Ainda há cor em mim escrita por Karine


Capítulo 1
Capítulo único.




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Era o dia que poderia ser definido como o mais importante da minha vida, era o dia do meu casamento, Tom me ligou chego naquela manhã, sua voz era tremula, mas eu apenas pensei que fosse o nervosismo, afinal eu estava igual, eu estava confiante mas no fundo tinha medo, eu sabia que era a coisa certa, mas era assustador se prender a alguém para o resto da vida, eu sabia que o amava, e até ali, pensei que ele me amava igual, aquela união era o início para nossa família, algo que construiriamos juntos.

Na ligação ele apenas me perguntou se o amava, afirmei e falei que tudo bem sentir medo, que eu também me sentia daquele jeito, estavamos juntos há cinco anos, mas era diferente, um casamento era uma responsabilidade enorme, então eu ouvi um risinho do outro lado da linha, dissemos adeus e desligamos.

Vesti meu vestido branco, tinha sido da minha mãe, as garotas começaram a chegar e todas ficavam com lágrimas nos olhos quando me viam, sorrimos e fizemos coisas que se espera que sejam feitas no dia do casamento, ou seja, fotos, um milhão delas, talvez menos, não me resta nenhuma agora, me pergunto se alguém ainda tem alguma lembrança daquele dia, eu não tinha.

Os minutos avançavam como segundos, e as horas corriam pelo relogio, logo veio meu pai avisando que o carro estava nos esperando, sai apressada com um sorriso no rosto, meu pai me deu a mão e vi em seus olhos que ele sentia que estava me perdendo, apertei sua mão bem forte.

—_ Eu sempre serei sua garotinha pai. – Falei sentindo os olhos marejados, ele sempre foi alguém por quem eu me espelhei, meu exemplo e meu tudo, ele deixou algumas lágrimas escorrerem por seu rosto, algo que era muito raro de acontecer, enxugou-as rapidamente com as mangas do paleto.

—_ Não diga isso a sua mãe, ela vai brigar por que te fiz chorar. – Quando ele falou isso que percebi que escorriam lágrimas do meu rosto também, era o dia mais feliz da minha vida. – Você sempre será a minha garotinha, e eu realmente espero que você seja muito feliz minha filha, seu pai te ama muito.

—_ Também te amo pai... – Falei encostando a cabeça no ombro dele, seguimos viagem silenciosamente, e chegamos rapido na porta da igreja, senti um frio da barriga e agradeci por meu pai estar ali comigo, ele me dava força, e com ele adentrei as portas da igreja lindamente decorada para o meu casamento.

            Logo que as portas se abriram, a velha e doce marça nupcial começou a tocar, eu realmente queria aquele toque clássico, sorri e olhei ao redor, vários rostos conhecidos, alguns eu não fazia ideia de quem eram, os amigos do meu futuro marido, e ao final estava Tom, parecia palido e muito nervoso, ri comigo mesma.

            Todos me olhavam, meu dia de fama, mas eu não estava ali por isso, eu estava ali decidida a declarar o meu amor por aquele homem, não era um dia só meu, era nosso, e de nossas famílias. Ao pensar nisso senti o medo indo embora, eu tinha total confiança nele, nunca pensei que um dia me casaria, sempre acreditei no amor, mas não muito nas pessoas, mas ele tinha me feito amar verdadeiramente, por isso eu arrisquei e vim parar aqui.

            Com esse pensamento afastei todas as duvidas que ainda restavam e caminhei sem medo por aquela plataforma, pois ao final daquele caminho ele estaria para me dar a mão, e foi o que aconteceu, meu pai chorou ainda mais quando passou minha mão para as mãos de Tom, vi minha mãe sorri zombeteira, pois meu pai era do tipo machão, e ela ria muito de como ele parecia um menino naquele momento, me perguntei se um dia Tom seria daquele jeito com nossos filhos.

            Ouvi meu pai sussurar baixinho para que apenas Tom ouvisse:

—_ Cuide dela rapaz, ela é a minha filha. – Tom olhou para ele ainda mais assustado, eu tive vontade de rir e então agarrei a mão dele.

—_ Você não tem mais escapatoria. – Falei rindo e ele me olhou significativamente por um momento antes de rir nervosamente. Não entendi direito, apenas presumi que fosse o nervosismo, homens geralmente ficam piores que as mulheres, então julguei que fosse normal... Queria ter prestado mais atenção aos detalhes, mas não adianta mais, não mais, não agora.

            Ficamos de frente pro padre durante vários e inderminaveis minutos, e por mais que amasse o homem ao meu lado e amasse mais da metade do povo ali, aquela cerimonia era entediante, não prestei atenção na medate das coisas que foram ditas, algo que anestesiava o meu corpo parecia estar ativo naquele momento.

            Até que começou a parte em que faziamos nossos juramentos, escutei tudo o que veio de Tom atentamente, procurei por seus olhos e eles me procuravam de volta, nos encaramos intensamente, mas, tinha algo nos dele que eu simplesmente não conseguia decifrar. Quando falei a minha parte ele apertou minhas mãos entre as suas.

            Ao final dessa parte vi que antes de virarmos pro padre novamente, Tom se demorou um segundo olhando para o público nos assistindo. Não dei muita atenção, nos viramos e o padre fez a grande pergunta, se aceitavamos um ao outro, Tom respondeu seu sim singelamente, docemente, e o meu foi energetico, feliz, em segundos eu seria sua mulher, até que a morte nos separasse.

            O padre sorria castamente, era um senhorzinho simpatico e de voz mansa, e sem muito atenção ele fez a pergunta mais dramatica de toda aquela cerimonia, aquela que sempre era destaca em filmes de romance, eu ri, existiria alguém contra nosso amor? Eu pensei que não, mas pensei errado, e só percebi quando um burburinho começou do lado da ala de Tom na igreja, me virei e vi uma moça levantada, com uma mão para o alto, como se pedisse licença pra falar.

            Olhei para Tom e foi onde tudo desmoronou, foi naquele segundo que ele soltou a minha mão e foi quando ouvi a voz doce e rouca da mulher que eu não conhecia na platéria.

—_ Eu realmente não queria fazer isso Tom, mas eu percebi que minha vida não é nada sem você, por que eu te amo, te amo com todas as minhas forças, e sei posso te fazer mais feliz do que qualquer outra pessoa, então por favor não se case! – Ela falou já entre lágrimas e saiu de seu lugar se dirigindo ao altar.

            Naquele momento eu já estava alheia a tudo, como se estivesse assistindo a um filme, não era possível, não podia ser real, eu sempre fui uma pessoa normal, nunca fiz mal pra ninguém, minha família nunca fez mal pra ninguém então por que?

            A garota chegou na minha frente, mas ela não me olhava, eu não conseguia nem sentir raiva de tão desacreditava que estava, e então algo ainda mais surpreendentemente aconteceu, Tom andou até a garota e sorriu para ela pegando suas mãos e então a beijou.

            Senti minhas pernas falharem, e então mãos fortes me segurarem antes de eu chegar ao chão, reconheci o toque acolhedor do meu pai, e então olhei para ele, seus olhos eram tristes, e então não consegui me segurar, as lágrimas então começaram a escorrer e em instantes eu estava em prantos.

—_ Você... – Ouvi a voz de meu pai e eu me sentia a pessoa mais envergonhada, de repente meu casamento virou um circo. – Você não é homem! Eu e toda minha família confiamos em você e isso não é coisa que se faça!

            Meu pai falou raivoso enquanto me passava para os braços da minha mãe, e eu vi meu pai avançado sobre aquele homem, e várias pessoas chegavam junto para separar, vi também a mãe de Tom aos pratos correndo em minha direção e minha mãe a afastando raivosa. Juntei todas as minhas forças para cessar as lágrimas e me levantar dos braços de minha mãe.

—_ Me solta mãe, eu estou bem. – Falei me levantando e tentando enxugar as lágrimas.

—_ Eu sinto muito querida... Eu realmente... – Minha mãe falou pela primeira vez chorando naquele dia, olhei e vi que Tom estava machucado e várias pessoas seguravam meu pai.

            Andei em direção aquele homem que um dia eu pensei que conhecia, e antes de chegar até ele a mulher entrou na minha frente, a mulher dele, a mulher que tinha me proporcionado o pior dia da minha vida, apenas a encarei quando as pessoas nos perceberam, Tom que estava no chão até aquele momento correu até ficar na frente dela, a defendendo, segurando suas mãos.

—_ Esse é o tanto que você a ama? – Perguntei tentando conter as lágrimas. – Não farei nada com ela, ela não me fez nada... Você fez. Você me chamou pra sair, você me pediu em casamento, você fez esse dia acontecer, e pra que Tom? Minha família está toda aqui, meus pais, seus pais, nossos amigos... Por que?

—_ Me perdoe... – Ele falou com olhos marejados.

—_ Eu nunca vou te perdoar, o dia que você me proporcionou hoje, eu desejo do fundo do meu coração que algum dia alguém te decepcione nesse nível igualmente, não foi só a mim, foi toda a minha família, você é a pior pessoa que poderia cruzar meu caminho e eu simplesmente não tinha conhecimento, agradeço a essa moça por me mostrar isso antes que eu descobrisse depois de anos te amando, vá embora e nunca mais volte. – Eu falei firme, eu tinha dito tudo o que era necessário dizer, eu queria xingar, bater e chorar muito, mas eu não podia, não quando olhava pro rosto desolado do meu pai me defendendo no meio daquela confusão, não podia mais humilhar pessoas que eram importantes pra mim, por mais que Tom merece coisas ruins, a minha família não merecia e eu não faria isso.

            Fiquei firme olhando ele saindo da igreja de cabeça baixa, mas sempre segurando firmemente a mão da garota, mas antes dele chegar a saída eu vi seu pai andando até ele, ninguém mais falava nada, todos na igreja estavam paralisados, e foi quando o som do tapa ecoou pelo ouvido de todos.

—_ Você é meu filho e eu sempre vou te amar, mas eu nunca passei a mão na sua cabeça ao fazer coisa errada e não pretendo começar agora. – Seu pai falou sério depois de bater no filho, então ele deixou o filho e caminhou até meu pai, vi atonita ele se ajoelhar e falar firmemente com meu pai. – Me perdoe, eu não criei meu filho bem, e venho pedir o seu perdão pelo erro do meu filho.

            O pai de Tom era um dos homens mais firmes e direitos que já vi, por isso fiquei tão triste com a situação, olhei para o filho ao final da igreja e ele parecia totalmente acabado, não por ele, mas por seu pai eu me arrependi de ter lhe desejado coisas ruins, afinal, sua família eram de pessoas boas e descentes, eles não mereciam aquilo e por isso me ajoelhei ao lado do pai dele e o abracei.

—_ Vai ficar tudo bem, nós vamos ficar bem, por isso espero que você fique também. – Então pessoas vieram e nos ajudaram a levantar, Tom tinha ido, com sua mulher amada, e as pessoas por um momento se aglomeraram ao meu redor, mas logo foram dispersando enquanto eu andei até meu pai e minha mãe e os abracei bem forte.

—_ Estou orgulhosa de você querida, vai ficar tudo bem sim. – Minha mãe falou tentando me confortar, mas levei aquelas palavras no coração, poderia demorar um pouco, mas eu sabia, definitivamente em algum momento eu iria ficar bem.

            Fui para a casa dos meus pais, dormi nos braços da minha melhor amiga, aliás chorei, por que naquela noite eu não consegui dormi, só quando amanheceu, já sem lágrimas e exausta consegui pegar no sono.

            Antes, eu gostava de filmes onde a mocinha ou mocinho interrompia o casamento pra declarar o seu amor, mas acredito que jamais assistiria algo assim novamente, por que deixar alguém assim não é amor, não é engraçado e definitivamente não é algo que alguém com o mínimo de amor no coração faria.

            Demorou semanas para que eu pudesse sair de casa de cabeça erguida, por que depois que a história se espalhou vieram jornais tentar me entrevistar, minha triste e dor virou entretenimento para o público geral e o pior minha família toda foi envolvida, eu simplesmente me odiava a ponto de querer morrer, pensei em suicidio sim, mas não o fiz, pois a imagem dos meus pais sempre vinha a minha mente, eles tinham me criado uma garota que jamais desistiria.

            Eu estava com dor, envergonhada e mais machucada do que jamais imagei estar, mas eu tinha fé e sabia que a esperança jamais me deixaria ser alguém que para de viver, por isso, eu aguentaria, pois nem a dor dura para sempre, meu sorriso era falso quase sempre, mas eu sorriria até que ele fosse novamente verdadeiro, por que a vida segue e não para um coração partido.

            Mesmo que Tom fizesse tudo aquilo, o meu amor por ele era real, por mais que não fosse pra ele, pra mim tinha sido, e foi um longo trabalho até conseguir superar, mesmo que aquele fosse o meu fundo do poço, eu sei que enquanto este coração bater eu poderia tentar novamente. E o faria sempre!

            No final só restou as pessoas que te fato me amavam, meus pais, meus amigos, minha família, e tendo o amor deles, eu daria um jeito, e mesmo que ainda chore a noite, sozinha, eu conseguia ver a luz no fim do tunel, eu não era a vilã da historia, em algum ponto o meu final feliz estava me esperando, e eu definitivamente iria encontra-lo, mesmo que agora tudo seja cinza, sei que ainda há cor em mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham entendido a mensagem, sempre podemos superar e não ache romântico machucar alguém, toda historia sempre vai ter dois lados, então não, não é romântico ser feliz em cima da tristeza alheia, essa prota conseguiu e não desistiu, mas aquela dor foi real e pode levar alguém ao fim da linha.



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