Só dói quando eu respiro escrita por scarecrow


Capítulo 4
Tudo no Mundo


Notas iniciais do capítulo

Eis a semifinal do UFC fanfics! Yay!

Nunca achei que fosse chegar até aqui, gente IEUHIUSDHE De verdade. Muito menos que teria leitores amorzinhos no meio do caminho que não desistiriam de mim ♥
Muito obrigada, viu, gente? ♥ Eu tô grata demais da conta. Acho que dessa vez eu não passo mexmo: fiquei meio enrolada com o tema difícil e acabei viajando no exato intervalo que deram para escrever, então peço desculpas para quem continua lendo pelo final, talvez, desagradável.

O tema da vez foi um poema, de nome "Recuperação da Adolescência", da Ana Cristina César. Ele consiste em apenas uma única frase: "É sempre mais difícil ancorar um navio no espaço".



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Sua vida era incomparavelmente encantadora — e não mais do que isso.

Era boa como tudo no mundo e, como se todos realmente a vissem desse modo, ela gostava de acreditar que essa ideia era verdade.

Até descobrir que, de alguma forma, sua vida poderia sim alcançar aquele potencial latente que tanto lhe diziam existir. Decidiu aproveitar, então, cada moeda, cada minuto do ócio e cada oportunidade que aparecesse.

O que passara meses acreditando ser impossível, de repente, era palpável.

Sentir essa alegria tão especifica só foi praticável depois de descobrir as maravilhas do amor próprio. Algo que conseguiu raras vezes na vida, como no dia em que lhe contaram que havia sido aprovada no vestibular que tanto sonhara ou como na vez em que percebeu não estar tão sozinha quanto aparentava.

Não sabia ao certo o que a fez chegar ali. Todavia, aquela sensação gostosa de que finalmente estava recuperando o tempo que perdera na adolescência era tão boa que faria de tudo para permanecer daquele jeito a partir de então.

Por isso, aprendeu a beber. Começou a sair, não apenas nas sextas feiras, como também nos sábados. De vez em quando, até mesmo no meio da semana era possível encontrá-la pelas ruas de sua cidade, com seus melhores amigos do lado e um bom cigarro na boca. Foi por esse motivo, também, que voltou com certas drogas que prometera a si mesma nunca mais usar, por já ter passado da idade. Voltou com os sorrisos grandes e com o deboche bobo, rindo de tudo e todos. Voltou com os bons hábitos, a escrita e o canto, que lhe faziam extremamente bem.

E somando isso a outras tantas coisas que acrescentou a sua rotina, ela se sentiu mais completa do que nunca. Como se ela fosse o bastante.

Baseando-se nisso, ficou desconsertada quando ouviu Guedes sugerir: “acho que você e o Guilherme dariam um ótimo casal juntos”

A amiga contava, convicta, como os dois tinham inúmeras características parecidas, principalmente agora que ela havia voltado a ser a mesma pessoa espontânea e divertida que Guedes conhecera anos atrás.

Já era de se esperar, claro, que aquilo ficasse na cabeça dela por tempo demais. E como se não fosse o suficiente, Guedes havia acrescentado outras pessoas à torcida pelo casal até então imaginário, dando a ela mais motivos para acreditar.

Ela, boba como nunca deixou de ser, acabou colhendo cada um dos pequenos conselhos e fundamentos que surgiram com o tópico Guilherme. Abraçou-os, como se já pertencessem ao futuro que escreveu para si mesma; adorou-os por uns instantes, antes de, apenas quando escondido, aceitá-los por completo.

Aquela não era uma péssima ideia, afinal. Os dois tinham mesmo aquele mesmo tipo de humor péssimo, rindo das bobagens que apenas os dois viam graça toda vez que saíam juntos. Os dois, magicamente, assistiam as mesmas séries e gostavam das mesmas bandas de rock. Por coincidência (ou não) os dois tinham os mesmos objetivos amorosos — aquela tendência de querer, sim, alguém só para si, concomitantemente, não se vê preparado para um relacionamento sério.

Foi pensando nisso que, em uma sexta-feira dessas, ela se encontrou pronta para tentar colocar em prática o que quer que fosse aquilo. Usou seu batom vermelho cereja, vestiu uma saia curta e colocou bastante dinheiro na bolsa, separados especificamente para pagar suas bebidas fortes.

Naquela sexta-feira, Guilherme não saiu de casa.

E ela estava lá, bonita como nunca, os cabelos hidratados caindo na frente de seus olhos pintados de preto, uma esperança injustificável por trás da possível presença do melhor amigo.

Guilherme nunca apareceu e, com isso, ela acabou por notar como fora inocente de acreditar em qualquer coisa que lhe dissessem. Era inegável, e ela nunca diria o oposto, que os dois combinavam estupendamente. Seria ótimo se acontecesse de ficarem juntos, claro! Mas não havia nenhuma razão para fazer daquilo um grande evento.

Afinal, os argumentos fantásticos eram, na verdade, apenas fantasiosos. Se fosse pensar bem sobre o assunto, não deveria ser tão fácil ancorar todas as esperanças em algo tão extenso.

Refletiu um pouco. Ela estava indo maravilhosamente bem. Cheia de motivos, certezas, sorrisos no rosto. Havia erguido seus braços de forma que seus dígitos marcassem qualquer coisa, mas se esquecera de firmar os pés em algo sólido.

Não era Guilherme o problema. Não era seus amigos, cheio das conversas descuidadas e maldosas. Dessa vez, por mais que fosse inacreditável, o problema também não era ela mesma. Não, não.

Respirou fundo e deu mais um trago. Ela estava no caminho certo. Estava aprendendo a lidar consigo mesma e com as outras pessoas, pouco a pouco, e definitivamente demoraria um tempo significativo para que ela se tornasse tudo o que almejava. Por isso, decidira que aquele seria seu último maço de cigarros do mês. Que iria pensar na hipótese de sair menos, cuidar mais do seu quarto e organizar mais sua vida. Iria passar tempo com seus pais e ver mais filmes com seus irmãos.

Porque ela tinha boas intenções, mas ainda não descobrira como equilibrar suas vontades sem desregrar sua vida inteira.

A única coisa que precisava era de algo menos amplo. Menos espaçoso e mais firme do que somente a certeza de que as coisas melhorariam eventualmente. Assim, com um pouco de tempo, ela poderia ter o que tanto queria. Sorriu para si mesma.

Existia, sim, uma maneira de fazer tudo dar certo; ela só precisava encontrar quais.

 


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