Os Frutos da Yggdrasill - Os Pomos da Eternidade escrita por O Filho de Júpiter


Capítulo 1
I - Um Smurf com muito fermento


Notas iniciais do capítulo

Esse é o primeiro capítulo, e para mim é sempre o mais difícil.
Espero que gostem e decidam acompanhar a história.
Boa leitura!



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Então, meu nome é Ivan e, pronto ou não, essa é a minha história:

Era meados de junho e a cidade toda estava agitada na última semana pois, apesar de São Miguel Arcanjo ser uma cidade de interior típica no estado de São Paulo, todo mundo estava animado com o início da Copa do Mundo. A maioria das ruas estava enfeitada com bandeiras do Brasil e decoração verde e amarela. Algumas pessoas saiam às ruas com os rostos pintados nas cores da bandeira do Brasil e vestiam réplicas (claro que falsas) da camisa da Seleção. Até mesmo onde eu morava (no meio da coffavelacof vila Paineira) o pessoal estava animado.

O som alto tocando funk, carros com bandeirinhas do Brasil e cheiro forte de churrasco, ah como o brasileiro adora churrasco... Era Copa? Sim, mas aqui as pessoas faziam festas quase todos os dias. Não que eles fossem ricos, mas é que o tráfico de drogas era o ofício do bairro. E quem minha mãe resolveu namorar? Isso mesmo, um traficante.

Eu nunca conheci meu pai e minha mãe não tinha "bom gosto para homens" (segundo a minha avó), então é claro que ela iria se envolver com o cara que menos presta nessa cidade. Ele sustentava o vício em drogas dela, ela fazia os "corres" pra ele, e assim eles se entendiam nessa simbiose nojenta.

—Ei moleque, traga logo um fardo de cerveja aqui. -Gritou o Bodão.

Cara, eu não suporto ele!!

—Pegue você seu folgado! Por acaso é aleijado? Não sou seu empregado não...

Todos os amigos dele pararam de conversar quando me ouviram falar com ele neste tom, e ele não deixaria isso barato. Mas eu não tinha medo dele, pois já havíamos tido umas brigas feias.

—Hahaha...-ele gargalhou no maior tom de deboche —Acho que você ainda não entendeu que o único aleijado aqui é você.

Pequeno detalhe que eu esqueci de comentar, eu sou paraplégico. Minha mãe ficou sabendo disso quando eu nasci. Parece que eu tinha alguma malformação que ela não lembrava o nome e só tinha 3% de chances de ar. Mas não rolou... Não sinto nada da cintura para baixo, não mexo as pernas, não ando, e estou condenado a viver essa cadeira de rodas.

—Acho que o termo correto é portador de necessidades físicas especiais, paraplégico ou, se for muito difícil para você, cadeirante está bom. -Retruquei fazendo os amigos dele começarem a zombar e vaiar ele.

Eu podia ver o sangue dele fervendo e fazendo-o ficar vermelho, seu olhar ilustrava sua vontade de se livrar de mim e me mandar de cadeira de rodas pra vala. Gostaria que ele tentasse, não seria uma luta fácil mas eu não tinha medo de enfrentá-lo.

Com muito custo e contra a minha vontade eu fui para dentro de casa e peguei um fardo de cerveja para o meu padrasto e seus amigos. Quando estava saindo para o quintal vi a mochila do Bodão em cima do armário. Olhei para os lados para ver se alguém estava por perto. Abri o zíper e peguei um bolo de notas de cinquenta e cem reais.

—Ah moleque maldito!! Agora você vai ver o que é bom... e a sua mamãezinha não está aqui para te proteger.

Travei e gelei por completo, não tive coragem de me virar e encarar meu padrasto, apenas senti sua mão me puxando pela camiseta e me derrubando no chão. Ele me arrastou para o quintal enquanto gritava para seus amigos que eu estava roubando o dinheiro dele, o dinheiro que os amigos dele haviam trabalhado para conseguir pra ele.

—Agora eu vou te dar uma lição e te ensinar que ninguém rouba de mim, seu otário! 


***

Fui arrastado pela camiseta pela rua inteira, todos os vizinhos no portão das casas assistindo à minha punição. Minha calça havia rasgado por causa do asfalto, eu não sentia dor mas as minhas pernas estavam arranhadas a sangrando, enquanto o Bodão se encaminhava ao campinho no final da rua onde ele punia os que pisavam na bola com ele.

—Ai moleque, eu sou muito justo, então vou te dar uma chance de pedir desculpas e só vai levar uma surra. -disse o meu padrasto sorrindo para seus capangas como se fosse um político em época de eleição.

—Justo? Se existisse justiça um cara como você já estaria preso. -ataquei —Um traficante falando de justiça, tsc...

—Eu prefiro o termo "comerciante local", um empresário no futuro hahahaha. Mas enfim moleque, não quero perder a abertura da Copa, então vamos logo terminar isso aqui... Vou te contar até 10, e se você chegar até a calçada você está livre, senão eu vou te arramar naquela árvore até o final da Abertura da Copa. O que acha? Justo, né?

Nessa altura, todos estavam rindo da cena, alguns por acharem engraçado e outros por medo do Bodão. Eu só queria não ser paraplégico e poder encarar ele em pé e acabar com o sorriso no rosto dele. Eu ia abrir a boca para retrucar mas vi entre a multidão o meu melhor amigo, o Eric no meio da multidão.

—Faça o que ele diz Ivan, não deixe esse covarde te provocar. É isso o que ele quer! -gritou Eric.

Eric tinha sido meu melhor amigo desde sempre, e por melhor amigo eu quero dizer que era ele quem me ajudava empurrando minha cadeira de rodas na subida, era ele quem me ajudava com os problemas de acessibilidade e era ele quem me animava quando a depressão da minha condição batia forte. Acho que por ele ser criado pela avó e não ter irmãos, nossa amizade era mais forte. Só tínhamos um ao outro.

—Ora ora, o namoradinho do meu enteado apareceu. Fica de boas ai ou vai sobrar pra você também, Zé mané...

—Deixa ele em paz! -Gritei. Não deixaria ele machucar o Eric. —Anda logo e começa a contar.

O Bodão voltou a me olhar e colocou o maior sorriso que aquela boca cheia de dentes podres podia mostrar.

—Então vou contar até 10 moleque, e quero ver você andar até aqui. -Disse o Bodão mostrando a calçada com um revólver. 10... 9...

Eu não conseguia mais ouvir nada, deixei meu orgulho de lado e comecei a me arrastar pelo chão. As pedras no meio do mato machucavam minhas mãos e me arranhavam. Fiz o máximo de força que podia e invoquei a coragem que eu não tinha dentro de mim para me lançar para frente.

Vi o céu clarear com um raio e em seguida um trovão alto que tremeu até mesmo o chão. O dia estava claro, então não fazia sentido mas isso fez eu notar que o contagem regressiva já estava no 6.

Faltava pouco agora, e mesmo com meus braços cortados pelo mato, pedras e restos de lixo que o pessoal do bairro jogava no campinho, eu continuava me esforçando para rastejar pelo chão. Faltava pouco agora. 

—5... contava o meu padrasto-...4...
E então um tiro, bem próximo a minha mão.

—3 e já!. Acabou... Você perdeu hahahaha

—Ei, isso não é justo!!

—Como é mesmo que você disse? Algo sobre não existir justiça e eu ser um traficante... -ele disse com a maior cara de deboche da história.

Ele fez um sinal para seus comparsas que já estavam com a corda na mão para me amarrarem na árvore. Era o meu fim, eu seria ainda mais humilhado, seria espancado e não teria como escapar disso agora.

Então o Eric fez a maior idiotice da vida dele. Saiu correndo em direção ao Bodão com um pedaço de madeira na mão, gritando como se fosse um soldado do filme 300. Talvez fosse o ato mais corajoso da vida dele, mas ainda faltava uns dois metros para ele chegar no seu alvo quando dois capangas do chefe do tráfico o pararam.

—Quem tu pensa que é moleque. Ia tentar me dar uma paulada? Com você não vai ter punição, pra você é sentença. E eu declaro você.... MORTO.

Então tudo aconteceu muito rápido: o Bodão apontou a arma para a cabeça do Eric, meu amigo se debatia tentando escapar dos dois caras que o seguravam, meu não sabia o que pensar, então um mais um trovão ecoou no céu seguido, fechei os olhos e em seguida um barulho de tiro...Não queria ver o que tinha acontecido, mas precisava ver se meu melhor amigo ainda estava vivo.

Demorei um tempo para entender o que havia acontecido. Eu estava com o braço esticado em direção ao Bodão, a cabeça dele sangrava e meu amigo estava... bem!?

—Ah moleque, essa pedrada vai custar caro, vai custar a sua vida. E nem a drogada da sua mãe vai te ajudar agora. Vai morrer, e já está até mesmo deitado no chão.

O Bodão caminhava em minha direção, o revólver apontado para a minha cara, sangue por todo o rosto, e raiva exalando do seu corpo. E por um instante seu rosto mudou. Sua expressão estava vazia, os olhos arregalados e na sua cabeça havia um machado...

—Essa cara falava demais. E eu odiar quem fala demais. 

Meu padastro caiu no chão, e atrás dele estava um cara de mais ou menos dois metros e meio de altura. Pele azul com marcas no rosto como um vidro trincado ou um gelo rachando. Quando falava ele mostrava uma fileira extra de dentes serrilhados como de um tubarão. Os olhos amarelos irradiavam loucura e terror. E na sua cabeça haviam chifres. 

—Filho do Trovão, você pode vir comigo por bem ou posso te arrastar daqui. -Disse o gigante azul caminhando em minha direção. 

Eu estava morrendo de medo, claro, mas meu cérebro não entendia isso e sempre colocava palavras na minha boca quando não devia: 

—Obrigado pelo convite senhor Smurfético, mas já passeei demais e já me arrastaram o suficiente. Não sei se na Smurflândia vocês sabem disso, mas aqui nós temos um limite de por quantos metros um cadeirante pode ser arrastado por aí...

Não sei se ele não conseguiu entender o meu senso de humor estranho, ou se ele havia se assustado com a minha ousadia. (Gosto de pensar que é a segunda opção) Mas isso deu tempo para eu perceber que o Eric estava se levantando do chão, ainda meio grogue por causa do raio, eu acho... 

—Acha que é uma brincadeira? -Perguntou o monstro

—Claro que não! O senhor é grandinho demais para brincar. Aliás, minha avó não gosta que eu saia com estranhos, e você nem me disse seu nome. 

O gigante estufou o peito e disse todo pomposo:

—Eu sou Ymir, filho de Yimir, neto de Ymir, bisneto de Ymir, tataraneto de Ymir e descendente de...

—Já entendi... de Ymir... -Interrompi. —Desculpa, pode continuar...

—Descendente da longa linhagem de Gigantes do Gelo, responsável por cruzar os Reinos atrás, bem... você. -O gigante deu um sorriso. —Quando eu te levar o seu pai vai pagar pelo que fez ao meu irmão. Um filho por outro filho. 

—Desculpa cara, mas nem eu sei quem é meu pai. Ele se mandou e minha mãe nem lembra nome dele.

—Ah ela lembra! Lembra sim. Estou de olho em vocês há algum tempo... 

Se aquele cara sabia quem era meu pai eu gostaria de saber. Mas nesse exato momento o Eric estava correndo em direção ao gigante com um pedaço de cano de ferro nas mãos. Faltava mais de um metro e meio para ele conseguir atingir o monstro, quando com um aceno de braço o Smurf Ymir empurrou meu amigo para longe.

Com essa distração me joguei para onde o Bodão havia caído e peguei o revólver da mão dele. Dei 5 tiros no gigante. Enraivecido, e ileso graças à pele grossa que ele tinha. 

O Eric veio correndo mais uma vez. O seu cano de ferro nas mãos, que agora brilhava numa luz branca. Aproveitando que agora a atenção do gigante estava voltada para mim ele correu pelas suas costas, saltou mais alto do que era possível e cravou o cano de metal na pele do gigante. 

Ymir se debateu gritando e arremessando o meu amigo para longe. Tentei atirar no gigante mais uma vez mas a arma estava sem munição. Como que por reflexo peguei o machado que estava na cabeça do meu padrasto, mirei e acertei o gigante no pescoço. Ele jorrava sangue e gritou tão alto quanto um trovão. 

Se virou para mim e disse: 

—Eu gostaria de te levar vivo, mas você não quis colaborar. 

Com um movimento gravou suas garras na minha costa e me prendeu contra o chão. Tudo começou a escurecer e a última coisa que eu me lembro é de um raio seguido de um trovão. 


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Notas finais do capítulo

Então pessoal, é isso.
Não se preocupem, essa história não é One Shot! hehe

Comentem se gostaram ou não. Deixem críticas e sugestões.
Muito obrigado por sua presença aqui. ♥



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