mais bem sucedidos me chamaram para ir à uma boate ali perto para comemorar e de início eu disse não. A única coisa que eu estava pensando no momento era em me jogar na cama e não em uma balada lotada com mulheres à minha volta e muita bebida, se bem que analisando melhor, não parece tão ruim. Uma morena ou ruiva podem me acalmar nessa noite junto de muito uísque. Aceitei o convite e troquei de roupa colocando um terno branco com cinza, algo menos social e mais despojado e por fim indo até a boate, onde comprei a melhor sala VIP. Me joguei no sofá vermelho colocando as mãos atrás da cabeça. Os capos entraram na sala minutos depois acompanhados de muitas garotas com roupas decotadas e curtas o que eu confesso que gostava. Uma ruiva e uma loira sentaram-se ao meu lado no sofá, esfregando seus peitos em mim e eu coloquei ambos os braços em volta delas. Um garçom me entregou um copo com uísque e vodka e eu virei tudo num único gole, sentindo a queimação do álcool descendo pela minha garganta. Que sensação prazerosa ! Eu estava feliz, me sentia o dono do mundo tendo todas as mulheres aos meus pés, bebida à vontade e muito dinheiro. Nesse momento, nada nem ninguém poderia ser tão poderoso quanto eu. 

Foi então que eu a vi, uma mulher loira que, na minha opinião, estava comportada demais para estar em uma boate vestindo roupas não muito curtas,sem decote, sem nada. Uma mulher completamente sem graça que estava com a cara fechada e não parecia estar se divertindo. Ela me encarou por alguns segundos até desviar o olhar e suas amigas - que ao contrário dela, estavam vestidas para a ocasião- me encararam com olhares maliciosos e depois foram ao bar e beberam várias doses do que parecia ser tequila, e como esperado, minutos depois estavam dançando loucamente na pista de dança. Mas aquela garota ainda estava lá, sentada com a cara emburrada. Eu estava prestes a pedir que os seguranças retirassem ela de lá até que finalmente ela se levantou e foi até o bar, onde o garçom lhe entregou uma bebida verde. Ela ficou receosa encarando a bebida até sua amiga chegar ao lado e falar algo. Então ela bebeu, e depois mais uma e mais outras, até estar completamente louca e bêbada chegando ao nível de suas amigas.

Chamei um dos meus agentes e ele aproximou seu ouvido para perto da minha boca, pois a música estava muito alta.

— Quem são ? - perguntei, me referindo à loira e suas amigas com a cabeça.

— Rose a ruiva, Christine a morena e Darella a loira. - ele respondeu e eu fiz sinal para que ele saísse.

Darella. Um nome nada comum, assim como essa mulher. Ela começou a dançar na pista de dança junto da suposta Christine e então a música foi trocada para Sexy Back, do Justin Timberlake. Sua amiga cochicou algo em seu ouvido e ela assentiu, arrumando o cabelo e andando sensualmente em minha direção. Ao chegar em minha frente, começou a dançar de forma provocativa, rebolando no ritmo da música, colocando as mãos no cós da saia e descendo quase até o chão. Mordi o lábio inferior e fiquei em pé, mas ela me empurrou de volta para o sofá e se sentou em cima das minhas pernas onde começou a rebolar sem parar, fazendo outras partes do meu corpo acordarem. Sorri maliciosamente. Eu a queria.

— O que acha de sairmos daqui ? - ela sussurrou em meu ouvido, mordendo o lóbulo da minha orelha em seguida.

— Acho uma ótima ideia. - sussurrei no mesmo tom e ela se levantou, me puxando pela mão.

Saímos da boate e fomos até meu carro, onde ela me prensou na porta e começou a me beijar. Sua boca era macia e tinha gosto de limão e álcool. 

Depois de alguns minutos, finalmente entramos no carro e eu dirigi até um hotel a uns dez quilômetros daqui, para ter certeza de que não seríamos seguidos. Paguei um dos melhores quartos e assim que entramos lá, ela me puxou pela gola da camisa para outro beijo. Retirei meu blazer e ela retirou sua blusa e sua saia ficando apenas com a lingerie. Deitamos na cama ficando um por cima do outro e então nos separamos apenas por alguns segundos para respirar.

Foi então que encarei seus olhos. Eram azuis como o céu e bem no meio havia uma mesclagem de verde água. Seus olhos eram como o mar. 

Isso era errado, parei para pensar. Ela estava praticamente abrindo as pernas para mim e não vou negar, eu quero, mas ela não é uma puta ou algo assim. Sei quando estou transando com uma puta, e essa garota definitivamente não é. Ela está caindo de bêbada e provavelmente nem vai lembrar de metade do que está acontecendo agora na manhã seguinte. Eu não posso fazer isso com ela. Sou um cafajeste e um galinha, confesso, mas não chego ao nível de transar com uma garota indefesa e bêbada.

— Acho melhor pararmos aqui. - eu disse saindo de cima dela e me sentando na cama. Ouvi ela resmungar.

— Você é tãããão chato ! - ela disse me abraçando por trás. Ela passou a mão por minha bochecha e virou meu rosto em sua direção - Um chato muito lindo.

— E você está muito bêbada. - soltei uma risada ao ver sua expressão.

— Eu não estou beb- ela não terminou a frase e colocou a mão em frente a boca, cambaleando em disparada até ao banheiro. Ouvi ela vomitando várias e várias vezes até dar descarga, ligar a torneira para lavar a boca e por fim voltar até mim. Ela sentou em cima da minha perna e ficou me encarando.

— O que foi ? - perguntei.

— Talvez eu esteja um pouco bêbada. Só um pouquinho. - ela disse fazendo sinal com a mão colocando o indicador por cima do dedão. - E isso é ruim.

— E por que é ruim ? 

— Por que eu não vou lembrar de você quando acordar de manhã e não vou poder te beijar mais.- ela apoiou a cabeça nas mãos. Soltei uma risada baixa.

— Não se preocupe, eu posso procurar por você quando estiver sóbria. Aí você pode me dar outro beijo.

— Promete ? - ela perguntou olhando diretamente em meus olhos. Eu iria responder sim apenas para que ela não começasse a ter uma daquelas crises de bêbadas choronas, mas, por algum motivo, não consegui.

— Prometo. - agora a promessa era séria. Mafiosos levam suas promessas muito a sério e eu não iria decepciona-la. Eu iria encontra-la quando estivesse sóbria e então conversariamos sobre o ocorrido de agora. 

— Ótimo. - ela soltou uma gargalha e depois ficou com uma expressão séria - Por que você está girando...? E por que você está em todos os lugares ? Você tem irmãos gêmeos por acaso ? Acho que vou desmaiar.

— Desmaiar neste exato momento ? - falei e então ela simplesmente caiu para trás, sendo segurada por meu braço direito. A soltei na cama e dei uma risada ao ver que ela parecia uma boneca de pano esticada na cama.

Suspirei, retirando um cigarro do bolso e o acendendo em seguida. Fui até a sacada e fiquei encarando os prédios de Nova Iorque, todos bem iluminados que enfeitavam a cidade, pensando na encrenca que posso ter arrumado fazendo promessas à uma desconhecida. Mas ao olhar para trás e vê-lá dormindo de forma tão serena, me fez pensar que talvez pudesse valer a pena e que eu possa tirar algum proveito disso; talvez eu até seja legal e deixe ela me beijar como prometemos. Soltei a fumaça esbranquiçada uma última vez antes de ir até ela e a cobrir com um cobertor fino que estava em seus pés, em seguida deitei ao seu lado cochilando até as cinco da manhã. 

Dormi em torno de três horas, mas a sensação era de não ter dormido absolutamente nada. A loira ao meu lado ainda dormia e eu aproveitei a oportunidade para tomar um banho. Vesti minhas roupas novamente e peguei minhas coisas prestes a sair do quarto, dando uma última olhada para trás na mulher chamada Darella. Um nome incomum para uma mulher incomum. Soltei uma risada fraca.

Promessa é dívida Darella. Eu vou falar com você quando estiver sóbria e você ainda vai ser minha. Custe o que custar."

Não pude evitar de sorrir ao me lembrar daquele dia. Eu prometi que faria dela minha e aqui estamos. 

Descobri que aquele lado fofinho dela era apenas o álcool fazendo efeito e que a verdadeira Darella possuía um coração mais duro do que pedra e até agora o que consegui vindo dela foi um pouco de ciúmes. Suspirei. Não seria fácil conquista-la, mas não posso desistir agora e nem penso nisso. Mesmo com esse jeito grosseiro, essa mulher está me conquistando e me surpreendendo mais a cada dia, então minha intenção não é desistir. O que me resta é continuar investindo e esperar o famoso tempo fazer seu trabalho.

Eu queria mais daquela sensação gostosa de sentir sua boca macia na minha, mas o destino não está ao meu favor. Suspirei. Eu não era do tipo que me prendia a mulher nenhuma, não era do tipo que assume compromisso com ninguém principalmente por carregar a máfia nas costas. Mas olha só para mim agora; estou viciado na única mulher que não dá a mínima para mim e quem insiste em tentar roubar um beijo dela sou eu e sempre levo xingamentos e socos.

Tudo depende apenas dela...

Nem percebi quando acabei dormindo e só acordei perto das onze no outro dia. Levantei com um resmungo e desci as escadas indo em direção à cozinha. Darella estava pulando para tentar pegar uma caneca num balcão alto e eu me aproximei dela e levantei o braço para pegar a caneca que ela queria.

— Obrigada. - ela murmurou ainda de costas para mim.

— Bom dia. - falei me apoiando de costas no balcão atrás de mim. 

— Bom dia - ela disse se virando de frente para mim com um sorriso sem mostrar os dentes no rosto, até arregalar os olhos e me encarando dos pés a cabeça e desviar o olhar com o rosto vermelho. - Alecssander p-p-poderia ter a decência de se vestir ? 

— Qual o problema ? Eu estou em casa. - falei, segurando a risada.

— A-Ande logo seu babaca !

— Tudo bem, mas só por que você pediu com educação. - falei rindo e fui até o quarto, colocando uma bermuda e uma camisa qualquer e depois voltando até a cozinha. - Satisfeita ?

— Muito ! 

Me peguei a encarando com um sorriso de canto no rosto ao me lembrar da noite na boate e da nossa promessa.

— Algum problema ? - ela perguntou, já com o rosto em sua cor normal e sua expressão séria de sempre.

— Não, nenhum.

Eu cumpri minha parte da promessa, Darella. E talvez você nunca se lembre da promessa que fez para mim e talvez nunca tenha vontade de cumpri-la. Mas só quero que saiba que eu acredito que um dia você irá se lembrar e até lá, estarei aguardando ansiosamente.- pensei, a encarando.