Capítulo 13 - O resgate

O Lord afastou Severus gentilmente e perguntou, em voz fria:

- Ele o machucou... ou só o assustou?

Ofegante, Severus soluçou:

- Só...s-só assustou...

O Lord sibilou, desgostoso:

- Eu não imaginei que aqui você estivesse sendo bem-tratado, mas pensei que ao menos estivesse seguro. Dumbledore me pagará por isso. Onde está o rapaz que mandei para resgatá-lo, Severus?

- Está num cubículo sendo testado para ser aceito na Ordem da Fênix.

Os olhos vermelhos se estreitaram:

- É pior do que eu pensei. Lucius!

Só então Severus se dera conta de que o Lord não tinha vindo sozinho. Lucius se curvou:

- Sim, milorde?

- Seu filho estava fazendo avanços sobre meu servo. Como acha que devemos puni-lo?

Draco estava jogado num canto da parede, encolhido, temendo e gemendo de medo. Severus o olhou com desprezo.

Lucius respondeu, com uma voz fria:

- Ele não é mais meu filho desde que se bandeou para esses seguidores da Luz, meu Lord.

- Pai!... - fez o garoto.

- Crucio! - gritou o Lord, e Draco convulsionou, gritando de dor.

Os olhos vermelhos do Lord se voltaram para Severus:

- Você está perto de me trair, Severus. Posso sentir que o estou perdendo.

- Meu Lord...

- Silêncio! Ninguém pode ajudá-lo aqui, Severus, espero que se dê conta disso. As palavras de Dumbledore são vazias e sem qualquer significado. Ele mente para você. E você está disposto a me trair por ilusões que você sabe que não vão se cumprir.

- Meu Lord, por que disse ao príncipe Harry que eu era uma mulher?

- Se eu contasse a verdade, Severus, acha que ele viria? Acha que ele seria um herói para salvar um homem feio e usado como você? Você é distorcido, gosta de homens! Ele nunca vai gostar de você! Ele nunca viria. Eu lhe fiz um favor! Mas agora o desgraçado se vendeu a Dumbledore! Pirralho desgraçado! Brincou com você, mentiu para você como Dumbledore também mentiu. E eu me preocupo com você, Severus. Vim aqui e o salvei da humilhação de Draco. Você vê Dumbledore aqui? Não. Ele não se preocupa com você. Mas eu me preocupo. Eu vim pessoalmente, arriscando minha vida por você, Severus. Só eu faço isso por você. Ninguém, só eu. Só eu.

Severus abaixou a cabeça, deprimido. O que o Lord dizia fazia sentido. Mais sentido do que as promessas de amor de Dumbledore. Ninguém nunca lhe mostrara amor.

- Vamos embora daqui, meu Lord - suplicou Severus. - Por favor, leve-me daqui.

- Agora é tarde para isso, Severus. Você precisa conquistar minha confiança.

Ele entregou a Severus uma adaga pequena.

- Você precisa matar Harry Potter para vingar a mim.

Severus ficou branco.

- M-matar... Harry? Mas por quê?

- Porque seu precioso Harry pretende me matar. A profecia, o teste dele, é livrar-se de mim. Dumbledore o ajuda porque Dumbledore me odeia. Depois, Severus, provavelmente, você é o próximo da lista. Eles vão matar você.

- Eu? Mas por quê?

- Porque você seria um estorvo. Deve haver uma menininha bonitinha prometida a Harry por Dumbledore. Não tem?

Severus sentiu seu coração se apertar ao lembrar das palavras de Hermione: "Eu fui prometida a alguém." Oh, não! Seria Harry esse alguém de quem ela tinha falado? Estava tudo combinado? Eles o tinham traído?

Sua decepção deve ter se mostrado, porque Voldemort comentou:

- Vejo que sabe até de quem estou falando. Pois bem, escute as minhas palavras: eu quero a vingança negra. Traga-me o coração de Harry Potter. Arranque-o de seu peito com essa adaga, ou eu o deserdarei, Severus. Sou a única pessoa que o tolera, e se você me falhar, eu vou desprezá-lo. E você estará sozinho.

Severus estava aterrorizado.

- Meu Lord!...

- Sem mim, você estará sozinho, Severus. Sem ninguém. Pense nisso.

Antes que Severus tentasse argumentar com ele novamente, Lord Voldemort já tinha ido embora, numa nuvem negra.

Severus encarou a adaga em sua mão, o coração em tiras. Harry o enganava? Dumbledore também? Teria sido ele um tolo por acreditar que podia ser feliz?

Então ele ouviu um barulho no canto. Draco se erguera e avançava na direção dele. Severus segurou a adaga com força e sua voz tremeu:

- Não se aproxime de mim.

- Como ousa me recusar, Severus? Você é feio e repulsivo. Entretanto, me olha como se eu estivesse coberto de excrementos. Ou será que você tem coisas mais repulsivas no seu coração? Coisas como... assassinato? Está pensando em matar o belo príncipe, sua coisa feia?

Severus abriu a boca, mas nenhum som saiu dela. Ele não sabia o que falar. Matar Harry? Isso era impensável...!

Foi então que um outro clarão relampejou no quarto. Dumbledore encarou os dois.