Casa da Colina escrita por purplespook


Capítulo 6
Esta afim de dar uma volta?




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— Ei ei ei ! onde estava?!

Samanta, minha mãe, pergunta sentada no sofá da sala quando bato a porta atrás de mim e caminho até o meu quarto.

— Doris !

— O que foi ?!

    Voltei alguns passos para olhar pra ela.  Tiro minha jaqueta de moletom que estava encharcada.

— Onde você estava? São oito da noite Doris, onde esteve depois da aula?

Pensei em contar o quanto minha tarde foi incrível com os garotos, que os tinha encontrado e que também...

— Fui fazer um teste, só isso.

— Teste do que? É do colégio?

— Sim mãe !

Obviamente não ia dar detalhes. Acho que ela imaginou que eu estivesse fazendo testes super intelectuais sobre as matérias do colégio, pensando no meu futuro e na minha faculdade.

Apenas disse e virei as costas com um sorriso no rosto. Quem sabe eu conte mais tarde, ou não... tanto faz. Era melhor assim.

— Espera! espera! espera! – minha mãe adverte antes de eu entrar em meu quarto – Vamos jantar na casa da sua avó Alice mais tarde Doris, fique pronta antes do seu pai chegar do escritório.

 

***

 

Ok , casa da avó Alice.



A casa de minha  Vó Alice era uma típica casa de vó, com um belo jardim e ambiente aconchegante com cheiro de coco de confeiteiro.

Depois que Ulisses faleceu e eu fui morar com os meus pais, minha avó se mudou para uma casa menor e adotou alguns animais de estimação como felinos e pássaros, e sim, todos viviam pacificamente juntos na pequena casa. Ela era uma senhora de 71 anos que fazia biscoitos e doces maravilhosos, sempre usando vestidos floridos até os joelhos e seu cabelo sempre cacheado preso por grampos,cabelos tão branquinhos quanto posso me lembrar, tão branquinhos quanto os meus são hoje.

Naquela noite, logo que cheguei, vi o carro do meu tio John, o irmão mais velho de meu pai e Ulisses estacionado na rua em frente a casa de jardim bonito.

Ok. John Birnfield, advogado, três filhos os quais eu não tinha contato a muito tempo (até hoje na verdade, mal os conheço) com vida relativamente perfeita, uma esposa fiel e uma bela conta bancária, uma casa incrível, uma vida incrível, um jurista incrível... Ou seja , um cara com carreira e vida invejável, muito bem sucedido financeiramente e pessoalmente. Meu pai era apenas um economista e não ganhava muito dinheiro com a sua profissão, era só o suficiente, e sempre se arrependeu de não ter escolhido uma profissão como a do irmão mais velho. John era um dos filhos de mais orgulho de Alice, apesar de nunca ter deixado isso claro. Era realmente respeitado nos Birnfield, porém o que mais dava bola para a família, e isto desde sempre!

         Alice tivera um filho economista, outro advogado e outro... bem, Ulisses... músico... falido... morto.

 

É claro que tinha que ter alguma coisa para o meu dia ruim!

           Por que o meu tio John, um cara que mal eu conhecia poderia deixar um dia tão bom quanto aquele se tornar ruim?

Simplesmente os respondo que aparentemente eu não sou como todos da minha família e principalmente como John. Eu não ligo para o carro do ano que tal pessoa tem ou a roupa nova que ele comprou semana passada e quanto ela custou, ou porque eu não tenho um futuro brilhante como a do poderoso John Birnfield e da sua filha mais velha, que seguia os mesmos passos do pai, ou os filhos mais novos que com a minha idade participavam de diversas atividades que se destacavam intelectualmente. Eu não ligava para isso, não ligava para os paparicos e admirações dos Birnfield, nesse ponto sou muito parecida com tio Ulisses, ele nunca ligou para os irmãos brilhantes e inteligentes dele.   

A família Birnfield reunida era um verdadeiro tédio de paparicos, tudo que eu mais detestava. Gostava da minha querida avó Alice, apenas dela.

 

— Fiz um monte de comida que você gosta querida. - minha avó coloca algumas batatas no meu prato, ela e seu belo vestido florido até os joelhos – Você é tão magrinha.

— Deve ser genética Vó- brinquei.

— Mas eu não sou tão magra. - ela ri – Querida, não é por nada , mas precisa pentear esse cabelo. - ela passa a mão sobre os meus cabelos que ainda estavam molhados e riu

— Sempre estou precisando penteá-lo avó!

 

    Pacientemente e tediosamente inerte permaneci naquela noite em volta da mesa de jantar. As pessoas em volta da mesa mexiam os lábios mas eu não ouvia sons, não queria prestar atenção neles. Eles riam e bebiam um vinho que devia ser caro. Eu pensava em Ulisses. Olhei em volta, não havia lugar vago na mesa, não havia vaga para Ulisses, nem mesmo se ele ainda estivesse entre nós, nunca houve lugar para ele, não aqui.

 

— Hoje a Doris fez um teste a tarde no colégio. – Samanta me arranca dos meus pensamentos ––Conta direito o que é isso Doris!

— Teste de que Doris ? – minha avó pergunta depois de dar um gole em seu suco de laranja. Ainda posso sentir o gosto do suco da minha avó, a melhor bebida do mundo.

— Testes sabe... – respondo de forma tímida  e tentando criar uma desculpa muito boa, ou que pelo menos valesse a pena me gabar.

— Tão logo as aulas começaram já estão fazendo testes de eficiência!

    Comentou Audrey a Mulher ao lado de John, o qual prefiro não chamar de tia. Acredito que um dos filhos de John Birnfield tenha comentado algo, eu não quis prestar atenção nem prosseguir e beberiquei o suco de laranja em meu copo.

— Quem fica até tarde no colégio é porque estava em detenção.

Exclamou John, a quem prefiro não chamar de tio, do canto da mesa com um pequeno riso, usando o seu terno azul e gravata, sua pinta de “cara rico bem sucedido” é enjoativa. O encarei por alguns segundos cínica por baixo, mas ele não reparou, ele nunca repara. “Que se dane”, eu pensei.

— Na verdade eu estava fazendo um teste para a classe avançada de música. - falei e todos na mesa me encararam pela primeira vez naquela noite-E passei!

Forcei um sorriso e voltei a bebericar o suco de laranja. Eu nem sabia se havia passado ou não, mas isso não importava não é? Todos estavam ali para se gabar mesmo.

— Isso é incrível querida ! Parabéns ! – Vó Alice se levanta e dá alguns passos até o meu lado para me abraçar.- Ah veja só, você puxou os talentos e gostos por música do nosso querido Ulisses. Eu me lembro como se fosse ontem quando o seu avô Otávio deu de presente o primeiro violão para Ulisses. Ele desejou tanto um que o presenteamos no seu aniversário. Era tão engraçado de ouvir suas primeiras notas no violão Doris, ele não era muito bom no início mas nunca desistiu.

— Mãe ! para que tantos mimos se a senhora nem sabe exatamente o que é isso. –  John se manifesta novamente. –  Você ainda continua com essa história de música? Pare mesmo o meu irmão. Não gosto disso. Acho que você deveria se preparar para a faculdade, tirar boas notas arrumar um emprego…

— Porque não gosta disso? Não vejo problema em levar a música como profissão.

— Música não é uma profissão. É coisa pra gente que não cresceu, não amadureceu e não tem responsabilidades…

— Doris sempre gostou de música… Estamos pensando ainda na faculdade que ele irá.- Disse Tony, meu pai. - Eu e Samanta estamos pensando em algumas universidades, mas acho que ainda está cedo para falarmos nisso...

— Doris precisa de um emprego. - Disse John, interrompendo meu pai. - e não é tarde Tony. Minha filha com a idade da Doris era presidente de alguns clubes e equipes relevantes no colégio e isto fez com que as universidades a disputassem. Hoje Cora está em Harvard, onde eu não pude estar porque nunca ninguém me orientou como eu a orientei. E o Junior e Antony são tão bem orientados quanto a irmã. Junior tem um apreço por engenharia, já Antony…

— Fui muito bem orientada também. Por Ulisses.

    Eu disse e todos voltaram a atenção a mim por ter interrompido. Claramente o meu comentário não havia agradado John Birnfield, já que ele tinha a tendência de insinuar que seu irmão mais novo era, digamos, um fracassado, costumava dizer que ser irmão mais novo era um problema social, já que não tinha um emprego fixo nem lugar para morar. Era o que ele via de Ulisses, mais só eu sei que ele era muito mais. Não eram irmãos que se davam bem. Na real, eles se odiavam. Mas sempre achei que John tivesse inveja da liberdade do irmão, eu teria.

— Então você acabará como o seu tio Ulisses, um fracassado.  - Ele cospe as palavras e se endireita na cadeira

Todos a mesa silenciaram. Ninguém defendeu a memória de Ulisses. Alice derrubou o garfo na mesa se levantou e se retirou. Audrey e Samanta foram atrás dela. Meu pai me jogou um olhar de decepção.

— John, por favor! - Disse Audrey.

—Ulisses não era! - tentei defender

—Sim, ele era. Ele não tinha nada! Até a mulher que ele tinha o deixou, e com razão, com aquele homem ela não teria futuro, ele nunca construiu nada na vida só pensava na porcaria da música dele. Agia como se fosse um garoto imaturo com 30 anos e não tinha vergonha disso! Além que estava sempre bêbado com aqueles amigos da banda tão fracassados quanto ele. E onde ele está agora? Onde ele chegou com a música e a banda dele? Isto mesmo, ele está morto! E mesmo se ele estivesse vivo, estaria nesta mesma velha viagem de ser músico e fracassado. Pelo menos morto não incomoda ninguém.

    Uma lágrima quase rolou dos meus olhos, aquilo foi forte, muito forte. Me levantei da mesa. Eu nunca fui uma garota de personalidade rebelde. Só queria ter dito palavras que fossem suficientes para defender Ulisses.

— Ulisses pelo menos foi um homem melhor que você John ! - Eu tentei. – Mesmo que ele tenha sido o fracassado que você acha que ele era, ele foi muito mais do que ele parecia ser. Acabe com a reputação dele, diga o que quiser, mas ele era muito mais do que você, um idiota arrogante!

—Está vendo Tony! Sua filha mal educada. Você deveria educar ela…

Não fiquei para ouvir o que John tinha a dizer sobre mim, sai de perto deles e da casa fui caminhando sobre a rua sem perceber.

Para onde eu iria? Para casa? Eu nem estava com as chaves. Que maldita noite fria. Um vento após chuva e pré tempestade.

“Eu queria poder vê-lo uma última vez e poder abraçá-lo”.  Pensei enquanto caminhava. Foi o melhor que fiz para defendê-lo, desculpe.

Foi então que lembrei dos garotos e tomei um rumo, um caminho que minha mente vasculhava para se lembrar, torcendo para que ainda estivesse fresco em minha mente.

 

***



— Esta afim de dar uma volta? – perguntei assim que James abriu a porta de sua casa.

— Quem é filho? – Pergunta uma voz atrás de James, e ele abre a porta por inteiro.

Em pé, no meio da sala o dono da voz. Um cara tão alto quanto James e um tanto parecido com ele. Loiro de cabelos curtos e um belo par de olhos azuis como os do filho.

Marcelo Lindstorn, ou Lizzy se preferir. Ele estava tanto mais gordinho contudo nada velho, havia uma barba doubara no queixo, mais estava exatamente como eu lembrava. Seus olhos seus tão belos olhos, a mais bonita tonalidade de azul, isto eu lembrava bem.

— Eu... n-não acredito! - ele gagueja um pouco e da uma pausa. - Doris? A pequena Doris Birfield? Como... como você cresceu , você está tão .. alta !

Ele me abraça forte como se nunca mais fosse me soltar.

— Uma vez um cara me disse para eu cuidar de você, mas eu não pude cumprir.

Lizzy disse assim que me desprendi de seus braços. Não sei explicar o que senti mas foi tão sincero e forte. Aquilo me fez sorrir e segurar minha vontade de chorar, apesar de eu querer desabafar e contar o que John havia dito… mas não, aquele não era o momento. Acabei por deixar passar e fiquei tranquila ao ver o belo olhar de ternura dele por mim.

 

Lizzy foi quem ficou as últimas horas com o meu Ulisses antes de ele morrer. Até onde sei, Ulisses ficou prensado entre o parabrisa do furgão e o caminhão, se fosse retirado, perderia a vida, e quem ficou ao seu lado até ser retirado e ir para o mundo dos mortos, foi o seu melhor amigo.

— O que houve Marcelo?

Era a voz tão nítida de Helena, esposa de Lizzy. Entrei na casa dos Lindstorn e Zach descia correndo as escadas, Kato vinha da cozinha com um sanduíche em mãos.

— Ai meu deus! Doris! Você está tão ... tão... linda !- ela sorri

    Ela ainda era tão bonita de doce. Helena sempre feminina e delicada, com uma voz doce e um lindo delineado nos olhos azuis. Ao contrário dos filhos e de Lizzy, possui cabelos negros, longos cabelos negros, a pele muito clara e um sorriso gentil.

— Parece que foi ontem que vi aquela garotinha de cabelos compridos.

—Ainda tenho cabelos compridos, tia Helena.



— Como vocês a encontraram e não me falaram nada?  – Tio Lizzy pergunta aos garotos assim que sentamos todos na sala com o sofá vermelho

—Vocês já tinham se encontrado? - pergunta tia Helena.

— Quem a encontrou foi o James pai. - comentou Zach

— Iamos te contar agora no jantar. - disse Kato

— Encontrei ela hoje no colégio pai. - James explica - Para o teste da classe avançada de música com o Sr. Alder. E depois nos encontramos na Aquarius Records, na loja do Lion.

—Ah sim, você comentou… sim, sim. Isso é muito legal!  Então você continua com a música? Ora, Alder é excelente professor, falei isso pros meninos, vai ser ótimo para vocês aprenderem com ele!

—Doris toca muito pai !- James comenta

— Imagino o quanto deve mandar bem! Sendo sobrinha de Ulisses Birnfield! - e ele da uma gargalhada engraçada - Parece que consigo ver Ulisses tocar, nunca vou me esquecer do som que aquele doido fazia.

— Eu também. - comentou Kato - Aprendi muita coisa com Ulisses e o meu pai.

—Não vamos esquecer do nosso querido Peter, apesar que ele está quase aqui em pessoa não é mesmo filho?! - Lizzy brinca com a nítida semelhança entre Kato e seu pai.- Sei que devem sentir saudades dos velhos da Eleonore, todos insubstituíveis. Bom, fico feliz que está bem Doris, nós sentimos muito a sua falta, e sei que os seus pais eles só… só estava te protegendo. Eu não sei o que eles disseram sobre mas...

— Aquilo não foi me proteger – interrompi  

—Não foi mesmo. Foi idiotice o que fizeram pai, você devia ter ido até eles e arrancado a Doris de lá. - Zach expressa. - Não somos algo ou motivo de proteção!

— Talvez eles pensassem que fosse mesmo te proteger. Não tiro a razão do que eles fizeram.

    De alguma forma havia um pesar na voz de Lizzy que o fez refletir, seu semblante se entristece, e percebi que Helena também percebeu. Ela pôs suas mãos sobre a de Lizzy e ele balançou a cabeça.

— Então eu não entendo o que é "proteção" - dei ênfase.

—Não culpe seus pais Doris eles sabem o que é melhor para você.

    Disse Helena. Lizzy não voltou os olhos para mim novamente e permaneceu em silêncio, suas bochechas coraram, ele se levantou e saiu da nossa presença e Helena o seguiu.

—Ele não costuma falar sobre. - disse Zach. - E quando fala é sempre… Você sabe.

—Pelo jeito não é só entre os Birnfield que se fala em… no que aconteceu.

— É melhor não falar. - disse Kato por fim, e nós ficamos em silêncio por um tempo.

— Doris! - James interrompe me tirando dos meus pensamentos – Você não queria que eu fosse com você dar um volta?

Naquele momento eu não pensava em mais nada, só queria ficar ali com eles, talvez passarmos mais algumas horas escutando música e falando sobre Ulisses e Peter, queria que Lizzy nos falasse mais dele mais pelo que eu já havia percebido não era um assunto a se conversar com Lizzy, e le não havia retornado ao cômodo em que estávamos.

— Ah é.. acho que sim .. eu só…

— Vamos?

— Sim, vamos!

—Como assim dar uma volta? Você acabou de chagar! - Zach se manifesta, sua expressão me fazendo rir.

— Ei! Irmão, Doris me convidou antes! - disse James dando ênfase - Porque não atendeu a porta antes?



***



Eu e James fomos caminhando pela rua, sem destino é claro. Ele andava na minha frente por algum motivo olhando para as estrelas no céu escuro. Não nos falávamos, nenhuma palavra

Aquilo estava extremamente chato.

—Como você aguenta?

Por fim ele quebra o silêncio, pareceu uma eternidade o tempo que havíamos saído de sua casa até ali.

— O que? – perguntei.

—Isso – ele acenou com as mãos para cima.

— De ficar calada por muito tempo seguindo um garoto que fica olhando para as estrelas? Isso é um pouco... se lá – brinquei.

— Claro que não !

— Então o que?!

— Esta irritada? – ele pergunta de forma irônica aprofundando seus olhos em mim e aproximando seu rosto do meu.

— Por que pergunta?

Dei  um passo para longe dele. Estávamos bem próximos. Ele me encarou e riu.

— Como aguenta as pessoas sendo legais com você? Dizendo que sentem sua falta.

— Na verdade isso é bem novo pra mim - passo por ele  o deixando parado na rua. Olho para trás para ver se ele está me seguindo e o encontrei parado olhando para cima novamente – O que foi?

James parecia embasbacado com céu ou as estrelas, não é algo normal de se ver, digamos.

—Você não disse que sentia minha falta. – ele ainda olhava para cima.

— você também não disse.

Resolvi olhar para o céu junto com ele. Não havia nada além do que sempre está lá todas as noites, o céu negro e o mesmo punhado de seres celestiais em inércia, que aos nossos olhos são míseros pontinho brilhantes na imensidão negra.

— Eu não disse porque você não me disse, é assim que funciona. - ele ainda estava com os olhos fixos no céu, e eu o acompanhando.

—O que está olhando ?

—Você sentiu minha falta?- ele olha para mim. Virei minha cabeça e cai em seus olhos azuis,  que estavam mais brilhantes que os seres celestes que antes observamos.

— Sim, eu senti a sua falta James. - minhas palavras foram tímidas e em involuntariamente se seguiu um sorriso em meu rosto.

— Por que esta rindo? - ele pergunta.

—Você sentiu minha falta James? – pergunto ignorando sua pergunta.

— Ah...- agora ele começa a caminhar. – Onde quer ir? Ou vamos continuar olhando para o céu que nem uns babacas?

Ele continuou andando me deixando para trás. Percebi o quão foi idiota eu ter olhado para cima também. James se volta para mim. Eu continuei parada vendo ele se afastar.

— É , eu senti a sua falta Doris.

     Ri timidamente.

— Onde vamos? – perguntei.

— Aquarius?

— Isso é uma pergunta?

— Eu gosto de lá ok! – ele disse de forma engraçada.s



Era tarde da noite, porém a loja ainda estava aberta.  O loiro passou pelo ruivo, o Lion e o comprimentou, depois passou pelos corredores e pegou os CDs das bandas que ele gostava. Resolvi pegar aquilo que eu gostava, e James não gostou nada de ouvir.

 

— como gosta disso?! Isso não é música, são urros! - ele fazia uma expressão engraçada

— claro que não ! É que você não escutou direito.

Eu ria muito com a expressão dele, ele tirou o Spiritual Healing com a ponta dos dedos com uma expressão de nojo mais muito engraçada e colocou o CD dentro da capa.

— Isso aqui é música!- disse.

    Passei os olhos sobre o que ele tinha em mãos, só vi que era do Bon Jovi. Eu gostava de Bon Jovi.

— O que mais sente falta? – ele pergunta enquanto coloca o CD para tocar.

—De que? – perguntei.

— Não sei, talvez da gente.

— De mim e de você? De tudo, eu diria. Éramos tão unidos. Gostava de estar com você... – dei uma pausa para encarar os lindos olhos de James. -  Mas eu odiava os seus ciúmes de quando eu estava com o Zach.

Brinquei, só para ver se ele se importava, e se ainda era aquele chatinho de que eu lembrava.

— Eu não tinha ciúmes ! – James expressou com uma voz engraçada e me fez rir alto novamente.

— Lembra das nossas férias, nos dias que choviam com tempestades? Sinto falta de alguém com medo. Sempre lembro de você.

— Eu passei muitas noites de tempestade com medo. – ele ri tímido.

— Ainda tem medo disso? – pergunto

— Não !

 

A música ainda não estava tocando, acho que ele estava esperando eu o responder para apertar o play e o CD começar a tocar. Apertei o botão. Era o álbum Cross Road. James se aproximou de mim com o fone em mãos para que escutássemos juntos.

— Do que você sente mais falta? – pergunto enquanto tocava Livin’ on a Prayer, um clássico.

— De uma amiga.

Escutamos a música naquele mesmo silêncio que ele tinha após responder suas perguntas. Nossos olhares se cruzavam discretamente e frequentemente, e se repeliam tímidos. Eu com um sorriso bobo no rosto, e James permanecia sério e concentrado na música, as vezes comentando algo sobre os caminhos que a harmonia da música passava, e as vezes sobre como era a entonação na voz de Jon Bon Jovi, ele sempre foi muito fã.

— Sempre tão sério!

Brinquei com James e apertei as bochechas dele até fazer biquinho.Agora estava tocando Keep the Faith.

—Xou xempri xério

Ele fala entre o seu biquinho, me fazendo rir. E aperta as minha bochechas também.

—Xaai !Você é muuuito sériiio!

— Claro que sou !

—Você é um mistério pra mim James.

—Um mistério ?– ele olha rápido para mim, nossos rostos bem próximos, tanto que sentia sua respiração.

—Sim  !

— Como assim?! - ele pergunta rindo e eu dei de ombros.

James me encarou por longos segundos, inclinando seu rosto para mim fazendo nossos narizes se tocarem. Como ele conseguia me deixar assim?

— Ai meu deus ! – exclamei quando começo a introdução da terceira música do álbum – Eu adoro essa musica !

— ALWAYS ! – falamos juntos em voz alta.

Always sempre foi a minha música favorita.É linda e envolvente, como se preenchesse o meu coração. Ela é única e eu me sinto conectada a ela. Não é exagero, é apenas o que eu sinto, algo que não sei explicar e tipo... é só uma música.

— É a minha favorita ! – ele fala, quase tocando nossos narizes novamente e me prendi em seus olhos.

Começamos a cantar a música Always juntos. A princípio, em voz baixa, mas não nos controlamos quando chegou no refrão. Não deu para segurar, era nossa música favorita! Foi bem louco.

Eu vi um ruivo Lion no balcão rir e mais algumas pessoas.  Meu coração se preenchia com a música e com a presença de James. Acho que ele era o lance da música, a lembrança que nunca existiu e que eu imaginava enquanto escutava aquela música. Era bom estar ao lado dele, era bom cantar junto com ele... nossa música favorita. Ele me encarou com seus belos olhos de uma azul incrível. Parece que já sinto seus lábios nos meus, mas isso seria mais loucura ainda. Ele encosta seu nariz no meu de forma lenta, sinto sua respiração. Ele toca nos meus cabelos longos e depois no meu rosto.

— Eu tenho que ir James. – disse e fechei os olhos só esperando pelo que podia acontecer.

— Por que agora ? – ele se afasta.

— Porque sim. Não posso explicar agora.

Vou dando passos para trás me afastando dele

— Tudo bem... Depois eu que sou o misterioso! – ele ri - Posso te acompanhar ?

— É que .. desculpa mais você não pode ir comigo.

Ele abre a boca para dizer algo mas antes que ele pudesse dizer eu tapei sua boca com as minhas mãos, para evitar que ele seja insistente e não me entenda, conhecendo James como conheço...

— É o seguinte, eu tive uma discussão... não era exatamente um discussão.. era tipo um desrespeito merecido ao meu tio, o John, lembra dele ?- ele balança a cabeça, minha mão ainda tapando a sua boca - E foi por isso que eu fui até a sua casa. Eu fui para poder... para poder contar para você e me sentir melhor, e olha só você conseguiu e eu nem precisei te contar, obrigado ! – ele balança a cabeça novamente - E se eu chegar em casa agora com você, terei um castigo bem pior. Sim, eu tenho quinze anos e ainda levo castigos! O fato é que não contei a eles que encontrei vocês. Não quero que afastem vocês de mim novamente, eu tenho medo disso. Desculpe eu falar tão rápido mais é sério, eu preciso ir!

   


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Notas finais do capítulo

CARAMBA QUE CAPÍTULO ENORME EU TO FICANDO LOKA !!!
pois é não deu p ficar menor,se eu diminuísse ia ficar um capítulo sem graça

mais e ai, o que acharam? deixem nos comentários o que acham q vai acontecer com Doris e James hehe


Álbuns / musicas citadas:

ALWAYS com toda certeza do mundo a minha musica favorita da vidaaa, e eu não podia deixar de colocar na fic, e ela vai aparecer muito ai segue o link
https://www.youtube.com/watch?v=9BMwcO6_hyA (original)
https://www.youtube.com/watch?v=SoA4pA2LNWU (tradução) É PERFEITA D+++

SPIRITUAL HEALING não consegui encontrar o link com o álbum todo, sorry , mas como James só conseguiu suportar a introdução da primeira musica do álbum, aqui vai o link da LIVING MONSTROSITY (será que vocês suportam o thrash mais que James? eu adoro essa musica!) https://www.youtube.com/watch?v=d6G2eSpXmUI

CROSSROADS também não consegui encontrar!!! mais super recomendo, é um clássico!! na fic tocou LIVIN ON A PRAYER então segue o link https://www.youtube.com/watch?v=lDK9QqIzhwk saaalve a era glam


beijos



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