Dizem que quando estamos morrendo um filme sobre nossa vida passa por nossa cabeça com todos os momentos bons, ate os ruins, com as pessoas que fizeram parte de tudo o que vivemos. Mas nem sempre é preciso estar morrendo para que isso aconteça.

O coração de Sasuke Uchiha, independente da quantidade de mulheres que passaram por sua cama, nunca esteve em jogo, pois sempre teve a quem pertencesse. Ela sempre esteve lá para ele. Cuidando-o, aconselhando, brigando quando todos em torno tinham medo de falar. Ela tambem nunca se deixou abalar por sua carranca. Nunca teve medo de seus misteriosos olhos.

Para muitos o olhar é a chave para a alma, mas nao em seu caso. Suas íris escuras nao deixavam ninguem passar. Alguns tentavam lê-lo, decifrar suas expressões, ate mesmo a falta delas, mas ninguém era bom o suficiente. Ha um tempo, ele achava que ela era, mas então percebeu que a doce menina apenas o conhecia melhor do que qualquer um.

Todavia, nao era diferente com ele. Através de suas esmeraldas conseguia enxergar a sua alma. Quando seus olhos brilhavam toda vez que a fazia rir sabia que estava tentando imaginar a cena da piada que contara, quando tornavam-se turvos com a decepção cada vez que uma mulher, que nao era ela, esteve em sua cama sabia que estava a pensar quando seria a sua vez. Ele amava o fato de seus olhos servirem como uma porta de contato com o que se passava em seu coração. Mas um dia ela deixou que ele visse demais. Em um breve momento de silencio, enquanto se encaravam, ela baixou sua guarda e mostrou-lhe por seu olhar o amor que guardava em segredo. E sem precisar de palavras, com a lágrima que seguiu caminho por seu rosto, deixou-lhe ver que ela nao acreditava em um futuro entre eles.

Depois disso decidiu deixar seus próprios sentimentos apenas para si, pelo menos por algum tempo. Mas quando se sentira preparado para viver uma vida em conjunto fora tarde demais. Outro sortudo a tinha encontrado e fez o que ele deveria ter feito: pediu-a em casamento.

Agora, ha uma hora do que pode ser o fim de tudo, andava como um louco de um lado a outro dentro do luxuoso apartamento que comprou quando fora promovido na empresa em que trabalha. Pensava se realmente o amor que uma vez soube existir acabara-se de vez.

             - Você vai abrir um buraco no chão se continuar a andar feito galinha tonta. - a voz de seu melhor amigo o faz despertar de seus devaneios.

          - Você acha que é tarde demais? - sua voz e o fato de estar roendo a unha do seu mindinho deixam amostra todo o seu nervosismo.

O suspiro solto pelo amigo loiro o fizera pensar que talvez sim. Talvez tivesse sido melhor arriscar naquele momento em que tudo ficou claro.

            - Eu acho que você teve muito tempo para fazer algo em relação a isso - não consegue evitar sentir-se decepcionado mesmo que já soubesse a verdade, no entanto ainda esperava que o amigo “cabeça oca” fosse lhe dar alguma luz em meio a tanta escuridão - Mas eu também não criticaria caso decidisse fazer agora. Afinal, é como dizem: "antes nunca do que tarde". Espera, não é isso não. Como dizem mesmo?

A risada que lhe escapa pelos lábios é a primeira desde que os preparativos para o que seria seu inferno pessoal começaram. Sabia que Naruto não decepcionaria.

Naruto Uzumaki é seu melhor amigo desde que se entende por gente. Na verdade, desde antes. Suas mães são grandes amigas e ficaram grávidas na mesma época, assim conversavam muito sobre os bebês que aguardavam e que seriam grandes amigos.

A personalidade de ambos nao poderia ser mais diferente. Enquanto Sasuke é reservado e calado, Naruto é brincalhão e falador. Conhecido como escandaloso por muitos, mas ainda assim, amado por todos.

              - Você é o melhor - o Uchiha deixa-se levar pelo momento e deposita um beijo na face do amigo. - Eu vou falar com a Sakura agora.

             - Teme, ela está se arrumando, não vai querer falar contigo agora. Fora que as garotas vão te matar se desconfiarem que você quer pôr fim no casamento. - Naruto segura os ombros do amigo, que andava em direção à porta. - Isso tem que ser feito na igreja. Lá ninguém vai poder te impedir.

         - Você está maluco? Sabe a quantidade de gente que vai estar lá? Eu nao vou fazer nada na frente de uma multidão, principalmente que minha família faz parte dela. O Itachi vai me zoar ate eu estar tao velho que a minha audição nao estará funcionando. Ou ate eu matar ele. O que vier primeiro. - a cabeça do moreno parece querer explodir só em imaginar a cena.

            - Ué, você não a ama? Então eu não vejo problema nos outros saberem disso. Além disso, qual mulher não gostaria de uma declaração na frente de todos? Elas se amarram nisso. – um sorriso convencido surge no rosto de Naruto.

              - As vezes eu acho que você não conhece a mesma Sakura que eu. Ela detesta chamar a atenção, você sabe disso. – Sasuke diz quando solta-se do aperto do amigo. – Eu vou fazer isso do jeito certo.

              - Boa sorte! – o murmúrio do loiro é audível apenas para si – Espera! Eu vou contigo. – Grita quando percebe o amigo sair do apartamento.

                - Fecha a porta! – o grito do moreno faz com que o outro volte todo o caminho andado, pois havia deixado a porta aberta.

                 - Então qual o plano? – Naruto pergunta já dentro do carro.

                - Irei até a Sakura, direi tudo o que sinto e pedirei para que não se case, pelo menos não com ele ou outro que não seja eu. – um sorriso esperançoso surge nos lábios do Uchiha, mas some assim que ouve a voz do amigo.

             - Que plano bosta, cara. – Naruto dá risada do plano nada estrategicamente pensado. – Eu já disse que você não vai conseguir falar com ela. As meninas nunca deixariam.

              - Vamos ver então. – o Uchiha deixa o desafio no ar.

Todo o resto do caminho foi feito em silencio. A mente do moreno estava em outro lugar e toda vez que pensava que poderia não conseguir dizer tudo o que sentia para a rosada o pé no acelerador do carro ia mais fundo deixando o amigo no banco do passageiro com medo de uma morte antecipada.

Quando chegaram ao destino final perceberam a louca movimentação na casa onde a noiva se arrumava, consequentemente onde tambem seria a festa após a cerimônia na igreja.

O Uchiha procurou o olhar do amigo em busca de coragem e de um sinal que lhe mostrasse que não estava fazendo a coisa errada. Mas para sua surpresa o mesmo não se encontrava mais ali. Procurando por todos os lados encontro-o na mesa que ficava no quintal onde os funcionários do bufê começavam a colocar os comes e bebes para a comemoração.

Aproximou-se do amigo comilão, apertando-lhe o ombro tirou a atenção que estava nos cup cakes e o fez virar para si.

              - Você está brincando comigo? – diz com os dentes rangendo – Não estamos aqui para provar a comida para ver se está boa o suficiente para a festa, idiota.

               - Cara, mas ela está. Isso aqui é muito bom! – despreocupado com a situação, Naruto come um grande pedaço que restara da mordida anterior.

               - Isso só pode ser sacanagem. – Sasuke bagunça os cabelos em sinal de nervoso.

Como se não bastasse toda a situação em que se encontrava seu melhor amigo ao invés de estar lá para ajudar, apenas atrapalhava deixando-o irritado.

              - Opa! – o rosto bronzeado de Naruto passa a ficar pálido como se o mesmo estivesse vendo um fantasma a sua frente. – Não olha para trás, Teme. Mas os seus pais estão aqui.

           - O que? Por quê? – a cabeça do mesmo vira o mais devagar que ele consegue com a esperança de no fim ser apenas pessoas parecidas com seus progenitores.

Mas não eram. Os próprios estavam ali. Ele só não entendia o porquê, uma vez que deveriam estar aguardando na igreja com todos os outros convidados. Os preparativos estavam sendo feitos por profissionais, então não poderia ser porque estavam indo ajudar aos Haruno. A mãe de Sakura estava a ajudando com o vestido, o pai provavelmente nem em casa estava, já que se sentia perdido no meio daquela bagunça toda.

Os meninos viram quando a matriarca Uchiha entrou na casa deixando o marido para trás. Colocando a mão nos bolsos da calça, o homem vira em direção ao quintal onde tudo está sendo preparado e segue em direção a tudo.

Quando menos espera, Sasuke sente seu corpo ser empurrado para baixo com força, fazendo-o cair de joelhos no chão. Desnorteado, apenas se deixa levar quando é puxado para dentro de algum lugar coberto. Quando se deu conta percebeu estar debaixo da mesa em que conversava a pouco com o amigo.

           - O que pensa que está fazendo? – sussurrou alto para o loiro. – Eu tenho que ir... – não conseguiu completar, pois teve sua boca calada por um doce. E ele odiava doce. – Naruto.. – rosnou para o amigo.

           - Shiu! – o outro fez sinal com o dedo sobre a boca para que o moreno se calasse. Apontando para fora lhe mostrou que pés, que ele acreditava ser do patriarca da familia Uchiha, estavam perto deles do lado de fora do esconderijo.

Minutos passados a situação não mudava em nada, apenas nos tipos de doces que Naruto comia. Como o amigo havia conseguido pegar tantos doces diferentes em um curto espaço de tempo e considerando a adrenalina do momento que Fuguku, pai de Sasuke aproximava-se deles, o moreno não sabia. Tambem não entendia como o amigo tinha pensado em uma solução mais rápido do que ele. Aquela situação toda estava mexendo com sua capacidade de raciocínio era óbvio.

                - Isso é patético. – cansado de esperar que o pai saísse de perto deles, Sasuke decidiu tomar uma atitude por conta própria.

Aproveitando que a mesa era do tipo comprida o Uchiha seguiu em direção a ponta oposta em que estava. Colocando apenas o suficiente da cabeça para que pudesse enxergar em volta, avistou outras mesas, essas sendo redondas, que em fileira aproximavam-se da porta dos fundos da casa. Um curto sorriso surgiu em seus lábios e ali ele viu sua chance de sair daquele constrangimento e seguir com seu plano.

             - Hei, Teme onde está indo? Ou... – Naruto tentava chamar o amigo percebendo que o mesmo seguia para fora do esconderijo.

Ao ver que o moreno passava de mesa em mesa com cuidado para não chamar a atenção de ninguem, o loiro passou a fazer o mesmo. No entanto, não chamar atenção não era um dos talentos do garoto e Sasuke teve certeza que era melhor tê-lo deixado em casa, quando este ao passar para a última mesa antes de alcançá-lo na porta, derrubou um dos garçons que carregava uma bandeja com uma torta, fazendo com que o homem a derrubasse sobre o moreno.

Se antes o Uchiha acreditava que tudo estava dando errado, agora ela tinha plena certeza. Mas é como dizem: primeiro vem a tempestade para que depois possa vir o arco-íris.

              - Naruto! – a raiva era evidente no tom de voz de Sasuke.

Antes que o desastre chamasse a atenção de Fuguku, Naruto ergueu-se sem prestar ajuda ao homem caído no chão e seguiu correndo para dentro da casa levando consigo um Sasuke irritado e com o terno sujo de torta.

Poderiam se considerar com sorte de terem saído daquele problema sem que o Uchiha mais velho tivesse os visto, porem sorte não era uma das coisas que faria parte do dia dos dois caras naquele dia.

O coração de ambos estava em disparada e eles achavam que a qualquer momento poderiam cair desfalecidos ali mesmo na cozinha. Mas Sasuke não estava disposto a desistir, nem se seu coração parasse. Ele faria questão de vir do mundo dos mortos, apenas dizer a ela tudo o que não disse antes.

           - Caraca! Esse dia está demais, cara! Ufa! – o sorriso aliviado de Naruto morre ao sentir a dor em sua cabeça. – Hey, por que me socou?

              - Por quê? Por quê? Está de sacanagem? – a respiração do Uchiha entra em sintonia com os batimentos acelerados de seu coração, fazendo-o forçar a respiração por dentro de suas vias respiratórias. – Nós quase fomos descobertos porque você não consegue fazer nada direito. O máximo que tinha que fazer era não chamar a atenção. O quanto esse simples detalhe é difícil, hã? – os gritos agora tomavam conta da cozinha e todos ali encaravam a cena entre os dois.

              - Para quem não queria a atenção de ninguem, você está fazendo isso muito mal agora. – o loiro revira os olhos ignorando a explosão do amigo. O moreno poderia ser considerado calado por muitos, mas se tem alguem que conhece bem seu lado explosivo é Naruto, afinal já está acostumado com a gritaria do outro para consigo. – Foi só um acidente. E você nem fica tão ruim assim coberto de torta. O glacê lhe cai muito bem. – Passando o dedo na bochecha esquerda de Sasuke, Naruto retira um pouco do doce ali e o leva até a boca. – Hum... Limão! Docinha, ao contrário de você. Como você pode ser mais azedo que um limão?

Enquanto o amigo destila as baboseiras, o rosto de Sasuke vai tornando-se cada vez mais vermelho com a força que o mesmo faz para não pular no pescoço do outro.

                - Eu vou te mostrar quem é o azedo seu filho da... – a fala é interrompida quando uma loira de cabelos lisos adentra o local.

               - O que estão fazendo aqui? – pergunta colocando a mão na cintura.

               - Lascou-se – Naruto sussurra para que apenas o amigo ao seu lado ouça.

              - Eu preciso falar com a Sakura, Ino. – as orbes azuis do Uzumaki parecem querer saltar para fora quando este vira o rosto em direção ao locutor da frase. Ele não esperava que o moreno fosse ser direto, na verdade achava burrice.

              - E o que é tão urgente a ponto de vocês não poderem esperar até mais tarde? – seu olhar afiado passa de um a outro.

Ino Yamanaka era a melhor amiga de Sakura. Assim como Naruto considerava o arrogante e cheio de si ao seu lado como um irmão de mães diferentes, o mesmo se passava entre a rosada e a mulher à frente. Naruto sabia que, se o homem contasse o assunto que conversaria com a noiva, a Yamanaka não permitiria que o mesmo passasse por ela e enxotaria os dois porta a fora.

            - É um assunto particular. Não se meta enxerida. Por que você não vai cuidar da vida daquela cobra albina que chama de marido e nos deixa em paz? – Naruto cruzou os braços sobre o peito e olhou diretamente nos olhos da outra.

Para muitos, isso seria quase como assinar um atestado de óbito, mas se tinha algo com que era acostumado, alem das explosões do Uchiha, era com mulheres irritadiças. A primeira fora a sua mãe, graças ao seu jeito travesso quando criança ele passou noites ouvindo seus gritos. Depois veio Sakura Haruno. Sua paixonite de infância e melhor amiga desde que derrubou em cima dela um copo de sorvete que tinha acabado de comprar. Mesmo sem o conhecer, Sakura socou-lhe a cabeça e o mandou ser mais atento.  E de bagagem trouxe a Yamanaka para infernizá-lo.

              - Como é que é, sua anta? – O grito de Ino poderia ser ouvido por todos os vizinhos. A loira aproximou-se dos dois em passos largos e ficou perigosamente próxima ao loiro. – Repete se tiver coragem jumento. Eu vou capar você e não terá como infectar o mundo com seus genes de merda.

Se fosse uma situação comum, onde os dois estariam conversando sobre banalidades e Sasuke não corresse o risco de perder o amor de sua vida, Naruto teria recuado com o medo que sentia de a mulher encontrar uma faca por perto e cumprir com a ameaça. No entanto, não era assim, então com toda a coragem que tinha pegou uma garrafa de champanhe que estava acima da pia atrás de seu corpo e a balançou.

             - O que está fazendo, idiota? – desviou do olhar confuso de Ino e encontrou com o profundo negro dos olhos do amigo, como um sinal para que se preparasse. – Se continuar isso vai acabar... – é interrompida quando é atingida pelo espumante que fora aberto por Naruto em frente ao seu rosto.

           - Corre Sasuke - os dois saem em disparada deixando para trás uma loira que não sabia se procurava algum pano para se limpar ou ia atrás dos dois.

Subiram as escadas a passos rápidos como se suas vidas de pendesse disso. Todavia, era exatamente assim que Sasuke se sentia. O motivo pelo qual seu coração mantém-se batendo e bombeando sangue para o resto do corpo está a poucos passos de si preparando-se para pertencer a outro. Enquanto passava pelos corredores uma enxurrada de lembranças o atingiam com força. E a cada uma delas seu peito apertava-se mais em agonia.

A cada passo dado uma onda de arrependimento o encontrava. Embora soubesse que naquele tempo fosse o certo não ter contado a ela sobre seus sentimentos. Talvez ele tenha demorado demais a enxergar qual era o momento preciso para declarar-se e deixar que ela visse o quanto a queria. Ele não queria abrir mão da vida que tinha antes. Festas e sexo sem compromisso. Ninguem para quem dar satisfação do que fazia e o porquê de fazê-lo. Ele não era o homem para ela.

               - Caraca! Parece até que estou preste a roubar alguma coisa. – a gargalhada que saiu pela garganta de Naruto o fez sair do devaneio e lembrar-se do agora e preparar-se para dizer tudo o que estava entalado há muito tempo.

Com as mãos tremendo e a respiração presa, Sasuke preparou-se para adentrar o quarto, porém uma pequena mão tocou-lhe o ombro impedindo-o que abrisse a porta.

               - Hina? – um bobo sorriso surgiu nos lábios de Naruto ao ver a morena. Ela estava linda com o vestido de dama de honra. Ao vê-la assim agradeceu aos céus por ter aberto os olhos e perceber que a dona dos olhos perolados era a mulher certa com quem casaria e formaria uma linda família. Pelo menos o bufê ele já sabia qual iria contratar. Ou talvez pedisse a receita à pessoa responsável pelos doces e assim Hinata poderia fazê-los para ele sempre que quisesse.

             - Olá, Naruto! – o sorriso tímido e as bochechas rosadas sempre se faziam presente quando Naruto estava por perto. E ele sentia-se sortudo por ser o único motivo por essas reações. – Você acha justo, Sasuke? – agora o olhar sério da garota dirigia-se ao moreno.

Hinata Hyuuga poderia ser considerada a segunda melhor amiga da Haruno. Era também namorada do espalhafatoso loiro. Estava ali para, assim como Ino, ajudar a amiga para o grande dia especial para todas as mulheres. E com certeza, não deixaria que o Uchiha passasse por aquela porta. Ela sabia todo o sofrimento que a amiga já tivera por causa do homem. Cada vez que Sakura chorara em seu colo por cada mulher que passava pela cama do Uchiha seu coração se partira em pedaços.

Assim como todos os amigos próximos, ela sabia todo o sentimento que ele tinha pela amiga. A única que parecia não perceber era a própria. Entretanto não poderia julgá-la por não acreditar que um amor entre eles era possível. Hinata nunca entendeu o porquê de Sasuke não tomar uma atitude e dizer a rosada tudo o que sentia. Em segredo ela torceu para que ele abrisse mão da vida fácil que levava e assumisse um compromisso com a pessoa que o amava. Mas ele não o fez a tempo. E agora que Sakura encontrara alguem que aliviou de seu coração todo o sofrimento e que poderia viver uma vida feliz, ele queria impedi-la. Porém, isso estava fora de cogitação. A Hyuuga o pararia.

               - Ela precisa saber Hinata. - o olhar de Sasuke era determinado, mas conseguiu ver medo nele e ela aproveitaria isso.

              - Não, não precisa. Não mais. Você teve muito tempo para fazê-la ser ciente do seu amor, mas escolheu ficar com a vida fácil e aproveitar as vagabundas que apareciam em seu caminho. Você viveu do jeito que quis. Agora é a vez dela. Deixe-a com alguem que a ama e não hesitou um minuto sequer em tê-la ao lado e fazê-la feliz. Você não tem ideia de quanta dor lhe trouxe, quantas foram às vezes que ela me ligava chorando porque o sofrimento era demais para ficar guardado em seu coração. Você preferiu fingir que isso não acontecia. Fechou os olhos e deixou-a afundar sozinha em sua angustia. – as lágrimas agora escorriam por sua face ao lembrar da amiga embolada no cobertor em sua cama como um pequeno filhote indefeso. – Chega Sasuke. Não continue sendo essa pessoa egoísta. Ela não aguentará mais essa dor. Se você visse o quão feliz ela está nesse momento. Ele a faz bem.

Por um tempo Sasuke não soube o que responder a morena. Ele sabia que tudo o que estava dizendo era verdade. Todas as palavras ditas foram absorvidas por seu coração. Ele não queria desistir, mesmo que agora achasse ser o melhor para ela.

                - Eu também poderia fazer bem a ela. Eu tentarei – sua voz saiu baixa e sem convicção.

              - Será? Depois de tanto tempo sendo o motivo das feridas, acha que pode ser a cura? É muita presunção sua, Uchiha. Toda vez que ela olhar para você vai lembrar-se da dor, das madrugadas que não conseguia dormir porque ficava pensando o que havia de errado com ela para você preferir as outras. – Hinata levou seu rosto para próximo do de Sasuke, o suficiente para seus narizes quase se encostarem.

              - Hei querida você não precisa chegar tão perto dele. Ele pode ser um idiota, mas não é surdo não. – a queixa de Naruto é ignorada pelos os outros dois.

               - Toda vez que for tocá-la, ela irá pensar em todas as outras com quem você esteve; vai se perguntar se eram mais bonitas que ela; se eram melhor de transa; se faziam coisas que ela não faz. Ela terá medo de dizer não e você ir procurar na rua o que não te oferecesse. Ficará louca pensando se seria o suficiente ou se a qualquer momento você enjoaria da vida conjunta e a largaria para voltar à farra. Ela na... -  é interrompida pelo rompante de Sasuke.

             - Eu jamais faria algo assim para ela. Nunca enjoaria dela. Ela é – dessa vez quem não pode completar sua fala fora o moreno.

             - É mesmo? E quem garante? Você? – Hinata não se abalara com o olhar angustiado de Sasuke. Ela estava vencendo aquela discussão e sabia disso. – Não pode garantir nada. Mas ele pode. Ele provou que pode fazer o melhor da vida dela. Um simples passeio em volta pelo parque enquanto tomam sorvete é o suficiente para fazê-la chegar em casa com um sorriso esperançoso. Um sorriso que diz que ela finalmente acredita que pode viver um amor. Ele a fez acreditar que é possível. Ela confia nele. Mas ela nunca irá confiar em você Sasuke Uchiha.

E o soco final foi dado por Hinata.

Ela soube que ele não passaria por aquela porta quando a cabeça do moreno pendeu para baixo e o mesmo passou a fitar o chão.

Ela estava certa.

Sakura não acreditava no amor entre eles dois. Ele já sabia disso, mas pensou ser possível prová-la do contrario. Todavia, tudo não passou de uma ilusão criada por sua mente. Ele conhecia bem a rosada. Sabia que ela não era do tipo que confiava facilmente nas pessoas, principalmente quando estas tinham um passado sujo, como ele. Seu passado o condenava e ele tambem era ciente disso. Para quem não era?

                 - Você está certa. – é tudo o que ele diz ao soltar a maçaneta da porta e seguir de volta para as escadas.

               - Teme... – Naruto apenas viu o amigo seguir derrotado. Surpreendeu-se com as palavras duras que Hinata despejou em cima do mesmo. Ele sabia que ela estava tentando proteger a amiga. Contudo, ele não achava que Hinata entendesse o que se passa na cabeça da amiga. Sakura era tambem uma grande amiga dele, na verdade a melhor. Ele entendia todo o sofrimento que ela passara e não achava que ela estava tão bem quanto a namorada imaginava.

Seguiu para fora da casa à procura do amigo quando o avistou já dentro do carro com a cabeça abaixada sobre o volante.

                - Eu não vou perguntar como está porque posso imaginar. Mas e agora? Vai desistir mesmo? – seu tom de voz era calmo não queria irritar o amigo que acabara de levar uma grande lição.

               - Como assim o que irei fazer? Vou para casa e esperar esse pesadelo acabar. – a resposta do moreno sai abafada.

              - Para casa? Não vai assistir ao casamento? – somente após a perguntar escapar por seus lábios, Naruto percebeu a burrada que tinha cometido.

           - Qual é o seu problema? Como pode ser tão idiota? – a cabeça de Sasuke ergue-se com rapidez e seu olhar de angustia, dor e raiva fica evidente para o loiro. – Eu vou fazer o que lá? Ver a única mulher a qual amei e amo nessa vida se casar com outro? Vê-la jurando amor eterno a um idiota que a terá para o resto da vida? Um imbecil que terá o sorriso dela sempre que quiser. O desgraçado que a tocará sem precisar pedir permissão. Que poderá abraçar e andar de mãos dadas com ela na frente de todos mostrando o quanto eles estão felizes juntos? Se eu chegar perto daquela igreja Naruto, perderei o único pedaço que sobrou do meu coração.

O Uzumaki nunca vira o amigo ser tão aberto e transparente com seus sentimentos antes. E vê-lo tão ferido fez com que seu coração doesse. Não poder ajudar o amigo, o fez sentir-se inútil e ele odiava essa sensação.

              - Mas se você não for ela te odiará. – e era verdade. Sasuke era uma pessoa importante demais para a Haruno e se ele não estivesse presente em seu dia especial, ela não o desculparia. O próprio Sasuke sabia disso. – E então? Prefere tê-la odiando-o? Você disse que faria as coisas do jeito certo, então faça. Vá até lá por ela, se despeça e coloque um fim nessa história.

Era difícil admitir, mas o outro estava certo. Era isso o que ele tinha que fazer para por fim em tudo.

               - Você está certo. Obrigada! – um pequeno e quase imperceptível sorriso surgiu no canto dos lábios do moreno e assim eles seguiram em direção a igreja.

O local estava lotado do jeito que ele imaginou que estaria. A familia Uzumaki encontrava-se na primeira fileira de bancos, bem próximos dos noivos, e ao lado estava a sua. Quer dizer, apenas seu irmão Itachi e a esposa. Ao que parece os pais ainda não tinha voltado da casa dos Haruno.

              - O que aconteceu com o seu terno? Quando a dona Mikoto ver isso o negocio vai ficar feio para o seu lado. – O irmão mais velho zombou. De repente o semblante de Itachi fica sério – Você está bem? Quero dizer, com tudo isso. – seus braços entram em movimento mostrando toda a igreja.

            - Por que não estaria? Não faça perguntas idiotas, Itachi. – o moreno ralhou com o irmão que não se convenceu com a resposta.

Sasuke tomou seu lugar ao lado do irmão e aguardou até que tudo chegasse ao fim. De repente sentiu dedos passando por sua nuca, quando virou-se notara que tinha sido o irmão que junto a Naruto tirou um pouco da torta que havia ali levando até a boca.

             - Que coincidência, limão. Azedo igual a você. Apesar de a torta ser doce. O ditado é: “Se a vida te der limões faça uma caipirinha” e não “faça uma torta e esfregue-a no corpo”. – Itachi rir da própria piada.

Era nesses momentos que Sasuke se pegava pensando se por acaso não trocaram por acidente Itachi por outro bebê na maternidade. Ou se a mãe já sabia que ele seria um estúpido e fez a troca de propósito.

                - Eu estive pensando em um novo. Que tal “se a vida te der limões esfregue-os nos olhos do Itachi”. Parece-me ótimo. – já cansado de estar lambuzado e ter que agüentar as piadas péssimas de Naruto e Itachi, o moreno foi a procura de alguem que possa ajudá-lo a achar algum banheiro naquele lugar.

Encontrou um menino que o levou até uma sala e mostrou onde ficava o banheiro. Ao sair pode ouvir a marcha nupcial e então soube que naquele momento tudo chegaria ao fim. Andou de volta onde todos estavam sem pressa alguma. Passo a passo ele caminhava para a sua cadeira elétrica particular.

Ele sabia que ela estaria linda, mas o que encontrou foi mais do que poderia um dia ter imaginado. Os cabelos estavam presos em um coque, mas com mechas cacheadas soltas em seu rosto. O vestido era comprido, justo em sua parte superior, a saia abria-se em forma de balão e seu véu cai em cascata do inicio de sua cabeça, preso por uma pequena coroa, até o final do seu corpo, arrastando pelo chão. Sua maquiagem não tinha nada de extravagante. Na verdade, parecia que não a usava. Estaria perfeita se não fosse pelo olhar. Seus olhos estavam baixos, mas ele podia ver que estavam foscos e sem vida. Não brilhavam como deveriam quando ela está alegre. Ela parecia inerte ao que se passava ao seu redor, como se pensasse em qualquer outra coisa.

Quando sua cabeça voltou a levantar, seus olhos passaram pelo padre e todos que estavam no altar junto ao noivo e ela. E então suas esmeraldas pararam em si quando encontraram com seu ônix. Um pequeno sorriso surgiu nos lábios da menina e o pequeno brilho conhecido pelo moreno se acendeu em suas íris verdes. Aquele que visto apenas uma vez, o que lhe mostrou todo o sentimento que havia dentro dela. No entanto sua atenção foi desviada quando teve sua atenção chamada pelo homem ao seu lado. O sorriso junto a pequena chama sumiram e foi o suficiente para saber que ela não queria estar ali. Ela não queria casar-se com outra pessoa.

                - Desculpe, pode perguntar novamente? – a doce voz de Sakura se fez presente.

              - Você, Sakura Haruno aceita Gaara No Sabaku como seu legítimo esposo? – o padre refez sua pergunta e todos ao redor ficaram tensos com a demora da resposta da rosada.

Os olhos do Uchiha saíram dela e encontraram-se com os de Naruto e ali ele achou a força a qual precisava.

Não importava mais o que Hinata lhe disse. O que importava agora era que ele tinha certeza de que ela ainda o amava.

                  - Não, ela não aceita. – mal percebeu quando sua voz marcou presença e seu corpo saiu andando em direção ao seu amor.

                   - Isso ai, Teme. – Naruto comemorava consigo mesmo.

                    - Sasuke? – seu nome saiu de forma insegura dos lábios da rosada

                 - Eu sei que fiz muitas burradas, mas deixá-la casar-se com alguem que não ama não vai ser uma delas Sakura. Não posso permitir que isso aconteça. – pegou suas mãos e ajoelhou-se em frente não só da mulher, mas de toda a igreja.

                - Eu disse que essa era melhor maneira. Depois de desprezar a minha ideia decidiu voltar atrás, né?– o grito de Naruto chama sua atenção.

                 - Cala a boca! – o moreno responde arrancando risadas das pessoas em volta.

Não acreditava que estava a fazer justamente aquilo que tinha dito que não faria. Sentia seu rosto esquentar com a vergonha e pode ouvir os murmúrios começarem.

                  - Vai lá, irmãozinho. – Itachi grita levando-se para melhor ver a cena.

               - Eu sei que fui um estúpido por preferir a gandaia ao invés de dizê-la de uma vez tudo o que sinto. Mas naquela época eu não era bom o suficiente para você. Eu não tinha a cabeça que tenho agora. Era um moleque que queria coisas fáceis da vida. E você nunca aceitaria isso. Mas em momento algum eu tirei você de mim Sakura. Mesmo que eu tocasse muitas outras era você que eu queria todo aquele tempo. O meu coração sempre pertenceu a você. Era o calor do seu corpo que eu queria sentir colado ao meu. – as lagrimas que agora escorrem pelo rosto da garota fazem-no ter certeza de que dizer o que virá a seguir é o correto. – Eu amo você, Sakura Haruno. Eu sempre amei.

Um instante de silencio se passa, mas logo é interrompido pela salva de palmas, gritos e assovios que se seguem. Mas a resposta de quem realmente lhe interessa ainda não é chegada. E quando ele acha que ela finalmente dirá algo, sente seu corpo ser jogado ao chão com um peso sobre si. Depois do primeiro soco percebeu ser Gaara em cima do seu corpo. Um segundo soco veio em sua direção, mas impediu desviando o rosto. Rolou por cima do ruivo e devolveu com vontade os socos.  Gaara não se deu por vencido e voltou a pressionar o corpo por cima do Uchiha.

                  - Isso está parecendo mais um rala e rola do que uma briga. Se continuar esse amor todo, daqui a pouco eles vão levantar e marcar um encontro a luz de velas em um restaurante. Se eu não conhecesse o Teme diria que ele fez tudo isso para roubar o Gaara da Sakura – Naruto comenta rindo e leva um cascudo de Hinata.

                - Chega! – um grito foi dado fazendo com que todos ali ficassem quietos.

Era Sakura que já não aguentava mais tanta confusão e falatório em sua cabeça.

                - Você foi a pessoa que mais me fez sofrer, Uchiha. Eu nunca chorei tanto por alguém como chorei por você. Se não fosse por Hinata e Ino, eu teria me perdido em meio a tanto sofrimento. – o desabafo de sua rosada fez com seu coração falhasse uma batida – Eu te amei tanto, às vezes acho que mais do que a mim mesma. Mas você sempre fechou os olhos para esse amor. Então por que agora? Por que eu deveria acreditar em você?

              - Eu era um veneno para o seu amor, Sakura. Não tinha cabeça para entrar em um relacionamento. E se tivéssemos começado algo antes de eu estar preparado, teria feito você sofrer mais ainda e isso me mataria. Eu fui egoista antes e estou sendo agora, eu sei. Mas se eu perder você, não terei mais nada. – uma lagrima solitária liberta-se e desce por seu rosto. - Uma chance. Só preciso de uma chance para fazer tudo valer a pena, Sakura. – Sasuke diz estendendo a mão em direção a garota que estava estática ainda no altar.

               - Não dê ouvidos a ele. Você melhor do que ninguem o conhece. Uma não é o bastante para ele. – No Sabaku diz fazendo com que Sakura não ceda ao pedido do Uchiha.

                 - Apenas você me basta, Haruno. Eu não preciso de mais nada. O máximo que posso prometer é que irei me esforçar. – nos lábios de Sasuke nasce um sorriso que deixa amostra todos os seus dentes. Um sorriso que aparece apenas para ela. Por ela.

De repente ele vê os olhos esverdeados desviarem dele para alguem atrás de si, quando seus olhos seguem a trajetória dos dela, ele encontra o olhar orgulhoso do pai no fim da igreja e o da mãe sonhador.

Sua atenção volta para a noiva, que com olhos inchados pelas lagrimas derramadas dá o seu veredicto:

               - Apenas uma chance Sasuke Uchiha! – aproximando-se do moreno, a garota sela seus lábios e um beijo lento, mas com amor acontece.

Cansado de chamar tanta atenção e querendo ficar a sós com Sakura, Sasuke a joga sobre seus ombros e sai em disparada pelo corredor da igreja em direção as portas. Ao passarem por seus pais ele ouve de Sakura um agradecimento. Não entendeu bem, mas não pararia agora para pedir explicações.

Ele não morreu, mas era como se estivesse perto do precipício da morte. Se tivesse perdido essa mulher se tornaria alguem sem rumo e perspectiva alguma de vida. Pelo o que conhece de si mesmo, sabe que afundaria no trabalho e esqueceria de viver.

Mas agora ela está em seus braços e ele fará de tudo para mantê-la.