Ele está atrasado. Faz mais de meia hora que estou o esperando, a pessoa que me contatou. Eu sei que é perigoso encontrar pessoas desconhecidas em lugares não movimentados, mas eu não tive escolha, era a única maneira de encontrar as respostas para as minhas dúvidas.
—Perdoe-me o atraso, Isadora. Espero que não esteja a minha espera há muito tempo.
—Na verdade estou, e também quero respostas, seja lá quem você for.
—Deveria ter mais respeito com a pessoa que te criou!
—Como assim “criou”?
—Vejo que você ainda não descobriu tudo, e eu que achava que você seria mais inteligente que o projeto E.
—Projeto E? Do que você está falando?
—Pelo visto terei de iniciar essa conversa pelo começo de tudo. Acho que foi um erro ter deixado Anthony te aconselhar.
—Se você deu ordens para ele, então você só pode ser...
—O Avô dele, pelo menos na teoria.
—Por que você me contatou? Qual a minha relação com essa família?
—Bom, vamos do começo. Em 1997, houve a clonagem de uma ovelha, que ficou muito conhecida, e eu trabalhei nessa pesquisa. Com isso, eu já tinha milhões de planos para provar que poderia dar certo em seres humanos também, mas me tiraram desse projeto porque consideravam minhas ideias perigosas, então, resolvi tentar por conta própria.
—Está tentando me dizer que eu sou um clone?
—Não só você, mas Anthony e Elizabeth também. Minhas primeiras clonagens humanas foram do projeto A, quando usei meu próprio material genético para criá-las e injetei em Arabela, pois ela queria um filho, mas George nunca soube disso. A única criança sobrevivente foi Anthony. Após muitas tentativas, novamente tive um sucesso, dessa vez com o projeto E.
—Que seria a Lizzie?
—Exatamente. Porém, ao contrário de Anthony, Elizabeth demonstrou que poderia apresentar problemas futuros, foi aí que resolvi experimentar como seria um clone de um clone.
—Que, nesse caso, sou eu.
—Sim, mas, ao contrário do que se esperava, você não nasceu com deficiências ou retardos. Você, o projeto E-2, inicialmente se chamaria Elizabeth II, mas preferi entrega-la a um grande amigo para que ele cuidasse de você e eu pudesse avaliar seu crescimento. Aparentemente, deu certo, não é?
—Tudo isso que você faz é cruel! Acha que a vida é apenas um brinquedo? Que você pode criar e descartar e como se fosse um deus? Quantos clones você criou?
—Podemos dizer que um alfabeto inteiro, mas não sei quantos deles estão vivos até hoje. Você realmente me convenceu que tem algum sentimento, eu sei muito bem que você nunca se dá ao trabalho de pensar nas outras pessoas. Por que está se importando agora?
—Antes eu poderia dizer que não tinha ninguém além do meu mestre, hoje eu posso dizer que encontrei pessoas iguais a mim e estou disposta a lutar por elas.
—Que seja, faça o que você quiser. Essa é uma escolha que você fez e terá que continuar sozinha de agora em diante. Eu sei que errei muito com vocês todos, não posso dizer que estou arrependido, mas quero de verdade que vocês sejam felizes, as minhas criações. É por isso mesmo que estou disposto a te ajudar com uma coisa.
—Que coisa?
—Posso te fornecer dados de todos os clones que já fiz. São anotações antigas, mas acho que irão te ajudar nessa sua jornada. Além disso, daqui a menos de 2 meses, Elizabeth iria para a França começar um curso de moda.
—Isso seria ótimo, eu vou te agradecer por agora, mas já vou avisando que um dia, iremos acertar as contas.
—Sempre soube que você não deixaria isso barato.

 Eu não pude parar de pensar nessa história de clonagem durante o restante da minha estadia nesta casa. Durante esses dois meses, eu coloquei as coisas em ordem, expliquei a situação para Elizabeth e acho que ela entendeu o que está acontecendo. A partir de agora não sei o que vai acontecer a nós duas durante essa jornada em busca de outros clones, mas é algo que faremos juntas.
—Estava indo embora sem se despedir? — Rod apareceu com sorriso no rosto.
—Oi Rod... E Tony. — Tony e eu mantivemos uma relação meio conflituosa durante esse tempo.
—Para que tanta animação com a minha presença? — Novamente Tony usou aquela ironia que eu tanto odeio.
—Animação? Só se for porque estaremos bem longe um do outro em poucos minutos. Rod, podemos conversar?
—Já entendi, estou saindo. Tchau, irmãzinha.
—Do que quer falar comigo, minha linda?
—Sobre isso, — Tirei meus óculos escuros, revelando meus olhos de cor diferente dos da Lizzie — eu não sou Elizabeth, me chamo Isadora. Sou eu a garota que sai com você há dois meses.
—Eu acho que sempre soube que você não era ela, mas como isso aconteceu?
—Foi há dois meses, é uma longa história, eu te conto algum dia, se ainda quiser ficar comigo.
—Vou precisar de um tempo para pensar, mas eu sei que vou voltar pra você, Isadora. Você acabou me conquistando com esse jeito meio independente.
—Fico feliz de ouvir isso, seu lado criança também me conquistou. Estarei viajando pelo mundo durante algum tempo, mas quando você chamar eu passo lá em Harvard pra te ver.
—Espero que vá me cumprimentar lá também, irmãzinha. — Tony falou surgindo de uma multidão
—Privacidade não deve ser algo do seu vocabulário, Tony. — Eu disse revirando os olhos.
—Só vim aqui te avisar que seu voo vai decolar em 10 minutos, mas pelo visto simpatia continua não sendo seu forte.
 Após a despedida, fui em direção ao avião, encontrar a Lizzie em Paris para partirmos a Lille encontrar o primeiro clone. Essa nossa nova jornada é algo que quero muito fazer, descobrir coisas novas, conhecer pessoas iguais a nós.

—Achei que não chegaria nunca, Isadora! — Liz disse me abraçando.
—Também estou feliz em te ver, Elizabeth.
—Nunca pensei que essa história maluca nos uniria a esse ponto.
—Também não achei que fosse algo assim que iria nos unir, mas já que estamos aqui, por que não vamos aproveitar antes de sair viajando loucamente? Estamos em Paris!
—É, você não mudou nada desde a última vez que te vi.