Nem Tão Doce Primevera escrita por inlai


Capítulo 10
Em prosa, verso e desamores




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*POV LYSANDRE*

Após minha conversa com Rosalya, suas visitas em nossa casa tornaram-se cada vez menos frequentes nos horários em que se era certo a minha presença lá, eu sabia o real motivo disso, ela apenas estava me dando um pouco de espaço e tranquilidade em minha própria casa e inventará alguma desculpa para o meu irmão sobre o assunto. Então quando o Leigh me questionou sobre o número de atividades do colégio comentando sobre como Rosalya lhe disse estar sobrecarregada nos últimos dias eu apenas fiz um sinal afirmativo reforçando a sua história.

Por outro lado as coisas não se tornaram tão boas assim para mim, ao menos não tão rapidamente como acreditei que seria. Torna-la consciente de meus sentimentos criou um cenário maior do que imaginava, agora era ela que me evitava educadamente pelos corredores e não comentava mais sobre a sua relação com o meio irmão tão despreocupadamente com Alexy nos lugares em que eu também estava presente.

Nossas conversas passaram a ser cada vez mais diretas e precisas, e não sei se isso me deixava aliviado ou amargurado por não poder ouvir o som de seu riso despreocupado, sentia falta disso, porém sabia que tudo exigia seu próprio tempo, e estava decidido a respeitar o dela, tanto quanto ela respeitará o meu tempo e espaço pessoal. De todo modo isso não era fácil. 

E para atenuar ainda mais a minha situação, essa não era a única de minhas relações que se tornaram conflituosas, Analu passou a conversar apenas o nitidamente essencial comigo, ou seja: as atividades curriculares. Não era como ser evitado por ela, mas ela não me procurava mais para conversar pelos corredores, e mesmo quando nos falávamos tudo não passava de 5 minutos de diálogos superficiais e de que nada se pareciam com ela, era como se nos dois estivéssemos tentando voltar à normalidade da situação, mesmo se não soubéssemos como. Concentrava-me em realizar claramente as minhas atividades e em tentar compor algumas canções para a banda, estava decidido a seguir minha rotina da forma mais monótona e trivial possível.

 Castiel estava convencido de que eu deveria sair mais, no entanto não via necessidade alguma nos encontros desinteressantes em que ele costumava me envolver, me contentava com a minha música e em como poderia usar o meu tempo para auto reflexão, até imagino o que ele diria sobre isso não ser nem um pouco legal para um cara da nossa idade, mas já havia me acostumado a filtrar boa parte de nossas conversas, o fato é de que ele não era ruim, mais não sabia bem como se expressar.

A semana passou lentamente e sem grandes acontecimentos entre os meus colegas, até é claro o dia da entrega dos trabalhos de literatura, muitos estavam assustados com a ideia de terem escrito poemas, outros estavam ansiosos para ouvir o que os demais tinham escrito, eu não conseguia compreender tal agitação, afinal eram apenas escritos, não entendia qual mal aquilo poderia causar para todos estarem tão animados. Ao entrar na sala busquei rapidamente com os olhos a minha parceira de trabalho, tínhamos conseguido concluir a atividade com certa dificuldade visto a falta de comunicação. E quando lhe perguntei se precisava de ajuda para escrever seu poema ela apenas me respondeu que:

— Tudo bem Lysandre, já tenho algo em mente, não há com que se preocupar. 

Não demorou para todos se acomodarem e o professor ir direto ao assunto principal da aula.

— Alguns de seus poemas realmente me surpreenderam quanto a profundidade e sensibilidade da escrita, então resolvi sortear alguns alunos para uma apresentação oral de seu escrito. – O silêncio em classe foi geral, ele folheava os nosso escritos em busca de seu escolhido até levantar os olhos e se dirigir novamente a nos. _ Então, Analu poderia ser a primeira?

Não pude evitar olhar em sua direção, como todos os nossos colegas fizeram, eu sabia que se apresentar ou falar em público para ela não era nenhum problema, no entanto agora tratava-se de uma poesia de sua autoria, que ela nem mesmo me mostrará, o silêncio foi logo rompido por suspiros de alívio e cochichos em todos os cantos da sala, alguns sorrisos maldosos e abafados também eram ouvidos em alguns lugares. Analu era a única que continuava inexpressiva diante da situação, provavelmente pega de surpresa com o comentário do professor.

— Que fique claro, você não é obrigada a ler o que escreveu... e também não foi o único trabalho escolhido. Apenas pensei que não teria problema para você começar.

— Coitadinha, acho que ela nem consegue sair do lugar.

— Não me admira, aposto que só copiou o texto de algum lugar.

Ambre e suas amigas não poderiam perder a oportunidade de espalhar o veneno entre os cochichos de nossos colegas. Ouviu-se então o som áspero da cadeira se afastando da mesa enquanto Analu se levantada e caminhava em direção ao professor para pegar o poema em suas mãos, ela passou por entre as mesas sem olhar para os lados, mas parecia agir naturalmente como se não fosse realmente um grande problema para ela realizar aquela tarefa, afinal era apenas uma leitura.

— Hey... ela realmente vai ler? Quer dizer se é um poema dela. Provavelmente é algo romântico certo.

— Sim... provavelmente Alexy.

Alexy e Rosalya conversavam na mesa a minha frente, percebi então que aquele não seria o primeiro poema dela e só consegui pensar egoistamente em porque ela nunca havia me falado, para só então me lembrar que EU nunca havia lhe perguntado nada a esse respeito ou sobre quase nada, o que sabia sobre ela vinha dos comentários de nossos colegas ou do que ela deixava escapar entre as nossas conversas, quase sempre iniciadas por ela, fora o fato de que eu nunca demonstrará muito interesse por suas atividades extracurriculares, mais um de meus descuidos com ela, mesmo que não propositais.

 Classe por favor um pouco mais de respeito. — O professor agora havia perdido a paciência com os cochichos entre nos. — Realmente não entendo qual o grande problema que estão vendo em realizar uma simples leitura.... Analu pode começar por favor.

— Claro professor. – Ela se virou para nós.

"Cair ao acaso ou por destino 

Nas águas profundas e escuras dentro de ti. 

Cair por entre abismos de uma alma

Que só reside e sempre insiste em querer seguir.

Viver a negar o fato. 

A negar o toque, o cheiro o riso 

A negar o que sinto 

Para não me perder.

Viver a negar o inexplicável, 

E a sombria dor que me atormenta ao te ver,

Ao não te sentir, ao não me fazer entender.

A dor estasiadamente doce de te querer.

Ao decorrer de sua leitura nossos colegas gradativamente se entreolhando sem entender o que aquelas palavras significavam. Mas ela continuava ali, firme diante de seus olhares, consciente de que não havia mal algum em suas palavras, não se abalando diante da incapacidade de compreensão dos presentes, da minha incapacidade de compreender.

Mas diante de tudo decidi não me contentar somente com riso,

Com a fala e o gesto terno, que não sei ao certo serem para mim.

Mais também não abrirei mão de mim, de você, de nós....

não abrirei mão do acaso ou de sua doce voz. 

Apenas seguirei forte, diante de ti.

Apenas seguirei ao norte,

Indo contra tudo que um dia me impediu de partir."

Ao terminar a última linha ela suspirou levemente e voltou para o seu lugar, eu queria ir até ela mas era apenas o começo da aula, e seria nitidamente estranho me levantar e ficar parado ao lado de sua mesa tentando entender a situação. Eu sabia que tinha que falar com ela, não sei se tinha perguntas ou respostas, eu apenas precisava  estar com ela. Na verdade o que deveria mesmo fazer é entender porque esses pensamentos estavam tomando toda a minha mente, bloqueando qualquer outra coisa, som ou ideia, visto que a unica coisa que se propagava em minha mente é que eu precisava de verdade falar com ela. 


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