Mais do Mesmo escrita por Red Widow


Capítulo 1
Mais do Mesmo




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“É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De ‘amor-perfeito’
E ‘não-te-esqueças-de-mim’”

“Acrilic on Canvas” – Legião Urbana

E era sempre aquela mesma situação, eu o tinha e o sentia e o amava e o tocava e... o via ir embora.

Sempre a mesma situação, sempre lágrimas e despedidas afoitas no negrume da partida. Lágrimas mascaradas com promessas de um amanhã, de um encontro, mesmo que efêmero. E era nessas promessas que ambos se sustentavam. Ambos ordenavam às lagrimas que retornassem e que poupassem suas faces daquele derramamento indesejado.

Disseram-me, certa vez, que o amor não dói e não machuca, que o que realmente faz mal é a paixão. Houve uma falha... Esqueceram de me dizer que a saudade também dói.
É uma dor suportável, que fica ali, latente. Uma dor agradável, por assim dizer.

E como uma dor pode ser agradável? Não sei... ou talvez eu não saiba definir. Essa dor, para mim, é agradável, quando lembro-me de seu sorriso e de seu carinho. Então, ao mesmo tempo que a saudade me dilacera por dentro, me lembro que no dia seguinte eu teria tudo, tudo de novo. Para ter que dizer adeus novamente.

Após o adeus, após ele ir embora, ficava apenas aquela vaga lembrança enevoada, como se tudo não passasse de um sonho desagradavelmente reconfortante. Era como areia nas mãos em concha. Quando a mão está cheia, você sente a areia preenchendo um espaço vazio e, aos poucos, o espaço vai esvaziando até tornar-se totalmente vazio. Comparação essa que se aplica às lembranças. Lembranças dele. Quando o vejo, sei que temos muito tempo a frente, mas, aos poucos, sei que nosso tempo está para acabar e a despedida está ali, iminente perante meus olhos, mas recuso-me a aceitá-la. E essa recusa é um convite à dor que tomará o posto da presença.

Após essa perda temporária, volto para casa observando todo o caminho repleto de vida que não me pertence. As mulheres e os homens continuam seus afazeres, as crianças brincam, o vento vem, as folhas sussurram. Sinto o vento gelado apoderar-se de mim e tremo. Mas não de frio. Sinto-me quente, porém meus dentes se chocam uns contra os outros. Sinto-me estranha e paro para pensar no porquê daquele meu frio sem motivo, sem, realmente, frio. Não tenho resposta para isso, então penso nele. Sim... Acho que ele é a resposta. Esse frio me invade pois é como se eu não fosse capaz de me aquecer sozinha, como se eu necessitasse... É como se eu necessitasse, como fator de sobrevivência psicológica, da presença reconfortante do único que pararia tudo e devolveria o calor e a vida à própria vida.

Paro e penso como todos os meus pensamentos anteriores parecem bobos. Como alguém pode necessitar, para sua sobrevivência mental, de outro alguém? Eu sempre achei que pessoas fossem dispensáveis, substituíveis.

Enganei-me. As pessoas que amamos muito marcam-nos e necessitamos delas para continuarmos existindo com vida, pois que vida há apenas na casca? Superficialidade, frivolidade, inércia. Talvez meus pensamentos não sejam tão bobos assim, talvez haja alguma verdade neles.

Chego em casa, abro a porta de meu quarto, lembro de quando ele esteve ali e jogo-me em minha cama. Fecho os olhos. Lembro-me dos lábios dele moldando palavras, fonemas, sentimentos e verdades. Moldando e dando vida para um ”eu te amo”.

Uma lágrima teimosa lava-me a face. Depois outra, outra e mais outra. Pranto sem fim e sem cura imediata. Apenas a promessa de um amanhã em que nos veremos, nos sentiremos, pertenceremos um ao outro e não a este mundo.

E é sempre a mesma coisa, o amor une-se a saudade e provoca lágrimas. Eu o vejo e o perco. É como se eu pedisse sempre mais. Pois eu sei que depois da perda vem o encontro.
É sempre a mesma situação.

Sempre mais do mesmo.



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Notas finais do capítulo

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