Capítulo 20: Por quê?

         Emma on

            Eu nem estava acreditando que finalmente Killian e eu estávamos casados. Tive que pedir ajuda a Adam para escolher o vestido, na decoração, tive que ir na agência remarcar meus books. Estava complicado, mas no final tudo tinha ficado bem. Depois da cerimônia levamos o pai de Killian, agora meu sogro, para o quarto dele para que ele não abusasse muito da sorte. Ficamos um pouco com ele e Liam, conversamos, rimos, zoamos Killian, estava tudo realmente maravilhoso. Eu não estava acreditando, tudo estava bem, eu me sentia bem. Claro que os remédios que eu tomei contribuíram para o tratamento psiquiátrico, mas o amor de Killian e o seu companheirismo nem se comparavam ao efeito que tinham tido sobre mim.

            Já estava ficando tarde e o horário de visita infelizmente acaba, eu adorava ouvir as histórias do pai de Killian, ele era uma pessoa tão boa, me pergunto as vezes se alguém algum dia chegou a odiá-lo. Antes de saímos beijo sua testa, eu sinceramente amava o meu sogro. Já Liam abraça o pai e aperta a mão do mesmo, o ato é repetido por Killian. Saímos logo em seguida e Liam vai para casa encontrar com a mãe que devia o esperar para o jantar enquanto eu e Killian, agora meu marido, íamos para casa.

            No caminho de casa, Killian acaba mudando a rota e indo para outro caminho no qual eu não conhecia.

            -Onde estamos indo Killian?- Pergunto até confusa.

            -Calma Sra.Jones, não vou sequestra-la – Ele fala olhando para a estrada e  apenas sorrir.

            Já estávamos na estrada a um tempo, já era 20:00 e eu ainda não sabia qual era o nosso destino. A estrada era um pouco escura e enquanto o carro andava eu fico olhando para a janela e rapidamente vejo um menino andando, sozinho, parecia perdido.

            -Killian! Pare o carro- Sem questionários ele para o carro e me olha confuso.

            -Você está bem? – Ele fala me olhando preocupado e apenas desço do carro sendo acompanhada pelo próprio.

            Vou até o menino que está parada olhando curiosamente para mim, ela deveria ter uns seis anos. Me aproximo com cuidado para não assustá-lo.

            -Hey, você está perdido? – Falo com um rosto angelical e ele me olha curioso e apenas mexe a mãozinha em sinal de mais ou menos. – Cadê os seus pais? – Falo olhando em volta percebendo que não tinha nenhum adulto por ali. Ele faz não com a cabeça e já começo a entender, ele era como eu, estava sozinho  e devia estar fugindo do orfanato.

            -Eu não sou menino- Ele? Ela? Fala bem baixinho e por alguns segundos fico um pouco confusa e demoro um pouco até entender o que ele, ela estava dizendo. Era trans?

            -Desculpe, então, você estar fugindo o orfanato?- Pergunto e ela apenas confirma com a cabeça.- Olha, eu não sei quais foram o motivo que fizeram fugir de lá, mas ficar aqui na estrada é muito perigoso.

            -Lá eles não me aceitam, eles não acreditam em mim- Ela fala e olha pra mim com os olhos marejados.

            -Olha.. an... Você pode vim com a gente e vamos tentar resolver isso, okay? Talvez transferir você de orfanato, qualquer coisa que estiver ao nosso alcance e que possamos fazer para que você fique bem e se sinto confortável e aceita, okay? -Falo e estendo a mão para ela com a esperança que a mesma aceite, ela fica olhando para mim por um tempo mas depois pega na minha mão e antes que entrássemos no carro levo ela até o Killian. – Esse aqui é o meu marido, Killian. Ele também é muito legal, mas bem desastrado então... cuidado com as lerdezas dele- Falo e ela acaba rindo tímida o que faz Killian  e eu sorrimos. Ela era um amor.

            -Prazer conhece-la, qual o seu nome? – Killian fala se abaixando na mesma altura que ela.

            -Nina- Ela fala baixinho e com um pequeno sorrisinho.

            -É um belo nome, assim como a senhorita. Tá que eu não posso ser o melhor cozinheiro do mundo mas eu sei pedir pizza, você gosta de pizza? – Killian fala sorrindo e ela apenas sorrir afirmando com a cabeça.

            -Então você vai amar a pizza que a gente come de chocolate, é maravilhosa. Massss o chato do Killian as vezes fica roubando os pedaços. – Falo e olho pra Killian com um olhar de raiva mas ela acaba é rindo fraquinho. -Vamos? – Falo perguntando pra ela e a mesma apenas assente com a cabeça. Guio ela até o carro e abro a porta de trás para que ela possa entrar e depois Killian e eu entramos no carro e mudamos nossa rota agora para casa.

            Chegamos em poucos minutos e ela continuava olhando para janela. Desço do carro com Killian e abro a porta para que a mesma desça.

            -Bom, chegamos- Falo assim que ela desce e me dá a mãozinha e vamos andando até o apartamento. Assim que entramos em casa Ava já começa a pular e a lamber Nina que ria com a atitude da cachorrinha.

            Killian já havia pedido pizza, de chocolate, claro.  Ficamos brincando um pouco com Ava e Nina, comemos e até mesmo fizemos guerra de travesseiros. Nina começa apresenta sinais de sono, bocejava, coçava os olhinhos.

            -Hey, quer tomar banho antes de dormir?- Falo e ela fica um pouco pensativa mas depois de um tempo faz sim com a cabeça. -Quer ajuda ou já sabe tomar banho sozinha? – Ela só faz sim com a cabeça e subo com ela para dar banho.  

            Durante o banho pude perceber que era como se ela tivesse vergonha do próprio corpo, não falo nada sobre o assunto e apenas fico conversando com ela sobre assuntos avulsos. Pego a menor roupa que eu tinha e visto nela, claro que a minha blusa ficou até um pouco grande mas nada que fosse coisa de outro mundo. Penteio o seu cabelo e a deito na cama contando uma pequena história e em poucos minutos ela já está dormindo. Ava aparece e pula em cima da cama dormindo ao lado da mesma.

            Fico um tempo olhando pra ela, agora a própria parecia tão calma e tranquila.

            -Boa noite, pequeno anjo- Falo e beijo sua testa saindo e indo para o meu quarto e encontrando o Sr.Jones ainda acordado e jogado na cama pegando o maior espeaço.

            -Ei Sr.Espaçoso eu também vou me deitar viu- Falo entrando no closet e trocando de roupa, coloco apenas uma blusa grande e deito abraçada a ele que abre espaço na cama pra mim. O que achou dela? – Falo enquanto ele me abraça apertado.

            -Ela é simplesmente um poço de fofura, não consigo imaginar como ela devia ser tratada naquele orfanato- Ele fala olhando para o teto talvez pensando em tudo que ela havia falado.

            -Orfanatos sempre tem algumas crianças que não são muito aceitas pelas outras, sempre tem as mais isoladas. É a realidade em abrigos- Falo lembrando da minha infância.

            -Amanhã o orfanato não funciona, teremos que passar o dia com ela. Quem sabe se vamos ao shopping comprar roupas pra ela, ir ao parque. Nem que seja por um dia ela se sentir bem de alguma forma.

            -Concordo, vamos ao shopping pela manhã e depois vamos ao parque. Ela gostou da Ava, assim como a própria gostou dela, até dormiu do lado dela. Traidora- Falo lembrando que Ava nunca dormia em outro canto além de ser do meu lado e Killian sorrir com minha irritação.

            -Perdendo para uma criança em Emma Swan, tá ruim a situação – Killian fala segurando o riso e apenas o olho com um olhar fuzilador.

            -Falou meu nome errado, ótimo Sr.Jones, muito bonito. Falando nisso o que achou da decoração? – Falo olhando diretamente naquelas órbitas azuis da cor do oceano.

            -Tudo estava simplesmente perfeito, você, a decoração, tudo. Tu tá perfeita sempre mas enfim, eu amei cada pedacinho daquele momento- Ele fala e beija minha cabeça me fazendo sorrir.

            -Exageradooo, nem estava tão perfeito assim, eu tava até aceitável- Falo já sentindo o sono batendo e bocejando,

            -Apenas dizendo fatos, quem diria que a cliente que eu não me envolveria pessoalmente acabou virando minhas esposa, mundo e suas controversas -Ele fala começando a fazer carinho na minha cabeça quando percebe como eu estava cansada e com sono.

            -Realmente, nesse aspecto você não cumpriu com a palavra Sr.Jones- Falo já começando a cochilar. Killian continua fazendo carinho em meu rosto e cabelo e logo adormeço profundamente e não me lembro de mais nada.

            Acordo e Killian já não está mais na cama, escuto vozes dele e de Nina junto aos latidos de Ava vindos do andar de baixo. Tomo um banho rápido e desço e encontro Killian e Nina tentando cozinhar, ele de um lado do fogão cozinhando panquecas e Nina em um banquinho ao seu lado passando Nutella nas panquecas recém preparadas. Sorrio com a cena e fico na escada os olhando até que Ava me vê e começa a latir chamando atenção dos dois que me olham e sorriem.

            -Bom dia Love- Killian fala me dando um rápido selinho

            -Bom Dia Emma- Nina fala sorrindo tímida e me dá um beijo na  bochecha.

            -Bom Dia Capitão- Falo e ele sorrir entendendo a referência.

            -Bom dia pequeno anjo- Falo e beijo a cabeça da mesma.- O que vocês estão preparando? – Falo analisando o serviço dos dois, realmente estava com uma cara ótima.

            -An.... o Killian está preparando panquecas enquanto eu passo Nutella nelas- Nina fala apontando pra cada coisa e acompanho seus dedinhos sorrindo. Ela era realmente um amor.

            -Hmm, será que eu podia provar um pedacinho? – Falo olhando para ela com um olhar pidão e ela apenas sorrir e me dá um pedaço na boca e faço cara de pensativa enquanto degusto. -Ta ótima. -Falo sorrindo e ela retribuiu o sorriso feliz pela conquista.

            -Ótimo, tive uma ótima ajuda e agora ainda tivemos uma ótima opinião, isso ai- Killian fala e ele e Nina fazem high five.

            O tempo passa rápido e logo comemos e tento arranjar um roupa para Nina para que possamos ir ao shopping. Pego uma blusa grande minha e corto no formato de um vestido, alguns ajustes e uma fitinha amarrada na cintura e pronto. Visto Nina e ela estava realmente uma fofura, minha maior vontade era de guardá-la em um potinho e protege-la de qualquer mal que poderia vir a acontecer. 

            -Gostou? -Falo quando ela já estava vestida.

            -Sim, muito obrigada, ainda mais por estarem me ajudando e por não acharem que eu estava mentindo no começo, por não acharem que eu sou uma aberração- Ela fala com um certo olhar triste.

            -Nunca pensaríamos isso, por que acha que tem algo de errado com você? – Falo sentando ao seu lado a olhando nos olhos.

            -Porque no orfanato em que eu estava quando eu dizia que era uma menina eles diziam que eu estava mentindo, que eu era uma aberração, que estava louca. Eles não deixavam eu usar as roupas que eu me sentia confortável,  não me deixavam ser eu mesma. Na verdade, vocês foram os primeiros a me aceitarem e a me respeitarem sem que me achassem louca ou uma mentirosa- Ela fala olhando pro chão mexendo um pouco as mãos.

            -Sei que deve ter sido uma experiencia horrível e traumática mas posso te assegurar que aqui você está segura e ninguém aqui irá te desrespeitar. Não tem nada de errado com você. Se não for muita invasão de privacidade, pode me dizer como se sente? Só se quiser claro- Falo a olhando com um sorriso solidário.

            -Sempre falaram que eu era um menino, desde que nasci, mas eu nunca conseguir aceitar ou me sentir confortável com isso. Desde sempre, de alguma forma, eu sempre senti que no fundo eu sou uma menina, mas não sei porque nasci no corpo errado, não sei porque todos ficam dizendo que eu sou algo que não sou. É como se esse corpo não fosse meu, fosse de outra pessoa, como se eu tivesse presa no corpo de outro alguém. Essa não é quem eu sou. Todos me chamam de louca quando eu falo isso... mas eu sinto isso... eu sei disso... não consigo nem ao menos me olhar no espelho e todos acham que é frescura ou loucura... Eu só queria poder mostrar quem eu realmente sou, mas sempre que tento fazer isso me chamam de aberração, vai que eles estão certos... E se eu estiver mesmo louca ou confusa?- Escuto tudo atentamente ainda tentando processar tudo aquilo que uma crianças podia ouvir e ser tão julgada apenas por tentar ser o que realmente é.

            -Hey, primeiro de tudo saiba que não á NADA de errado com você. Eu sei, existe pessoas ruins no mundo que não tentam nem ao menos nos entender e acabam julgando ou achando que tudo que elas falam é certo, ou até mesmo um padrão. Tudo que você sente ai dentro está certo, você não é um erro, não é diferente do mundo, não está louca por expressar o que você sente e o que você é, não á nada de errado em sentir o que você sente. E pra você saber e sentir que não está sozinha, existe várias outras pessoas no mundo, nessa cidade, que se sentem assim, exatamente como você, e não há absolutamente nada de errado nisso. – Falo e beijo o topo de sua cabeça e a mesma sorri fraquinho.

            -Mais uma vez, obrigada. – Ela fala olhando em meus olhos e sorrio.

            -Não precisa agradecer, agora vamos antes que Killian morra de esperar- Falo e ambas de nós rimos. Descemos e fomos para o carro encontrando um Killian um pouco irritado pela espera.

            Decidimos não ir para o shopping e seguir para o parque. Estiramos uma toalha de mesa no chão, pegamos uma cesta com frutas, bolos, sucos e colocamos sobre o pano. Killian havia trazido algumas bonecas da vizinha que também tinha uma filha menina. Ava cheirava a grama e ficava olhando a movimentação das pessoas.

            O tempo passa rápido e eu estava perto do lago com Killian e Nina olhando alguns peixes quando o telefone dele toca, paramos de conversar enquanto ele atende o telefone.

Enfermeira: --Alô? É o Sr.Jones?—

Killian : --Sim, aconteceu algo?—A esse ponto eu já olhava preocupada para Killian, será que teria acontecido alguma coisa? Não podia ser, ele estava bem ontem.

Enfermeira: --É o seu pai.... eu sinto muito.--