— Flora!

A garotinha loira franziu o cenho diante do tom bravo de seu pai e, depois de dar um nó na fita que prendia o pequeno buquê que fizera, caminhou de encontro com o homem de vestes negras e feições carrancudas.

— Sim, papai? — Sorriu para o homem, parando na frente dele e segurando o buquê em seu peito, olhando com sincera inocência para o mais velho.

Diante daquela visão, Severo apenas suspirou. Ele estava pronto para brigar com a garotinha mas, como sempre, toda a sua raiva - melhor, boa parte dela— se esvaia diante do olhar inocente de Flora. A garota havia puxado sua falecida mãe, uma trouxa que conhecera por acaso em uma das suas visitas a Londres.

Severo se apaixonou instantaneamente, o que o surpreendeu. O cabelo loiro e ondulado caía como castata pelos ombros delicados. Os olhos azuis cintilavam com gentileza, enquanto regava as plantas e flores que tinha na sua pequena floricultura.

Depois de Lilian Potter, Severo havia pensado que seria incapaz de amar outra pessoa novamente, mas, ao se encontrar com uma moça tão gentil, inocente e educada, tudo o que acreditava caiu por terra.

Genevieve Thompson era uma moça espetacular, e, mesmo tendo falecido há onze anos no parto, ele ainda a amava mais do que nunca.

Afinal, além de ter mostrado as partes boas da vida, Genevieve havia dado à ele a coisa mais importante de sua vida: sua pequena menina.

— Por que encheu meu laboratório de flores? — Perguntou baixo, agachando-se um pouco, para ficar em frente a garota pequenina, que sorriu animada para o pai.

— Ele estava tão sem vida, papai. Então eu coloquei flores! Flores são lindas e perfumadas e cheias de vida! Eu adoro flores, papai!

— Eu sei que sim, querida, mas você não pode fazer mais isso, tudo bem? Este é o meu local de trabalho, não pode estar cheio de flores. — Sua voz estava branda, enquanto arrumava o cachecol amarelo e preto dela.

Esta fora outra surpresa da qual Severo Snape não esperava: sua filha, sua linda menina, recebera a carta de Hogwarts - tudo bem, essa não era exatamente uma surpresa - e fora selecionada para a casa que ele mais achava inútil, Lufa-Lufa - sim, essa era a surpresa.

Depois de passada a surpresa e a negação, ele foi obrigado a aceitar que, infelizmente, Flora era uma perfeita lufana.

— Tudo bem, papai. Mas eu posso plantar um canteiro de flores na nossa casa? — Perguntou animada, sua voz subindo uma oitava, enquanto pensava nas flores que poderia plantar.

— Claro, querida.

— Obrigada, papai! Obrigada! — Abraçou o homem, apertando-o com força e logo dando um beijo em sua bochecha.

Depois, se separou e foi saltitando até a saída do laboratório do pai, que ficava nas masmorras de Hogwarts, e indo para sei lá onde.

Pondo-se ereto novamente, Severo observou sua filha ir.

Suspirando, olhou ao redor, vendo o lugar cheio de flores. Levantou sua varinha, pronto para fazer um feitiço e se desfazer de tudo aquilo. Mas, ao sentir o cheiro de rosas, as flores preferidas de sua amada, ele sorriu minimamente.

Sua falecida esposa gostava de flores e sua filha também. Então, ele havia aprendido a gostar das flores.

Num gesto simples, fez muitas das flores desaparecerem, restando só algumas, que ele colocou num vaso, que deixou num canto imperceptível.

Quem diria que o tão temido Mestre de Poções algum dia, afinal, iria ter um vaso com flores em sua aterrorizadora sala.