Segredos Guardados escrita por Pandemia


Capítulo 2
Casca de Dragão


Notas iniciais do capítulo

Oiii, espero que gostem do capítulo!
Boa leitura.



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Trevor tinha um sorriso bonito cortando o rosto perolado, um emaranhado de fios negros que iam até o ombro e uma prepotência discreta, tipicamente sonserina que, na medida certa, era charmosa. Não era muito alto, mas caminhava como se fosse a maior pessoa do salão.

Lílian Luna enroscava seus dedos naquele cabelo indisciplinado. A garota tinha os olhos fechados e seu corpo acompanhava a música intuitivamente. Trevor mantinha seu rosto próximo ao dela, sentia sua respiração quente e doce e beijava seu lábio, rosto e queixo com delicadeza.

O sonserino frequentara Hogwarts com Alvo e Rose, aguçando a curiosidade de Lily que queria saber de onde vinha toda auto-confiança que ele parecia exalar. Naquele tempo, no entanto, ela nunca arriscaria sua reputação perfeita envolvendo-se com ele; hoje, com os primos dormindo há quilômetros de distância, ela se permitia alguns deslizes.

Era o feriado de Natal do sétimo ano em Hogwarts. Em teoria, Lily Luna estava dormindo no seu quartinho do segundo andar da casa dos Potter. Seria mandada para um lugar pior que Azkaban se Harry Potter descobrisse que a sua garotinha estava do outro lado da cidade na casa de Danielle Earnshaw, uma lufana conhecida pelas melhores festas do sétimo ano.

"Já passa da meia-noite, Cinderela", as mãos geladas de Lysander Scamander puxavam Lily para longe dos beijos açucarados e do cabelo emaranhado. Ela encarou o amigo sem entender, e como resposta: ele arqueou as sobrancelhas e completou em um tom de voz urgente: "já passou tipo muito da meia-noite, são quase cinco horas da manhã".

Lílian dispensou as despedidas e correu ao lado de Lysander para o exterior da casa. Os dois foram engolidos pelo breu, pelo frio e pelo silêncio. Caminharam para os fundos da residência, onde poderiam aparatar sem serem vistos.

"Onde está o seu irmão?" Lily se deu conta que Lorcan não tinha vindo com eles.

"Ah, bem-" Lysander se enrolou ao responder, quando o fez foi em tom de consolo: "ele foi embora assim que viu você com o Trevor". O garoto analisou atentamente a reação da amiga, que parecia ter sido atingida por um balaço no estômago.

"Eu gosto do seu irmão" ela revelou pesarosamente. "Odeio quebrar seu coração".

Lysander parou por um segundo, olhou em volta e eles concordaram que aquele era um bom lugar para aparatar. "Ele vai ficar bem", ele disse antes de envolver a ruiva em abraço e sentir aquele desmembramento frio ao aparatar.

Ela automaticamente esqueceu a conversa anterior ao chegar no jardim daquela casa tão familiar. Lysander passava muitas noites na casa dos Potter, era um segundo lar para ele; essa seria uma dessas noites.

Eles caminharam nas pontas dos pés, o coração batendo rápido, os lábios fechados. Se qualquer um dos Potter resolvesse olhar pela janela naquele momento, Lily poderia dizer adeus a sua tão querida liberdade (e sanidade). Eles cruzaram o gramado bem aparado e subiram os três degraus altos até a porta de entrada.

Lílian congelou por um segundo. A porta de entrada estava aberta, as luzes da sala apagadas. Ela sentiu um frio na espinha, como se tudo estivesse fora do lugar. Um medo racional de que alguém tivesse invadido sua casa. Lysander parou ao lado da amiga e a encarou de forma exasperada. Ela sacou sua varinha.

"Você está maluca?" ele sussurrou, a voz exprimindo toda a urgência do momento. "Lily, não entra ai-" mas ele conhecia Lílian Luna Potter, balançou a cabeça em reprovação, respirou fundo, engoliu o medo; acompanhou a melhor amiga no que para ele era uma missão suicida.

Lily crescera ouvindo histórias sobre um bruxo que tornara-se tão mal quanto poderia ser; depois de grande, ouviu sobre como a história da sua família constantemente cruzara-se com a dele. Desde então ela entendera a necessidade de mastigar seu medo em pedaços pequenos e saber se defender sozinha.

Eles atravessaram a porta e caminharam atentos pela sala de estar. Lily tentou fazer o menos de barulho possível, Lysander parecia ter trancado a sua respiração no momento em que entrara na casa. Ela cruzou a sala de estar e parou no momento que distinguiu um vulto parado aos pés da escada; percebeu então que seu coração também tinha parado.

"Expelliarmus-" ela não sabia ao certo como tinha lembrado do feitiço, mas agradeceu que seu reflexo tivesse sido rápido. O invasor parecia ter sido pego de surpresa, não conseguiu defender-se a tempo e a sua varinha saltou da sua mão na direção de Lílian.

A medida que o conflito acontecia, Lysander já estava gritando a plenos pulmões. Lily aproveitou que o adversário estava desarmado, recobriu a consciência e arquitetou seu próximo passo. Com a varinha apontada para ele, começou a pronunciar o primeiro encantamento que lembrou "Estupefa-"

Antes que terminasse de falar o feitiço, no entanto, o vulto jogou-se contra o corpo da menina, gritando exasperado: "Para, para, para!" Lílian caiu ruidosamente no chão, mas ele deixou seu braço por baixo de sua cabeça, evitando que a garota caísse sem machucar-se.

Ela não entendeu o porquê daquilo. Tudo aconteceu tão rápido; Lysander ainda não tinha parado de gritar. Ela usou toda sua força para jogar o oponente contra o chão, e colocou seu corpo por cima do abdome dele. Depois de imobilizá-lo, e ignorar todos os seus protestos, ela fechou a mão em um punho. Estava pronta para acertar seu nariz, quando...

As luzes se ascenderam, Harry Potter chegara na sala de estar com a varinha em mãos e os olhos bem abertos.

"LÍLIAN?!" Teddy Lupin gritou ofegante, a expressão era um misto de assombro e admiração. Ele protegia o rosto com as palmas das mãos, e só depois do susto que ela percebeu ainda estar com o punho fechado.

Lílian guinchou antes de sair de cima do garoto; todos pareciam processar lentamente toda a cena. Ela ficou de pé e sentiu seu rosto corar até o tom mais escuro de vermelho.

Teddy ficou de pé com uma careta, um sorriso calmo ia preenchendo seus lábios quando a garota o abraçou abruptamente. Logo o silencio da noite foi substituído por um misto de perguntas, risadas e exclamações.

O restante da família Potter desceu as escadas correndo, e todos pareciam comovidos pela presença do garoto que passara os últimos dez anos comunicando-se a partir de cartas.

"Eu não entendo-" Lysander cochichou para Lílian enquanto a ajudava a preparar a mesa para o café. "Não era uma briga?"

Lily ainda tinha um sorriso no rosto quando a família finalmente tinha se acalmado e ocupado seus lugares a mesa. As perguntas chegavam de todos os lados, Teddy não conseguia se concentrar em nenhuma, ele só balançava a cabeça desnorteado.

"Quietos!" Gina gritou com a mão nas têmporas. "Deixem que ele explique", completou em um tom de voz mais doce.

Teddy sorriu, sentia falta daquela confusão rotineira.

"Eu precisava voltar para casa em algum momento", o garoto disse do seu jeito tranquilo. "O tempo que eu passei na Romênia foi muito bom, mas eu senti falta de todos vocês".

"Sentiu falta, mas não veio visit..." Gina começou daquele jeito de mãe, com o dedo apontado para o meio da cara do garoto. Harry segurou o braço da esposa com um sorriso sem graça. "Tudo bem, tudo bem. Vamos focar no presente. Falando em presente... se você acha que passou dez anos na Romênia e voltou para casa com as mãos abanando, você está muito enganado".

Teddy sorriu e ficou de pé, caminhou até os pés da escada e pegou uma das quatro grandes malas que ele tinha deixado lá. Voltou para mesa com vários suvenires em mãos.

Cada um dos Potter recebeu um presente simbólico. O garoto ajoelhou-se ao lado de Lily quando era sua vez; o resto da família estava distraída com seus próprios presentes, e não prestava atenção na conversa.

"Dizem que traz proteção e-" ele começou tirando uma corrente fininha de dentro de um saquinho de veludo bordô. Pendurado na corrente estava um pingente circular e escamoso, era de um tom azul turquesa e muito gelado pelo que Lily sentiu ao tocá-lo com a ponta dos dedos; "- e juízo", ele completou.

Lílian sorriu olhando o medalhão de perto. Era feito com a casca de um ovo de dragão, a cor era uma das suas preferidas, ficou surpresa que depois de todos aqueles anos ele ainda lembrasse disso.

"Eu vou jogar no lixo", ela revelou em um cochicho para o garoto. Virou para ver a sua expressão, e ele a observada com um sorriso nos lábios e o mesmo jeito calmo que ela lembrava.

"Foi o que eu pensei", ele respondeu com o mesmo tom de voz.

Teddy voltou a sentar-se a mesa. James e Alvo ainda comparavam seus presentes quando ele pigarreou e falou em um tom de voz mais alto. "Eu não queria ter feito toda essa confusão, a intenção era chegar aqui discretamente... não esperava ser atacado por Lílian ou por Scamander..."

"SCAMANDER?!" Harry só notou a presença do garoto loiro naquele momento. Olhou para Lily e para Lysander repetidas vezes antes de encontrar suas palavras, enquanto isso o garoto loiro ia se encolhendo ao lado de Lílian em direção ao chão "O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO CINCO HORAS DA MANHÃ COM A MINHA FILHA?!"

Lysander ainda estava com a voz rouca por causa dos gritos, e respondeu desnorteado "Calma, calma, senhor Potter!" Ele pediu com as mãos juntas em clemência "é o gêmeo errado, eu sou o Lysander... Lembra do Lysander? Completamente gay, completamente inofensivo... lembra?"

Harry se acalma e empalidece ao mesmo tempo. Ele dá um sorriso amarelo de reconciliação para o garoto, e depois pragueja baixinho de forma que apenas Gina escutava "... eles deveriam vir com identificação, sabe?"

Lily respira fundo pensando que não seria pega. Seu alívio acaba no instante que sua mãe lhe direciona um olhar penetrante do outro lado da mesa.

"Você pode ser o Lysander, mas isso não justifica o porquê dos dois estarem fora da cama cinco horas da manhã".

"Eu escutei barulho no andar de baixo... Lysander tinha chegado aqui em casa durante a noite, vocês já estavam dormindo" Lily começou, estava ficando impressionada com a rapidez de suas reações. "Quando eu escutei os passos de Teddy durante a madrugada, senti que tinha algo de errado e corri até aqui ao lado de Lysander".

Ela rezou para que tivesse soado convincente. Rezou para que ninguém percebesse que ela não estava de pijamas. Rezou para que a mãe não notasse o olhar perdido que Teddy Lupin lançava a garota naquele momento; ele sabia que ela não estava dentro de casa antes de encontrá-lo.

"Da próxima vez, me chame ou chame seu pai, Lily" Gina instruiu com um tom de voz doce. "Não pode ficar correndo perigo desse jeito, querida". Lílian sentiu a cor voltar ao seu rosto, quando a mãe completou de um jeito divertido "se bem que quem estava correndo perigo mesmo era Teddy".

Harry e Gina começaram a comentar sobre o jeito que a garota tinha acabado com a raça dele, e não notaram quando a filha voltou seus olhos para Teddy Lupin sentado na sua diagonal. Ele tinha as sobrancelhas arqueadas e uma expressão divertida no rosto.

Ela respirou fundo, com um nó na garganta. Levantou o dedo indicador e o colocou em cima dos lábios, pedindo silêncio. Teddy piscou um dos olhos em sua direção e a garota sorriu tranquilizada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, não deixem de comentar o que acharam!
Beijo de luz a todos :*



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