Heitor acordou suando frio. Desde o acontecido ele tinha o mesmo pesadelo: Madame Carmem o mostrava sua varinha mas, lentamente, chifres cresceram na cabeça da varinhóloga, e a pele dela ficou completamente verde, a loja, lentamente, se transformava em vários Anjos Negros, que apontavam a varinha para o garoto, e sussuravam coisas como "Fracassado", "É sua culpa", "Idiota". De repente, um grito extremamente fino dizia "Crucio!" e a mente de Heitor parecia acessar o momento de tortura que o garoto sofreu no Porto dos Bruxos.

Mas, então, o rapaz acordava. E desta vez não fora diferente. Heitor sabia que não conseguiria adormecer novamente. Ele olhou o horário, eram apenas 7:05 da manhã. Era uma manhã triste, enevoada e nublada. Seria apenas outro dia triste. Era o que Heitor achava até olhar o calendário.

Era, finalmente, o dia de ir para o CasteloBruxo. O garoto então se lembrou: não havia arrumado a mala. Sequer havia tocado o material escolar desde os fatídicos momentos no porto. Ele abriu o malão, e aos poucos começou a arruma-lo.

O garoto se jogou no sofá e viu a mãe sair do quarto. A mãe estava diferente do que sempre foi, tinha dores de cabeça constantes, chorava em todos os cantos da casa e não conseguia parar de olhar para a papelada sobrea prisão de Marcos.

—Hoje é o seu grande dia... - Luciana disse, tentando fingir alguma felicidade.
—É. - Heitor disse. Desde aquele dia, Heitor não estava com vontade de conversar com ninguém.

Luciana suspirou e sentou-se ao lado do filho. Ela o encarou por algum tempo, e começou a falar lentamente.
—Olha, sei que as coisas estão ruins, mas o CasteloBruxo foi a melhor coisa que já aconteceu para mim, e talvez, seja a melhor que acontecerá para você. -
—Mãe, você me promete que vai me enviar cartas? -
—É claro! Juro que irei enviar semanalmente, tudo bem? - Luciana sorriu.
—Em qual casa você acha que eu serei sorteado? -
—Eu e o seu pai éramos Botos. Os melhores batedores do colégio, éramos imbátiveis. - Luciana narrou. -Tenho um bom prensentimento que você será ótimo em Quadribola. -
—Tomara... -
—E você já escolheu suas matérias extra-curriculares? -

Heitor tinha esquecido completamente. Além das matérias comuns, o colégio requeria que cada aluno escolhesse, inicialmente, três matérias extra-curriculares.

—Sim, é claro. -
—Ótimo. Sei que fez ótimas decisões. Enfim, eu vou te levar para o Rede Amazonas. - A mãe se levantou. -Só colocarei uma roupa rapidamente. -

—==-

Junto com sua mãe, Heitor surgiu com ajuda de aparatação. Eles estavam encarando uma entrada para um parque ambiental abandonado, ambos andaram lentamente pela trilha. Eles chegam, finalmente, á uma grande árvore. Em frente á ela, haviam dois Milignus com roupas esquisitas, que tentavam se fingir de trouxas.

—Bom dia, senhora. Qual seria a senha? -
—Curupiras Gritantes.—
—Tenha uma ótima estada na Instituição CasteloBruxo para Jovens Bruxos. - O segundo auror mostrou um pequeno caldeirão de moedas que estava em frente a árvore. Heitor e a mãe seguraram umaa moeda e sentiram um puxão pela barriga, era uma chave de portal.

—==-

Uma garota de vestido rosa tinha acabado de chegar na Rede Fluvial Amazonas. Era um grande hangar que possuia sete barcos enormes, que aparentemente se dirigiriam por um enorme rio serpentino. Diversos instrutores com crachás do colégio estavam em frente aos barcos.

A garota desceu as escadas na frente de seus irmãos gêmeos. Angela levava uma mala, além, é claro, de sua gata Chanel. Os irmãos Eric e Ariel, portanto, tinham ainda mais bagagem: Cada um carregava uma mochila e uma mala, e eles dividiam uma arara verde-escura. Cada um carregava uma vassoura de cabo vermelho e extremamente bem polida.

—CasteloBruxo te espera... - Ariel cutucou Angela.
—Estamos torcendo que você se torne um Curupira junto conosco. - Erick disse em seguida.
—Estamos? - Ariel riu. -Eu honestamente não torceria para isso. -
—Porque? - Angela disse, ansiosa.
—Nada não, só estamos zombando com sua cara. - Ariel disse.
—A única coisa ruim de vir para o Castelo Bruxo é não poder ver o papai. Mas admito que quero muito chegar logo lá. - Angela estava animada.

No topo da escada, um garoto descia com um malão nas costas e com seu gato siamês. Ele acaraciava o gato, que ronrava agitado. Ele olhava os barcos quando acabou recebendo um empurrão. O rapaz caiu e o gato o escapuliu.

—Me perdoe! - Uma garota de cabelos castanhos disse, estendo a mão pro rapaz.
—Teddy... TEDDY! - Hugo, o garoto, gritou, se levantando num pulo.
—Quem é Teddy? - Helena, a garota, perguntou.
—Ah não... - Hugo correu atrás do gato, que se esgueirava pelas pernas das pessoas, indo em direção á Angela.

O gato siamês correu e, num pulo, alcançou o gato, que se pendurou no pulo da garota, quebrando uma pulseira de pérolas que ela usava.

—Ah! Sai! Sai! Sai! - Angela disse, dando chutes leves no gato.
—Teddy! Eu já te disse pra não fazer isso! - O garoto segurou o gato, que tentou se jogar para cima dos brincos de Angela.
—Me perdoem, sério. - Helena se desculpou. -Eu sou desajeitada mesmo... -
—Ok, esqueçam, tá bom? - Angela disse, irritada, indo embora junto com os dois irmãos.

—==-

—Primeiro ano por aqui! Venham, primeiro-anistas! - O monitor em frente á um dos barcos gritou. Heitor veio, em companhia de sua mãe.
—Eu acho que é isso... - Heitor disse, pegando a mala que a mãe tinha carregado pela escada.
—É... - Luciana disse. -Filho, me prometa que contará tudo que acontecer. Além disso, tome cuidado, ok? - Ela deu um beijo na testa de Heitor. -Sei que você vai adorar lá. -

Heitor se despediu da mãe e entrou no barco. A maioria das salas estavam completamente cheias, ele era um dos últimos á entrar na embarcação. Ele passou em frente á sala de Angela, porém, ela conversava com os irmãos gêmeos tão deliberadamente que ele se envergonhou de perguntar se poderia sentar-se ali.

Ele se aproximou de uma sala e viu duas pessoas que estavam completamente silenciosas, e, com certeza, não tinham amigos ou parentesco no Castelo Bruxo. Heitor pensou que eram totais estranhos, até olhar atentamente para a garota.

—Helena... Helena Flora? - Heitor perguntou da porta da sala.
—Sim... E você seria... -
—Ninguém importante. É porque eu te vi, num quadro... na loja da sua mãe. -
—Ah sim. Você tem alguma sala? - Helena perguntou.
—Não... Eu posso sentar aqui? -
—Por mim... -
—É claro que pode! - Hugo se intromenteu.
—Obrigado. - Heitor colocou as malas no compartimento embaixo dos bancos e se sentou.
—Sou Hugo Arthur. -
—Prazer, sou Heitor. -
—Heitor Galardo? - Hugo indagou.
—Sim... Deve me conhcer por causa do meu pai. -
—Os meus pais estão ajudando seu pai á sair. - Hugo disse, corando. -Eles trabalham na área legislativa no Governo Mágico. Você ainda tem... -
—A marca? - Heitor estendeu o pulso, mostrando o simbolo que fora preso em seu corpo durante o ataque. Era praticamente transparente.

O navio partiu interrompendo a conversa. Pela janela, os garotos conseguiram ver que o barco do primeiro ano estava indo por um rio diferente dos demais navios, que seguiam por outro rio. Logo, não conseguiam mais ver os outros barcos por causa da densa mata que invadiu a paisagem.

—Vocês escolheram quais matérias extra-curriculares? - Helena disse, tentando iniciar uma conversa.

Heitor tinha esquecido completamente que deveria estar escolhendo as suas, já que não havia feito isso em casa. Ele rapidamente pegou a folha em seu malão.

—Eu preferi ficar com Adivinhação, Runas Antigas e Magia Pelo Mundo. - Hugo respondeu.

Heitor conferiu sua prancheta com a lista de matérias oferecidas da Instituição.

INSTITUIÇÃO CASTELOBRUXO PARA JOVENS BRUXOS

MATÉRIAS COMPULSIVAS
Profa. Linda Pinheiro -=- Defesa Anti-Trevas / Duelos
Prof. Tiago Cálito -=- Feitiços
Prof. Tomás Dina -=- Trato de Criaturas Mágicas
Profa. Sara Nata -=- Herbologia
Prof. Artur Querentino -=- Poções
Profa. Esmeralda Branda -=- Transfiguração
Prof. Raoni Azarú -=- Voo
Profa. Alessandra Rerina -=- História da Magia
Prof. Caio Sunai -=- Curso de Aparatação
Profa. Alma Fernanda-=- Estudo de Itens Mágicos

MATÉRIAS EXTRA-CURRICULARES
(Primeiro-Anistas Devem Escolher Três)
Profa. Isabela Rui-=- Adivinhação (   )
Prof. André Larata -=- Runas Antigas (   )
Prof. Fabiano Lires -=- Aritmância (   )
Profa. Maria Anjos -=- Estudo dos Trouxas (   )
Prof. Marcos Pesatori -=- Astronomia (   )
Profa. Carmem Flora -=- Varinhologia (   )
Prof. Jacquelina Zebbi -=- Magia Pelo Mundo (   )

—Eu preferi Estudo dos Trouxas, Adivinhação e... Varinhologia... - Helena disse, devagando.
—Sua mãe trabalha no Castelo Bruxo? - Heitor franziu a testa.
—Está fazendo um favor para o diretor, Aurélio, este ano. - Helena respondeu. -E você, quais matérias escolheu? -
—Eu não escolhi... - Heitor disse, olhando para a folha. -Mas vou ficar com Adivinhação, já que vocês dois estão fazendo, e essa Magia Pelo Mundo parece interessante, eu nunca viajei muito então gostaria de conhecer mais sobre o planeta e como a magia tem relação com ele... - Heitor pensou por alguns segundos. Aritmância parecia chata, odiava números. Heitor sabia que odiaria Astronomia e Adivinhação, e ele e sua familia se fingiam de trouxas, então estuda-los não seria muito útil. -E ficarei com Varinhologia... -
—Pelo menos as aulas não serão tão chatas com amigos lá. - Helena suspirou. -Eu estou cursando Varinhologia porque minha mãe quer que eu continue com o Empório das Varinhas... -
—E você não quer? - Hugo perguntou, comendo um sapo de chocolate. -Oba, meu segundo Harry Potter! - Ele mostrou a figurinha que havia ganhado no sapo de chocolate.
—Não. Pra falar a verdade, eu realmente gostaria de ser jogadora de quadribola. Mas sei que isso é só um sonho. -
—Vamos lá! Otimismo! - Heitor animou-a.

Os três foram conversando por todo caminho, e sabiam que, independente da casa em que eles fossem escolhidos, seriam ótimos amigos.

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—Desembarque! Desembarque aqui! - Um monitor indicava o caminho. Heitor, Helena e Hugo saiam da sala em que estavam com suas malas e seus respectivos animais. A noite já havia caido na floresta e a lua parecia brilhar como prata. Tangerina, a arara de Heitor, estava bastante agitada quando o trio saiu. E não era apenas ela, todos os alunos estavam.

Eles se encontravam em frente á um grande conjunto de templos dourados, como construções incas. Haviam três prédios principais, que eram ligados por passarelas entre sí. Entre o maior templo, que se encontrava no centro, e dos outros templos maiores haviam quatro templos menores.

Um deles tinha um estátua de uma cobra no topo, outro tinha a estátua de uma figura peluda segurando uma lança, a outra possuia um homem com aparência de boto e o últimoc com um homem que parecia se sustentar com uma única perna. No centro de todos esses templos havia um grande campo com um grande chafariz estranhamente moderno.

—Boa noite. - Uma mulher loira de cabelos longos estava em sua frente. Era bastante adulta, e possuia roupas que impunhavam respeito. -Bem vindos á Instituição Castelo Bruxo para Jovens Bruxos. É um prazer ter todos vocês aqui. Antes de entrarmos no salão principal, queria dizer que deixassem suas malas aqui mesmo, inclusive os animais. Garanto que nossos pequenos guardas farão o favor de guarda-las em seus dormitórios após serem selecionados. - A mulher bateu palmas e dos arbustos surgiram seres espirituais pequenos e peludos que pegaram as malas das crianças. -Esses são nossos caiporas. -

Heitor teve a estranha sensação de que os Caiporas estavam se comportando tão educadamente porque estavam na frente da autoridade, pois teve certeza que viu um deles rindo com outro pelas costas da mulher.

—Meu nome é Linda e sou sua professora de Defesa Anti-Trevas e de Duelos. Irei guia-los para o salão principal, onde vocês serão sorteados entre suas casas... Pererês, Botos, Boitatás e Curupiras. - Linda informou. -Na entrada do castelo haverá uma caixa para que depositem suas fichas informando suas matérias extra-curriculares, não se esqueçam de colocar nome. Sigam-me.  -

Linda seguiu por todo o campo e os alunos a seguiram, estonteados. O castelo era, literalmente, cercado pela mata, porém os terrenos e a mata eram dividos por uma linha vermelha. Como se lesse mentes, Linda respondeu ao que se passava na cabeça de Heitor.

—A linha vermelha divide o terreno escolar e a Floresta Malévola. Está cheia de monstros assustadores. Vocês só terão dois motivos para ir para lá: Acompanhados por monitores para ir para o Campo de Quadribola e do Campo de Aparatação, e para isso existe uma estrada definida, e para ir para a sua... "sala"... de Trato das Criaturas Mágicas, que é em uma estrada separada. - A professora explicou. -Se algum aluno abaixo do quinto ano for pego do outro lado da linha fora dessas circunstancias, ele será severamente punido. -

Heitor sabia que a explicação havia atiçado a curiosidade de todos os alunos, e que, talvez, deixar os alunos se indagando seria uma solução melhor.

Eles seguiram até o templo principal e entraram pela porta da frente. Havia um enorme Hall com duas portas nas laterais e uma escada para o andar superior encarando a porta pela qual os alunos entraram. Eles seguiram pela porta da direita. Linda, antes de abrir a enorme porta, suspirou e encarou todos os alunos com um sorriso orgulhoso. Ela escancarou a porta e um mundo mágico se abriu.