The Winter: walking into the past escrita por Nathália R O R Pereira


Capítulo 4
Capítulo IV: O campo de batalha do jaleco branco




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Capítulo IV

 

Soo-Youn está chorando porque fez coisa errada e se machucou. Soo-Youn quebrou o vaso caro e grande da mamãe dela. Eu falei para ela não brincar com a bola na sala, mas ela não me escutou. Eu estou fazendo um desenho para o papai na mesinha da sala. Meu papai vai gostar muito do meu presente quando chegar do avião dele.

Ela está de volta. A mamãe da Soo-Youn está de pé na sala. A mamãe da Soo-Youn está gritando comigo. Por que ela está gritando comigo? — Sua bastarda! – ela me bate no braço. Está doendo muito onde ela me bateu. Ela está me batendo porque eu não fiz um desenho para ela também? – Olha o que você fez! – ela me tira da mesinha agarrando o meu braço. Está apertando muito forte, a unha está machucando. – Você está vendo o que você fez?! – ela está apontando para o vaso quebrado.

— Não fui eu... Foi Soo-Youn. – ela aperta mais o meu braço. Por que Soo-Youn não fala nada? A mamãe da Soo-Youn está me levando lá para cima. Meu braço está doendo. Está escuro e fedendo a coisas velhas. Por que a mamãe da Soo-Youn me levou apara cá? Por que ela está tirando a minha camisa? Está frio — Se você gritar será o dobro! – ela está com um cinto na mão – Vire de costas! Anda!

O meu grito faz-me levantar da cama - O que foi isso? — penso assustada ainda olhando a minha volta. Meu rosto estava encharcado de suor, meu coração estava acelerado e a minha respiração ofegante – Deus, está acontecendo de novo... – sento-me à beira da cama e pouso minha cabeça entre minhas mãos – Eles voltaram... Os sonhos voltaram... - as cicatrizes nas minhas costas latejavam como se tivessem sido criadas naquele momento. Respiro fundo para me estabilizar, mas infelizmente meus olhos se inundam com lágrimas criadas por um passado doloroso e odioso, o qual fazia questão de não me abandonar. As gotas que vacilavam caiam diretamente para as minhas coxas. Rapidamente pego meu celular da cabeceira e mando uma mensagem para a Ângela.

Psicol. Ângela Jones:

Ângela me liga! É urgente!

 

**********

 

South Korea

Seoul - Kangnam-gu

A caminho do Hospital MyungHee Unidade Sede

8:05 a.m - terça-feira – 2020

 

Esperando o sinal abrir, olho para os lados e percebo olhos perfurando os meus. Por sorte aquelas janelas a minha volta eram tão escuras, que com certeza serviam de espelho para as pessoas do lado de fora. Parece que a mudança de cor não fez tanta diferença no carro. A máquina chamava muitas atenções. Sentir-me-ia um pouco constrangida se não fosse pelos vidros fumês.

 Assim que o semáforo muda de vermelho para verde, imediatamente engato a primeira e piso fundo no acelerador. Ainda não acostumada, o carro andando era mais chamativo. O ronco do motor novo, moderno e muito caro fazia do automóvel mais atraente. Pelo menos era a forma que impedia de pessoas cercarem-se em volta dele.

Por fim chego aonde queria, Hospital MyungHee. Por fora ele não aparentava ser muito diferente da Unidade dos E.U.A. Ele tinha um ou dois prédios a mais.

Com o carro estacionado longe da entrada, verifico em volta alguma alma viva por perto. Sem ver ninguém no meu campo de visão tomo coragem para sair do carro sem chamar a atenção. Com o objetivo ganho, me alivio respirando fundo já na porta de entrada no hall do hospital. E a primeira coisa que faço é ir a recepção saber sobre a minha “entrevista”— Ham... Excuse me, good morning. – a enfermeira na recepção olha para mim e arregala os olhos levemente puxados. Tal reação me preocupa – Eu tenho uma entrevista marcada com o Diretor Yoon... – quando começo a falar em coreano, a enfermeira relaxa o rosto - Então era o inglês...— penso.   

— Ah sim! O seu nome, por favor? – pergunta ela sentando-se na cadeira e mexendo no computador à frente.

— Anna Park. – respondo repousando minhas mãos na bancada.

— Só um minuto, por favor. – a enfermeira pega o telefone e confirma a minha vinda com a pessoa do outro lado da linha – Dra. Park o diretor está a sua espera. Por gentileza, é só ir ao elevador à esquerda e apertar no vigésimo andar.

— Obrigada. – agradeço e sigo a caminho do elevador.

No vigésimo andar, assim que as portas do elevador se abrem, me deparo com uma moça jovem de cabelos escuros presos num coque um tanto sofisticado para mim, atrás do balcão, vestindo um terninho branco e camisa rosa salmão. Ela quando me vê abre um sorriso. Aparentava ser mais nova que eu — Dra. Anna Park, seja bem vinda! Por gentileza, o diretor Yoon está a sua espera. Acompanhe-me, por favor. – a secretária sai do seu lugar de trabalho e me guia, em cima dos saltos, em direção a uma porta de vidro. Ela, antes bate no vidro com as unhas feitas, entra e avisa a pessoa dentro da sala – Diretor, a Dra. Park. - e em seguida da um passo para trás abrindo caminho para a minha entrada.     

O escritório não era tão grande, parecia ser o suficiente para uma pessoa só. À minha frente havia poltronas de couro de cor marrom em volta de uma mesa de centro de madeira envernizada cheias de detalhes por volta dela. Na parede ao lado direito obtinham janelas do teto ao chão, o que deixava mostrar a paisagem antiga e moderna do lado de fora, iluminando o ambiente com a luz natural. Do outro lado da sala havia estantes que combinavam com a mesinha de centro, cheia de livros e alguns portas retratos. Atrás de uma escrivaninha do mesmo material do resto da mobília havia um homem nos seus cinquenta anos de vida, cabelos lisos tingidos escuros, o rosto marcado pela idade, vestindo uma camisa social azul listrada por baixo de um jaleco muito branco — Dra. Park! – o homem sai de trás da escrivaninha e estende uma mão – Eu sou o Diretor Yoon Min Ki. É um prazer conhecê-la! – ele aperta a minha mão com um sorriso no rosto. – Por favor, sente-se. Fique a vontade. – ele aponta para uma das poltronas de couro – Gostaria de tomar alguma coisa?

— Não, obrigada. – respondo assim que me acomodo na poltrona.   

 O homem faz um sinal para dispensar a secretária e se senta na poltrona do meio — Dra. Park, fiquei muito feliz com as suas especialidades em seu currículo. – ele se estende a mesinha de centro para pegar um envelope pardo. Assim que ele tira o conteúdo de dentro ele continua – Você fala quatro línguas fluentes, tirando o inglês e coreano: espanhol, português, francês e mandarim! – ele volta o olhar para mim. Presumo que o papeis em mãos são o meu currículo - Uma moça tão nova tendo tantas experiências em sua profissão é completamente admirável. – ele volta o olhar para o papel – Mestrado e doutorado em cardiologia. Começou a faculdade aos dezoito anos, mas, antes foi selecionada num programa especial de calouros aos dezesseis   ... e participou de trabalhos voluntários. É impressionante! – ele continua – Por que fez tantos trabalhos voluntários, Dra. Park? -  pergunta o diretor pousando suas mãos com os papeis sob seu colo.

Olho por um tempo para o senhor a minha frente, surpresa com a pergunta — Ham... – fico pensando numa resposta convincente - Diretor Yoon, por que ser honesto? – minha pergunta o faz serrar os olhos naturalmente puxados – Não existe uma pergunta para um dever. – respondo a minha própria pergunta - Da mesma forma que a honestidade é uma obrigação de um cidadão, acredito, claro, de forma particular, que é uma obrigação de um médico fazer trabalhos voluntários.  

O diretor Yoon ainda com o olhar em mim fica em silêncio por um tempo, depois joga o olhar em direção da mesa de centro — Bem... – ele da uma risada – A própria palavra diz: voluntário. O que significa que é opcional. – ele sorri de lado voltando o olhar em mim.

— Verdade. – confirmo com o meu olhar distante do homem, mas perto dos meus pensamentos - Entretanto, se pensarmos desse jeito... – faço uma pausa voltando o meu olhar para o diretor - quem se voluntariará, diretor Yoon? – pergunto curiosa com o desenrolar da conversa. Mas, não convincente eu argumento mais – O comodismo nos impede de evoluir... E, diretor Yoon, é mais fácil e mais agradável estarmos sentados numa sala confortável, saber o horário de voltar para casa e ter a janta pronta. - o sorriso do homem impressionado com meu currículo, se desfaz – Eu tive o privilégio em estudar nas melhores universidades... – continuo - Mas, nenhuma delas me mostrou a realidade na área da saúde. A verdadeira realidade. Um médico se torna completo quando os status tornam-se irrelevantes.

— Doutora Park... – assim que o médico começa a responder meu último argumento, é interrompido com o tocar do telefone que se encontrava sob a escrivaninha. Ele levanta no segundo tocar do aparelho – Sim, secretária Moon!  – o diretor atende ao telefone aparentando estar incomodado com a interrupção – Sim. Deixe-os entrar. - o senhor responde a jovem secretária no outro lado da linha.

Não demorando muito, dois homens coreanos entram na sala. O primeiro parecia ter uns cinquenta anos também, cabelos curtos e acinzentados. Nos seus olhos havia a companhia de uns óculos bem discretos. Sua aparência era... normal. O segundo, em comparação aos dois senhores, devia esta perto dos quarenta. Ele era mais alto de uma aparência agradável. Os cabelos eram um pouco mais cumpridos, penteados e divididos de lado. A postura era... polida — Diretor Yoon. – os dois cumprimentam seu superior curvando-se em noventa graus.

— Chefe Seo. Chefe adjunto Lee. Que bom que vocês dois estão aqui, assim eu já apresento vocês três. Essa é a Dra. Park. – o diretor Yoon aponta para mim – tal gesto me faz levantar por educação - Ela trabalhava no hospital da Unidade dos E.U.A., em Virgínia, e foi transferida para cá, na Unidade Sede. – ele continua – Doutora, esse é o Chefe do departamento de cardiologia Seo Kyu Bok e seu Chefe Adjunto Lee Jung.

— Oh! Muito prazer doutora! – o mais velho estende uma das mãos em quanto o outro só se curva – Nossa... Você é muito bonita! Seus olhos são dessa cor mesmo? – dou um leve sorriso um pouco sem graça pelos elogios inesperados e acento com a cabeça. Particularmente, não sei lidar com elogios. Mas, entre elogiar a minha aparência ou elogiar o meu nível de conhecimento, prefiro o de conhecimento – Oh! Eles são azuis, não é? Muito bonitos! – ele abre um grande sorriso fazendo os olhos ficarem numa linha.

— Obrigada! – agradeço em coreano.

— Oh! Você fala coreano muito bem! – ele arregala os olhos puxados de forma exagerada querendo demostrar surpresa.

Eu mal falei alguma coisa em coreano com ele...— penso.

— A Dra. Park fala coreano fluente e mais outras línguas também. – comenta o diretor Yoon – Foi a primeira em sua turma no colegial e uma das mais prestigiadas na faculdade. – completou.

— Oh...! Qual faculdade? – pergunta o chefe Seo.

— Duke University, na Carolina do Norte em Durham e a Universidade de Zurique, na Suíça – respondo.

— Oh! Nossa! Suíça...! – repete o Chefe Seo estupefato – Você deve ter um sobrenome de peso... – completa ele com um olhar que eu tanto repugnei: interesse – O Chefe Adjunto Lee também estudou fora. – o chefe Seo vira o rosto para o médico ao lado - Só que em Havard, não é? – o coreano mais novo assente com a cabeça sem dizer uma palavra.

— Bem, como todos já estão bem apresentados, comecemos a reunião. Chefe adjunto Lee, mostre a equipe de enfermeiros e médicos para a Dra. Park! - o diretor Yoon olha para mim - Doutora, você começa amanhã no mesmo horário...

— Mas... Diretor Yoon, eu tenho que participar também da reunião. – interrompe o chefe mais novo abandonado o silencio desde a sua entrada na sala. Ele aparentava, agora, estar confuso com a decisão de seu superior.

— Não é necessário! O Chefe Seo está aqui e já é o suficiente! Qualquer coisa ele passa para você e para o resto da equipe o resumo da reunião. – comenta o diretor sentando-se na mesma poltrona de couro.

— Mas, senhor...

— A minha palavra foi decidida, chefe adjunto Lee! – adverte o diretor Yoon interrompendo o médico mais novo. O mesmo contém–se com a repreensão de seu superior, faz a reverencia e anda para a porta de vidro com passos pesados sem me esperar. Eu repito a reverencia do e saio em seguida.

No elevador era só silêncio. Eu olhava pelo reflexo do espelho o Dr. Lee. Pela sua fisionomia não parecia muito contente por ter sido deixado de fora da reunião. E isso era por minha causa? — Você trabalha aqui há muito tempo, doutor? – tento puxar um assunto, mas não tenho êxito. Ele olha para mim e me ignora - Ótima Anna! Mal chegou e já fez alguém não ir com a sua cara! E esse alguém é nada mais e nada menos que um dos seus chefes! – penso e respiro fundo tentando achar algum jeito de expulsar o silêncio, que por incrível que pareça, estava me incomodando — Você ficou nos E.U.A por quanto tempo? - o médico olha para mim, se vira para a minha direção e me encara. – Eu falarei uma só vez... – ele se aproxima, curvando seu corpo longo deixando o rosto muito próximo do meu. Ele põe seus braços apoiados na parede do elevador, na altura do meu rosto, me cercando - Não se meta no meu caminho! Tenho objetivos aqui dentro e os quero alcançar! Não quero ser atrapalhado por alguém como... – ele se afasta um pouco e me olha de baixo para cima – você! Então, se você é tão inteligente como dizem ser, é melhor ficar longe! Você entendeu? – ele me encara em silêncio. Seus olhos estavam tão pertos que eu poderia ver os detalhes do castanho se destacando com o preto da pupila – E, para você, é chefe adjunto Lee! – o elevador chega ao primeiro andar e ele é o primeiro a sair quando a porta se abre.

Recomponho-me com a ousadia do homem querendo me intimidar.  Saio do elevador, inconformada com o episódio anterior, e me coloco a frente do médico – Hum! Sabe... – ele olha para mim com o cenho franzido - Se você pedisse para mim de uma forma um pouco mais educada eu até pensaria no seu caso. – continuo – Mas, como não... – dou um passo à frente deixando o espaço entre nós menor, e olho diretamente para cima, devido à diferença de altura, para os olhos dele e continuo - Você terá que ralar muito para conseguir o que quer comigo nesse hospital, porque você acabou de deixar as coisas se tornarem mais divertidas para mim! Então, é melhor VOCÊ ficar esperto, porque eu não irei aliviar o seu lado. Do you understand!?— o encaro por um tempo, me viro de costas para ele e sigo em direção à porta de entrada sem olhar para trás.


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