Um Anjo Protegido escrita por Moolinha


Capítulo 13
Capítulo Treze


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo gostosinho :) E aí, gostaram da nova capa ou a antiga é melhor?



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— Fugiu de casa?

— Estou apenas dando um passeio noturno. — Eu disse, um tanto abismada ao ver que pelo menos vinte por cento da raiva de Jim havia sumido,

— Sem sapatos? — Ele cruzou os braços, erguendo o rosto com um ar de diversão.

— Estou com calor.

Um dos cantos de seus lábios se arqueou naturalmente, o que me fez relaxar. A raiva dele havia acabado, para meu alivio.

— Não sei voltar para casa. — Finalmente murmurei, depois que ele ficou me fuzilando.

— Se eu fosse você, sentiria vergonha de morar aqui há um ano e não saber o caminho de casa.

Suspirei.

— Então me mostre. — Propus, sentindo pela primeira vez em duas semanas a felicidade brotar verdadeiramente dentro de mim.

Numa rua estreita, repleta de barzinhos com música ao vivo, nós caminhamos. Não falamos muita coisa, apenas o possível. Não havíamos feito as pazes, mas eu tinha a ligeira impressão de que isso não demoraria muito para acontecer. O tempo passou, e eu não sabia quantas horas eram. Foi como se o tempo estivesse congelado no caminho de volta para casa.

— Seu pai está preocupado. — Ele disse, cortando o silêncio.

Parei na calçada, esperando o sinal fechar para eu poder atravessar a rua.

— O quê?

— Pegue um táxi e vá para casa, Belatriz.

Droga. Meu pai deveria ter dado por minha falta. Ou Louise.

— Ele acordou? Chamou a polícia? — Eu estava com medo. Muito medo.

Um aceno positivo com a cabeça bastou para que eu ficasse totalmente apavorada.

— Droga! — Quase gritei, atravessando a rua.

As mãos frias de Jim foram parar nos meus ombros, e ele sussurrou um “se acalme” bem reconfortante nos meus ouvidos. Depois disso, me deu um carinhoso beijo na testa. Um carinhoso beijo que eu esperava receber há duas semanas. Um carinhoso beijo que acendeu as chamas calorosas do meu coração.

— Você poderia ter trazido seu celular e sua bolsa, Belatriz. — Disse, antes de desaparecer. — Mas todos nós erramos. Agora vá para casa. Você irá chegar bem.

Jim desapareceu em segundos depois. Peguei um táxi e para minha sorte consegui achar dinheiro suficiente no bolso da minha saia para pagar a corrida.

A pior parte da história, é que meu pai me ameaçou, dizendo que se eu sumisse no meio da noite outra vez, iria me mandar de volta para a fazenda. Isso foi até bom, que me fez abrir os olhos, porque da próxima vez, vou colocar travesseiros e almofadas debaixo do meu lençol. Pode funcionar.

 

X X X

A superfície da piscina era agitada.

Ao invés de estar jogando alguma brincadeira com bola na educação física, eu estava sentada no chão da piscina, observando a imensidão azul que estava bem na minha frente.

Não se preocupe, eu não estava tentando me matar. E além disso, a piscina da escola não seria um lugar ideal para cometer um suicídio. Voltei até a superfície em uns três segundos depois e saí da piscina. Chacoalhei meu cabelo e deixei que as gotas de água descessem livremente pelas minhas costas, enquanto me sentava na espreguiçadeira ao lado de Elena e de Louise.

Elena lia um dos seus livros de ficção científica e mantinha total atenção nele. Depois de quase seis meses morando com seu pai na Europa, ela havia voltado, e na maioria do tempo, se mantinha calada, comendo um livro com os olhos. Estava um tanto estranha, mas melhor. Acho que digo isso porque eu era mais acostumada com a Elena reclamona.

Quando uma mensagem de Bennie chegou em meu celular, me empolguei. Queria se desculpar pelo mal-entendido da noite passada.

“Me ligue mais tarde”. — Foi o que eu mandei pra ele, me fazendo de difícil. Havia um tempo que eu tinha descoberto que precisava dar uma de difícil para adquirir o que eu realmente queria. Não poderia ficar dando corda para Bennie, ligando vinte e quatro horas e mandando mensagens o tempo inteiro. Tinha de ser dura. Digo, no sentido da sedução. Devia dar bola para ele, mas de um jeito discreto, se é que você me entende. O sinal tocou quase às cinco da tarde. Era sexta-feira e as aulas de sexta duravam mais tempo, para compensar o final de semana, que durava dois dias, claro.

No estacionamento, John estava me esperando, encostado na porta da picape amarela. Abrindo a outra porta, estava Louise, que provavelmente brigava com John.

— O volante é seu. — John disse com tal empolgação, sentando-se no banco de trás.

— Você não tem juízo nenhum, John! Nós vamos morrer. — Vociferou Lou Lou.

— Louise! — Retruquei, surpresa pelo o que ela disse.

— Não estou mentindo. — Cruzou os braços.

— Lou Lou, cale sua boca. Deixe Belatriz dirigir. — Ordenou John, com a voz possessiva.

Ambos continuaram a discutir algo sobre a mesada de não sei quem enquanto eu tentava manter minha atenção na estrada, que por sua vez estava muito, muito movimentada.

— Ela vai nos matar, John. Estou com medo. — Quase gritou Louise, quando viu um ônibus nos ultrapassar em alta velocidade.

— Calada, Lou Lou. Você não sabe o que fala. — A voz de John estava tranquila e estável. Ele confiava em mim, pelo menos.

Continuei a dirigir, mas os gritos histéricos de Louise me tiravam do sério. Eu estava a ponto de jogá-la para fora do carro, de tanta raiva que era capaz de fazer em mim.

— Diminua a velocidade. — Ela sempre pedia para mim.

Não respondi. Continuei atenta na estrada.

— Acho que você está indo rápido demais. — Continuou.

— Lou Lou...

— Louise, cale sua boca. Agora. — Ordenei, com tal império.

Por longos e silenciosos vinte minutos, ficamos apenas ouvindo o som de Britney Spears que tocava na estação de rádio.

Eu estava mal-humorada, sem paciência e com raiva. Era isso o que eu sentia. Vontade de dormir, de sumir, de desaparecer da minha casa por pelo menos um mês. Claro que eu me sentia assim todo mês, mas aquele mês, era muito pior. Era massacrante, era uma vontade que eu tinha de sair quebrando tudo na minha frente.

Conduzi o carro até a entrada na garagem e reconheci o sedã vermelho parado perto da entrada. Logo, me livrei de John e Louise e distraí a empregada, saindo de casa correndo. Quando fui ver, já estava dentro do carro de Ben, recebendo o ar do ar condicionado no meu rosto.

— Aceita um cigarro? — Perguntou Ben, apontando uma caixinha verde para mim.

— Claro. Adoro cigarros. — Sorri.

Retirei um cigarro da caixinha e o acendi com tal cuidado, com medo para não fazer feio e parecer inexperiente. Afina, Bennie devia achar que eu fumava todo dia ou coisa do tipo, então deveria ser experiente no ramo. Inalei o ar para dentro e fiz fechei a boca, para não tossir.

Eu sabia que iria fazer um tremendo mal para os meus pulmões, dentes e iria me causar um mau hálito, então um cigarro já era o bastante.
Prendi-o entre meus dedos e coloquei meus pés no painel do carro. Queria demonstrar para Bennie que, pra mim, fumar era tão normal quanto ver televisão. Eu queria parecer descolada.

— Fuma desde que idade? — Quis saber ele, parando o carro no sinal vermelho.

Qual idade eu poderia dizer? Será que aos catorze era muito cedo? Ele iria pensar que eu era uma viciadinha qualquer, que fazia sexo por dinheiro e fumava desde cedo.
Pensei, Belatriz. Pense!

— Desde os dezessete. — Soltei a fumaça, sentindo minha garganta em chamas.

Dezessete era uma boa idade. Afinal, eu não estava mentindo.

— Meio nova, não? — Ele voltou a acelerar o carro, com as sobrancelhas arqueadas.

— Eu não tive uma mãe para me impor limites. — Sorri, soltando um pouco mais de fumaça da boca.

— Lamento. — Seu olhar era acolhedor, como se quisesse me dar um abraço.

— Tudo bem. — Olhei certo tempo para ele. — Aonde vamos?

— Em um jantar particular. Na minha casa. — Piscou.

— Sei. — Retornei com o cigarro para minha boca.

Em geral, o cozinheiro de Bennie era de ouro, e tinha mãos mágicas. Nunca comi uma pizza de calabresa tão saborosa em todos os meus dezessete anos de vida. Achei que fosse um jantar requintado, com caviar e vinho tinto, mas Bem estava descontraído, por isso serviu apenas pizza e cerveja. No fundo, ele era um cara legal, e da minha parte era muita sacanagem mentir daquele jeito.

— Caprichou no jantar. — Elogiei, dando um gole na minha cerveja.

Antes, eu não bebia, mas, agora, de tanta prática, eu já virava um copo em questão de segundos.

— Não troco meu cozinheiro por nada. — Piscou outra vez, erguendo seu copo na minha direção.

Conversamos sobre tanta coisa, que quando percebi minha embriaguez, já não media minhas próprias palavras. Já estava rindo histéricamente e embolando minhas frases. Era impressionante o que a bebida fazia com minha cabeça. Só torcia para não ficar pirada e rapar minha cabeça, assim como Britney Spears.

Os amassos começaram logo depois, quando deitamos no divã de couro na sala de estar. Bennie estava calmo e não exigia nada de mim. Bom, era o que eu achava.

Certos tipos de bebidas alcoólicas transformam as pessoas abruptamente e as fazem parecer com verdadeiros monstros. Bennie virou um desses monstros.

”Muitas doses de cerveja, é claro”. — Pensei, tirando a mão deve que estava apalpando meu seio direito. Por cima da blusa, é claro.
Minha tentativa foi sem sucesso. Tentei, ao todo, afastar a mão dele umas quatro vezes. Ele estava teimoso, grudado em mim como se fôssemos uma pessoa só.

Sua camisa de botões se abriu e logo foi parar perto da lareira. Perto demais, devo dizer. Ignoramos nossas preocupações e continuamos o que estávamos fazendo, até perceber que o fogo havia se espalhado e dominado a camisa e quase metade da mesa de centro.

— Que droga! — Eu disse, calçando meu tênis. — Você tem extintor, ou água?

— Água! — Gritou, correndo na direção da sala de jantar.

Enquanto Bennie pegava água, fiquei sem o que fazer. Eu não podia assoprar o fogo. As chamas espalhavam-se rapidamente, e já havia engolido quase toda a sala de estar. E eu, estava num abismo. Em vez de correr atrás de Bennie e ajudá-lo, eu fiquei parada, feito uma múmia. Mal havia percebido no perigo que eu havia me metido.

Parte do telhado desabou em cima do divã, onde estávamos deitados. O escombro bloqueou toda minha passagem, quando eu finalmente iria sumir daquele lugar. Onde estava Bennie? Cavando um poço para encontrar água?

— Bennie! — Berrei, sentindo o calor das chamas se aproximar.
Onde diabos ele havia se metido?

Ou na casa dele não havia água, ou ele tinha duas tartarugas agarradas em cada um de seu pés.

— Bennie! — Gritei mais alto, o perigo me consumindo.

Era tanta fumaça na minha frente que eu parecia estar intoxicada ou algo do tipo. Minha visão se tornou enegrecida quando senti a presença de Jimmy. Era fácil identificar quando ele estava por perto. Seu brilho fantasmagórico não me enganava. Seu brilho parecia entrar em confronto com as batidas do meu coração, quando Jim estava por perto.

— Me tira daqui! — Implorei, jogando-me em seus braços, sentido quase oitenta por cento do meu oxigênio desaparecer.

Era impressionante no que acontecia com o sentido de todas as coisas.
Jimmy estava me vigiando. Eu sabia!

Ele estava vendo meus beijos com Bennie e minhas tragadas de cigarro. Talvez ali, naquele incêndio, ele poderia encontrar formas de se tornar humano. Eu parecia uma chaminé enquanto tossia. Não sabia de onde vinha tanta fumaça.

”Pobre Ben. Mal terminou de pagar a casa e já terá prejuízos.” — Pensei.

Jimmy me tirou das chamas numa questão de segundos. Admito que não senti nada além de falta de ar. Algumas queimaduras aqui e ali, mas nada tão importante que eu precisava comunicar a meu pai.
Tossi três vezes, inalando o ar noturno.

Poucas pessoas estavam apavoradas lá fora — inclusive Bennie, que não me viu sentada no meio fio, perto da lateral da casa — então resolvi sair de fininho, para que ninguém insistisse em me levar para casa e conversar com meu pai sobre o ocorrido.


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