Married By Chance escrita por ThataListing


Capítulo 3
Capítulo 2




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Debaixo do chuveiro, Sasuke exasperou-se com uma idéia fixa: como podia pensar em ter-se casado se não se lembrava de ter ido a um cartório e se não possuía uma certidão qualquer? Balançou a cabeça molhada, em um gesto de inconformismo. Não conseguia atinar com o que havia acontecido. Quanto a Sakura, ela também parecia transtornada com o fato de ser sua esposa legítima. Nenhum dos dois planejara aquilo. Ao sair do banho, ele apressou-se em verificar sua carteira: o preservativo não estava mais lá. Respirou aliviado. Casar-se com uma estranha já era ruim, mas ter um filho indesejado era bem pior! Criado no seio de uma família rigorosa, com pais emocionalmente contidos, sua infância não tinha sido propriamente cercada de amor. Em conseqüência, Sasuke carecia de interesse pela paternidade. Não pretendia formar uma família antes de se considerar completamente preparado. Resmungando consigo mesmo, Sasuke deu um aceno breve para Sakura, entretida diante do espelho da penteadeira, e dirigiu-se resolutamente para o saguão do hotel, cuja decoração formava um ambiente campestre, com plantas e flores circundando o rústico chafariz central. O cenário lhe pareceu vagamente familiar, o que já era um progresso em face de seus lapsos de memória. — Houve uma festa no salão, ontem à noite? — perguntou ao recepcionista logo que se aproximou do balcão. — O senhor deve saber — o homem afirmou com ar de surpresa. — O senhor e sua mulher foram as grandes atrações... Sasuke devolveu o olhar admirado. Examinou o saguão por cima do ombro e nenhuma lembrança lhe ocorreu. Se havia uma explicação para os acontecimentos, ele pretendia descobrir, e a fonte mais segura e óbvia de notícias era o amigo Naruto, cujo casamento havia transformado sua vida. Deu um passo na direção das cabinas telefônicas, mas estacou ao recordar-se de que Naruto e a esposa Hinata estavam em lua-de-mel, em lugar desconhecido. Quem mais poderia ajudá-lo a esclareceros fatos, sem que ele parecesse um maluco por perguntar? Talvez tia Kaori, a mãe de Naruto. Não. Sua reputação dentro da família ficaria completamente arruinada porque a mae de Naruto era muito intima da mae dele. Precisava encontrar outro caminho. Pensou em interrogar o pessoal da limpeza quando deparou com o subgerente que havia batido à porta do quarto. O mo­vimento no saguão era intenso, com hóspedes chegando ou saindo, mensageiros portando malas e a equipe de recepção enxugando o suor.

— Posso ajudar, sr, Uchiha? — ele ofereceu com ar prestativo.

— É uma grande confusão, não é? — retrucou Sasuke para ganhar tempo. Estava indeciso quanto ao que perguntar pois não pretendia passar por tolo.

— Nada de especial para um hotel como o nosso — o homem sentenciou. — E a publicidade extra que o senhor e a sra. Uchiha nos trouxeram é muito valiosa.

A que publicidade estava se referindo? Por que alguns fun­cionários olhavam para ele e continham o riso? Com os nervos tensos, Sasuke deduziu que, de certa maneira, ele e Sakura estavam envolvidos em alguma coisa fora do comum. Repassou na me­mória o ritual da liga e a fatal atração que sentira pela dama de honra. O cansaço devia tê-lo abatido a partir daquele momento, pois o resto da noite havia passado sem que percebesse. Pior, sem que se lembrasse de ter feito amor com Sakura.

Como um homem pode perguntar a outro o que aconteceu em sua própria noite de núpcias?

Rilhando os dentes, Sasuke agradeceu ao subgerente pela atenção e voltou à ala dos elevadores. Em sua frustração, apertou obses­sivamente o botão de chamada. Sakura já devia estar esperando.

A placa de "Não perturbe" pendurada na maçaneta da porta indicava que Sakura tinha se preparado para uma reunião tem­pestuosa. Quando entrou, viu que ela estava sentada na saleta da suíte, envolta no roupão branco do hotel. Devia ter se ba­nhado novamente, desta vez na banheira de hidromassagem, e experimentado os exóticos sais e perfumes que tinham vindo no cesto de brindes. Um excitante aroma de cerejas se desprendia do corpo dela. Provavelmente estava nua sob o roupão. Os sentidos de Sasuke se aguçaram antes que ele pudesse contemplar o rosto bonito de Sakura.

— Onde esteve? — ela perguntou franzindo a testa.

— Na recepção — informou sem a menor disposição de dis­cutir. — Antes que comece, quero avisar que também não estou nem um pouco feliz com nosso problema. Portanto, vá com calma. — Dirigiu-se ao telefone. — Vou pedir café quente para você. O do carrinho já deve estar frio.

Como pode pensar em café quando temos coisas tão im­portantes a resolver?

— Por isso mesmo. De estômago cheio, a gente pensa melhor. Não era uma resposta inteligente, e Sasuke aceitou o desdém com que Sakura a recebeu.

— Precisamos conversar a sério. Quero esclarecer logo a con­fusão, pois nada me tira da cabeça que nós não estamos casados.

Apesar da seriedade da situação, ele não pôde evitar um sorriso. Quanto mais furiosa, mais atraente ela se tornava. Ensaiou algo para dizer, mas foi interrompido por insistentes batidas na porta.

— Outra vez! — protestou Sakura, caminhando para a entrada. — Você não viu a placa? — gritou para fora, pela fresta que abriu.

Um rapazinho de seus doze anos irrompeu quarto adentro.

— Sakura! Esconda-se! Papai e Kenji estão subindo, furiosos.

—Seiji ! O que está fazendo aqui? — Ela olhou para o corredor externo e encostou a porta.

— Vim correndo na frente, para avisá-la — o menino falou quase sem fôlego. — Papai disse que a viu na televisão ontem à noite e que você se casou. É verdade?

— Não — Sakura foi incisiva e trocou um olhar com Sasuke.

— Sim — ele rebateu. — Quer dizer, acho que sim. Estamos...

— Mais tarde eu lhe conto — ela disse, passando o braço pelo ombro do garoto e conduzindo-o para o sofá. — Espere aí, quietinho.

— Papai não pode me ver aqui. É melhor eu voltar para casa antes que ele chegue.

Sasuke observou as feições do menino, que lembravam as de Sakura. Impossível duvidar de que fossem irmãos.

Ninguém vai sair daqui — trovejou a voz grave do oficial da polícia de Las Vegas que acabava de abrir a porta.

Sasuke pensou rápido. Teria infligido alguma lei local? Em caso afirmativo, a situação era pior do que parecia. Kazu? Você também? — Sakura ficou pasma. Observando melhor o policial uniformizado, Sasuke notou que ele era uma versão masculina de Sakura. Os mesmos traços, mas tinha cabelos castanhos novisíveis sob o quepe. Estranha­mente, Sasuke não se sentiu ameaçado pelo duro olhar.

— Sim, Kazu. Seu irmão, lembra-se? — Correu a vista pelo quarto e fixou-se em Seiji. — Quanto a você, garoto, já que veio tão rápido de casa, agora pode ficar.

O menino apanhou disfarçadamente uma bolacha do carri­nho, enquanto Kazu se voltava para a irmã.

— Para sua informação, todo o pessoal do distrito me cum­primentou quando eu fui trabalhar, esta manhã. Praticamente toda a cidade assistiu a seu casamento no programa Casamento na Tevê Pena que a família estava ausente.

 — Não é o que parece — interveio Sakura. — Dê-me um minuto para explicar.

— O que há para explicar? Você se casou, e ponto. Como eu nunca soube de seus planos, achei melhor verificar se estava tudo bem. Concentrou a atenção em Sasuke. — Você é o noivo? Perdido naquela espécie de reunião familiar, Sasuke só pôde oscilar gravemente a cabeça.

—Nunca vi Sakura sair com você — prosseguiu Kazu. — É novo na cidade?

Sasuke confirmou de novo e relanceou um olhar assustado para a mulher. Quantos irmãos ela possuía? E o que diriam quando soubessem da verdadeira situação? Sakura atenuou o mal-estar fazendo as apresentações formais.

— O nome completo é Sasuke Uchiha — achou melhor informar, enquanto apertava a mão do suspeitoso Kazu.

— Então, é o feliz marido... — O policial não parecia nem um pouco contente.

— Sakura! Mais uma voz fez-se ouvir na porta e um senhor alto e esguio, de meia-idade, com uniforme de oficial da Aero­náutica, ingressou no aposento.

Era o pai dela, deduziu Sasuke, perplexo com a velocidade com que os parentes, e os problemas, se multiplicavam. Atrás do recém-chegado, vinha um homem mais jovem, também far­dado, mas de patente inferior.

Como está, papai? E você, Kenji? — Sakura estreitou o roupão contra o corpo, sentindo que não estava adequadamente trajada para a imprevista reunião. — Por que vieram todos me ver?

— Tenho uma pergunta melhor, filha. O que está fazendo aqui, com um completo desconhecido? Eu sabia que você ia a um casamento, mas nunca pensei que seria o seu próprio.

— Não é isso... — Sorriu debilmente. — Foi uma surpresa para mim também.

 Sakura dirigiu um olhar aflito para o paralisado Sasuke e, com isso, atraiu a atenção do pai para ele.

— Este é seu marido?

— Sasuke Uchiha, senhor. — Estendeu a mão respeitosamente.

— Hisoka Haruno. Prazer em conhecê-lo, rapaz. — O homem estreitou os olhos verdes escuros — Sei como minha filha é impulsiva, mas fiquei surpreso com esse desfecho. — Foca­lizou o menino Seiji, encolhido no sofá. — O caçula ali também gosta de nos pregar surpresas, mas o caso dele ainda tem cura.

— Papai, como pode ameaçar Seiji? A culpa foi toda minha.

— Sua? E o noivo, não teve participação?

A questão não requeria resposta. Sasuke fez um breve inventário mental das chances que tinha com esse tipo de interrogatório e consultou Sasuke com o olhar. O pai e os irmãos dela, cóm seus vistosos uniformes, faziam-no sentir-se em uma corte marcial. Percebendo o sorriso maroto de Seiji, concluiu que ele era o único da família que parecia ser tão espontâneo e compreensivo quanto a irmã. Ainda era uma criança, mas foi um alívio ver-se apreciado por pelo menos um membro do clã Haruno.

Aproximou-se de Sakura a pretexto de ajeitar a gola do roupão e cobriu-lhe a mão esquerda com a sua, de modo a esconder a falta de uma aliança no dedo anular. Sentiu que lhe devia apoio, fosse ou não sua esposa de verdade.

— Querida, por que não entra e se veste?

— Boa idéia, mas venha comigo. Papai, volto em um instante. Distraídos no exame do cesto de brindes e do carrinho de guloseimas, os familiares de Sakura concordaram com um aceno de cabeça.

O quarto não era refúgio seguro para uma conversa particular, pois não existia separação entre ele e a saleta. Sakura conduziu Sasuke ao banheiro e silenciosamente fechou a porta.

— O que vamos fazer agora? — inquiriu franzindo a testa.

— Boa pergunta. — O inebriante aroma de cerejas que preenchia o ambiente era o mesmo que o corpo de Sakura exalava, causando um agradável torpor. Pensamentos sensuais o fizeram demo­rar-se na resposta: — Suponho que é melhor deixar como está. Vamos fingir que está tudo certo até eles irem embora. Aí podemos estudar uma anulação de casamento.

— Anulação? Depois do que houve entre nós na cama? Ela estava certa. Seria difícil encontrar uma alegação viável para abrir o processo.

— Está bem. Talvez um divórcio.

— Impossível — retrucou Sakura com crescente aflição. — Ainda acho que não estamos casados oficialmente, mas, se es­tivermos, em minha família ninguém se divorcia. É por isso que meus irmãos maiores ainda estão solteiros, esperando a mulher certa. Meu pai nunca aceitaria essa idéia.

— Calma — Sasuke solicitou. — Por enquanto, podemos dizer que vamos viajar em lua-de-mel. Quando estivermos sozinhos, ajeitaremos tudo,

— Lua-de-mel? — ela quase gritou, sentindo-se insultada. — É muito atrevimento!

— Fale baixo — ele insistiu com um olho na porta. Se não chegassem a um acordo, logo um dos truculentos parentes de Sakura estaria atrás deles. — Seria apenas fingimento, para tirar sua família de nosso encalço.

—  Ah! — A exclamação valeu por uma concordância. — Mas cuidado com Kazu e Kenji. Eles são capazes de tudo para me proteger.

— Agora você está sendo paranóica. — Sasuke notou os nervos retesados. — É natural que se preocupem com a irmã.

— Esse é o problema. Eles acham que podem se intrometer em minha vida. Vivem me vigiando. — Apertou a fronte com os dedos. — Espero que me dêem uma folga.

Sasuke tomou Sakura pela cintura e girou-lhe o corpo até ficar de frente para o espelho.

— Olhe. Não há nada escrito em sua testa, denunciando o que ocorreu aqui nesse quarto. Além disso, como mulher ca­sada, você não deve satisfações a seus parentes.

Uma estranha excitação pairava no ar perfumado. Ela con­templou seu reflexo no cristal polido. Atrás da própria cabeça, viu o rosto expectante de Sasuke. Ele mantinha as mãos em seu corpo, e a proximidade fez crescer o desejo de reclinar-se no ombro dele e oferecer-lhe os lábios para um beijo fremente. O roupão se abriria e...

Ela se conteve com um arrepio de frustração. Simplesmente não era hora.

— Você sabe muito bem que não nos casamos! — Sakura recobrou a lucidez e quebrou a tensão sensual que se instalara entre eles.

— Veremos — ponderou Sasuke, recolhendo as mãos. — Mas estamos juntos nisso.

— Obrigada por me lembrar. Talvez papai queira promover o casamento no religioso, em uma igreja. É melhor concordar com tudo o que ele disser, até ficarmos sozinhos.

Sasuke não podia deixar de apoiá-la. Sentia-se um pouco cul­pado pela situação. A atração que experimentara por Sakura durante a festa, o impulso que propositadamente despertara nela, eram os responsáveis pelo impasse cujos desdobramentos ele não conseguira antecipar. Não naquele momento, com o tribunal familiar esperando por ele no outro aposento.

A saleta da suíte havia se transformado em um território de domínio dos parentes de Sakura. Se Sasuke estivesse em sua casa, com a própria família, teria muito menos com que se preocupar. Lembrou-se da passagem aérea para o Italia, guardada na mala. Tinha planejado conhecer a vida noturna de Las Vegas e, depois, encontrar-se com Karin Hebi para uma semana de férias. Karin, sim, era uma mulher que deveria estar a seu lado.

— Agora vista-se — ele ordenou ao abrir a porta para voltar à saleta. — Talvez a idéia da lua-de-mel funcione.

De uma coisa Sasuke estava convencido. De nada valeria propor anulação ou divórcio com a família de Sakura por perto. Só cau­saria mais dissabor. Fingir-se de marido apaixonado seria bem mais viável, além de gratificante: Sakura era bem mais atraente e espontânea do que Karin.

 

continua...


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