"Japão, 3 de Março de 2017. 

Meu prezado Midoriya Izuku,

Primeiramente, eu gostaria de te parabenizar mais uma vez por ter concluído o curso de super-heróis da Yueei com méritos, você realmente mereceu. De fato, você acabará se tornando o herói número um que sempre almejou. Nossa formatura é em apenas três dias, mas eu preciso te dizer duas coisas realmente importantes, então, roubei a ideia das garotas de nossa classe — sim, é a de mandar cartas confessando amor ou admiração para seus prezados — e decidi contar tudo que venho sentindo durantes esses três anos em que passamos juntos neste pedaço de papel. Por favor, leia até o fim. 

Em segundo lugar, eu quero é te agradecer. Por muitas coisas. Acho que deveria começar pelo o fato de não ter cedido as minhas ameaças no torneio desportivo do primeiro ano, não é? Não. Eu deveria agradecer realmente por você ter escutado minha história trágica, em silêncio e a todo ouvidos e ainda ter ousado tentar me ajudar no meio da batalha, mesmo que estivesse quebrando cada um de seus dedos para repelir meus ataques de fogo. Midoriya, você me vez enxergar quem eu realmente sou. Me fez perceber que o fato de eu ser filho de Endeavor não definia meu caráter ou minha personalidade. Até hoje me arrepio como no momento em que você gritou que as chamas são parte de mim, e não de meu pai. Você me fez um bem enorme e acabou com todos os meus momentos em questão de minutos, literalmente. Eu serei eternamente grato por aquele dia, onde, pela a primeira vez, pude ser alcançado por alguém que era realmente capacitado de abrir meus olhos. Algum dia devo te agradecer com reverência apropriada, talvez na formatura? Espere por isso. Antes de finalizar esse parágrafo, saiba que sua atitude realmente me fez te enxergar como meu amigo.

Espero que não se incomode que eu realmente estenda esta carta, pois estou realmente colocando meus sentimentos à tona. Graças a você, eu pude experimentar como é ter uma amizade pela primeira vez. É totalmente diferente de quando estou contigo do que com meus irmãos. Eu prezo muito nossa relação, que foi como uma porta para que eu pudesse me abrir mais com o resto da turma. Até mesmo meu pai me questionou, quando sai correndo no meio do estágio para te socorrer quando estava em apuros contra o assassino de heróis, então eu afirmei em alto em bom som que estava indo ajudar um amigo. Mais uma vez, eu lhe agradeço imensamente por ser meu amigo, acima de tudo. Você é muito importante para mim.

E, terceiramente, devo começar este parágrafo com um pedido de desculpas. Perdão, Izuku. Eu entendo se não quiser nunca mais falar comigo ou não querer olhar mais na minha cara. Mas eu fui fraco. Não pude combater esses sentimentos que cresciam dentro de mim dia após dia. Começaram alguns meses após o ataque do assassino de heróis, onde, inevitavelmente, acabamos ficando mais próximos. Passamos a voltar para casa juntos e você me apresentou muitas coisas novas, como sorvetes de sabores exóticos que possuía em seu distrito residencial. Você dependia de mim para certas coisas, assim como eu de você. E eu passei a gostar disso. Desse sentimento de ser necessário para alguém. Então, a partir dai eu entrei de cabeça nessa loucura toda. Com o passar do tempo, tudo o que eu conseguia pensar era como seu cabelo encaracolado deve ser extremamente macio, ou como seus olhos verdes sempre aparentam uma meiguice além do normal, ou como suas sardas pareciam estrelas, belas constelações que eram construídas em minha mente todos os dias antes de adormecer. Eu tentei, de verdade, lutar com as famigeradas borboletas no estômago toda vez que me pegava te apreciando ou pensando como seus lábios devem ser macios. Saliento, mais uma vez, que fui fraco. Acabei me apaixonando perdidamente por você e não faço a mínima ideia de como reverter isso. Sei que você apresenta indícios de sentimentos pela senhorita Uraraka, mas não poderia terminar o ano letivo e deixar você se afastar de mim sem que saiba disso. Meus sentimentos transbordaram demais da taça. Por favor, não me odeie. 

Se você leu até aqui, por favor, não entenda como se eu esperasse uma resposta para minha confissão de você. Jamais. Eu reconheço meu lugar e que devo permanecer nele. Mas já escrevi tudo que deveria ser dito. Só espero que você obtenha sucesso em todas suas ambições, pois, se há alguém nesse mundo que mereça tudo do bom e do melhor, é você, Midoriya Izuku.

Finalizarei essa carta aqui, pois o ponteiro já aponta que o dia começará e ainda estamos em aula. Agradeço por ter lido tudo, sei que você não deixaria de ler isso.

Do eternamente seu, Todoroki Shoto."

Todoroki realmente achou que a carta fora o melhor a se fazer para lidar com o que estava passando. Como Midoriya é seu amigo, é mais do que seu dever se expressar honestamente com ele, pelo menos fora criado para sempre dizer a verdade para as pessoas que preza. Por ter dedicado sua madrugada para transcrever seus sentimentos em algumas folhas de papel, estava ligeiramente cansado. Pequenas marcas roxas marcavam seus olhos bonitos, mas o garoto não se importou. Rapidamente se vestiu e saiu de seu quarto no dormitório, se assegurando de que havia apenas ele no alojamento. Chegaria atrasado, lógico, mas deduziu que seria melhor deixar a carta em cima da escrivaninha do amigo, pois seria perigoso demais apenas depositar em sua mesa na escola: qualquer um poderia ver. Após rapidamente cumprir seu objetivo, partiu do dormitório em direção à Yueei.

Por ser o último dia letivo, os colegas estavam animados. Finalmente poderiam realizar o tão almejado sonho de se tornarem heróis profissionais, então o alvoroço não era de se estranhar. O dia seria curto: apenas a cerimônia de formatura e o agradecimento dos professores pelos anos de trabalho juntos seriam atividades obrigatórias, onde o resto do dia seria livre para que os alunos se dediquem a eternizar as memórias formadas na famosa escola de heróis. 

Apesar de sempre aparentar frieza, Shoto estava nervoso. A carta ficou martelando em sua cabeça durante toda a programação de encerramento, tanto que quase gritou quando o cujo dito lhe veio perguntar se estava passando mal. Céus, é por esse nervosismo todo que as garotas da sala passarão hoje? 

Depois de um dia realmente cansativo, Shoto apenas seguiu diretamente para seu quarto para remoer o que havia acabado de fazer. Para falar a verdade, ele já estava muito arrependido de ter feito essa imprudência. Poderia apenas ter engolido essas malditas borboletas e seguir sua amizade com Midoriya por vários anos, sem que ele nem ao menos soubesse como se sentia. 

— Já está feito mesmo. E não é como se eu esperasse por uma resposta dele, no fim das conta — Sussurrou para si mesmo, em uma tentativa falha de se acalmar. 

E bem, Todoroki realmente não esperava que, apenas algumas horas depois, sua porta fosse praticamente arrombada, fazendo com que o mesmo levantasse assustado de seu futon para encarar, surpreso, um Midoriya com vários pedaços de papel em suas mãos, aparentemente chocado e com as bochechas tingidas em um forte tom de carmesim. 

Ah, mas ele não esperava mesmo quando o garoto de cabelos verdes e enrolados correu até si para poder lhe abraçar quase que desesperadamente, o envolvendo tão fortemente que o mais alto poderia jurar que se partiria em dois. Ele estava quente, não sabia se era pelo susto ou pelo rosto que estava corado. 

E muito menos quando a distância entre suas bocas fora diminuía por iniciativa do baixinho, fazendo com que Shoto quase perdesse a noção da realidade e que após alguns segundos, acabasse sorrindo abobado entre a carícia por perceber que não, não estava sonhando.