Cicatrizado escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
cicatrizado




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A água já havia perdido boa parte do calor e deixara de ser cristalina, passando para um tom levemente rosado à medida que o sangue escorria dos machucados de Remus e se misturavam a ela. Não eram cortes profundos, mas pareciam doer bastante, a julgar pela forma como Lupin apertava a própria perna, perto de um dos machucados, como que para interromper a ardência.

Sirius já havia visto coisa pior, mas os anos em Azkaban e, depois, o tempo que passou se escondendo o fizeram se esquecer de como aquela imagem o perturbava.

“Pensei que estivesse tomando a poção,” Black murmurou, depois de longos minutos de silêncio, com apenas o barulho de suas respirações e a água da banheira se agitando, de vez em quando, tomando conta do banheiro do Largo Grimmauld, n˚12.

“Snape disse que talvez algum dos ingredientes estivesse ruim.”

O homem respirou fundo, trancando o maxilar enquanto apertava mais os braços ao redor do tronco de Remus. Ele sabia que Seboso era uma parte vital da Ordem da Fênix e sabia que a Poção Mata-Cão ajudava o amigo, mas não podia deixar de sentir uma imensa vontade de socar o nariz adunco do Mestre das Poções por cometer um deslize que resultou em uma transformação mal controlada no último dia de lua cheia do mês.

“Já estive pior,” Lupin sussurrou, sua voz soando tão baixa que quase desaparecia antes de alcançar os ouvidos do outro. “Lembra quando quase arranquei meu braço fora em um galho?”

Sirius resmungou baixinho e tentou relaxar o corpo. A banheira não era pequena, já que conseguia comportar dois homens adultos, mas isso não significava que eles ficassem em uma posição muito confortável lá dentro. Sirius sentia a porcelana o cutucando nos ossos do quadril e na coluna, mas Remus parecia confortável (mais deitado do que sentado, as costas apoiadas contra o peito do outro bruxo e os joelhos dobrados para fora da água) e, naquele momento, era isso que importava.

“Você sempre foi um lobisomem muito desastrado,” disse Black, abaixando o rosto para apoiar o queixo contra a cabeça do outro.

“Todos nós éramos desastrados...”

“James era o mais gracioso.” O bruxo riu pelo nariz, sentindo Remus soltar uma risada fraca. “Que ele não me ouça falando isso ou passaremos a eternidade o ouvindo falar sobre como cervos são graciosos.”

Sirius observou seus braços ao redor do amigo. A pele morena e tatuada contrastava com a palidez e as cicatrizes nos ombros e peito do outro. Olhando-os ali, tentava se lembrar de como era antes (antes de Voldemort, antes de Peter, antes daquele fatídico Halloween) e se surpreendia ao notar como suas mãos estavam magras e como o rosto de Remus agora exibia rugas e linhas de expressão que não existiam por ali antes. Os cabelos de Lupin, sempre macios e de um castanho claro que sempre o lembrara fudges de caramelo, agora estavam salpicados com fios brancos e Sirius nem queria pensar em como os seus cabelos haviam perdido o brilho e a cor negra, em alguns pontos, ao longo dos anos.

“Estamos velhos, Remus,” o bruxo sussurrou sem perceber que estava falando até ouvir as próprias palavras. “James iria rir de nós.”

“James estaria velho também. Nós iríamos rir dele.” Lupin suspirou, seu peito subindo e descendo contra os braços do amigo. “Provavelmente ficaria careca de tanto passar a mão nos cabelos.” Os dedos do bruxo encontraram o braço de Sirius, correndo por ali em um toque delicado. “E com barriga, comendo aquelas sobremesas gostosas que Lily fazia.”

O barulho da água ecoou pelo banheiro quando Remus dobrou um pouco mais as pernas.

“Nunca vamos ver o James careca e com barriga,” Black murmurou enquanto sentia os olhos arderem. A mão do outro em seu braço o apertou de leve e ele aplicou mais força no abraço. Não era para ser assim.

Sirius respirou fundo uma, duas, três vezes, e sentiu uma ou duas lágrimas teimosas escapando e rolando pelo rosto. Por sorte, tudo o que tinha que fazer era apoiar a cabeça na de Remus, enxugando as lágrimas no cabelo cor de caramelo. Por fim, fungou fraquinho e ergueu o rosto até conseguir beijar os cabelos de Lupin, pressionando os lábios contra os fios por um longo momento.

Remus suspirou e relaxou mais contra ele. Não era para ser assim, mas não iriam subestimar o pouco que tinham.


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