O Passado Sempre Volta escrita por yElisapl


Capítulo 27
Capítulo 26 - Plano Perfeito.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos favoritos!!



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Estou pronta para te perdoar
Mas esquecer é uma luta muito difícil
Mal sabe você que eu
Preciso de um pouco mais de tempo

Seis anos atrás:  

Fingir não se lembrar de todas as coisas ruins que fizeram a mim foi simplesmente difícil. Principalmente porque Blue esteve o tempo inteiro ao meu lado. Me observou como se eu fosse um diamante, prestes a cair no chão. Como se fosse sua boneca frágil e fácil de se quebrar. 

Talvez ele estivesse certo, pois meu corpo ficou pedindo por descanso o dia inteiro. A falta de se alimentar bem e ficar a maior parte do tempo sedada resultou nisso. Me pergunto se a antiga eu acreditaria que uma coisa dessas poderia acontecer comigo. Eu era tão inocente. Mas agora, sou alguém destruída que possui sangues na mão. 

As coisas parecem funcionar da mesma maneira como antes, apenas com mais rigidez e mais severo. Por ter fugido, piorei a situação das outras mulheres que não tiveram chances de sair. Mas naquela vez, eu não tinha treinamento nenhum, dependia da sorte e de um homem. 

Para escapar desta vez, dependera apenas de mim e do meu plano. E isso não será impossível, pois fiquei meses com Bruce Wayne, um homem inteligente que me ensinou muitas coisas, principalmente lutar. Pensar nele me causa certa tristeza. Eu abandonei a pessoa que me salvou, que cuidou de mim e que confiou em mim. Mas, se não tivesse feito isso, nunca teria descoberto que as meninas estavam esse tempo todo presas aqui. Foi triste deixá-lo, porém, o melhor para todos. Obtive minha vingança e em breve, ajudarei as meninas escaparem e quem sabe, consigo salvar todas as outras que estão presas aqui. 

E talvez, quando tudo terminar, eu retorno para Bruce. Talvez nós tenhamos alguma chance de sermos felizes. Ele não está perdido, não como eu.  

Como estou fingindo ter perdido a memória, a Madame resolveu inventar uma história. Disse que esse lugar é minha única casa, pois meus pais me abandonaram por não me querem mais. Afirmou que para eu ter comida e água, terei que fazer coisas. Como limpar e me prostituir.  

No entanto, por eu ainda ser virgem, continuo sendo preciosa. Precisam encontrar a pessoa que pagará mais caro em mim. Então, por enquanto só terei que dançar e atiçar a vontade dos homens. 

Com isso, minhas únicas funções hoje foram limpar o banheiro e a cozinha. Também participei do treinamento de dança e novamente, encantei a Madame. Entretanto, não foi apenas ela. Blue estava na sala e me viu dançar. Ele simplesmente babou. Apesar de que desta vez, não dancei, fiz movimentos de lutas e imaginei acabando com todos no local.  

De olhos fechados, projetei minha escapatória. Projetei meu plano. Irei conseguir tirar as meninas daqui, irei conseguir salvá-las. Não permitirei que Blue continue nos destruindo ainda mais. No final, terei a cabeça dele e da Madame. Ambos são terríveis. Talvez sejam do mesmo nível que meu pai. Talvez não. Apenas sei que merecem o mesmo final que ele teve.  

Ideias passavam por minha cabeça. E no final da dança, quando pulei o mais alto que pude e cortei o ar, como se tivesse segurando uma espada, um plano perfeito surgiu em minha mente, como se tivesse apenas esperado o momento certo para aparecer. Como se fosse necessária toda minha raiva, pois no movimento para finalizar minha dança, eu imaginei cortando o pescoço de Blue. 

Tive que aguardar a noite acabar para poder conversar com Sweet Pea e as meninas. Todas nós tínhamos um papel para fazerem. Elas tinham que satisfazer seus clientes, enquanto eu tinha que andar entre os homens, para me exibir. 

Quando todos foram embora, nós, mulheres, fomos mandadas para seus devidos quartos. Agradeci por ter finalmente um pequeno descanso e por ficar finalmente longe de Blue, que não parava de me observar a noite inteira também. O pior é que a Madame me olhava com ódio, como se eu estivesse implorando por ter sua atenção.  

Depois de duas horas deitada em minha cama, apenas olhando para o teto, ouvi o som de minha porta sendo destrancada e em pouco segundos, todas as meninas entrarem para o meu quarto.  

—Ah, Babydoll, estou tão feliz que você não perdeu a memória! - Rocket diz, me esmagando em um abraço e eu apenas solto uma risada abafada.  

—Quando nos disseram que você havia se esquecido de tudo, fiquei super preocupada – Blondie declara e abre um sorriso. - Mas você está bem e isso é o que importa – Rocket para de me esmagar e senta em minha cama.  

—Não. Isso não é o que importa – afirmo e pego na mão dela. - O que realmente importa é nós escapando daqui.  

—E já tem alguma ideia? - Se manifesta Sweet Pea, com os braços cruzados. 

—Na realidade, eu tenho um plano – todas as meninas estão olhando para mim. A lâmpada deste quarto é fraca, porém o suficiente para me dar uma boa visão delas. Ao menos temos como escolher quando queremos apagar a luz.  

—Fale mais sobre isso! – Pede Rocket, com empolgação.  

—Ninguém pode nos ouvir, certo? - Pergunto e concordam. - Meu plano se baseia em nós conseguirmos quatro coisas: Mapa, fogo, faca e chave.  

—Para que essas coisas? - Inquira Blondie, curiosa.  

—Fogo para começar na cozinha, onde chamara atenção de todos. Mapa para sabermos exatamente como sairmos. Faca para caso aja alguém que tente nos impedir de sair. E por fim, a chave que está no pescoço de Blue. Tenho certeza de que ela pode abrir qualquer porta.  

—Seu plano parece ser bom, mas praticamente impossível e também com muitas falhas. O fogo da cozinha pode ser apagado antes mesmo de aumentar, pode não haver um mapa, alguém talvez note que sumiu uma faca da cozinha e a mais difícil de todas, Blue carrega aquela chave no pescoço, como não notará que não está com ele e como tirará dele? - Sweet Pea aponta alguns fatos.  

—Não se preocupe com ele, pois essa será a minha responsabilidade e em relação as falhas, nós faremos que nada de errado. Confiem em mim. Estamos preparadas para realizar este plano – digo com veemência.  

—Eu acredito em você, Babydoll – Rocket declara, animada e esperançosa.  

—Digamos que faremos esse plano, quem ficará com as outras três coisas que precisamos conseguir? - Blondie pergunta e é fácil de se notar que ficou interessada no meu plano.  

—Não sei. Teria que ver o que é mais viável para vocês. Eu fico em conseguir a chave de Blue porque ele não me deixará só, de alguma maneira, irei tê-la.  

—Se formos fazer esse plano, posso conseguir o fogo, quer dizer, um isqueiro para começá-lo. Tenho um cliente que fuma e sempre carrega consigo um – se oferece Blondie e eu sorrio.  

—Então você conseguirá para nós o fogo – afirmo.  

—Eu posso obter a faca, pois trabalho na cozinha! - Rocket pronuncia.  

—Já que todas querem participar do plano, posso arranjar uma maneira de encontrar algum mapa – Sweet diz, mas sem confiança de que dará certo, pois está estanpado em seu rosto. - Mas para pegarmos todas essas coisas, precisamos que você dance, Babydoll.  

—Como é? - Indago, sem entender.  

—Dance para o cliente de Blondie, enquanto ela o rouba. Dance para o cozinheiro, enquanto Rocket pega a faca. Dance para Blue, enquanto eu entro em sua sala para ver se há um mapa. Sua dança faz com que todos os homens prestem atenção somente em você.  

—Se isso nos ajudará, farei – concordo. - Amanhã mesmo começaremos nosso plano. Já passou da hora de vocês saírem daqui.  

Atualmente:  

Quero matá-lo. Quero sufocá-lo com minhas próprias mãos enquanto tenta miseravelmente me impedir de acabar com sua vida.  

Quero Blue Jones caído e morto aos meus pés.  

É uma pena que não posso realizar esse meu desejo agora, pois há pessoas inocentes que não podem ser mortas por minha culpa. Não quero acrescentar nomes em minha lista de pessoas que perderam a vida por minha causa.  

—O que quer conversar? - Pergunto a Blue, ainda dentro do elevador.  

—O que acha, minha Babydoll? - Responde, com outra pergunta.  

—Não sei. Diga-me você, pois eu não tenho nada para falar – afirmo, tentando não socá-lo. As portas dos elevadores se abrem e com isso, Blue pega no meu braço e me puxa para fora. Seu toque me faz estremecer.  

Não, não posso me lembrar daquilo.  

—Eu tenho tantas coisas para falar – ele solta meu braço. Estamos no hall da empresa, onde não há nenhuma pessoa que conheço, apenas os homens de Blue. - Começando com o quanto te quero.  

—Isso está claro desde o dia em que apareceu em meu apartamento – falo, sentindo nojo. - Pensei que me odiasse. Por que não me odeia? Por minha causa ficou preso durante um ano. Eu destruí você!   

—Acontece que fiz o mesmo com você. Nós dois nos destruímos, mas ainda estamos aqui. Somos tóxicos um para o outro, no entanto, não posso deixar de amá-la, mesmo sabendo que não sente o mesmo. O que importa é que nunca deixará de ser minha e quem sabe um dia me aceite.  

Eu solto uma risada áspera.  

—Agora sei quem Joseph copiou - caçoo e o semblante de Blue fica sério.  

—Não repita o nome daquele idiota. Ele foi estúpido em pensar que poderia tirar a senhorita de mim – sua voz soa grossa e dura. - Outro que está agindo desta maneira estúpida é seu namoradinho, Oliver. Ou devo chamá-lo de Arqueiro? 

—Cale a boca. Você não pode citar o nome dele, pois não está na altura dele. 

—Por que não estou? Só porque não sou um herói? Sabe, mulheres más como você preferem os caras maus – ele tenta passar a mão em meu rosto, mas eu bato nela e a impeço.  

—Nunca fui má - afirmo, cruzando os braços.  

—Talvez não era antes, mas agora se tornou. Mente para aqueles que chama de amigos e esconde praticamente tudo dos que confiam em você. Isso é um erro. Ou talvez, uma maneira de protegê-los. Fico pensando em como Oliver reagiria ao saber da sua verdadeira identidade. Se soubesse quem é a Babydoll. Na realidade, você me deixou curioso. Por que ainda não contou para ele? 

—Não é da sua conta – respondo e me sento na cadeira que é usada para os clientes esperarem seu atendimento.  

—Se me contar, prometo matar seus funcionários a cada meia hora em vez de cinco minutos. Vê como posso ser flexível? - Blue também se senta. Me afasto para me manter saudavelmente distante. Preocupo-me que com sua proximidade e que eu não consiga me segurar para tenta matá-lo.  

—Não contei a Oliver porque tenho nojo de mim mesma – declaro, o olhando com repugnância. - Tudo que me aconteceu simplesmente faz com que eu me odeie. 

Ele solta uma risada insana.  

—Será que entendi direito, Babydoll? - Indaga, ainda rindo. - Tem medo de que ele possa ver sua verdadeira face? - Ele inclina seu rosto em minha direção. - Que veja quem realmente é atrás da máscara que criou para si mesma?  

—Você não irá contar a ele sobre mim. Não pode. Por que se fizer, não haverá motivo nenhum para mim me manter controlada e escondida. Irei caçá-lo e acabar com o que devia ter feito anos atrás quando tive a chance! - o ameaço.  

—Sei que fará isso comigo – ele concorda. - É por isto que irei primeiro ter uma vantagem sobre você. Não será útil para mim que Oliver saiba sobre você. Primeiro, quero arrancar tudo dele. Joseph fez um favor em matar a mãe dele, porque em breve, será a irmã dele. E no final, quando restar apenas você para ele, a verdade surgirá e você será arrancada dele. Deixando-o sem nada. 

Eu fecho minha mão e sinto minhas unhas machucarem a pele dela. Se o matasse agora, Oliver ficaria seguro, Thea também. Talvez eu morreria com Blue, porém, ninguém mais teria que morrer. Tudo ficaria bem, pois sei que Oliver arranjaria um jeito de salvar os funcionários da empresa.  

Quando estava prestes a colocar minha em prática, ouço o som da porta sendo aberta e nela avisto outro homem entrar, provavelmente um segurança de Blue, e não está só, ele está trazendo uma criança que não demoro para reconhecer ser Sammy. Como conseguiram pegá-lo, sendo que ele estava com Bruce? 

—Por que o trouxe aqui? - Pergunto, preocupada. Sam não demora para vir ao meu lado e vejo que está com medo. Algo aconteceu.  

—Queria que ele soubesse a verdade. Você não? - Blue pergunta, abrindo um sorriso. - Olá, garoto órfão. Sabe, você tem muita coisa em comum com Felicity. O pai dela também matou a própria esposa. Ah, mas acontece que aqueles eram os pais adotivo. Então, acho que na realidade, você é o único órfão aqui – eu tampo os ouvidos de Sammy.  

—Cale a boca! - Grito, brava. - Pare de falar. Você não sabe nada de mim. Não sabe nada dele. Acha que nos conhece, mas está errado!  

—Eu sei tudo sobre você, Babydoll. É o meu projeto em formação. Não demorara para estar preparada para o que for vir. Apenas precisa sofrer mais. Precisa de mim para criar esta dor. Foi por isso que enviaram você a mim. Para fazê-la se transformar em uma máquina calculista. O um ano em que fiquei preso atrapalhou a nós dois, pois você se esqueceu de quem realmente é. Estou aqui para lembrá-la que não pode ter sentimentos bons. Apenas ódio e desejo de vingança. Sua alma tem que se tornar negra. Não pode haver um pingo de bondade em você. E esta criança serve para criar esperança em você. Esperança de que algum dia possa ter uma família feliz com Oliver.  

Blue puxa Sammy de mim e saca uma arma de sua calça. Eu não havia notado que ele tinha uma. Eu vacilei.  

—Fe! - Meu príncipe choraminga.  

—Não o machuque, Blue - peço, sentindo-me inútil.  

—Ele tem que sofrer, Babydoll – Blue responde, apontando a arma em direção da cabeça de Sam. - Assim ficará forte, como você. Não foi graças a mim que se transformou no que é hoje? Quase imbatível.  

—Solte-o! - Berro e ando para frente, porém Blue anda para trás e força a arma na cabeça dele. - Por que está fazendo isso com ele?  

—Por sua causa! Você é o meu projeto. Você é minha. Se eu conseguir te transformar, serei merecedor do seu amor. Terá apenas a mim! Escutou? Apenas a mim! - Sua afirmação me faz estranhá-lo. Ele está falando coisas que não entendo. Que não fazem sentido para mim. - Eu tenho um plano perfeito para nós.   

De repente, escuto o som das portas do elevador serem abertas. E em seguida, Oliver sair de lá, com o rosto todo machucado. Havia ficado cinco homens lá em cima com ele. Isso significa que ele lutou com todos.  

—Sam? - Oliver pergunta e sem pensar duas vezes, aponta a arma que carrega consigo na direção de Blue.  

—Não pensei que fosse ser mais estúpido do que é, senhor Queen – Blue diz e de repente, outros cincos homens entram na empresa e vão em direção de Oliver, todos estão armados e apontado para ele. - Acho melhor não fazer nada imprudente, se não quiser perder sua vida.  

—Sinto muito, Felicity – Oliver se desculpa, soltando a arma.  

—A culpa não é sua – é minha, acrescento mentalmente.  

—Felicity – Blue diz meu nome, rindo. - Esse nome é bonito. Mas não combina com você, pois não há felicidade alguma em que ficar perto de você, não estou certo, pequeno Sammy? - Ele indaga e puxa o cabelo de Sam. 

—Pare! Pare! - Berro. - Largue meu filho! - Imploro, caindo no chão por não saber o que fazer. Sinto vontade de chorar, mas não posso me dar esse luxo.  

A culpa é minha. Eu sou um monstro.  

Desde que nasceu sempre foi um monstro, Felicity. A voz do meu pai ressoa em minha cabeça. Sempre disse que não haveria felicidade quem ficasse perto de você. Pedi que fizesse o favor para si mesma e a humanidade, que se matasse.  

—Seu filho? - Blue inquira. - Você não pode ser mãe dessa coisa. Essa criança só trará azar com os problemas psicológicos que herdará do pai.  

—Por que está falando isso? Eu não fiz nada para você - Sammy murmura, chorando. Não. Ele não devia ter falado com Blue.  

—Por que estou falando isso? Não acredito que Felicity não contou quem é seu verdadeiro pai. Lembra-se daquele louco que ela o derrubou desse mesmo prédio? Que ela o matou? Então, ele se chamava Joseph e era seu pai. Aquele psicopata que acabou com a vida de Moira Queen é o seu pai. Parabéns, você foi o sortudo em ter um pai problemático. Mas se quer culpar alguém, culpe Felicity, pois é por culpa dela que homens cometem loucuras. Todos a amaram e enlouqueceram – ele diz, sorrindo para mim.  

—É verdade isso, Fe? - Sammy pergunta, com os olhos tristes. - Aquele homem era realmente o meu pai? Por que não me responde?  

—N-não é verdade – minto, sem olhá-lo.  

—Felicity, você precisa parar de mentir. Desta forma, perderá a confiança dos outros e ficará sozinha – Blue comenta e eu o encaro, tentando transparecer todo o meu ódio por ele. - Quer saber? Não serei tão ruim. Pode ir garoto – Ele simplesmente solta Sammy e guarda a arma. - Mas não estou mentindo, seu pai era realmente aquele psicopata, ele matou sua mãe porque queria ficar com Felicity. Matou Moira Queen e tentou matar Oliver. Mas Felicity o matou no final. Ela o derrubou deste prédio e ele morreu. Estamos livres daquele louco. Tente não ficar igual a ele. Ah, e se for culpar alguém, culpe ela – Blue aponta para mim. - Toda dor que aconteceu com você foi por culpa dela.  

E então vejo Sammy olhar para mim como se eu fosse um monstro. O tipo que fica em baixo da cama ou escondido no armário. Ele corre para um corredor e o vejo desaparecer. É claro que não poderá sair da empresa, pois não deixarão.  

—Eu odeio você, Blue Jones – afirmo, trincando os dentes.  

—Às vezes também me odeio, porque já faz oito anos que estamos nisso. Era para mim ter conseguido o que eu queria. Mas então me lembro que tudo tem seu tempo. E é apenas por isso que permitirei que vá atrás daquele garoto.  

—O que está falando? - Indago, franzindo o cenho.  

—Há coisas que não entende, mas no futuro, entenderá. Faça aquele menino te perdoar. Se quiser, conte mentiras, você é boa em fazer isso – ele se vira de costas para mim. - Quero que o traga aqui e mostre para mim o quão boa está para convencer alguém de que não é um monstro. Além do mais, ele será necessário no futuro, já que o considera como um filho.  

—O que fará com Oliver? - Pergunto, me levanto do chão.  

—Irei tentar convencê-lo assinar o contrato – os homens puxaram Oliver até a cadeira que estava sentada. - Vá agora.  

Sem pensar duas vezes, vou ao encontro de Sammy. Preciso que ele fique seguro, não posso deixá-lo sofrendo. Olho em volta e não avisto ninguém. Aonde será que estão os funcionários? Queria procurá-los e me certificar de que estão bem, mas não há tempo, preciso conversar com Sam.  

Não demoro para encontrá-lo em um canto, encolhido e chorando. Me aproximo dele cuidadosamente e sento ao seu lado. De repente, sinto vontade de chorar também. Chorar por tudo que está acontecendo e tudo que aconteceu. Queria que Sweet Pea estivesse aqui, ela saberia como me amparar e me impedir de cair. Sempre soube fazer isso comigo.  

—Sinto muito, meu pequeno príncipe - murmuro, olhando para ele. Seus olhinhos molhados me fitam com raiva. Apenas basta saber o porquê. Talvez pelo fato de ter matado seu pai, talvez por ter mentido sobre sua família, ou por ambos.  

—Eu não pude conhecê-los, Fe – ele silaba. - Sempre quis conhecer meus pais. Sempre me perguntei qual foi a razão deles terem me abandonado no orfanato. Pensei que tinha sido porque não podiam cuidar de mim, mas, do nada, eu descubro que minha mãe foi morta por meu pai e que ele está morto.  

—Sei que é horrível, mas não deixe isso definir sua vida – tento passar o conselho que passaria para mim se pudesse voltar no tempo.  

—Não a culpo, Fe. Sei que nunca faria algo do tipo – sua afirmação não me faz sentir menos culpada. - Apenas não acredito que meu pai era um monstro. Eu estou com raiva dele e com medo - então não estava com medo de mim.  

—Medo? - Pergunto, me aproximando dele. - Por quê?  

—E se eu me tornar igual a ele? - Indaga, assustado. - Enlouquecer e virar um psicopata? Não quero ser um assassino. Não quero machucar ninguém.  

—E não irá. O fato de você não querer quer dizer que não se transformará! - Afirmo, séria. - Olhe para mim, meu pequeno príncipe - peço, virando seu rosto de forma delicada para mim. - Eu também tive um passado terrível. Já contei a você que tinha uma irmã mais nova? Ela era parecida com você. Acredito que se dariam muito bem – solto um suspiro triste.  

—Não me contou – ele responde, limpando o nariz que está escorrendo. - O que houve com ela?  

—Morreu. Meu pai a matou, igual fez com minha mãe – respondo direta, não posso protegê-lo do mundo cruel para sempre. - Eu tive medo de me transformar igual a ele. Um homem frio e impiedoso. Meu próprio pai tentou me matar. Ele agiu de maneira desumana. E pensei que no futuro, iria me virar igual a ele. Quase me transformei como ele, porém, houve uma pessoa que me trouxe para o caminho certo – digo, pensando em Sweet e como virou minha âncora para muitas coisas. - Se algo acontecer com você, se eu notar que está ficando lelé da cuca - faço cocegas na barriga dele e ele ri levemente. - Não se preocupe, pois serei a pessoa que te trará para o caminho certo. 

—Promete para mim? - Ele me oferece o mindinho e eu sorrio.   

—Prometo – afirmo, juntando seu mindinho com o meu.  

—Fe, posso te perguntar uma coisa? - Indaga, enquanto nos levantamos do chão. Apenas assinto e o observo. - Por que aquele homem te chama de Babydoll?  

Sinto meu maxilar ficar rígido.  

—Porque é um apelido idiota que ele me deu – minto e me sinto terrível por fazer isso. - Não quero que comente nada para Oliver sobre isso, está bem? Nem para ninguém, estamos entendidos? 

—Certo. Segredo nosso – anuo com a cabeça. - Fe – ele me chama e eu viro meu rosto em sua direção. - Você realmente me considera como um filho seu?  

—Eu não te considero – digo séria, porém em seguida sorrio. - Você é meu filho. E o único que terei – o beijo na testa.  

—Irei lembrá-la disso quando estiver redondinha por causa da gravidez – ele brinca e eu o admiro.  

Como esse menino consegue ser tão forte? Sei que apesar de nunca ter tido contato com seus verdadeiros pais, ele sofrerá com a dor da perda. Sentirá saudades e se perguntará se poderia ter sido diferente. No entanto, isso não parece que irá destruí-lo, como aconteceu comigo. Sammy é mais forte, mais corajoso. É uma versão melhor de mim. Não arrependo de tê-lo adotado, mas, quando sairmos todos desta empresa, irei arranjar uma maneira de protegê-lo melhor. Já é a segunda vez que é envolvido em algo ruim por minha causa. Não estou sendo uma boa mãe, não consegui protegê-lo de nada.  

—Meu pequeno príncipe, preciso de sua ajuda. Tenho que saber como te trouxeram aqui, sendo que você estava com Bruce. O que aconteceu? 

—Ele ia me deixar na casa do Oliver quando dez homens nos cercaram, tio Bruce tentou enfrentá-los, mas uma mulher surgiu e começo a lutar com ele como se fosse uma máquina. Enquanto o tio ficou enfrentando-a, um deles me agarrou e me levou – sua resposta faz com que eu me preocupe.  

—Como era a mulher? Sabe se ela queria matá-lo? - Minhas mãos começam suando. E se mataram o Bruce?  

—Não da para saber como ela é, pois usava uma máscara que tampava seu rosto inteiro, sua roupa não deixava ver nenhuma pele. Era como armadura. Só descobri que era uma mulher por causa da voz. E não acho que queriam matá-lo, acho que queriam pegá-lo.  

Todas essas informações fazem com que o meu coração pese. Preciso entrar em contato com Sweet Pea e com o time. Sweet tem que conferir o seu futuro marido. Já no caso do time, eles poderão nos tirar desta.  

—Babydoll - ouço a voz de Blue me chamar. Não. Eu não conseguirei avisá-los. - Vejo que conseguiu fazer o menino melhorar. 

—Se esconda e fique seguro, pequeno príncipe - peço para Sammy e ele concordar. O vejo sair e me viro para Blue. - O que fez com Bruce Wayne? 

—Com aquele playboy? Estamos dando um susto nele. Queremos ele longe daqui. Queremos Sweet Pea sozinha, sem o futuro marido que também não sabe sua verdadeira identidade – quase que solto um suspiro de alivio. Ao menos não sabem o segredo de Bruce e não irão matá-lo. - Quero Sweet Pea igual a você daqui alguns dias. Sozinha e destruída. Vocês duas tentaram acabar comigo. Mas acontece que sou apaixonado apenas por uma de vocês. Então, não serei tão benevolente com ela quanto sou com você.  

—Quem é a mulher que mandou atrás dele? - Inquiro, necessitando me manter informada com as coisas e fazê-lo esquecer de Sam.  

—Saberá quando for a hora certa e pode ter certeza que se surpreenderá - Blue pega em meu braço e começa a me arrastar. - Está na hora de acabarmos com esse circo. Oliver Queen não entregara a empresa dele nem mesmo se dez funcionários dele morresse. Só ganharei essa se eu arriscar algo mais importante. Alguém que ele ama - nós voltamos para o hall, onde está apenas os homens de Blue e Oliver.  

—Felicity – Oliver me chama e tenta se soltar, pois dois homens estão o segurando.  

—A situação funcionará desta forma: Assine os papeis e eu não mato Felicity. 

—Não assine, Oliver – mando. - Ele está blefando. Não irá me matar.  

—Duvida de mim, senhor Queen? - Blue retira a arma da calça novamente e aponta em minha cabeça. É fácil para mim desarmá-lo, porém, temo pela vida de Oliver. Não tenho ideia de quantas pessoas Blue trouxe consigo.  

—Não assine – repito. - Oliver, lembra-se do que disse para você quando jogamos o jogo do JSP? - Indago, torcendo para que ele perceba o que quero dizer. Quando vejo o brilho de entendimento em seus olhos, pego a arma de Blue e atiro nos dois caras que estão segurando Oliver. Sem pensar duas, Oliver pega um dos corpos e usa como escudo, quando tentam acertá-lo. Enquanto miravam em Oliver, eu os acertava. Não para matá-los e sim para pará-los.  

—Não devia ter feito isso, Babydoll – Blue murmura para mim. Por que ele falou isso? - Sabe, Oliver, ser o Arqueiro-Verde há algumas vantagens, porém, não adianta de nada quando possui uma fraqueza.  

De repente, sinto algo perfurar minha perna. Quando olho para baixo, vejo que é no formato de uma flecha. Procuro por quem atirou e vejo que é a mulher que lutou contra Bruce, a mulher que Sammy descreveu. Não parecia uma armadura suas roupas. É uma armadura. Porém, não parece impedi-la de fazer movimentos flexíveis e grandiosos.  

Esta mulher estava com um arco e flecha semelhante ao que Oliver usa, no entanto, após me acertar, ela quebra o arco e o torna em duas estacas. Ela vem em minha direção e eu tento desviar, porém, parece que há alguma coisa na flecha que me acertou, pois estou me sentindo tonta.  

—Finalmente nos reencontramos - a voz fria e sem emoção da mulher se dirigi a mim, quando acerta minha outra perna com sua estaca.  

Eu berro de dor. Ela me vira de costas e prende o meu corpo. Estou fraca, não consigo lutar. Não consigo fazer nada. Há algo na flecha. Um veneno. Um sedativo. Eu não sei.  

—Quem é você? - Pergunto, sentindo que em breve irei desmaiar.  

—Alguém que você destruiu – responde apertando ainda mais o meu corpo. - Me chame de Eiggam – seu nome não me faz sentido.  

—Senhor Queen – Blue chama a atenção de Oliver que até então estava apenas olhando para mim, atordoado. Enquanto eu estava tentando enfrentar esta mulher de armadura, Oliver estava terminando com os homens, para os deixar inconsciente, resultando em não poder me ajudar. - Se não assinar o contrato, Eiggam irá matá-la. Dúvida disso? - A mulher pega na estaca que está em minha perna e a retira, fazendo-me gritar de dor. Não entendo como pode estar doendo tanto, apenas sei que é agonizante e não está sendo suportável.  

—Está bem, eu assinarei – ele diz, pegando a caneta e o papel que provavelmente trouxeram para baixo enquanto eu estava conversando com Sammy. Eu queria dizer para Oliver não fazer isso, porém, não tinha forças. Meu corpo inteiro está ardendo, como se tivesse febre. - Pronto, aqui está o documento. Agora deixei-a em paz.  

—Certo, como quiser – Blue sinaliza para Eiggam me soltar e ela solta, eu simplesmente acabo caindo no chão por não me aguentar em pé. - Mas, devo dizer que você me irritou senhor Queen, eu falei para não tentar lutar e que queria apenas conversar, mas você feriu todos os meus homens. E é por isso que irei ferir você, ou matar, não sei, dependerá de você - dito isso, Blue pega a arma que eu havia deixado cair e aponta no peito do Oliver, que não pode nem sequer desviar a tempo, pois seus olhos estavam em mim.  

Som de bala ressoa no hall. O corpo de Oliver cai ao meu lado. Ele está pressionando onde o tiro acerto, mas de repente, para de pressionar.  

—O-oliver – tento chamá-lo, mas minha voz sai inaudível.  

—Eu disse que minha função é causa dor a você, Babydoll – Blue diz, indo até o papel que Oliver assinou e o guarda. - E agora lhe pergunto: Como será a dor de perder o amor da sua vida? Bem, se não cuidarem de Oliver, logo saberá como é a dor. Acredito que deve ser pior do que todas que já sentiu. Insuportável.   

Queria poder respondê-lo, mandá-lo ir para o inferno, mas não consegui. O que havia na flecha era muito forte e fez com que meus olhos se fechassem.  

Como será a dor de perder o amor da sua vida?  Acredito que deve ser pior do que todas que já sentiu.  

Essas foram as últimas coisas que me lembrei antes de apagar.  

 


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Notas finais do capítulo

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