Você Me Completa escrita por Little Flower


Capítulo 9
Remorso


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu! Perdão pela demora!
Estava morrendo de saudades de todos! Espero que gostem do capítulo... Obrigada quem ainda acompanha e seja bem vindos aqueles que estão chegando agora.
Leiam as notas finais



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[Caleb]

Engoli mais um pouco da minha Coca Cola, alternando o olhar entre os presentes na mesa, o clima ameno.

O gelo inicial tinha sido quebrado quando Toby numa tentativa de me fazer sentir à vontade contou mais uma das histórias cômicas de Hanna e ainda que suas bochechas tivessem adquirido um tom mais escuro que rosa, a mesma gargalhava divertida ao ponto de segurar a barriga enquanto ele citava cada detalhe do dia animado que passaram nas férias de verão anos atrás onde tudo aconteceu. Parecia ser o tipo de coisa que Ted deveria fazer, mas contando que o homem não gostaria de colocar a filha numa saia justa de novo, achava que ele seria incapaz de contar esses fatos hilários. 

Até mesmo eu não consegui segurar a risada por muito tempo. Hanna não pareceu se importar tão pouco, estava concentrada em rir dela mesma. Se fosse qualquer outra pessoa, o máximo que faria era fechar a cara com chateação. Mas aquela era Hanna. O ser mais diferente que eu já encontrei na vida. Nunca havia me deparado com alguém que passasse vinte de quatro horas com sorrisos gentis apesar de que pelo que descobri de sua vida, ela poderia simplesmente privar o mundo disto.

O papo fluiu sobre tudo, profissões, carreiras, um pouco da vida pessoal de cada um o que incluía relacionamentos, ambos esboçaram expressões abobalhadas quando as mencionaram o que me pareceu engraçado, Toby estava noivo de Spencer, e Ezra numa relação que se estendia há dois anos com Aria, amigas de Hanna. Fiquei aliviado por não fazerem menção ao nome de Miranda, minha ex-namorada maluca... Apesar de ter achado agradável suas companhias, eu estranhava a sensação de vivacidade, de ser normal e livre, até mesmo agora com parte do meu cérebro querendo me aborrecer ao me recordar da péssima discussão com Victor antes de buscar Hanna em casa.     

— Eu disse que não ia ser tão ruim, olha só, Ezra até fechou a lanchonete mais cedo... — comentou Hanna enquanto acenávamos para meus recém amigos parados debaixo da placa apagada escrita The Brew, a lanchonete mais badalada e frequentada por todos os residentes de Rosewood, ninguém era capaz de resistir ao cardápio extenso do lugar, tinha de tudo. Era quase um Starbucks, na verdade bem mais criativo que qualquer local.

Andávamos lado a lado na noite fria em direção a Joy, estacionada ali próximo, a vi abraçar a si mesma sobre o casaco de couro marrom.  

— Legal da parte dele. — respondi não tão surpreso assim, essas coisas aconteciam frequentemente comigo. Esse pensamento trouxe uma sensação ruim, como se soasse bossal demais. Me senti desconcertado na presença da loira, como se ela pudesse ler meus pensamentos e estivesse ao ponto de me deixar constrangido com seu comentário sincero, como naquele dia em que procuramos um lugar para mim, onde eu pisei na bola e fiz uma piadinha de mau gosto. Parei a caminhada inconscientemente.

— Caleb, tudo bem?

Virei o rosto para encara-la, o semblante preocupado, pela minha visão periférica observei bem mais distante Ezra e Toby ainda olhando para nós. No fundo eu sabia que eles ainda não conseguiram digerir o começo dessa amizade repentina, eu não os culpava, talvez estivessem preocupados com ela.

— Sim. Por que não estaria? — fora o desentendimento com Victor, Caleb?  Indaguei a mim mesmo. Sentia um incomodo enorme ao pensar nisto. Eu já tinha passado por coisas parecidas infinitas vezes e sempre acabava me deixando ser controlado por seu jogo de ameaças, porém talvez isso tivesse mudado. Eu não queria me mandar daqui, era cedo para dizer, mas eu me sentia conectado a Rosewood novamente e a Hanna também, de uma forma surpreendente e nova para mim.

— Eu não sei, mas saiba que eu estou aqui para o que precisar, tudo bem? — explicou em sua voz doce e terna, tocando meu braço de leve enquanto retomávamos nosso caminho. Senti-me muito melhor após suas palavras reconfortantes, como se tivessem o poder de afugentar a sensação esquisita. Eu tinha alguém para contar agora. Era incrível a mágica que ela possuía para me acalmar.

Sorri de lado devolvendo o de covinhas que ela esboçou para mim. O que eu gostava.

— Obrigado, Han, mesmo.

Agradeci sinceramente reagindo de forma estranha cavalheiresca, abri e fechei a porta do carro para ela, que respondeu obrigada num jeito contido e bochechas queimando, sorri com aquilo, tão encantadora. As garotas que me viam agiam igual, só que com Hanna, para mim, tudo me soava adorável demais. Adorável? Palavra nova no meu vocabulário. Sentado no banco do carona rodei a chave e rumamos em direção a casa dos Wilson, onde poderia imaginar Ted aguardando nossa chegada ansioso, eu o admirava por sua confiança total na filha. E o mais impressionante: em mim. Talvez ele enxergasse coisas em mim mesmo que nem mesmo eu conseguia.

— O pessoal está sendo legal com você? — me senti à vontade de iniciar um papo leve, mesmo que o silencio no ambiente refletisse agradável para nós dois. Na rádio uma música suave ecoava pelos cantos do carro.

— Oh, sim, sim. Mais que legal na verdade, o que é estranho. — olhei de esguelha para ela, que riu compreendendo — tudo bem, eu sei o motivo, mas não pense mal de mim, Caleb, eu nunca quis essa atenção toda.

— Fica tranquila, Han, eu jamais chegaria a esse ponto. Sem chance. — neguei com a cabeça. 

— Bem, eu fico mais calma em ouvir isso... Você sabia que, hum, eu era líder de torcida?

— Não, você? Conte outra! — eu não estava surpreso com essa notícia, Hanna era uma garota carismática e claramente se dava bem mexendo pompons em coreografias sincronizadas... Eu dividia a atenção entre Han e o trânsito habitual da cidade, nada havia mudado realmente, nem mesmo a estabilidade. Aparentemente somente eu. 

Ela riu gostosamente.

— Eu mesma, eu costumava ter muitos “amigos” — o sorriso em sua face mantido até o momento vacilou um pouco assim como seus olhos, duas orbes opacas — popularidade, essas coisas, mas foi só eu cometer um deslize e “bum” todos viraram as costas para mim. — ela soltou um suspiro enigmático.

Um momento de silencio, diferente do que eu quebrei, aquela quietação soava melancólica e cheio de significados. Hesitei duvidoso, não querendo ser intrometido ou invadir seu espaço. Dei uma olhada de relance e até mesmo Hanna aparentava um ar pensativo.

— E qual foi o motivo?

— Eu ter ficado acima do peso.

Aquilo parecia uma bobagem tamanha, excluir alguém por aquele simples fato, mas eu me lembrei de que as pessoas podiam ser cruéis quando queriam, ainda mais quando há popularidade em jogo. A meu ponto de vista essa rotulação era ridícula e não acrescentava na vida de ninguém. Não seja hipócrita, Caleb. Você liga para isso no fundo. A vozinha petulante ladrou de novo... Eu não me importava com a fama em si, eu tinha talento, tocava violão e sabia cantar, e eu queria ser reconhecido por isso partilhar experiências com as pessoas. E o que te faz pensar que é tão diferente assim deles? Do Noel ou de qualquer um?   

Subitamente senti uma onda de mal-estar e ira, voltando dias atrás quando aquele moleque metido a machão cometeu a infeliz ideia de mexer com a garota errada. 

— Mas eu já superei isso. Não se preocupe. — deu de ombros voltando a sorrir, o mais reluzente possível — eu tenho mais motivos para ser feliz e grata que essa bobagem de popularidade.

— E como consegue não se importar? — a minha voz transparecia toda a incredulidade por notar toda sua determinação enquanto ao mesmo tempo parecia ser a pessoa mais sensível da face da terra. Ela era alguém admirável.

— Minha mãe, ela me faz ser assim. Com a partida dela, a dor, e tudo mais, ela me preparou e ensinou a ser forte e enfrentar o mundo.  

Eu quis sorrir largamente em retribuição, eu tentei, mas não consegui. Algum sentimento esmagava meu peito com toda brutalidade. Respirei fundo para tentar espantar aquele fenômeno estranho. Era como se alguém o apertasse sem nenhuma compaixão. Eu era digno disso? De ter compaixão?

Meus olhos queimavam demais.

Ouvir Hanna falar da senhora Marin trazia a lembrança da minha própria mãe. Eu me sentia um imbecil completo ao me recordar dela, embora aparentasse ter se passado mil anos eu era capaz de ditar cada detalhe seu. Eu nunca tinha percebido quanta falta ela me fazia até ali, naquele momento enquanto Han demonstrava todo o amor e devoção pela mãe... Um turbilhão de coisas explodiam dentro de mim me deixando zonzo.

Foi um tanto complicado abrir a boca e dizer alguma coisa em resposta durante o conflito interno que eu tentava a todo custo ocultar. Eu gostaria que tudo passasse despercebido por Hanna.

— Isso é incrível, Han.

Ela abriu um sorriso grande e luminoso capaz de apaziguar qualquer redemoinho de sentimentos.

Não havia mais nada para dizer e eu me senti aliviado pelo espaço que Hanna propôs, apesar de não fazer ideia do que estava acontecendo comigo. When You Look Me In The Eyes do Jonas Brothers soou através da radio e a voz suave e afinada de Han também. Me concentrei naquela harmonia tranquilizante, tomando controle sobre mim de novo, e sem perceber um pequeno sorriso foi formado nos meus lábios. Aquela garota já era especial para mim. Muito.

.

— Bem, a sua little girl está entregue, Ted. — ri com a expressão constrangida de Hanna andando um pouco a minha frente.

Ted nos esperava na varanda dos fundos, um livro estava abandonado na mesa redonda.

— Agradeço, Caleb. E por ter feito essa mocinha aqui sair de casa um pouco...

Enruguei a testa com aquilo um tanto surpreso, mas sorri.

— Nossa, papai que exagero! — bufou Hanna, indo de encontro a ele e passando os braços fofos ao seu redor, que depositou um beijo em seus cabelos rindo de sua indignação. Aquelas demonstrações de carinho entre ambos sempre faziam com que eu sentisse um nó na garganta. Como se algo faltasse na minha vida. Era notavelmente incrível, mas me lembrava daqueles que eu deixei para trás há anos e isso começava a me destruir pouco a pouco, cada milésimo de segundo enquanto o recordo vinha.

Novamente senti a fisgada daquela dor chata que insistia em aparecer. O remorso me corroendo.

— Bom, eu vou indo nessa...

— Espera só um pouquinho, Lebs...

Ficamos nos encarando por um breve momento, como se o tempo tivesse parado. Percebendo a deixa, Ted se despediu de mim, agradecendo mais uma vez e entrou na casa levando seu livro.

— Er... — engoliu em seco, colocando uma mecha rosa rebelde atrás da orelha que acabara de cair em seu rosto, — eu só queria reforçar sobre o que eu falei no caminho, eu sei que algo está te inquietando, e que eu me importo bastante com você, que eu estarei aqui para o que precisar, a qualquer hora. Não hesite em me procurar...

Eu não consegui descrever a forma como suas palavras, simples e claras cobertas por sinceridade, me deixaram. Por alguma razão estranha e desconhecida, eu quis me jogar em seus braços e murmurar tudo aquilo que estava entalado na minha garganta, toda a culpa que eu sentia por ter cortado os laços com a minha família por pura estupidez... Mas ao invés disso, eu apenas respirei fundo e devolvi o sorriso de Han.

— Obrigado, anjo, de verdade.

Ela avançou alguns passos na minha direção e me envolveu com seus braços gorduchos num abraço quente e aconchegante. Eu inalava o cheiro suave de morango, que tornou seu marco. Fechei os olhos durante todo o tempo em que estive ali, embora ela fosse de estatura menor que a minha eu me sentia seguro, soava extremamente estranho, porém eu pouco me importava com isso.

.

Meu olhar estava fixo no portão de ferro marrom, as costumeiras plantas que ela cultivava desde que me entendi por gente presas nas extremidades da entrada. Todas as luzes estavam apagadas, pela hora avançada não deveria estar diferente, ela sempre foi exigente quanto a horários. Olhei no relógio.

Eu queria ser corajoso ao ponto de caminhar até lá e agir com maturidade e dizer o que?

Ah, oi mãe, eu vim aqui porque estou atolado de culpa e gostaria de saber se me perdoa por todos esses seis anos que fingi que não existiam?

Sem chance.

Então, como o marica que eu era, soltei um suspiro e dei a partida no carro sem realmente ter um norte ou uma direção exata para ir. Eu não queria importunar Han com meu drama familiar, ela devia estar dormindo àquele horário, tendo sonhos maravilhosos e uma noite tranquila, que realmente merecia. Apesar de achar que ela não se importaria em me ajudar ou me acolher, eu não desejaria arruinar sua noite.


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Notas finais do capítulo

Obs: gente para quem leu a primeira postagem do capítulo 8 eu fiz uma pequena alteração ao final dele por motivos de que eu me perdi um pouco hehe aí tive que reescrever.
Comentem muitoooo okay? Preciso saber se estão gostando do rumo das coisas!! Nem que seja um continua está bom e tals. Estou aberta a sugestões!
Não tenho data para próximo postagem, porém vou fazer o possivel que seja logo!
Kisses, L



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