-Isa – ela ouviu alguém batendo na porta delicadamente. Era uma voz masculina e desconhecida.
Ela se levantou e olhou o relógio no celular, tinham quatro chamadas perdidas e eram nove da manhã. Havia dormido, e muito.
Ainda estava de biquíni e sua cara estava amassada, as olheiras estavam enormes e escuras. Estava toda descabelada.
Isa se enrolou em um roupão e abriu a porta.
-Oi? – ela disse encarando o rosto preocupado de Chris.
Ele comprimiu os lábios olhando para o chão, com uma mão apoiada no vão da porta.
-Estamos indo ao hospital...Você quer vir com a gente?
-Hospital?! O que, o que aconteceu? – ela perguntou assustada falando rapidamente.
Chris coçou a cabeça.
-A...A Elizabeth, acordou...Não...Não acordou. A Mary foi com ela em uma ambulância para o hospital, você vem ou...
-Me dê cinco minutos – ela pediu fechando a porta.
Isa trocou de roupa rapidamente escovou os dentes e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo.
Desceu correndo e tropeçando em tudo. Parou no ultimo degrau quando viu Chace sentado no sofá, os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça apoiada nas mãos.
Isa respirou fundo e olhou para Chris ao lado de Chace.
-Vamos? – ela chamou tentando não olhar para Chace.
Isa chegou ao hospital. Era o mesmo que ela havia ficado internada quando foi picada por uma cobra. Entrou na mesma recepção, Mary estava lá, dissolvida em lágrimas.
Ela correu e abraçou o marido.
-Chris... – ela falou soluçando em seu peito.
-O que aconteceu? Os médicos já disseram algo? – ele perguntava entre beijos que dava no topo da cabeça de Mary e caricias em seus cabelos.

-Parada cardíaca – ela anunciou abraçando Chris mais forte.
Chace sentou no sofá mecanicamente e pôs as mãos na frente do rosto. Isa viu que ele estava chorando. Queria muito consolá-lo, mas não conseguia, seu coração doía só de pensar em ficar perto dele, se ele não a queria mais.
Ela sentiu seus olhos encherem de lágrimas, e as deixou rolarem livremente por suas bochechas. Conhecia Beth a pouco tempo, mas era como uma avó que Isa nunca havia tido.
Um médico apareceu e deu seus sinceros pêsames a Mary.
-Quando ela poderá... Ser... Enterrada? – Mary perguntou soluçando.
-À tarde, logo. Aconselho que vá para casa, descansar. Ligarei assim que tudo estiver certo por aqui.
-Onde ela está agora?
-Necrotério, senhorita. Se me dão licença... – ela pediu saindo e dizendo um “Sinto muito” por fim.

Isa olhou Chace, ele estava com a cabeça apoiada no encosto do sofá, os olhos fechados por onde desciam lágrimas incontáveis. Isa queria muito abraçá-lo, enxugar as lagrimas dele. Chace parecia tão frágil naquele momento, mesmo sendo tão maior que Isa, tão forte fisicamente, tão sensível emocionalmente. Isa sabia como era exatamente perder os avôs. Seu avô materno e sua avó paterna haviam morrido quando ela tinha oito e doze anos, os outros já estavam mortos quando ela nasceu.
Isa estendeu a mão hesitante em direção ao ombro de Chace, mas desistiu e deixou a mão cair no sofá pesadamente.
-Vamos pra casa, Mary – Chris falou delicadamente andando abraçado com ela até a porta do hospital. Olhou por cima do ombro para Isa acompanhá-lo.
Ela ficou de pé olhando Chace, não sabia como chamá-lo, ele parecia ter dormido.
-Chace – ela chamou baixinho e seu coração disparou doloridamente ao pronunciar seu nome.
Ele abriu os olhos com seus cílios encharcados e piscou duas vezes. Ficou de pé, e seguiu Chris.
Chace foi dirigindo, Isa ao seu lado e Chris atrás com Mary, consolando-a. Durante o caminho ninguém falou nada, Chace parecia não notar a presença de Isa ao seu lado.

Isa chegou em casa e retornou as ligações das amigas. Contou a elas tudo que havia acontecido, inclusive sobre o quanto Chace estava sendo idiota, e quanto ele a magoara.
Perto das três da tarde, Mary disse para Isa se arrumar para o enterro. Ela vestiu seu vestido preto de tafetá, com sua sandália também preta de tiras.
O enterro teve uma cerimônia simples, com muita gente chorando e se lamentando, dando os pêsames a Mary e a Chace. Este não saia de perto da pedra no chão com o nome de sua avó, embaixo dela, a muitos metros o corpo da senhora jazia.
Isa foi para o lado de Chace e ficou analisando a pedra cinza em contraste com a grama extremamente verde.
-Eu sinto muito – ela disse num sussurro para Chace.
-Todos nós sentimos – ele respondeu enfiando as mãos no bolso.
-Chace preciso falar com você – ela disse por fim.
-Estou ouvindo... – ele ainda encarava a pedra no chão.
-A Beth teve um ultimo pedido antes de... E eu quero que esse desejo dela seja cumprido.
-Me diz o que é, se eu puder ajudar...
-Não você não pode, só precisa me ouvir.
-Ok... Era algum segredo dela?
-Não. Bem, só escuta, ok? Antes dela...Ir, ela me pediu que eu te contasse tudo que eu sinto por você – Isa estava suando frio suas mãos tremiam. Chace agora a encarava, mas ela só olhava a pedra no chão – E, bem...Eu realmente gosto de você, Chace. Muito mesmo.
Isa deu as costas e saiu andando, se sentia muito melhor por ter falado, mas muito pésssima por não ouvir nada parecido de Chace.
-Espera... – ele pediu.
Isa se virou encarando-o.
-Hum?
-Eu...
-Tem algo pra me contar?
-N-não. Nada.
Isa se virou novamente, as lagrimas já transbordando, e foi na direção de um taxi. Ninguém falou nada com ela. Estavam muito concentrados no que Mary falava. Isa foi para casa, sem avisar a ninguém.

O ultimo mês passou se arrastando. As meninas tinham prova no colégio e mal tinham tempo pra sair. Elas e os garotos haviam se distanciado, talvez por conta da briga de Isa e Chace, que não foi exatamente uma briga. Ben havia pedido Mallu em namoro, e ela aceitou, tendo que agüentar mais um ataque de Lara. Jay e Bec ainda estavam ficando, mas se viam menos por conta das provas e do afastamento entre Chace e Isa. O clima na casa de Mary estava muito triste por conta da ausência de Beth, a casa ficava muito vazia e silenciosa sem ela. Às vezes alguém se esquecia que ela não estava mais lá, e a chamava. Isso levava a mais duas horas de crises de choro de Mary ou de revolta de Chace que saia dando murro em tudo que via pela frente.
-Isa, quero que fique com isso – Mary pediu entrando no quarto e entregando uma foto a Isa.
Isa estava sentada em cima da mala tentando fechá-la.
-Obrigada – ela pegou a foto e olhou. Estavam Chris, Mary, Elizabeth e Chace na foto. Todos sorrindo.
-Mantenha contato.
-Claro – ela disse e foi puxado para um abraço de urso que não a deixava respirar.
Isa desceu com a mala e tinha uma galera lá em baixo. Chace, Dan com a namorada, Ben e Mallu juntinhos, Bec e Jay, Chris e a empregada.
-Nossa. – ela disse no ultimo degrau da escada.
-Vai todo mundo pro aeroporto – disse Mallu sorridente.
-Eles vão nos expulsar de lá – observou Isa levando a mala até um carro.
O aeroporto estava cheio como sempre. Todos ficaram sentados depois de embarcarem as malas. Estavam aguardando o chamado do vôo.
-Cara, eu odeio despedida – disse Ben beijando Mallu.
Isa abraçou os meninos, Deborah, Mary e Chris. Olhou para Chace, mas apenas sorriu para ele. Ele retribuiu o sorriso. Isa queria demais abraçá-lo e não largar mais, no entanto segurou a onda. Mallu e Bec fizeram o mesmo e depois deram um longo e demorado beijo em seu namorado e em seu ficante.
-Ultima chamada para o vôo um nove três oito.
-É o nosso – disse Bec, os cantos da boca puxados para baixo.

As meninas andaram na direção do embarque, olhando por cima do ombro e acenando, mandando beijos, sorridentes. Mallu e Bec estavam chorando. Isa olhou pela ultima vez para Chace. Os olhos dele estavam tristes embora seus lábios sorrissem. Chace a olhou intensamente, o coração dela acelerou só com o olhar. Ela não sentia as pernas, nem notava que estava andando, pois realmente queria voltar. Apenas levantou a mão e acenou para ele.
-Nova York, agüenta a gente! – disse Mallu já dentro do avião, brindando com uma taça de champanha com as amigas.
As três brindaram e sorriram com os olhos úmidos. Londres agora era só um pontinho.