Encontro Sombrio escrita por Talita Vaconcelos


Capítulo 1
Encontro Sombrio




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“E cresceu noite e manhã
Até florescer luzente maçã
Ao ver o brilho que ela tinha
O inimigo sabia que era minha

 

E foi ao meu jardim roubar
Quando a noite velou o pomar
Bem cedo vi, com agrado
O inimigo sob a árvore estirado.”

 (A Árvore Envenenada, William Blake)

 

Passava um pouco das onze da noite quando o desconhecido entrou naquele bar empoeirado. Não havia mesa vazia para que ele bebesse em paz, então ele caminhou – vagou seria a expressão mais adequada – até uma mesa no fundo do salão, onde um homem de moletom negro, com o capuz puxado sobre a cabeça, parecia ter adormecido.

O desconhecido estava visivelmente abalado. Exibia olheiras profundas de quem não dormiu noite passada, e trazia na expressão um profundo esgotamento emocional, um olhar lacrimoso característico de quem é inflexível e rigorosamente atormentado pela culpa, e rugas marcadas de intenso pavor.

Era, todavia, um homem jovem, pouco mais de trinta anos, e apesar da aparência miserável em seu rosto, vestia um terno de corte impecável, obviamente caro, que era a única coisa civilizada em sua figura.

Olhou vagamente para o homem de cabeça baixa naquela mesa, e como constatasse que dormia, puxou uma cadeira, e pediu ao servente que lhe trouxesse Bourbon.

Foi servido quase imediatamente, e tão logo a bebida chegou, o homem acendeu um cigarro, mesmo tendo sido alertado pelo servente de que era proibido fumar naquele recinto. O homem estendeu uma nota ao rapaz, sem ao menos olhar o valor ao tirá-la do bolso, e pediu que largasse a garrafa de uísque na mesa e o deixasse em paz pelo resto da noite.

O rapaz o deixou sozinho, e nem sequer fez menção ao homem que permanecia de cabeça baixa em sua mesa.

Por algum tempo, o desconhecido bebeu em silêncio, soltando longas baforadas de fumaça do cigarro para cima. Embora quase não se movesse, exceto para servir uísque no copo e levar o cigarro à boca, seus gestos eram extremamente nervosos.

Passados alguns minutos, o homem encapuzado soltou um longo suspiro, e o desconhecido o olhou depressa, pensando que tivesse acordado. Porém, o encapuzado não levantou a cabeça.

Depois de beber a segunda dose de uísque, e de apagar o cigarro no tampo da mesa, o desconhecido olhou com espanto para o relógio. Eram onze e vinte e três.

— Esperando alguém? – perguntou o homem de capuz, com a voz sussurrante, permanecendo de cabeça baixa, com o rosto escondido na penumbra.

O desconhecido teve um sobressalto e o encarou por um instante, assustado. Em seguida, baixou os olhos para o próprio copo.

— Não! – respondeu, evitando olhá-lo de novo.

Havia um cheiro inóspito e acrimonioso naquela mesa, ele percebia agora, e estava certo de que não vinha das cinzas do cigarro.

— Você parece nervoso – observou o encapuzado, sem fazer nenhum movimento ao falar.

— Não estou – negou o homem, virando a dose inteira na boca de uma vez.

— Está suando, sua voz está trêmula, e não parece ser por causa do álcool – insistiu o encapuzado.

O homem ergueu os olhos. Notou que não havia outro copo na mesa além do seu. Seja lá porque estava ali, o encapuzado não bebia.

— Por que está aqui? – insistiu, prosseguindo sussurrante, sem despir o capuz, nem erguer o rosto para a luz.

— Que importância tem? – respondeu o desconhecido, servindo-se de mais uma dose.

— Está sentado à minha mesa – lembrou-lhe o encapuzado.

— Se é esse o problema, vou para outra. – O homem pegou a garrafa e o copo e foi se levantando.

Sem mover um músculo, o encapuzado somente sussurrou, com petulância:

— Qual outra?

O homem olhou em volta. Todas as mesas estavam ocupadas, e em nenhuma delas ele poderia ficar sossegado, alheio às conversas em redor; exceto onde estava.

— Parece que sou sua única opção, afinal – sussurrou o encapuzado, e o homem pareceu entrever um ligeiro e estranho sorriso pela sombra do capuz. – Agora, por que não se senta, e me conta sua história?

— E por que isso te interessaria? – perguntou o homem, tornando a se sentar.

Ao que o encapuzado deu de ombros.

— Tédio – respondeu, simplesmente.

O homem bebeu um gole pequeno, e olhou de relance para o relógio outra vez.

— Mas tenho o palpite de que a história que vai me contar dará um jeito nisso – completou o encapuzado. – Diga-me: o que te atormenta?

O homem respirou fundo, e tomou outro pequeno gole de uísque. E como o outro percebesse que ele não pretendia compartilhar suas desventuras, propôs:

— Vamos fazer uma aposta? Qual de nós dois está aqui com o maior tormento?

O sujeito ergueu a cabeça; em seguida deu de ombros, e ficou em silêncio, esperando que o homem de capuz começasse:

— Vim para este bar mal iluminado para lamentar sozinho a morte de um ente querido.

O sujeito fitou o líquido âmbar em seu copo, e murmurou “sinto muito”, por mera cortesia, sem tornar os olhos ao outro.

— Ele foi assassinado noite passada – prosseguiu o homem de capuz. – Covardemente!

Havia um rancor venenoso em suas palavras, mas sua voz não era mais que um sussurro. O outro homem imaginou que ele tivesse perdido a voz depois de muito chorar.

— Sua vez – instigou o encapuzado.

O sujeito virou o resto da dose na boca e respirou fundo.

— Não posso voltar para casa antes de meia-noite – disse, casualmente, mas com um tremor sombrio na voz.

— Por quê?

O sujeito encarou o copo vazio e cerrou a mandíbula. Parecia embaraçado.

— Medo? – supôs o outro. – Temor da meia-noite? É supersticioso? Hoje não é sexta-feira treze.

O sujeito sacudiu a cabeça em negativa.

— Remorso? – Esta suposição veio num tom quase acusador.

— Não! – negou o sujeito, veementemente.

— Tem algum inimigo lhe preparando uma emboscada?

O sujeito ergueu os olhos com desconfiança, e tentou enxergar o rosto do estranho na sombra do capuz. A luz fraca do bar não era suficiente para lhe dar sequer um vislumbre de suas feições, principalmente porque o homem estava sentado no ângulo exato em que uma das colunas projetava sua sombra.

— Eu não tenho inimigos! – declarou o sujeito, convicto.

— Eu acredito – disse o outro, e seu tom sugeria que estava sorrindo.

E como o outro não dissesse nada, o encapuzado insistiu:

— Qual é o problema, então?

Mas o outro fechou a cara, aborrecido. Percebendo que ele não cederia, o encapuzado prosseguiu a falar:

— O homem que morreu noite passada afirmava o mesmo… Que não tinha inimigos. Aparentemente, ele estava errado.

O sujeito, parecendo ignorar o que ele dizia, serviu outra dose e a virou inteira na boca de uma vez.

— Ele era o sujeito mais carismático que qualquer um já conheceu. Sempre o mais animado nas festas, quem apartava todas as brigas… E o que fazia mais sucesso com as mulheres.

O encapuzado deu uma risadinha maliciosa.

— Isso acabou sendo sua perdição – acrescentou, num sussurro sombrio.

O outro ergueu as sobrancelhas e deu um pigarro, sem demonstrar interesse pela história. O encapuzado continuou, como se falasse consigo mesmo:

— Não… Na verdade, acho que ele não estava errado sobre não ter inimigos, já que ele foi morto pelas mãos de um amigo.

O outro sujeito começou a encará-lo, e a esta altura não sabia se o encapuzado olhava para ele enquanto falava, ou se estava distraído em pensamentos.

— Tinha se encantado pela mulher de um amigo – prosseguiu. – De seu melhor amigo, na verdade. Ninguém pode culpá-lo; ela é estonteante.

O outro respirou fundo, e pareceu mergulhar em seus próprios pensamentos.

— Não que ele fosse um traidor… – explicou o encapuzado. – Ele apenas cometeu um erro, entende? Cedeu à fraqueza.

Mas o outro não respondeu. Respirou fundo novamente, e bateu a mão no bolso, talvez em busca de outro cigarro. Já tinha bebido o suficiente para não pensar com coerência sobre o que quer que fosse, e estava cada vez menos disposto a falar e a ouvir.

— Tinha decidido não pensar sobre o que aconteceu – prosseguiu o encapuzado. – Não pretendia contar ao amigo, entende? Mas também não tocaria nela outra vez.

— Muito conveniente! – replicou o outro, praticamente interrompendo-o, e expressando raiva em sua voz. – Decidir não tocá-la depois de já ter consumado a traição…

— Quanta hostilidade! – observou o encapuzado. – Você, pelo que percebo, não seria capaz de perdoar uma traição como esta…

O sujeito respirou fundo outra vez, e, aparentemente desistindo de fumar, serviu outra dose de uísque.

— É muita ingenuidade esperar que um homem perdoe o amigo que lhe tomou a esposa – respondeu, com amargura.

— Sim… – aquiesceu o outro. – Por isso ele não pretendia confessar o que fez. E o amigo… O nobre amigo… – Estas palavras soaram desdenhosas. – Sem nunca demonstrar suspeitar de nada, fazia questão de mantê-lo sempre próximo de si e de sua esposa. Mantenha os inimigos por perto, é o que dizem… Você concorda com isso?

— Depende – respondeu o sujeito.

— Depende do quê? – interessou-se o outro, mas seu tom era desafiador. – Do ódio?

— Também do ódio – aquiesceu. – E da necessidade de acertar as contas com o traidor.

— E como você acertaria as contas com ele?

O sujeito se moveu inquieto na cadeira.

— Imagino, por sua expressão, que isto já te aconteceu – observou o encapuzado. – Já foi traído. Ele era seu amigo?

Mas o sujeito não estava disposto a tocar nesse assunto.

— Você não parece ser um homem vingativo – prosseguiu o sujeito de capuz. – Mas quem é que conhece as pessoas quando estão iradas, não é mesmo?

O outro encarou a bebida em seu copo, parecendo refletir a respeito.

— Você teria coragem de se vingar? – insistiu o encapuzado. – Teria coragem de matá-lo? Ele sendo seu amigo?

— Teria deixado de ser meu amigo no instante em que olhasse minha esposa com gula! – afirmou o sujeito, fulminando com os olhos a sombra do capuz, sem, todavia, enxergar o rosto de seu ouvinte.

Uma risada gutural veio da sombra, e em seguida a voz sussurrante se mostrou satisfeita.

— Sim, você já esteve nessa situação – deduziu. – E com certeza puniu seu amigo de alguma maneira.

O outro baixou os olhos novamente ao copo, e em seguida o virou na boca.

— Pela deslealdade – insistiu o encapuzado –, de seduzir sua esposa, fazer amor com ela, e depois olhar nos seus olhos como se nada tivesse acontecido, e ainda chamá-lo de amigo… Você, sem dúvida, achou um modo de revidar.

— Não pense que está em posição de me julgar só porque o seu amigo foi morto por um marido traído – repreendeu o sujeito. – Porque se fosse na sua carne, você também revidaria.

— Talvez – admitiu o encapuzado. – Ao menos, temos isso em comum: ambos somos rancorosos. Mas devíamos dar mais crédito aos sábios que dizem que o ódio é um veneno que mata antes quem o sente, do que aquele que o gerou.

— Disse o filósofo da mesa de bar… – desdenhou o outro.

— Corrija se eu estiver errado – desafiou o encapuzado. – Tem orgulho da maneira como acertou as contas com o seu amigo?

O sujeito cerrou a mandíbula com raiva, e esmurrou a mesa com força.

— Ele sabia que ela era minha, e mesmo assim a seduziu! – rugiu, enfurecido.

— Se orgulha – concluiu o outro. – E mesmo depois de tê-lo punido, o ódio ainda te enfurece.

— Você não entende… Eu o considerava como a um irmão, e ele se aproveitou da confiança que eu tinha nele para entrar na minha casa e roubar minha esposa de mim!

— E por isso você o matou – disse o outro.

E passou pouco mais de um segundo até que o sujeito percebeu que não era uma pergunta.

— Para saudar a dívida – acrescentou o encapuzado.

O sujeito estreitou os olhos com desconfiança, e debruçou-se na mesa para tentar ver na penumbra, mas o rosto do ouvinte permaneceu oculto sob o capuz.

— Quem é você, afinal? – perguntou o sujeito, com a voz extremamente baixa.

O outro riu. E disse:

— A questão realmente importante é: por que você está aqui?

O sujeito abriu a boca, mas o encapuzado não permitiu que falasse.

— Noite passada, seu amigo tinha decidido recusar o convite para jantar em sua casa – começou. – Era o aniversário de sua esposa, e você insistiu. Chegava a dar pena a doce ingenuidade com que insistiu, sorrindo amigavelmente, dizendo que fazia questão de sua presença… Ele acabou não tendo coragem de recusar.

“Tenho que reconhecer que foi um plano ardiloso: levar o inimigo para dentro de sua fortaleza; convidá-lo a confraternizar com sua família… E disfarçar a morte num banquete”.

O outro sujeito, desajeitadamente, bateu a mão na garrafa de uísque, fazendo-a despedaçar-se no chão.

— O veneno, eu presumo, estava na taça – sugeriu o encapuzado –, pois ninguém mais se sentiu mal após o jantar. Láudano, imagino; uma dose não letal, apenas o bastante para deixá-lo inconsciente por algum tempo. Você é médico; não deve ter sido difícil calcular a dosagem. Você sugeriu que ele fosse descansar um pouco no escritório; levou-lhe um chá… E momentos depois, ele apagou.

Os olhos do sujeito se dilataram de espanto.

— Ele ainda acordou algum tempo depois – continuou o encapuzado, com um sibilar mais agudo. – Acorrentado sobre a escrivaninha vazia, forrada com várias camadas de plástico preto. E só então ele percebeu o ardil. O amigo… – disse esta palavra com acentuado rancor e ironia. – Você! Se aproximou, com as mãos protegidas por luvas cirúrgicas, segurando um frasco de vidro…

A expressão do outro sujeito se desfigurou em horror.

— Seu sorriso não era mais gentil, àquela altura – acrescentou o encapuzado, prendendo a atenção do outro em suas palavras. – Era sádico e ardiloso; um monstro gerado em ódio. Tinha descoberto a traição, e desde então você o iludia com cortesias falsas, e enganosos gestos de afeição; o ódio mais tenebroso mascarado em ingenuidade infantil; enquanto perversamente tramava sua vingança.

“E então você o tinha…”, prosseguiu, sem se deixar interromper. “O inimigo estava vulnerável, acorrentado em sua mesa, completamente entregue à sua ira. Foram as palavras que você usou: ‘iam saldar uma dívida’…”.

O outro sujeito, subitamente, empalideceu até a cor de giz. Seus olhos, muito abertos, não se desviavam do rosto oculto nas sombras, e seu corpo estava completamente paralisado de terror.

— Seu amigo – prosseguiu o outro –, quando viu você destampar o vidro, presumindo que era um veneno que você iria forçar na garganta dele, ou quem sabe injetar direto em sua corrente sanguínea, tentou se soltar das correntes. Aposto que você está se lembrando agora do som agonizante do anel que ele tinha na mão direita arranhando sob a corrente de ferro…

O sujeito tentou se mover na cadeira, como se pretendesse tapar os ouvidos diante da lembrança daquele som horrível, mas percebeu que, de fato, não podia se mexer.

—  “Catarina sempre será o meu tormento”, você disse – lembrou o outro. – “Mas você… Eu vou tornar esse rosto tão repugnante que nenhuma mulher poderá desejá-lo”.

O sujeito, paralisado, o olhava com extremo assombro.

— Matá-lo não era suficiente para você – acusou o outro. – Você queria torturá-lo! Queria que ele sofresse pela mágoa que causou a você. Quanto sadismo frio você guardou neste coração perverso, Rafael…?

À menção de seu nome, o homem arregalou os olhos. Seu corpo estava completamente paralisado, e ele sabia agora que não era somente por causa do medo. Estava sob o efeito de algo mais forte; algo tóxico.

— Não teve a menor piedade, a menor compaixão – prosseguiu o outro, sem mover um músculo, nem aumentar a voz –, quando Eric suplicou a você que o perdoasse. Ele olhou para você apavorado, enquanto erguia o frasco sobre o rosto dele. E o seu rosto enfurecido e vingativo foi a última coisa que ele viu, antes que seus olhos fossem consumidos pela fome voraz do líquido viscoso.

“Se lembra dos gritos, Rafael? Lembra-se de como foram altos e estridentes, a ponto de fazer estremecer as janelas de vidro? Lembra da alegria sádica que sentiu ao ver a carne do rosto dele sendo devorada pelo ácido?”

Interiormente, Rafael lutava para se mover e se levantar, mas apenas sua mente permanecia ativa, enquanto seu corpo se recusava a responder, e começava lentamente a escorregar da cadeira. De súbito, o encapuzado avançou sobre ele, prendendo-o na cadeira, apertando furiosamente seu queixo como se quisesse lhe enterrar os dedos na carne.

— Consegue imaginar a dor lancinante do ácido queimando seu rosto e seu cérebro? – rugiu o encapuzado, pela primeira vez erguendo a voz a algo maior que um sussurro.

— Eu nunca quis matar o Eric – tentou esclarecer o outro, falando através do aperto firme e doloroso da mão do estranho; surpreso, e de certo modo, grato por ainda poder falar.

— Claro que não… – aquiesceu o outro. – Você queria que ele sofresse. Você o desfigurou para que vivesse o resto de seus dias como um monstro repulsivo. A morte dele foi um trágico efeito colateral do ácido penetrando na carne e devorando partes do cérebro dele. E depois do que foi capaz de fazer a ele, eu me pergunto, o que terá feito à Catarina? Decerto não sofreu menos que o Eric.

— Eu nunca a machucaria! – gemeu o outro, engasgando com o hálito inóspito do estranho soprado em seu rosto.

— Mentira! – berrou o encapuzado.

— Eu juro! – ofegou Rafael. – Ela está bem. Ela ainda não sabe que ele está morto.

— É claro que não sabe – disse o estranho. – Porque você escondeu o corpo dele. Você deixou que o ácido o matasse lentamente, e quando ele já estava morto, você o trancou no cofre, detrás da estante do seu escritório. Ele ainda está lá, não é mesmo? Porque você não teve coragem de lhe dar uma cova decente!

— Anjo do inferno, quem é você? – rosnou o sujeito, sentindo a garganta se fechar lentamente, e sabia que não era por causa do aperto da mão do estranho.

Um riso gutural veio da sombra, e em vez de responder, ele repetiu a pergunta que havia feito no início:

— Por que você está aqui?

Os olhos de Rafael encheram-se de pavor, ao recordar o motivo de ter entrado naquele bar. Teve medo de entrar em casa. Não pisava lá desde aquela manhã, quando abriu o cofre e percebeu que o cadáver de Eric havia mudado de posição durante a noite. Estava certo de tê-lo posto deitado no cofre, antes de trancá-lo na escuridão; mas quando o encontrou naquela manhã, Eric estava sentado, escorado na parede de aço, sorrindo para ele com ardil através do que restara de seu rosto desfigurado. E na parede do fundo do cofre, acima da cabeça do morto, havia uma promessa escrita com sangue: “À meia-noite levarei você comigo para o inferno!”.

Rafael estendeu os olhos para o relógio em seu pulso, no exato momento em que o ponteiro dos minutos se unia ao das horas sobre o número doze.

— Meu Deus! – sibilou Rafael, mas não teve certeza de ter sido ouvido desta vez. Seus pulmões estavam se fechando e o sufocamento o entorpecia, enquanto ele olhava com pavor o sorriso ardiloso que aparecia pela sombra do capuz.

Então, o estranho ergueu a mão direita, onde brilhava um belo anel de prata grosseiramente arranhado, e lentamente despiu o capuz. Os olhos de Rafael se dilataram e sua expressão se torceu em horror, enquanto seu corpo baixava ao chão, e caía sobre os cacos da garrafa de uísque envenenado.

Então veio a convulsão. Rafael se debateu dolorosamente em busca de ar, mas seus pulmões agora estavam completamente fechados. E assim como acontecera com Eric na noite anterior, a última coisa que seus olhos viram nesta vida foi o rosto desfigurado de seu inimigo, sorrindo triunfante, enquanto ele morria aos seus pés.


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