Há muito que não o vejo triste escrita por Dehcbf


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo, minha pova!!!
Sim, eu não estava planejando absolutamente nada, ainda mais que to bem longe de terminar a Spot
POOOOOOOORÉÉÉÉÉM
Hoje é o niver do meu bebê!!!!!!! E como não vi nenhuma fic para homenagear esse homão da poha, L?“GICO que eu corri contra o tempo para fazer uma one ainda hoje :')
Não ta a coisa mais maravilhosa e não vai ter lemon (até pq preciso ter um preparo mental para isso), mas foi de coração S2



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Estava tarde, todos estávamos cansados e muitos já foram ou estavam se preparando para irem embora. Eu e Sara não éramos muito diferentes. Ela há muito estava no vestiário terminando de se arrumar enquanto eu estava sentado em um banco próximo ao rinque, bebendo água e tomando um fôlego. Tomei um susto ao ouvir alguém caindo no rinque e não acreditei no que vi... Emil estava se levantando, encharcado de suor, depois de uma aterrissagem mal feita. Achei que ele daria por encerrado, parado um tempo, apoiando as mãos nos joelhos, mas ele sorriu, respirou fundo e recomeçou a patinar pelo gelo. Sendo sincero, não reparo se ele está presente ou não, focado entre meus treinos e vigiar minha irmã. Vejo-o armando um flip e quase levanto do banco por notar que seria uma quádruplo – marca registrada da lenda no esporte –, porém, de novo, a aterrissagem deu errado. 

Minha mente, sem querer, voltou no tempo... Aquele sorriso enorme de sempre, os olhos azuis brilhando de confiança, dizendo que iríamos para a final do Grand Prix juntos. Jamais irei admitir em voz alta, mas senti dentro de mim uma ponta de esperança, como se tivesse ouvido isso da Sara. Eu sabia que o programa livre dele era insano, entretanto, novamente, nunca parei para prestar atenção nisso. Seus primeiros saltos estavam dando certo e a esperança cresceu em meu peito, em meus olhos veio o vislumbre do pódio e nós dois ali, lado a lado, como passei a estranhamente me habituar... Mas ele não aguentou até o fim. 

Conforme ele caia em todos os saltos seguintes, a decepção foi se avolumando. Até notar que a sua determinação não diminuiu, apesar dos fracassos. Não nego que a discussão que tive com minha irmã tomou mais dos meus pensamentos, tornando minha apresentação perfeita. No entanto, a decepção que estava em meu peito era uma somatória de todos os acontecimentos: Minhas notas que não eram o suficientes, o momento crítico em que discuti com Sara. E Emil não estar ao meu lado no pódio, como havia prometido. 

O barulho dele caindo no gelo de novo me fez voltar a realidade. Pensei em chama-lo para que fôssemos embora, mas seu treinador foi mais rápido. Mesmo sem fôlego, respondeu que queria ficar um pouco mais e ultrapassar seus limites, pois, assim que percebesse que não aguentaria mais ficar em pé, deixaria seu corpo leve e mais preparado para o próximo treino – que seria no dia seguinte. Emil era assim. Otimista a ponto de ser inconsequente. Pensei que ele estivesse ainda chateado pelo o que houve no circuito da Rússia, todavia aquele sorriso ainda estava lá. 

 — Mickey! Não acredito que você ainda não se trocou! 

Olhei para cima e encontrei a Sara emburrada, com as mãos na cintura e pronta para ir embora. Seu celular estava em uma das suas mãos, com a tela desbloqueada, e dava para ver que estava com um aplicativo de mensagens aberto e a foto de um husky siberiano como imagem de perfil do destinatário. Era o maldito coreano que raramente a respondia, mas que ela continuava insistindo. Antes que eu pudesse responder, o barulho de alguém caindo no gelo, de novo, se fez ouvir, atraindo assim a atenção dela para o rinque. 

 — Emil ainda está no gelo? Ele é louco?! Desse jeito ele nunca vai aprender salto nenhum, sem descansar. – a preocupação na voz dela era evidente, deixando inevitável que eu não sentisse ciúme, mesmo sabendo que ela tinha razão. 

 — Até parece que você não o conhece! Sabe o quanto ele adora passar dos limites. – percebi que fui ríspido. Ainda não consigo me livrar de certos hábitos. 

 — Se está preocupado, por que não o chama? Certeza que se for você, ele para com essa loucura hoje. 

Olhei-a sem entender aonde ela queria chegar. Acaso achava que eu estava bravo por ele estar exagerando? Quase ri dessa conclusão, tomando um susto em seguida quando ouvi o técnico dele começar a gritar, mando-o para casa, enquanto ele fingia que não ouvia e continuava patinando e se preparando para mais um salto. Outro quádruplo, provavelmente. Às vezes tenho a impressão de que ele é hiperativo e precisa fazer essas coisas para conseguir dormir. Não importa o quanto treinamos, nem quantas horas ficamos presos naquele lugar, basta tomar um banho e ele está novinho em folha, pronto para outra. Voltei minha atenção para minha irmã, notando que agora o celular era a única que importava – provavelmente o cara de nada resolveu responder – e a tentação de chama-lo para faze-lo parar começou a crescer em minha garganta. 

 — Emil! Vamos embora! 

Gritei sem nem mesmo perceber ou notar o que ele estava fazendo e todos que estavam ali no momento – eu, Sara, seu técnico e o próprio Emil – ficaram espantados quando ele completou um Axel quádruplo. Vi aquele corpo suado se voltar para a minha direção e aqueles enormes olhos azuis, emoldurados pela barba e cabelos loiros molhados e grudados, com um sorriso enorme, gritando coisas sem sentido pela conquista. Na verdade, não eram coisas sem sentido, era eu que não entendia a língua nativa dele. 

 — Mickey, você viu?! Eu consegui um Axel! – como ele não percebia que parecia um enorme labrador agindo daquele jeito? 

 — Sim, eu vi. Agora larga de ser um idiota e vamos logo embora. 

Ele me obedeceu como uma criança pequena, apesar de eu ter falado como se estivesse mau humorado. Fui ao vestiário logo em seguida, sentindo o olhar do seu técnico queimando minhas costas, entretanto eu precisava me trocar e tomar ducha também. Não que não entendesse o motivo dele estar bravo. Me joguei no primeiro banco que vi, tirei meus patins sem pressa enquanto Emil estava praticamente nu e se encaminhando para se livrar daquele suor. Desde o último Grand Prix que ele resolvera treinar na Itália, vindo ao rinque todos os dias. Pelo o que eu soube da Sara, ele resolveu não ingressar numa faculdade para se dedicar somente ao esporte, por isso essa regularidade inumana. Peguei o que era necessário para tomar meu próprio banho e estranhei o ambiente que só se ouvia a água caindo. Tudo bem que normalmente eu não demoro tanto para resolver meus assuntos e ir embora para casa, ainda mais que detesto deixar minha irmã esperando, mas esse horário e levando em conta que só tinham duas pessoas, era normal estar silencioso, certo? 

Minha cabeça deu um clique ao notar o que estava errado: Não era qualquer pessoa nas duchas, era Emil. O escandaloso, animado e que sempre cantava desafinado quando estava tomando banho, Emil. O que, há essa altura, estaria gritando vários planos, dizendo para irmos em algum pub ou casa noturna, como se não tivesse que voltar aqui amanhã bem cedo. Fui até o cubículo dele, com o coração na mão, rezando para que ele estivesse dormindo, pelo menos. Assim, eu o xingaria e gritaria para que fôssemos logo para casa. Como sempre. 

Encontrei-o sentando no chão com as costas apoiadas em uma das paredes laterais, a água fluindo e seus olhos tristes voltados para seus pés cheio de lacerações por usar os patins por tempo demais. Aquela era uma das raras vezes em que o via chateado com alguma coisa. Sua mente estava tão longe que nem notou que eu estava do seu lado, mas isso durou pouco, pois percebi ele tomar um susto ao notar minha presença. Seu rosto se voltou para mim com um sorriso, porém estava nítido que ele não chegava aos olhos. 

 — Ainda está chateado com o houve na Rússia? – foi a primeira coisa que me veio a mente, não esperava que chegasse perto da verdade... Seus olhos foram fitando o chão e seu sorriso começou a murchar. 

 — Eu... – mesmo com toda a água e aquela barba que ele não se desfazia tão cedo, ainda pude notar que seu queixo tremeu. – Falhei com a minha promessa. 

A princípio, aquilo não fez o menor sentido para mim. Fiquei olhando-o sem entender, escutando sua respiração trêmula. Uma raiva surda foi tomando conta do meu corpo quando a lembrança me tomou em cheio. Não acredito que ele estava com o corpo todo cheio de marca pelos tombos, os pés quase em carne viva, treinando sem parar, por causa de uma promessa feita no calor do momento?! No último segundo, segurei o ímpeto de chuta-lo, mudando meu foco para a parede oposta em que ele estava apoiado, desferindo um soco. Emil olhou-me espantado, encolhendo-se um pouco ao ver meu rosto que muito provavelmente deixava bastante claro o quanto eu devia estar possesso. 

 — Larga de ser ridículo! Mesmo que tivesse acertado todos os saltos, eu continuaria não tendo pontuação para passar para a final! – minha raiva era tanta que estava gritando, me esforçando ao máximo para não estrangula-lo. – Não adianta se matar de treinar se nós dois precisamos melhorar nosso repertório! E, principalmente, - apontei meu indicador em riste, mantendo a outra mão fechada em punho, aproximando nossos rostos e completando com a voz mais ameaçadora que consegui, com a raiva ainda queimando dentro de mim – não ouse me ultrapassar. Os lugares mais altos do pódio serão nossos! Você me entendeu? 

Seus olhos azuis passaram a ter um brilho de admiração que foi mudando para um de determinação, até ele acenar com a cabeça, concordando. Mas, para variar, me esqueço o quanto Emil age rápido e desengonçado às vezes e qual não é minha surpresa ele levantar de supetão enquanto ainda estou encurvado, fazendo com que nossos rostos se chocassem e nossos lábios se encostarem brevemente. 

 — Ei! O que vocês dois tanto fazem aí dentro que não terminam nunca? Estou morta de cansada, agilizem! 

A voz da Sara na porta do vestiário foi quase um bálsamo para que não criasse um longo momento de constrangimento. Saí de perto dele pisando duro, sentindo meu rosto quente e entrando no primeiro cubículo que me deu na telha, agradecendo aos céus por ter colocado tudo que eu precisava para o banho numa bolsa plástica que estava em um dos meus ombros. Escutei que Emil deu uma resposta, mas não reparei no que ele disse exatamente, ainda muito constrangido com o que tinha acontecido. Verdade seja dita, era para eu estar gritando e xingando-o agora, certo? Ou fingir que isso não aconteceu seria mais maduro da minha parte? Resolvi deixar isso para lá por estar demorando demais. 

Depois disso, terminamos o que tínhamos para fazer no vestiário, às pressas, e encontramos uma Sara e um treinador possessos por terem que esperar, além de todo o rinque as escuras. Era a primeira vez que fiquei até tão tarde. Nós três saímos e deixamos o treinador para trás, para terminar organizar as coisas para fechar o rinque. Minha irmã continuava agarrada no celular, agora falando com a Mila, enquanto Emil e eu estávamos calados, andando até um ponto de ônibus. Ficamos um tempo sentados, aquela hora da noite realmente iria demorar muito para algum passar. Quando, enfim, apareceu, entramos e a Sara sentou no primeiro banco vazio que viu, ao lado de uma moça com metade do cabelo raspado, preto, cheia de tatuagens e de piercings. Acabei por sentar no banco detrás com o Emil do meu lado, onde ele ainda continuava quieto. Fiquei olhando pela janela, distraído, e levei um susto quando minha irmã levantou do nada, dizendo que ia encontrar com algumas amigas num barzinho próximo e se despediu dizendo: 

 — Esperava que tivesse reservado algum lugar para passar o aniversário, mas já que não combinou nada, nem pude comprar um presente. Amanhã sem falta te dou um, juro! Beijos! – e soprando beijos com a mão, desceu no ponto em que o ônibus havia parado. 

Esse, definitivamente, era um dia em que não faria outra coisa a não ser ficar sem palavras. Realmente, todo ano ele inventava alguma coisa para fazer no aniversário e a Sara me infernizava para que fôssemos prestigia-lo. Como esse ano não aconteceu, simplesmente me esqueci desse dia. Olhei-o embasbacado por ele não ter mencionado nenhuma vez, ainda mais pelo  rinque ter estado lotado hoje. Normalmente ele sempre faz alarde sobre esse tipo de coisa. Vendo a minha pergunta muda, Emil afundou-se no assento, apoiando um dos pés nas costas da cadeira em frente onde a minha irmã estava sentada há poucos minutos. 

 — Acabei de mudar para cá, não conheço muitas pessoas e os lugares. – deu de ombros. – Sempre escolhi lugares em que pessoas da República Tcheca pudessem ir com mais facilidade, já que para vocês dois é mais fácil. 

Tive ímpetos de soca-lo, mas me lembrei que ele estava todo contundido pelas quedas no gelo, então virei o rosto e voltei a olhar pela janela, mas dessa vez não estava prestando atenção. O ônibus fez uma curva acentuada e eu sabia que depois de três pontos era a vez do Emil descer, no entanto continuei emburrado. Não conseguia acreditar que ele passou o dia inteiro se estatelando no chão por uma promessa boba, quase virava a noite no rinque treinando sem parar, não planejou absolutamente nada para fazer no próprio aniversário e ainda pior(!!!), não me  disse nada! Nem uma dica, um gesto, nada que me fizesse lembrar de uma data tão importante! Nos conhecemos há tanto tempo, não é possível... 

Lábios estavam sobre os meus outra vez e só pude enxergar um dos olhos azuis e seus cabelos loiros, que ainda estavam um pouco úmidos. Nossas bocas estavam num ângulo estranho... Espera! Nossas bocas sequer eram para estarem unidas! Queria mandar ele a merda, mas ele se aproveitou para colocar a língua dentro da minha boca, enquanto eu sentia uma das duas mãos virando meu rosto para ele. Estava tão em choque que não fiz absolutamente nada, só deixei-o comandar o ato. Tão rápido esse beijo surgiu, se findou, com ele levantando-se rápido do banco e apertando um botão para indicar que ele iria descer. 

 — Aceito isso de presente! 

E saiu, com um daqueles malditos sorrisos enormes que me davam tanta raiva! Levei o punho à minha boca, pronto para esfregar como se não houvesse amanhã, mas... A lembrança da sua língua contra a minha era tão vívida e quente... Aquele maldito beijava bem demais para tão pouca idade! Aliás, quando ele arranjou tempo para aprender essas coisas? Será que ele e Sara andaram se envolvendo em algum momento que não vi? Não posso crer que ele tenha sido idiota o suficiente para me beijar, depois de ter se envolvido com ela! 

Espera! 

Isso é ciúme, eu sei que é ciúme, tenho absoluta certeza que é ciúme. Mas não pode ser ciúme dele, não é? 


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Notas finais do capítulo

Preciso admitir uma coisa pra vcs: tenho uma enorme agonia de título em português x.x Mas não queria colocar em inglês pq essa frase é quase o oposto de uma estrofe de uma música que eu gosto muito, chama-se Nantes, da banda Beirut, e a frase original seria "Faz um longo, longo tempo desde a ultima fez que te vi sorrir". Como estamos falando do Emil, logo essa frase seria muito sem sentido :') Então encurtei e fiz o inverso :v

Não tenho uma data exata para postar na Spot e espero que vcs não me batam por isso, mas não podia deixar o niver do meu amor passar em branco :')

Até mais ver o/



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