Tony’s P.O.V.

 Acordo com a claridade, uma grande dor de cabeça e percebo que não estou no meu quarto. Parece que a festa rendeu uma ressaca violenta pra mim... E pra essas garotas ao meu lado.
 Assim que saio da casa do anfitrião da festa – que apesar de não fazer sentido, nem sei quem é – vou direto ao campo treinar, mesmo não estando com roupas – ou a cabeça – adequadas. Chegando lá, percebo que sou o primeiro a chegar, o que significa que ainda não são 8h30, o horário habitual que o treino começa.
 Aproveito esse tempo sozinho para refletir sobre esses últimos dias e essa garota. Não sei o quanto ou o quê ela sabe, mas está disfarçando muito bem. Eu sei que não é coincidência ela ser tão parecida com a minha irmã, ou melhor, quase idêntica. A minha família guarda muitos segredos, segredos esses que não podem ser revelados, ainda mais pra ela. Segredos esses que nem mesmo Lizzie tem conhecimento.
 Enquanto eu estava perdido em meus pensamentos, meus colegas de time foram chegando, até estarmos completos, então o treino finalmente começou.

Isa’s P.O.V.

 O dia finalmente clareou e o sol está radiante. Um dia perfeito para um passeio com a “minha mãe”, afinal, preciso me aproximar dela para descobrir o que quero. Liz me aconselhou a usar lentes de contato ou óculos escuros para as pessoas não notarem a diferença na cor dos olhos, então seguirei o seu conselho e usarei lentes de contato enquanto conversar com os pais ou os amigos dela, se é que ela tem algum.
—Bom dia! — Eu disse para os pais dela, que para variar, estavam ambos em seus smartphones.
—Bom dia, Elizabeth. Seu irmão ainda não acordou? — Perguntou Arabela com desânimo. Sério mesmo que ela não reparou que ele não dormiu em casa?
—Ele acordou mais cedo hoje, mãe. Disse que iria treinar pesado para ter bons resultados na temporada. — Resolvi acobertar Tony, ainda preciso dele para algumas coisas e como aprendi muito cedo com meu mestre, tudo na vida é uma troca equivalente.
—É bom que esteja treinando mesmo, ele precisa conseguir entrar pra Harvard com essa bolsa, pois um Kannenberg jamais estudaria nessas federais que se dizem de prestígio. — Tony realmente vai precisar dar muito duro pra entrar em Harvard. Os custos para estudar lá, em Boston, são de milhares de dólares mensais, o que fica caro até mesmo para uma família rica como essa, visto que Tony provavelmente iria manter seu estilo de vida caro.
—Mãe, estava pensando se não poderíamos sair hoje à tarde. Ir ao SPA, talvez.
—Claro, hoje eu tenho aula de ioga, pode me acompanhar. Você realmente está precisando fazer exercícios desde que terminou o colegial, nunca mais te vi fazendo qualquer tipo de atividade física! — Arabela continuou tagarelando durante todo o café da manhã e George continuou com os olhos fixos em seu celular, me pergunto o que tem de tão interessante.

 Tony chegou após o almoço, quase na hora em que eu iria sair com Arabela, ou seja, não terei tempo de falar com ele. Então, só me arrumei adequadamente para uma aula de ioga e saímos.
 A aula em si é bem chata, só tenho que fazer alongamentos em cima de um tapete e isso eu fazia de graça quando treinava karatê, então não entendo o porquê de pagar uma aula dessas.
É estranho lembrar das aulas de karatê, me traz uma nostalgia de uma época boa, quando minha única preocupação era ter um bom aprendizado com meu mestre, um  velho samurai japonês, que me ensinou tudo o que sei e de certa forma, me criou. Eu o tive como pai e tive ensinamentos da cultura oriental, onde a honra sempre vêm em primeiro lugar.
 Assim que a sessão de ioga terminou, Arabela e eu fomos ao restaurante do SPA e agora, eu finalmente vou poder conversar com ela.
—Elizabeth, achei que você estava muito bem hoje na aula, pra uma primeira vez.
—Acho que o jogar tênis com o Bruno me fez bem.
—Nisso eu concordo, na verdade, vocês deveriam sair mais vezes, sempre é bom estreitar laços com velhos amigos. — Estreitar laços com pessoas da alta sociedade, ela quis dizer.
—Bruno deve ser muito ocupado, ele sempre está treinando e preocupado em entrar para competições. Acho que ele não teria tempo para mim.
—Não diga besteiras! Não sei de onde você consegue ter uma autoestima tão baixa, precisa confiar mais em si mesma! Mesmo eu não aprovando essas suas escolhas de estilo, você ainda é uma Kannenberg! Eu, por exemplo, quando tinha a sua idade, jamais aceitava que alguém me criticasse. Já era uma grande referência entre as garotas da cidade e também era muito desejada entre os garotos. — Certo, essa foi uma informação desnecessária.
—Tenho certeza que sim, mãe. Aliás, como conheceu meu pai? — Isso pode parecer insignificante, mas preciso descobrir o que Arabela sabe sobre essa família, a família do marido dela.
—Ah, foi em Veneza, ele estava junto pai dele discutindo negócios com alguns homens e um deles era meu pai. Fomos apresentados mais tarde naquela noite, em uma grande festa e acabamos ficando noivos em menos de dois meses.
—Foi bem rápido! Do que tipo de negócios eles tratavam?
—Nessa época seu avô paterno ainda era cientista, ele estava tentando conseguir fundos para um experimento, mas nunca mais ouvi falar dessa tal experiência. Por que tanto interesse nisso?
—Nada em especial, só queria saber mais sobre o ramo da família.

 Depois de um longo banho, finalmente eu estava apresentável. Agora, é hora de conversar com Tony para obter mais detalhes sobre esse avô dele. Tenho uma intuição de que esse tal experimento deve ser algo muito importante. Depois de algumas batidas, ele finalmente atendeu.
—A que devo a honra dessa visita? — O sarcasmo estava evidente em sua voz — Soube que me deu cobertura hoje de manhã, por que fez isso?
—Te ajudei porque preciso de um favor.
—Que tipo de favor?
—Quero que você me arranje um encontro com seu avô.