Sozinha escrita por Carszl


Capítulo 1
Capítulo 1




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Começou na brincadeira. Foi uma daquelas noites de agito, jogar conversa fora em um bar à noite enquanto bebia à beça, rodeada de um bando de estranhos, idiotas.

Ela queria puxar briga, bater, matar alguma coisa.

A dominadora estava se sentindo vazia, perturbada.

Ela tinha perdido tudo: a nave, os bots, o propósito...

Tinha chegado tão perto, mas mesmo assim falhou. E tudo graças àquela bola de pelos laranja com chapéu engraçado. Patético.

E Wander ainda teve a audácia de humilhá-la, a chamando de solitária, desamparada!

As mãos cavaram o copo de vidro. O fogo ardia em seus olhos.

E quem precisa dessa merda?! Eu não preciso!

Eu posso viver muito bem sozinha.

De qualquer forma, agora pelo menos ela tinha uma nova galáxia inteira para destruir.

Ela teria a sua vingança.

...Mas conforme cogitava a respeito, a ideia que antes lhe soava tão bem agora não parecia atraente, mesmo com uma boa dose de álcool correndo pelo seu sistema.

Perdeu a graça. Estava oficialmente derrotada.

Depois de tantos triunfos, no fim foi isso o que restou: uma alienígena perdida, chateada, caindo de bêbada, desperdiçando seu último punhado de energia num planeta que mais parecia uma discoteca ambulante.

Ela queria dançar, encher a cara a noite inteira e bater, bater e bater em todo mundo. Quem sabe assim esqueceria seu fracasso por um segundo.

Mas conforme o copo levantava e o líquido amargo descia queimando pela garganta, ela sentia seu mundo mergulhar mais fundo em um oceano de desilusão e autocrítica.

Estúpida.

Estúpida, estúpida, estúpida...

Transtornada, ela balançou em desequilíbrio.

A mão tocou a borda da mesa do bar.

Alguém disse alguma coisa em seu ouvido. A dominadora virou a cabeça para olhar.

A visão turva, os olhos embaçados.

Era um cara. Ele estava perto, perto demais.

O sorriso dele era malicioso, com intenções nítidas.

O cheiro dele era insuportável. Ela podia sentir o hálito quente sobre seu rosto. O suor, o sal- A bebida fermentada.

Os dedos ansiosos deslizaram pelas suas costas, terminando no ombro.

Tentou puxá-la para perto. Ela sabia o que ele queria.

A dominadora rosnou. Seus olhos vermelhos arregalaram, cheios de ira. Era só o que faltava para tornar sua noite ainda pior.

Ela o empurrou e, apesar dos braços trêmulos, enfraquecida pela embriaguez, ele voou longe, derrubando um casal que dançava ali perto.

Foi a vez da dominadora sorrir. As pessoas se ofenderam, iniciando uma confusão com o estranho indigesto.

Mas a diversão passou rápido, sem deixar rastro. Eles continuaram a discutir, a intriga cresceu fervorosa ao entorno. Era a oportunidade perfeita para interagir, expor seu lado violento, sádico.

Ela, contudo, escolheu não fazer nada. Não era mais engraçado.

Só queria sair daquele lugar infernal.

E foi o que fez: saiu empurrando, cambaleando por onde passava, quase arrastando os pés. As pessoas reclamando em seu caminho.

Era guiada pela luz que vinha de fora, da saída, do ar puro.

Ao passar pela porta, se decepcionou. Conseguiu enfim respirar, se livrar da multidão inquieta, da música ensurdecedora, mas sentiu o estômago pesar.

O enjoo veio, anunciando a ressaca que a acertaria em cheio pela manhã.

Caminhou mais um pouco, querendo fugir, se distanciar ao máximo das pessoas.

Eu posso viver muito bem sozinha.

Eu quero ficar sozinha.

A melancolia, de repente, voltou com tudo, e ela parou onde estava.

Não havia ninguém por perto.

Ela pensou em deixar o corpo cair, bater contra o chão ali mesmo. Quem se importa se ela ficar ali, desmaiada, em coma alcóolica, apenas esperando pelo inevitável?

Quem se importa, afinal?

Ela não tem amigos. Ela esta sozinha.

E queria que todos- Cada um deles... Morressem.

Os tênis foram deslizando pelo chão empoeirado. Os braços moles, a postura encurvada, como uma derrotada.

Os passos foram ficando cada vez mais estreitos. Ela sabia que não aguentaria muito tempo, que logo a escuridão a engoliria.

E, de certa forma, com o coração apertado, ela ansiava por isso.

Levantou a cabeça, piscando as pálpebras pesadas. A boca aperta, sugando o ar rarefeito com dificuldade.

Ali, estacionada, estava a nave de Hater, aberta, com aqueles grandes olhos vermelhos olhando para ela.

Filho da puta.

Se não fosse por esse filho da puta, eu teria-

Teria conseguido.

A raiva foi crescendo, borbulhando em seu interior, incendiando seu coração agitado, antes anestesiado pela dor, pela solidão. Os braços foram esquentando, derretendo em lava pura.

Não parou para pensar – até porque ela estava bêbada demais para isso –, de repente se viu com forças, com, enfim, um novo propósito:

Ela iria mata-lo.

Não, tortura-lo, quebrar todos os ossos do corpo dele- Aí, então, mata-lo.

E depois roubar a nave dele e obrigar todos aqueles olhos idiotas a obedecê-la.

Com um sorriso bobo nos lábios, ela invadiu a nave, tropeçando ao subir a língua escorregadia.

Foi guiada pelo instinto, atravessando sala por sala, procurando incansavelmente por ele.

Ouviu alguma coisa, um grito, alguns protestos. Ela não prestou atenção.

Continuou marchando, cambaleando. A lava pingando, deixando o rastro do crime, de incêndio por onde passava.

Seus olhos estavam vidrados. As pupilas contraídas, em chamas.

O enjoo, a necessidade por violência cada vez mais forte.

Passou por uma porta, depois outra e outra e outra, até que encontrou um quarto.

Eu vou demolir esse desgraçado.

Ela riu perversamente.

E então tropeçou nas próprias pernas, caindo de cara no chão. Respingos de lava saltaram por todo o lado.

Apoiou as mãos no chão. O piso queimando, estalando com a alta temperatura.

Gemeu, se erguendo com dificuldade. A cabeça doía e o corpo implorava por uma pausa, pelo desmaio que se recusava a vir.

Ela se virou para a... Cama?

Não conseguia ver nada. Tudo começou a girar e girar...

Então despencou de bruços, sentindo a deliciosa sensação do movimento, do embalo que o colchão de molas lhe deu antes de perder a consciência.

— - -

As luzes vermelhas ascendiam e apagavam. O som do alarme era ensurdecedor.

— Senhooor! Senhor! É a dominadora!! – os gritos de pavor de Peppers ecoaram pelos corredores – A dominadora esta aqui! Ela invadiu a nossa nave!

De Hater não veio uma resposta audível, apenas uma careta de terror.

Ao chegar neste planeta colorido e estúpido para dominá-lo, ele esperava por um Wander irritante entrar de penetra, não a dominadora.

Ele atravessou a porta para encontrar o pequeno olho desesperado, apontando a mão trêmula para o salão principal, que queimava, lançando uma nuvem de fumaça escura, enquanto alguns soldados corriam para tentar controla-la.

— Os watchdogs viram!! E-ela passou tocando fogo em tudo!!

— E onde ela esta?

— E-eu não sei! – Peppers se atreveu a dizer, recebendo um olhar afiada que o fez encolher – Uh, a-a sala de controle esta cheia de fumaça, senhor- Eu não posso ir até lá para descobrir!

Hater desfez a carranca e, inquieto, olhou para os lados.

Decidia o que ia fazer quando se virou e saiu rapidamente.

— S-senhor?!

— Cuide do incêndio, Peppers! – ele ordenou. As mãos soltando faíscas esverdeadas – Deixe que eu- Uh... Você sabe- Cuido dela!

— O QUÊ?! – Peppers gritou, horrorizado – NÃO, NÃO, NÃO! PERAÍ!!

Ele tentou avançar ao encontro de Hater, mas já era tarde: a fumaça havia se espalhado por todo o corredor e o esqueleto já tinha desaparecido sob ela.

— OH, PERFEITO! – numa mistura de pânico e ira, o olho sacudiu os braços – ESSE IDIOTA VAI MATAR TODOS NÓS!

— - -

Hater não tinha planos de partir para a agressão ou coisa parecida.

Não que ele tivesse algum problema em surrar ela, de qualquer forma.

Er... Na verdade, pensando melhor, ele tinha- Muito- Um enorme de um problema.

Só de imaginar a cena- Ter que eletrocutá-la... Assisti-la sofrer! Isso partiu seu coração.

Mas, então... Como diabo ele faria para se defender...?

Para defender a sua nave...?

A caminhada foi desacelerando. A vontade de cessar a caçada era quase irresistível, mas Hater se recusou a parar.

Ele sacudiu a cabeça. A energia verde cresceu mais intensa em torno de seus dedos.

Agora não era a melhor hora para bancar o cavalheiro!

Era uma questão de vida ou morte!

E, depois de tudo, ela era uma maluca, uma assassina sem coração que ele tinha motivos de sobra para odiar, não é mesmo?

A dominadora o tinha rejeitado, o humilhado! Ela não merecia a sua compaixão!

Não havia porque se importar.

E quem precisa de garotas, afinal?!

Quem liga para ter uma namorada? Ele não precisa disso!

As garotas não passam de obstáculos e ele, o grande Lord Hater, o maior vilão do universo, não seria um tolo de se deixar cair em uma armadilha tão previsível, tão estúpida.

A postura de Hater foi de frustrada para orgulho supremo em um segundo.

Ele não estava mais incomodado com a situação. Que se dane, agora seria como nos velhos tempos: ele e a Lord Dominadora em uma luta violenta até a morte!

Seguindo a trilha de destruição deixada por ela, Hater terminou na porta do seu quarto.

Tentando emboscar o grande Lord Hater de surpresa, hein?! Isso não vai funcionar!

Levantou os braços e deixou a energia correr pelo corpo, formando uma esfera elétrica em cada mão. Então chutou a porta e entrou sob um salto, pronto para atacar e-

E... Oh.

Seu quarto estava em ruínas. A lava no chão, pelo menos, não tinha iniciado outro incêndio. Já a cama, bem...

Hater não deu a mínima para as labaredas que consumiam avidamente as cobertas e o colchão. Ele só estava tããããããããão deslumbrado em encontra-la ali, jogada de qualquer jeito na sua cama, dormindo feito um bebê.

A luz verde desapareceu junto com a esfera de faíscas.

Ele baixou os braços e enrijeceu o corpo todo. Uma expressão pateta tomou conta de seu rosto.

YAAAAAAAAYYYYY.

Por deus, ele ama essa mulher.

Foi pé por pé até a cama. Caiu sentado e apoiou os cotovelos no colchão chamuscado. Segurou o queixo enquanto a observava dormir.

O rosto dela estava sujo, suado e cansado. As bochechas avermelhadas, em contraste com a pele verde pálida. A baba escorria da boca enquanto ela roncava audivelmente.

Hater sentiu o coração disparar e não conteve um ataque de fofura.

— Aaaaannnhhwwww~ Mas que fofa!

Seus olhos enormes, brilhantes, permaneceram fixos nela até ele se lembrar das chamas ardendo ao seu entorno.

Hater estalou, recuando no susto. O fogo se propagava rapidamente.

Criou coragem e saiu tapeando tudo. Queimou os dedos, mas apagou boa parte das chamas. O foco, contudo, era o cobertor.

Ele então caçou a coberta da ponta e, sem pensar, a puxou com força, arrancando-a da cama e a jogando no chão.

No que fez isso e já ia se preparando para pisar em cima, ouviu o estouro.

Virou a cabeça para encontrar a cama vazia.

Ops.

— AAAAARRGH! – ela soltou um urro feroz ao se erguer do chão, apoiando uma mão no colchão – Commmooo vooocee~ OuSaa! – ela apontou, furiosa. O corpo balançando numa evidente incapacidade de se manter em pé. A língua pesada, e a voz intoxicada pelo excesso de bebida – Voooceee~ Uh... VOOOU MATAR VOCÊ~

Hater ficou em silêncio olhando para ela. A incredulidade quase palpável em seu rosto.

Apenas sua perna se mexeu enquanto batia o pé no cobertor em chamas.

— O QUE É... Que cê ta olhando- Seu corno- Metido... Eh... BESTA!

Ela deu uma risadinha malvada, então balançou mais uma pouco e caiu no chão.

Hater chutou o cobertor outra vez, se certificando de que ele o tinha apagado, e foi em direção a ela, receoso, contornando a cama lentamente.

A cara dela estava enfiada no chão. Uma poça de baba borbulhante se formava ao lado do rosto esmagado.

Os braços pareciam minhocas de goma verdes, contorcidos como se estivessem desossados.

O fedor de álcool misturado ao enxofre o fez contorcer o buraco das narinas.

— Uh- Você... Esta bem? – ele ousou perguntar, mas dela só veio um resmungo confuso em resposta.

Aquilo estava realmente acontecendo...?

Levando em conta que Hater tinha um histórico de sonhar com coisas estranhas que pareciam reais, a maioria delas envolvendo um certo alguém cantando uma música irritante do quanto eles eram amigos, sim... Talvez aquilo não estivesse acontecendo.

Sem pensar muito, ele se abaixou perto dela.

A cutucou uma vez. Não houve resposta.

Cutucou de novo. Nenhuma reclamação ou sinal de vida.

Ele suspirou.

Dada às condições que a dominadora estava, ele queria coloca-la de volta na cama. Estendeu a mão para pegá-la, mas parou no meio do caminho.

Aquilo não parecia uma boa ideia.

Não era como se Hater estivesse preocupado que ela fosse reagir mal, arrancando-lhe o rosto fora num ataque de fúria ou coisa parecida.

Era só... Estranho.

Hater se sentia quase envergonhado... Nervoso?

Ele nunca tinha pegado uma garota nos braços antes, muito menos uma que ele estivesse apaixonado.

E, agora diante dela, a experiência parecia tão tentadora quanto assustadora.

Foi pegá-la por debaixo dos braços, querendo girá-la, desgrudar a face do piso de metal gelado, mas parou de novo, se lembrando que as garotas, bem... Elas não gostam muito de ter um par de mãos tocando este lugar específico sem consentimento.

Certo, certo- Os ombros.

Seus olhos correram só para encontrar aquelas grandes ombreiras cheias de espinhos.

Hater coçou a cabeça.

Acabou escolhendo a cintura, a rolando e a trazendo em direção ao peito como apoio.

Passou uma mão por debaixo dos joelhos enquanto a outra ficou ali mesmo, na cintura, a pressionando para não deixa-la cair.

O calor do corpo dela, a sensação da pele macia contra seus ossos o fez estremecer.

Uma faísca verde correu pelas suas antenas. Ele fez uma careta de alegria.

A vontade de abraça-la, a apertar como se ela fosse um urso de pelúcia muito fofo e- Eer- Quente como o inferno, o fez cogitar suas possibilidades no momento.

Mas ele de repente se ligou que aquilo seria tão adorável quanto inapropriado.

Ok, ok, ok- A cama.

Apenas coloque-a na cama.

Sem dificuldade, ele levantou a dominadora do chão.

A cabeça dela pendeu para o lado, batendo a testa no queixo ossudo.

Hater lutou para não ter um faniquito.

Então simplesmente a deitou na cama, ajeitando a cabeça no travesseiro e os braços moles, que caiam em direção ao chão, se recusando a ficar junto ao corpo.

Lembrou-se de ir até o armário pegar algumas cobertas limpas.

Ao cobri-la com a primeira camada, parou para pensar o quão sem sentido aquilo soava: a dominadora não era feita de lava pura?

E uma pessoa feita de lava sente frio?

Sem querer raciocinar muito a respeito, Hater colocou uma segunda coberta macia sobre ela e ficou ali, inerte ao lado, a observando com as mãos unidas sobre o peito.

Ela parecia relaxada, muito mais confortável do que antes.

Certo, tudo feito.

Mas... E agora, o que ele faz a seguir?

— - -

Quando ela acordou, sentiu como se tivessem abrido a sua cabeça, a enchido de pedras, costurado e depois a sacudido por horas.

A dominadora gemeu, levando uma mão a testa ao se sentar.

Maldita hora em que ela foi resolver meter tudo o que era tipo de bebida para dentro.

Descabelada, com olheiras escuras de baixo dos olhos, ela levou um tempo para recuperar os sentidos.

Sentiu um cheiro estranho, enjoado, e descobriu que era seu.

Estava suja, empoeirada. A pele oleosa, pegajosa depois de suar a noite inteira.

Esfregando os olhos borrados, ela percebeu as cobertas felpudas sobre seu corpo, depois a cama, o quarto estranho e...

Hater dormindo ao seu lado.

Oh, não

Não, não, não, não!

A dominadora começou a gritar.

Hater acordou assustado, olhou para ela com os olhos arregalados e gritou também.

A nave estremeceu com o fiasco dos dois.

Com uma arma em mãos, o comandante Peppers e alguns watchdogs deram um voo para dentro do quarto, prontos para atacar.

— SENHOR! – Peppers anunciou sua chegada heroica, só para parar onde estava e estreitar o olho para a cena no mínimo inapropriada que encontrou – ...Senhor?

— SEU FILHO DA PUTA! – a dominadora urrou, furiosa, se erguendo sobre ele. A expressão escurecendo em sua intenção mais vil – COMO VOCÊ SE ATREVE-

Hater saiu da cama imediatamente, com as mãos levantadas, trêmulo.

— Uh- M-mas... – ele tentou falar, se encolhendo conforme a figura dela parecia cada vez mais perversa – E-eu...

— VOCÊ SE APROVEITOU DE MIM! – ela pegou fogo, derretendo os braços em lava vermelha e brilhante – EU VOU MATAR VOCÊ POR ISSO!

Peppers arregalou o olho.

— Ai meu deus! – ele estalou, batendo a mão na cara, envergonhado – Senhor, mas o que significa isso?!

— Eu não... – ele levantou um dedo para se explicar, mas resolveu soltar um berro ao escapar de um disparo de fogo dela, que quase o acertou – Eu não fiz nada! Eu só- Uh- Dormi com você!

A dominadora fez uma careta de raiva.

— VOCÊ O QUEEEEEEEEEE?!

— Você desmaiou e eu- Er... Eu coloquei você na cama e dormi com você a noite inteira- Foi só isso!

Peppers deixou a arma cair. Um dos watchdogs começou a gargalhar.

Com os olhos em chamas, ela rosnou alto e deu um passo pesado em direção a ele.

— SÓ ISSO? — ela cerrou os dentes, com o rosto vermelho como uma pimenta. Das orelhas pontudas saia fumaça.

Hater se encolheu tanto que quase desapareceu sob ele mesmo. Estava pensando como iria escapar dessa quando algo lhe veio à mente:

— Oh! V-você não esta pensando que eu...? – ele arregalou os olhos, balançando as mãos em desespero – E-eu não fiz isso! Eu só dormi- Eu não toquei em você!

Apesar dos seus argumentos, no entanto, nada parecia acalmá-la.

A dominadora foi se aproximando.

Peppers, embora chocado, correu para pegar a arma e apontar para a invasora.

— Não aconteceu nada! – Hater continuou, em pânico – Você parecia horrível- E e-eu só não queria que você ficasse sozinha!

Ela parou.

E olhou para ele, incrédula.

— O que você disse?

Os watchdogs se entreolharam.

Hater levou um tempo para responder, surpreso em ainda estar intacto.

— ...Foi sem querer, eu peguei no sono- Só queria te fazer companhia.

A dominadora não se mexeu.

Sua figura foi diminuindo, esfriando. A expressão já não era mais agressiva.

— ...Você se importa, não é mesmo?

Hater olhou para os lados, temendo errar as palavras e despertar-lhe o demônio de novo.

— C-com...? – ele ariscou.

— Comigo.

Ele pestanejou, confuso, e depois endireitou a postura antes abalada pela morte iminente.

— M-mas é claro que eu me importo! – balbuciou, batendo os indicadores pontudos, nervoso, incapaz de olhar para ela – E-eu gosto de você- Eu amo você e- Err... – e, sem ter onde focar sua atenção além dos dedos, ele roubou um vislumbre de Peppers olhando para ele com uma carranca séria – Q-quer dizer- Uh- Quem é que liga?! – Hater limpou a garganta, engrossando a voz e cruzando os braços apertados sob o peito – Eu não ligo! Eu terminei com você! É claro que eu não te amo, quem te amaria? Não eu, o lord Hater, o maior vilão do univer-

Antes que ele pudesse terminar, já contemplando seu súbito ataque narcisista, ele levantou o queixo para soar mais confiança e olhou diretamente para ela.

Ela estava sorrindo.

Hater derreteu instantaneamente.

— Aaahn... – respirou fundo, deixando os ombros cair – Você quer namorar comigo?

Peppers revirou o olho.

A dominadora começou a rir.

Desta vez, no entanto, a risada dela não parecia uma afronta, um deboche aos seus sentimentos. Ela só estava se divertindo com o momento.

Hater sentiu seu coração disparar.

— Isso é um sim? – ele entrelaçou as mãos perto do rosto com um olhar brilhante.

Sem perder o bom humor, ela o capturou do colarinho e o puxou para perto num movimento fluído.

— Isso é um jamais — ela ronronou.

Deu um beijo na bochecha ossuda, fazendo Hater entrar em parafuso, e depois o jogou longe como se não fosse nada.

Hater caiu no chão como um peso morto e ali ficou.

— Agora, – ela levou uma mão até a boca, limpando os lábios como se tivesse os sujados antes de encarar Peppers e os watchdogs com um olhar mal intencionado – eu queria muito esmagar cada um de vocês...

O dedo de Peppers correu para o gatilho. Seu olho arregalado, com medo.

— Mas, sabe como é, não? – ela deu os ombros de repente – Eu tenho alguns planetas para destruir e talz... Então- Até depois?

E saiu andando, rebolando do quarto, em direção à boca da nave.

Alguns watchdogs, perplexos, a observavam enquanto ela fazia seu caminho para deixa-los.

Ao escorregar para fora, percebeu que o dia já havia amanhecido naquele pequeno planeta cheio de luzes, insignificante.

A estrela que o iluminava de longe, num tom amarelo-alaranjado, nunca pareceu tão brilhante.

Não tão sozinha, depois de tudo.

Ela sorriu, se sentindo feliz pela primeira vez em muitos dias.


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Notas finais do capítulo

Não me julgue, eu estava me sentindo um pouco estranha no dia que escrevi esta. xd



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