O que os olhos não vêem... escrita por Aya


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ❤

Boa leitura ❤



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Vesti o sobretudo preto e pesado que costumava usar para essas ocasiões especiais e saí da minha casa; tranquei as portas olhando ao redor... as 22:00 de uma sexta-feira 13 não se deve dar bandeira: minha mãe sempre dizia isso.

As noites da Califórnia normalmente eram frescas e agradáveis, mas hoje o céu estava um tanto mais obscuro que o normal, as ruas mais vazias do que de costume e o vento frio insistia em tentar cortar o rosto dos corajosos que se aventuravam noite adentro.

Eu era a quinta geração de caçadores de monstros da minha família. Seres humanos se transformam em feras em noites de lua cheia, mas existem tantas outras aberrações espalhadas pelo mundo...

Dessa vez, estávamos atrás de algo por enquanto desconhecido. Só sabíamos que as vítimas eram sempre encontradas sem os olhos. Procuramos pelos anciãos da nossa comunidade, mas em nenhum livro - mesmo nos mais antigos - haviam pistas que nos levassem a que tipo de besta iríamos enfrentar.

A Califórnia é o meu distrito de proteção. Meus pais estão em Boston numa missão a procura de uma família de bruxos que utilizam seres-humanos em rituais mágicos, e cá estou eu a procura de algo que não sei o que é.

Caminhei por alguns minutos, me esgueirando pelas largas calçadas e estreitas vielas em busca de vestígios. E então eu o vi novamente.

— De novo por aqui S/N?! Não tem medo do tal monstro que os fofoqueiros dizem estar arrancando os olhos das vítimas?! — ele disse com um sorriso debochado estampado em seu rosto. Aquele belo rosto que já foi personagem principal dos meus sonhos.

— Digamos que não acredite em lendas urbanas... e também... precisava tomar um ar fresco — menti descaradamente. Não podia expor minha comunidade de caçadores, tampouco confirmar a existência desses monstros, isso causaria danos irreparáveis aos civis.

— Posso te pagar um café então?! A noite fria pede uma bebida quente — ele era um dos homens mais bonitos que já tinha visto. Precisava continuar minha busca, mas parar por alguns minutos não causaria estragos, não é?!

— Não tenho um argumento para não aceitar seu pedido, Jungkook — vi os olhos dele brilharem, e podia jurar que mudaram de cor...

Por um momento fiquei estatística, mas logo voltei a realidade com seu chamado.

Andamos por um tempo nas ruas não muito claras, com o vento gélido penetrando nossas roupas e a atmosfera sombria que a noite trazia até chegarmos a uma cafeteria simples.

A mesma se encontrava quase vazia, mas mesmo assim, por incrível que pareça, acolhedora.

Eu e Jungkook nos sentamos em uma das mesas perto da janela. Ele pediu um café forte e eu um expresso.

Mesmo que nós dois não necessariamente quiséssemos quebrar aquele silêncio, começamos a conversar sobre coisas aleatórias e rotineiras até nossos pedidos chegarem.

— Ah... Nada como algo quente em uma noite gelada! — Ele diz e eu apenas lhe dei um meio sorriso. — Mas, então, S/N? Você me disse que precisava tomar um ar... Aconteceu algo?

A maneira que ele havia me perguntado parecia-me estranha, sem preocupação. Sem curiosidade. Mas seus olhos, quase mortos, porém, com um brilho psicótico e com uma tonalidade violeta substituindo o castanho, denunciavam um sorriso diabólico que ele escondia.

É... Parece que o personagem principal de meus sonhos, é um devorador de olhos... Ou apenas mais um demônio dando às caras nessa noite sombria. De qualquer forma terei de detê-lo.

— Oh! Não. Não aconteceu nada, apenas estava me sentindo meio sufocada dentro de casa. Algo raro de se acontecer, não acha?

— Certamente. A doce menina que raramente dá as caras resolve sair. Que novidade. — Ele ri e eu o acompanho.

— Doce menina?

— Sim... Minha doce menina dos olhos encantadores.

Encolhi os ombros, acanhada. Mesmo um demônio e possível “devorador de olhos”, não deixava de ser aquele do qual já fui apaixonada e, assim, ele também não desconfiaria de mim.

Pagamos por nosso café e, novamente, caminhávamos pelas ruas sombrias da cidade.

Jungkook parecia perdido. Aquele ser de pouco tempo atrás que escondia um sorriso diabólico, agora estava em um labirinto, totalmente perdido em seu interior. Não poderia atrapalhar aquele momento.

— S/N?

— Sim?

— Por que ainda está comigo?

O olhei um pouco confusa.

— Por que perguntas?

— Eu sei que já notou...

— Notei o quê?

— Você está se negando à ver...

— Apenas vamos continuar andando, Jungkook.

— Me desculpa...

— O quê...?

Minha frase morreu assim que me surpreendi com Jungkook agarrando meu pescoço, enquanto em seus lábios um sorriso diabólico se encaixava perfeitamente em sua feição demoníaca.

— Minha doce menina de olhos tão encantadores, por que tão pura? Poderia ter fugido. Poderia ter me matado. Mas ficou e me acolheu com palavras angelicais. E agora eu te pergunto... Por quê?

Na noite fria

Se esconde...

Pesadelos dos quais

Os mais bravos correm

Ele me olhava surpreso.

Mas o que o pesadelo teme?

Uma criança pura de alma resplandecente.

Ele afrouxou o aperto.

Aquela criança sem contato com as maldades do mundo...

Aquela em nosso interior...

De seus olhos saiam lágrimas pesadas e cheias de remorso.

Você está se perdendo

Quando a saída está bem à sua frente

Por que correr labirinto à dentro?

Quando podes se guiar com sua mente.

— Hei, my bunnie?

Ele me olhou, ainda processando tudo aquilo.

— Você não está sozinho.

— Eu... S/N... Você... Você tem que me matar! Não vai parar! Você sabe que não! Eu não posso ser ajudado!

— Você impôs em sua mente que você é um monstro incontrolável que não deve viver. Você pode ser ajudado, mas você quer? Você se culpa por cada crime que cometeu e, por isso, pensa que não pode ser salvo.

— CALA-TE! Eu... Eu...

— Eu estou aqui, bunnie. Sua doce menina está aqui.

— Desculpe, mas eu não posso...

Eu segurei sua mão.

— Olha pra mim.

Ele me olhou.

— Se perdoe. Pense em todos os crimes que cometeu e peça desculpa mentalmente.

Ele fechou os olho e desabou. O silêncio predominou por longos minutos e então, novamente ele me olhou.

Eu acariciava seus fios, enquanto seus olhos se focavam no meu.

— Pronto? — Ele acena positivamente. — Acredita em lendas urbanas, my bunnie?

Ele sorriu e eu o acompanhei e, assim a noite nos engoliu.

E cá estou eu... Em frente a lápide do meu melhor amigo. My bunnie.

Naquela noite, em meu colo, ele deu seu último suspiro.

Aquela fora uma noite de muitas surpresas e revelações.

A noite também não me perdoou, ou melhor, aquela noite me deu uma pequena tarefa.

Em meio à todo aquele breu, eu fui apunhalada pelo brilho da lua que surgiu brevemente em meio a escuridão.

Talvez o destino quisesse que eu cuidasse daquele coelho sem noção.

Mas eu não o vi...

Aquele ser ficará preso em um pesadelo. Seu próprio pesadelo.

Seus próprios olhos não viam o que era óbvio, ironia, não?

Eu era uma caçadora, agora espírito/anjo, um anjo à procura de seu protegido. Protegido esse que um dia foi um monstro.

Não é impressionante o que os nossos olhos não veem. Eles, juntamente com nossa mente, deixam de ver o óbvio e nos permitem viver em uma mentira por um longo tempo, até encontrarmos os espinhos nas rosas que um dia foram confortáveis.

— Eu estou aqui, my bunnie. Nunca irei te deixar! Mas você quer ser ajudado? Quer estar comigo? Você me prometeu isso... Não se lembra? My dear bunnie, você promete ficar comigo, mesmo nos momentos que mais estou frágil? Promete que ficaremos juntos?

Lágrimas já desciam incontroláveis e inconsoláveis de meus rosto.

— Eu prometo, minha doce menina.

Ele voltou.  


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