Recomeçar escrita por Flower


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Como o prometido, outro capítulo freixquinho pra vocês. ♥

Esse capítulo também é importante, senão o mais importante até agora! Foi um pouco difícil de escrevê-lo porque não sei se sou tão sensível ao ponto... Mas de verdade, espero que vocês gostem! ♥



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Oliver Queen

— Não acredito que nos trouxe a uma boate!

Observo o local ao meu redor, as luzes estão baixas como o som ambiente. Há algumas mulheres dançando sobre pequenos palcos, dando um verdadeiro show de sensualidade.

— Isso aqui é o céu. — Tommy responde entusiasmado.

— Felicity me mataria se descobrisse que frequentei um lugar desses!

Somente em citar seu nome, sinto meu estômago revirar.

— Oliver, nunca te disseram que por mais que você esteja comendo o melhor prato de um restaurante isso não te impede de apenas olhar outras refeições do cardápio?

— Não sei por que ainda escuto as bobagens que saem de sua boca.

— Porque na maioria das vezes tenho razão! Ande, vá beber um pouco e se divertir.

Como uma criança deslumbrada, Tommy vai em direção às poltronas em frente ao palco em que dançam as lindas mulheres, enquanto que eu com o semblante derrotado caminho até o bar.

— Uísque duplo puro, por favor.

Somente o amargo desse uísque poderá conseguir com que eu esqueça um pouco os problemas que arranjei tendo a ideia de vir aqui.

— Posso te acompanhar em uma bebida?

Uma voz feminina surge a minha direita, e eu não posso deixar com que meus olhos percorram por toda a extensão de seu corpo. É uma linda mulher, os cabelos lisos são de um negro intenso que caem pela base de suas costas, o vestido é longo e molda as curvas de seu corpo. Seus olhos e boca ainda são um mistério, pois a luz ainda permanece baixa, dificultando minha observação.

— Não sei se sou uma boa companhia esta noite!

— Então faremos bem um ao outro.

Ela se senta ao banco bem próximo a mim, e agora, consigo enxergar todos os detalhes de seu rosto, um belo rosto. Os olhos são duas bilhas azuis da cor do oceano, enquanto que sua boca é carnuda e em um vermelho cereja.

— O que gostaria de beber?

— Pode ser o mesmo que você!

— Vejo que é uma mulher forte...

Mulheres não costumam tomar uísque puro, na maioria das vezes, optam por um Dry Martine ou drinks com frutas, mas essa escolha determinada não me surpreende já que todo seu corpo grita por personalidade.

— Não tão forte quanto pareço. — o barman a entrega seu drink. — Mas você não é daqui, não é?

— Não sou. — viro todo o uísque de uma vez só deixando com que minha garganta queime com o líquido.

— Percebi. Os homens daqui têm um estereótipo típico da região! Muitos andam com um chapéu de cowboy e fivelas no meio de suas calças.

Ela revira os olhos e de uma vez só também ingere todo seu uísque duplo, me arrancando uma gargalhada.

— Chapeis e fivelas não fazem muito o meu estilo.

— Percebi que não, mas você combina com o couro.

Ela deve estar se referindo a jaqueta que estou trajando, criada especialmente para mim pelas mãos de um estilista particular. Porém, não posso deixar com que meu rosto queime um pouco pelo seu comentário que por mais que seja simples, um homem vivido como eu, tenho faro para entender o que isso realmente isso possa significar.

Desvio meu olhar do seu imediatamente, como se estivesse fugindo do seu azul eloquente. Que merda está acontecendo comigo? Sim, eu estou querendo correr de uma mulher como o diabo foge da cruz! A realidade é que uma simples conversa com uma mulher em uma boate como essa me faz sentir um traidor, porque eu costumo me colocar no lugar das pessoas, e ter Felicity fazendo o mesmo, em minha mente não me parece correto. Não é correto.

— Você é linda, mas...

Sou interrompido bruscamente.

Ela deixa escapar uma risada antes mesmo que eu termine meu raciocínio. — Pode ficar tranquilo, não vou atacar você como as mulheres daqui costumam fazer! Quando disse que seriamos um boa companhia um para o outro, é porque também não estou em um dos meus melhores dias.

— Desculpe, não quis parecer soberbo. — respiro fundo estendendo uma de minhas mãos. — Oliver Queen!

— Helena Bertinelli! — ela aperta minha mão sutilmente.

— O que faz do seu dia uma verdadeira bosta?

Helena pede ao barman uma rodada de tequila para nós.

— Acabo de levar o maior pé na bunda de minha namorada! — ela vira sua dose de tequila.

— Então temos que enfiar o pé na lama juntos? — a acompanho na tequila.

— Parece que sim... Mas o que te traz aqui?

— Minha namorada me contou uma de suas maiores dores, a dor responsável por não deixar com que seus olhos brilhem completamente. Ela me confiou o seu mais íntimo e estou estragando tudo!

Suspiro, desta vez, meu olhar está atônito.

— Ela sabe que você está aqui?

— Esse é o problema, eu quis tentar sanar sua dor... Mas através de uma mentira. Justamente para a mulher que jurei nunca enganar.

A mão de Helena percorre até meu ombro, apertando-o levemente.

— Você tentou ao menos explicar o motivo de estar aqui?

— Não posso fazer isso, eu não sei se ela entenderia essa minha atitude positivamente! É algo muito sério, importante para ela. — balanço minha cabeça para ambos os lados. — Só queria levar de volta o que falta para ela ser realmente feliz!

— Mas nada justifica uma mentira, Oliver. Por mais que sua intenção seja nobre, eu imagino o que deve estar passando na cabeça de sua namorada.

— Eu sou um tolo.

Solto o ar de uma vez só dos pulmões.

— Não é um tolo, apenas meteu os pés pelas mãos ao omitir para ela o que realmente está fazendo, mas já que está tudo feito... Vá atrás do seu objetivo, leve de volta a alegria para sua garota, porém conte toda a verdade!

— Estou determinado a contar toda a verdade a ela, mas meu medo é ter perdido sua confiança, isso dói tanto.  

— Se há amor, ela vai entender. 

Por mais que eu não conheça Helena com tanto afinco, uma simples conversa sincera confortou meu coração, porque me mostrou que por mais que eu tenha errado em mentir para Felicity, foi por uma boa ação, e mesmo que eu não consiga levar de volta sua mãe para que elas possam se resolver, eu vou tratar de contar toda a verdade, e claro, vou prometer nunca mais cometer a tolice de mentir novamente.

— Obrigado, Helena. Espero que sua namorada possa voltar atrás, perceber a mulher maravilhosa que está perdendo.

Deixo que minha mão deslize sobre a dela que repousa no balcão, destinando-a um sorriso de soslaio.

Helena sorri correspondendo a meu carinho. — Tudo já está programado, Oliver. — a linda mulher levanta do banco ao meu lado, colando seus lábios carnudos em minha bochecha.

E antes que ela possa partir, continua. — Não se esqueça, nada é superado sem dor!

Nada é superado sem dor.

Tudo já está programado.

Todos os pelos de meu corpo estão arrepiados, porque por mais que esteja meramente alterado, poderia apostar que já ouvi isso em algum lugar... Seria o destino agindo em minha vida mais uma vez?

Me mostrando uma direção?

Talvez, mesmo que por meio de linhas tortas, eu esteja fazendo o certo.

E agora que estou aqui, nada me fará voltar atrás, posso perder a confiança de Felicity, mas levarei de volta uma das pessoas mais importantes de sua vida.

~~~

Depois de Helena ir embora, somente me restou retirar Tommy à força de um dos palcos. O idiota estava tão bêbado que as únicas palavras que saiam de sua boca eram ‘vodka’ e ‘Caitlin’. Isso é engraçado, porque as pessoas costumam dizer que quando estamos bêbados, falamos tudo o que sentimos mas que não conseguimos enquanto sóbrios. E naquele momento, meu amigo chorava como um bebê à medida que chamava pelo nome de minha secretária, mostrando o quanto ele realmente gosta dela. Não posso perder a oportunidade de contar isso a ele, mas agora ao amanhecer, preciso correr para o bar de Donna Smoak, necessito mostrar a ela o quanto sua filha está sentindo sua falta.

A fachada do bar é bem amistosa, não é como um dos bares badalados do centro de Starling City ou de New York, pelo contrário, é exatamente como imaginava. Há canteiros de girassóis por todo o redor do pequeno e aconchegante bar.

A porta de entrada é como àquelas vistas em filmes de faroeste, e por mais que eu seja alto, não consigo avistar o interior do local, o que me remete a olhar em meu relógio, me fazendo perceber o quanto está cedo. Acredito que minha ansiedade é a responsável por eu ter chegado tão cedo! Eu não costumo ser pontual, as pessoas que convivem comigo estão de prova que não sigo horários, mas quando estou ansioso eu consigo chegar em um lugar antes mesmo do que as pessoas mais importantes, como eu um casamento em que chego primeiro que os noivos ou até mesmo em um aniversário em que chego primeiro que o aniversariante. E é isso que está acontecendo agora, parece que ninguém ainda está por aqui.

Forço levemente a porta para frente e para minha surpresa ela se abre, instintivamente adentro ao local.

— Olá! Alguém por aqui?

Um senhor com a barba longa estilo Papai Noel surge por de trás de um balcão, analisando-me por inteiro.

Até que quebra o silêncio. — Meu rapaz... Infelizmente ainda não abrimos.

— Me desculpe, é que não sou daqui então me perdi nos horários.

Uma voz feminina aparece atrás do senhor que suponho ser Gonzalez. — Querido, os pães estão praticamente assados!

É uma linda mulher, poderia apostar ser Donna Smoak, pois existem traços de Felicity em seu rosto.

— Donna, o forasteiro madrugou para o café da manhã. — o senhor de barba longa sai de trás do balcão passando suas mãos molhadas em seu avental. — Prazer, Gonzalez! — ele estende sua mão.

— O prazer é todo meu, sou Oliver Queen. — o cumprimento. — Na verdade não vim para o café da manhã.

Donna se manifesta. — Oh! Mudará de ideia assim que provar o melhor pão de queijo de Mississipi.

Sorrio com sua doçura, a mesma que vejo em Felicity.

— Não tenho dúvidas que é o melhor, mas realmente minha vinda aqui é com outro propósito.

Gonzalez volta a me analisar por inteiro. — Donna, você se esqueceu de pagar a hipoteca do bar?

Arrancando-me uma risada divertida, claro que pelas minhas vestimentas o senhor está me confundindo com algum cobrador.

Rapidamente me adianto em desfazer a confusão. — Não sou nenhum tipo de cobrador, podem ficar calmos! O real motivo de estar aqui é a senhora, Donna Smoak.

A senhora se assusta em perceber ser o motivo de minha vinda.

— No que poderia ajudar o distinto rapaz?

Volto a sorri pelo galanteio. — Felicity Smoak.

Apenas em tocar no nome de sua filha consigo observar seu corpo estremecer.  

— Aconteceu alguma coisa com Felicity? — Gonzalez pergunta preocupado.

— Novamente peço desculpas pelo susto! Nada aconteceu com Felicity, a verdade é que... — dirijo meu olhar para mulher que ainda permanece intrigada. — Senhora Smoak, poderíamos trocar algumas palavras?

— Rapaz, se ela te mandou vir até aqui saiba que não há chances!

Donna dá um passo receoso para trás.

— Querida, não faça essa desfeita com o rapaz. Ele me parece educado e com certeza deve trazer alguma notícia de Felicity.

Ele acaricia suas costas a trazendo novamente para mais próximo de nós, ela não diz nada mas faz um sinal positivo com sua cabeça parecendo aceitar nossa intensa conversa. O senhor Gonzalez nos encaminha para uma mesa confortável localizada no interior do bar, onde nos sentamos.

— Senhora Smoak... Sua filha não tem ideia de que estou aqui.

Sua cabeça que estava baixa, levanta para me analisar melhor.

— Por que está aqui então?

Seu tom é ríspido.

— Deixe-me primeiro contar um pouco como conheci sua filha. — um sorriso involuntário surge de meus lábios apenas em lembrar-se de toda confusão que nos uniu. — Sua filha começou a trabalhar nas Indústrias Queen sem que eu soubesse, eu era um cara arrogante que não permitia que nada acontecesse sem meu aval.

— Rapaz, antes de tudo só quero que saiba que nada fará com que eu mude de ideia.

— Eu peço que apenas me ouça...

Minha voz está calma e um pouco baixa, então a senhora assente com a cabeça permitindo com que eu continue.

As lembranças me levam ao exato momento que vi Felicity pela primeira vez. — Conheci sua filha em um bar de Starling City, ela estava sozinha em um balcão esperando pela sua Soda, o vestido era vermelho! Estava radiante... A partir desse momento Felicity virou minha vida de cabeça para baixo. — uma risada escapa de meus lábios. — Ela me ensinou a ser um homem, não que eu não fosse, eu sempre tentei ser o melhor pai para meu filho... Mas um homem direito para uma mulher há tempos eu não conseguia ser, até bater de frente com sua filha.

Donna Smoak sorri. — Sempre tão irritante.

— Exatamente. Felicity me ensinou como tratar uma mulher de forma mais adequada, ela me colocou no eixo como nenhuma outra! Mas a verdade é que eu me apaixonei perdidamente por sua filha assim que meus olhos a enxergaram debruçada sobre aquele balcão de bar. Eu não precisei ouvir sua voz, sentir seu cheiro floral ou o gosto seus lábios, eu apenas já estava fisgado.

— Sua doçura realmente é apaixonante.

A voz de Donna agora é um misto de saudades e angústia.

— Tudo aconteceu tão rápido, eu me apaixonei, meus olhos ficaram tão cegos que em meu campo de visão só existia Felicity. Aos poucos fomos nos tornando parceiros até que... Ela me contou sobre a briga de vocês.

Donna suspira. — Podemos parar por aqui?

— Donna, por favor! Apenas me deixe lhe mostrar o quanto Felicity necessita de sua presença. Eu sei que a senhora e o Gonzalez são sua única família... Só não deixe que isso se perca.

Uma lágrima discreta escorre pela maçã de seu rosto. — Estamos terminados por aqui.

A mãe de Felicity se prepara para levantar da mesa em que estamos quando delicadamente seguro em sua mão, impedindo que se afaste.

— Perder alguém não é como uma ferida que cicatriza, perder alguém é uma dor fantasma que permanece ali até que você se acostume com ela... Eu perdi minha mulher em um parto infeliz, quase perdi também meu filho.

A menção a morte de Samantha a faz sentar novamente em curiosidade, deixando com que eu continue.

— Desde então nunca mais fui o mesmo durante três anos, eu me fechei para outras mulheres, na verdade, elas não tinham valor para mim. O que realmente me importava era meu filho e minha soberba, no entanto tudo mudou quando conheci sua filha... A personalidade forte que escondia a vulnerabilidade, a geniosidade que encobria suas fraquezas, Felicity Smoak abriu de novo o meu coração, me trouxe a paz de amar alguém novamente, e aquela dor que eu insistia em guardar em uma caixa inoxidável no meu mais intimo ela me fez libertar. Eu entendo que por mais que eu tenha amado Samantha, a mãe de meu filho, eu estava livre para amar novamente. Sua filha é a responsável por isso, ela é a melhor pessoa que já conheci então eu só peço que não deixe que isso se perca. 

Donna Smoak está segurando suas lágrimas como uma fortaleza. — Eu não consigo...

— Não quero obriga-la a falar com Felicity, mas ela importante demais para mim e eu tenho a certeza que é tão importante para a senhora também, então apenas a dê mais uma chance.

Aperto nossas mãos uma contra a outra, tentando acalentá-la.

— Você não entende, não é tão fácil assim...

— Nada é fácil, estar aqui longe de Felicity com o risco de perdê-la também não é fácil, mas eu estou. Tudo porque eu quero levar de volta o que falta para que ela possa ser realmente feliz. — sorrio tirando de dentro do bolso interno do paletó um cartão. — Aqui tem o número de Caitlin, minha secretária pessoal. Ela estará preparada assim que a senhora estiver decidida a voltar. Sem pressa, só deixe que seu coração possa fazer essa escolha, porque nossa razão nem sempre é certa... — suspiro por fim. — O meu jatinho estará a esperando assim que se decidir. No entanto a peço que não lhe conte que estive aqui, é importante para mim que eu mesmo a conte, tudo bem?

Solto sua mão com cuidado, preparando-me para levantar até que ouço a voz quebradiça de Donna Smoak.

— Oliver? Obrigada.

E com um sorriso em meus lábios eu assinto com a cabeça, retirando-me do pequeno bar onde eu acabo de cumprir com meu objetivo. Mesmo que eu não consiga fazer com que Donna Smoak vá até Starling City para se resolver com Felicity, sei que meu amor por ela impulsionou para que eu fizesse o certo.

Eu apenas o fiz.

~~~

Felicity Smoak

Jurei a mim mesma que não sofreria mais por nenhum outro homem.

Entreguei meu coração da forma mais sincera que podia, como nunca tinha feito.

Oliver prometeu que jamais me enganaria, eu disse que não iria aguentar, mas mentiras foi tudo o que recebi. Será que ele não percebe o quanto isso me machuca? A ideia de não saber por onde anda e que está escondendo de mim a verdade, me faz quebrar como um vaso de cristal. Eu não consigo me concentrar no que realmente devo fazer, porque os únicos pensamentos que rodeiam minha mente é por onde Oliver deve estar andando, o motivo de ter mentido para mim, e principalmente, com quem ele está! Nessas situações por mais que eu queria me convencer que não tem outra mulher na história, é justamente o que mais martela minha cabeça. Ele não poderia ter feito isso comigo, não poderia ter me deixado sem chão dessa forma, pois é assim que me sinto, sem uma base para que eu possa apoiar meus pés.

Desde que me entreguei a Oliver, decidi amá-lo sem medo do que poderia me acontecer, eu confiei em suas promessas, contei o meu mais íntimo. Mas em troca ganhei mentiras, e como não esperava, a decepção veio mais rápido do que eu imaginava.

Seco as lágrimas que insistem deslizarem pelo meu rosto, decididamente abro a porta de minha sala em um rompante, dando certo susto em Curtis que levante de sua poltrona. — Felicity, você está bem?

Por mais que eu esteja sensível nesse momento, não posso deixar que minha dor ultrapasse a força que preciso para dar um ponto final nessa história. Afinal, irão completar exatos dois dias que não tenho nenhuma notícia do paradeiro de Oliver. Desde a última vez que nos falamos, ele não me ligou outra vez, ele ao menos tentou conversar comigo novamente. Eu sei que parecia irredutível pela forma como desliguei em sua cara, mas não posso negar que sinto a falta de escutar sua voz, de sentir sua respiração do outro lado da linha, apenas saber que por mais que esteja longe e escondendo de mim o real motivo de sua mentira, está bem.

Isso me deixa irritada comigo mesma, porque ainda que a fúria tome meu corpo, sinto sua falta. Sinto saudades de como me acomoda em seu corpo enquanto me põe para dormir, o quanto me protege durante a noite sem estarmos correndo perigo, o quanto me demonstra seu amor sem ter a necessidade de dizer por meio de palavras concretas. A verdade nua e crua é que eu o amo, e ver como isso acaba de ser jogado fora por ele dói ainda mais.

— Cancele todas as reuniões agendadas de hoje. Preciso resolver outro assunto!

Por que as malditas lágrimas insistem em cair? Pelo que chorei durante essas noites daria para encher os reservatórios da cidade.

— Não posso deixar que saia nesse estado. — Curtis me entrega um lenço.

— Obrigada pela preocupação, mas não posso deixar que meu mal estar atrapalhe meu trabalho. — entrego-lhe de volta seu lenço, forçando um sorriso amigável. — Voltarei assim que estiver tudo resolvido, tudo bem?

Estou determinada a ir até Caitlin e arrancar toda a verdade, mesmo que isso exija de mim forças o suficiente para ouvir o real motivo por trás das mentiras de Oliver. Mas ao cruzar o corredor que separa minha sala da de Oliver, a imagem de minha mãe surge em meu campo de visão fazendo com que minhas pernas travem imediatamente. Donna Smoak está apenas a alguns metros de distância de mim, então ela deixa sua pequena mala cair sobre o chão a me ver.

Meu cérebro não consegue organizar minhas ações que devem ser feitas nesse exato instante, mas de forma incerta minha mãe começa a dar passos ternos em minha direção tornando mínimo o espaço que nos separa.

Minha respiração está desestabilizada, como todos os meus outros sentidos. As lágrimas em meu rosto agora não cessam que logo sentem o polegar de Donna as secarem pela minha bochecha úmida, fazendo-me abrir um longo sorriso.

— Não chore minha querida, ou ficará cheia de rugas.

Sua voz é doce, porém embargada também por um choro acumulado.

— Mamãe?

Minha voz é quebradiça consegue sair com um pouco de esforço, na verdade, eu ainda não estou conseguindo entender o que a faz aparecer repentinamente nas Indústrias Queen. Isso seria instinto? Porque sentiu o quanto estou sozinha e destruída pelo homem que confiei parte de mim? Mães são sensitivas, essa seria uma boa oportunidade de ter seu colo de novo para que eu possa chorar tudo o que ainda tenho entalado em minha garganta, não somente pelo acontecido com Oliver, mas sim pela saudade que senti todo esse tempo em que ficamos longe uma da outra.

— Senti tanto a sua falta meu bebê!

Suas mãos agora envolvem minha cintura em um abraço apertado, somente em sentir seu cheiro materno desabo em mais lágrimas sendo agora acompanhada também de minha mãe em um choro sobrecarregado de emoções.

Ter minha mãe de volta significa muito para mim, tudo que gostaria agora é pedir desculpas por tudo o que omiti a ela, fatos tão importantes que mudariam nossas vidas. Quero gritar para ela que nunca mais voltarei a errar da mesma forma, que serei o mesmo livro aberto de antes.

Após o forte abraço, seguro em sua mão entrelaçando nossos dedos, levando-a até minha sala, deixando Curtis atordoado ao passar por ele.

— Eu tenho tanto a dizer... — seguro suas duas mãos matando a saudade da pele sedosa responsável pelos carinhos nas horas que sempre precisei.

— Não precisa me dizer nada. Eu fui inflexível com você Felicity, eu não aceitei nenhuma das suas desculpas, me fechei de tal forma que me tornei cega.

— Mas a senhora tem razão, eu não poderia ter escondido algo tão importante.

— A culpa não foi sua, a grande verdade é que quando soube que tinha me escondido algo tão significativo para você isso me remeteu a seu pai! Ele costumava me deixar em segundo plano como se eu não fizesse parte de sua vida... Foi assim até ele descobrir que eu estava grávida de você, mentiras atrás de mentiras quando seu único objetivo era me esconder dos seus pais, da sua vida real. Eu errei, simplesmente nunca que poderia colocar você no mesmo plano que esse homem.

As emoções são tamanhas que transbordam meu peito, um misto de dor também surge assim que ouço minha mãe tocar no assunto de meu pai, porque mesmo que tenha passado tanto tempo, ainda é visível como essa história ainda mexe com minha mãe.

— Mãe, eu não poderia imaginar... — aperto suas mãos contra as minhas, deixando com que nosso calor se mescle.

— Você é a minha garotinha, não poderia ser comparada a esse crápula. No final eu entendi que sua intenção foi a melhor, que quis me proteger. Seria realmente difícil assistir o mundo te levando embora.

Uma de suas mãos desentrelaçam dos meus dedos, seguindo até a base de meu maxilar em um intenso carinho.

— Posso ter me mudado para Starling City, mas o amor que sinto pela senhora nunca deixou Mississipi.

— Eu sei minha querida. Fui egoísta, me preocupei somente com o que estava sentindo quando você estava tão machucada quanto eu.

Puxo-a para meus braços em um abraço apertado. — Não precisamos mais falar sobre esse assunto mamãe, o passado precisa ficar no passado.

— Só preciso que me dê mais uma chance, para que eu seja melhor para você.

Sua voz sai abafada contra o pé de meu ouvido.

— Tudo o que sou eu devo à senhora. Eu te amo!

Saudade, um dos únicos sentimentos que gritam por todas as minhas células no momento. E só o que preciso são de seus braços me acalentando como sempre fez desde quando eu era pequena.

— Eu também te amo meu bebê!

Sua voz ainda está embaraçosa pelos rios de lágrimas, os lábios molhados passeiam por toda a extensão de meu rosto me fazendo sorrir abertamente.

Respiro fundo depois de tantas emoções enquanto tento me restaurar. — Mas o que a fez voltar?

Hum... — ela ajeita os fios dourados de meu cabelo por de trás de minha orelha. — Digamos que um passarinho loiro de olhos azuis me fez repensar em algumas atitudes.

Passarinho loiro de olhos azuis?

De imediato começo a arquitetar uma linha de raciocínio que envolve Oliver Queen indo até minha mãe em Mississipi para trazê-la de volta.

Sendo assim, sua mentira seria para impedir que eu negasse sua ajuda? Porque certamente eu faria isso, meu orgulho nunca permitiria que Oliver fosse até minha mãe para resolver meus próprios problemas, talvez por eu já estar grandinha demais para ter alguém tomando minhas dores.

Mas foi isso que ele fez, tomou minhas dores. Porque quando amamos é isso que fazemos um pelo outro, a dor se torna única. Amar é proteger, é livrar a outra pessoa de seus maiores medos mesmo que isso possa por em risco a confiança. A verdade é que Oliver esteve por trás disso o tempo todo, sua mentira foi para impossibilitar de impedi-lo, e mais uma vez, fui injusta. Imaginei só o pior quando ele apenas queria me trazer de volta a minha única família.

Depois de ter me aberto daquela maneira na noite em que conheci sua família, pude perceber o quanto ficou tocado com minha história, por sua vez me prometeu que iria me ajudar, mas nunca poderia imaginar que fosse dessa forma.

Meu coração está em alerta agora, as palpitações estão tão aceleradas que eu sou capaz de sentir o impacto que fazem na parede de meu peito, tudo isso porque Oliver me ama, pois não há prova de amor maior do que essa. Tudo o que preciso é correspondê-lo da mesma forma mostrando o quanto também o amo. Tem que ser o mais rápido possível, tem que ser agora.

Um sorriso está instalado em meu rosto. — Mamãe, Curtis meu secretário e amigo vai te dar o endereço de meu apartamento, podemos jantar juntas essa noite?

— Noite das meninas como nos velhos tempos?

— Noite das meninas!

Donna segura minha mão na altura de seu peito, deixando com que eu sinta também seus batimentos cardíacos descompassados. — Querida, na vida podemos nos encantar por vários homens, mas apenas um nos faz ter esse brilho nos olhos... — seus lábios tocam o pé de meu ouvido. — O amor que o passarinho loiro dos olhos azuis sente por você é algo tão genuíno que eu poderia não acreditar existir mais nos dias de hoje, não perca a oportunidade de tê-lo em sua vida.

— Eu não vou perder!

~~~

Passo por Caitlin como um foguete sem lhe dar a chance de me anunciar para Oliver. Assim que entro em sua sala, seguro uma risada de seu semblante assustado.

Ele levanta de sua poltrona em segundos, levando suas mãos ao alto como se estivesse se rendendo. — Meu amor...

Agora que meu coração realmente sairá dos trilhos.

— Então você decidiu aparecer?

Sei o quanto estou sendo má, mas não posso perder a chance de ver o lado extremamente preocupado de Oliver em pensar estar me perdendo.

Ele pega minhas mãos com cautela, seus olhos e cabeça estão para baixo não deixando com que troquemos olhares.

— Eu menti para você...

Solto uma de minhas mãos que está presa a ele, levando-a até seu queixo onde o levanto para que eu possa olhar em seus olhos que estão nebulosos.

— Eu sei de tudo. — deixo que um sorriso escape.

Oliver suspira frustrado voltando a se sentar em sua poltrona. — Pedi a sua mãe que deixasse que eu te contasse.

Permito-me uma gargalhada. — Você acha mesmo que Donna Smoak não me contaria?

Oliver compartilha de minha risada. — Tem razão, ela não parece conseguir guardar segredos por muito tempo. — seu olhar desvia do meu novamente, eu poderia adivinhar o quanto está se sentindo culpado. — Desculpa!

Dou passos rasos até sua poltrona, encostando meu corpo sobre a beira da mesa central. — Fiquei furiosa quando descobri que tinha mentido para mim, minha única vontade naquele momento era acabar com a sua vida.

Os olhos de Oliver se arregalam. — Espero que essa vontade súbita de assassinato tenha passado!

Sorrio com seu comentário.

— Mas depois, no lugar da raiva veio uma das maiores dores que já senti. Imaginar você mentindo para mim me destruiu, passaram milhares de possibilidades em minha cabeça, todas envolvendo outras mulheres.

— Não há mulher alguma que consiga me fazer feliz como você consegue.

Oliver mais uma vez consegue um de meus mais sinceros sorrisos, porém preciso ter foco para cumprir meu raciocínio.

— Quando minha mãe deixou escapar que um passarinho loiro de olhos azuis estava por trás de toda essa confusão, um grande peso saiu de minhas costas. Tudo se iluminou como se eu estivesse em uma escuridão particular. Oliver, eu te entreguei o meu amor...

Sou interrompida pela voz quebradiça de Oliver. — Não sabe o medo que tive de perder sua confiança.

— Não existe essa possibilidade, só prometa não mentir para mim novamente?

O sorriso de Oliver continua contido. — Você é a minha verdade, Felicity. Eu nunca mais vou ousar esconder algo de você de novo.

Deixo minha mão procurar pela sua sobre o braço da poltrona. — Como consegui ficar tanto tempo sem te encontrar?

— Talvez seja porque estava perdendo tempo com um certo idiota chamado Billy!

Pronto, acabo de descobrir o porquê do sorriso contido de Oliver até agora, por cargas d’água deve ter encontrado Billy pelas ruas de Mississipi que é bem provável já que é praticamente o xerife da região.

— Billy... — sussurro seu nome com clareza.

— Ele é praticamente perfeito, Felicity! É policial, fez um curso de bombeiros na corporação, salvou refugiados do Haiti e ainda fala japonês.

Os olhos de Oliver se perdem dos meus me preocupando um pouco.

— Billy é passado, Oliver!

— E será que eu sou o futuro certo para você? Eu não tenho nem a metade das qualidades que esse Ken humano tem.

Deixo com que escape uma risada. — Billy foi meu namorado por cerca de 4 anos o que me faz ter um enorme carinho por ele. Nos conhecemos na faculdade, ele fazia seu curso de Direito que por coincidência era no mesmo horário de minhas aulas, isso ajudou para que ficássemos juntos. Por muito tempo trocamos palavras de afeto um pelo outro, mas não era amor. Nós iriamos nos casar assim que formássemos...  

— Qual foi o motivo por não terem se casado?

— O motivo é que ele não é tão perfeito quanto às pessoas ao meu redor acham, incluindo você. Quando ele descobriu que eu tinha sido aceita pelas Indústrias Queen, não me apoiou um só momento para que eu viesse, ele foi egoísta e pensou só no seu próprio umbigo. Ele não largaria a academia de policia de Mississipi, nem eu pediria algo dessa forma, mas eu poderia espera-lo... Assim que ele se formasse estaria em Starling City a sua espera, aqui teria muito mais oportunidades de emprego! Mas ele nunca deixaria sua raiz em Mississipi, o que me deixou extremamente chateada.

— É, possivelmente, ele não seja tão perfeito assim!

Afasto-me da beira da mesa central em que estou apoiada, acomodando meu corpo sobre o colo de Oliver que com seus braços fortes agarra minha cintura com propriedade, dirigindo seus olhos que desta vez estão livres daquela nebulosidade de antes.

— Não existem pessoas perfeitas... Existe a pessoa certa para a outra, e tudo acontece porque deve acontecer! Terminei com Billy porque nunca fui dele.

Faço um leve carinho na barba por fazer de Oliver que desliza por ela até encostar seus lábios em minha pele depositando um beijo.

— Eu sei o quanto certa você é para mim. Mas você tem essa mesma certeza?

Elevo meus braços passando-os pelo seu pescoço, onde inicio um leve carinho com as pontas de minhas unhas em um movimento de cima para baixo, sentindo sua pele arrepiar à medida que passo por toda a extensão. Impulsiono meu corpo levemente para cima deixando com que meu peito fique próximo de seu ouvido.

Sussurro sensualmente dentre minha respiração pesada. — Você está ouvindo? — refiro-me as batidas incessantes de meu coração. — Essa é a resposta.

Oliver traz meu corpo novamente para baixo, deixando com que nossos olhares se encontrem em sintonia, seu sorriso é tão aberto que me permite vislumbrar de todos seus dentes impecavelmente alinhados.

— Você sabe que qualquer um pode entrar aqui e nos pegar nessa posição extremamente erótica, não é?

Sua mão segura meu maxilar com domínio, arrancando-me uma risada baixa.

— Não está acostumado com flagras desse tipo? — volto a sussurrar, desta vez, com a voz ainda mais languida.

— Nunca... Por mais que não pareça, nunca transei no meu ambiente de trabalho.

Finalmente sinto os lábios macios de Oliver tocarem minha pele que está pegando fogo como o inferno. Eles brincam com a ponta de meu queixo deixando uma leve mordida pelo local, conseguindo de mim um gemido rouco pela ardência de seus dentes.

— Oliver Queen... Você falhou com essa cidade!

Uma das mãos de Oliver que permanece em minha cintura, a puxa completamente para ele, eliminando o pequeno espaço que ainda nos separava. Enquanto que a base de sua outra mão continua pregada em meu maxilar em uma carícia delicada. No entanto, deixo que minha cabeça caia um pouco para que possa encontrar em seus olhos a minha imensidão.

Passo sorrateiramente meu polegar em seus lábios macios, traçando um caminho para meus lábios, e no mesmo instante Oliver entreabre a boca de forma sedutora, o que me faz levar a ponta de minha língua também quente para a linha de seu lábio inferior, podendo sentir com mais propriedade sua respiração descompensada que se intercala a minha.

Sua mão que está em meu maxilar desliza pela minha nuca, podendo segurar os fios cheios de meu cabelo em um carinho ingênuo. Ele afasta meu rosto um pouco do seu mantendo certa distância tirando de mim um leve grunhido de reclamação, logo tento aproximar de novo nossos lábios que necessitam um do outro o mais rápido possível, porém Oliver volta a se afastar se divertindo com minha vontade sedenta de ter sua boca novamente próxima a minha.

Ele sorri incessantemente, quebrando o silêncio que nos cerca.

— Eu te amo.

Como caixas de pólvora em meio a um fogo cruzado, sinto todas as minuciosas partes de meu corpo se contraírem com cada palavra que acaba de ser dita. Agora, estou paralisada dentro do abraço de Oliver, com meu abdômen tensionado pelo oxigênio que não chega a meu diafragma.

Oliver poderia imaginar que o brilho em meus olhos que faltava era pelo meu afastamento de minha mãe, mas não. Por mais que eu estivesse distante de minha mãe, eu sempre soube que tinha seu amor, poderia estar soterrado por tantas palavras não ditas e desentendimentos, no entanto ele esteve sempre lá. Na verdade, o brilho que faltava era esse amor de homem e mulher que nunca tive e que agora transborda por minhas entranhas.

— Repete?

Minha voz sai pateticamente fraca pelo misto de sensações.

A voz de Oliver também é embargada. — Eu amo você.

— Também te amo, não consigo colocar ninguém mais acima de você.

E sem falar uma mísera palavra sou surpreendida pelo mergulho dos lábios de Oliver nos meus em um beijo com saudade que precisa ser correspondido com a mesma intensidade. É um beijo profundo como se eu fosse escapar de suas mãos como água, como se eu pudesse ser expulsa por seus pulmões como o ar.

Não consigo pensar em mais nada que não seja a voz rouca de Oliver dizendo que me ama com todas as palavras, como sempre esperamos um do outro. Um amor sincero que não pode ser mensurado e que acaba de ser marcado em nossa alma.

Porque nos amamos.

Nos pertencemos.


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Notas finais do capítulo

E aí, lindas? ♥

Bom, eu sou suspeita em relação a esses dois, mas depois desse capítulo acho dificil não perceber o quanto realmente se amam.

MAS *ALERTA*, eu sei que eu fiquei de reverter a história no 9° capítulo, mas eu acabei escrevendo mais do que deveria e adiei esse momento.

Porém, tenho que avisá-los *SPOILLER* o próximo capítulo que ainda deve sair esse final de semana não vai trazer boas notícias ): DESCULPEM. Até os comentários e ao próximo ♥



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