Não posso negar ser uma pessoa solitária. Meus amigos se afastaram quando não conseguiram mais lidar com o fardo que eu represento e meus pais deixaram de achar que sou uma pessoa. Então, às vezes, desejo que Tom seja real. Melhor estar acompanhada do diabo do que não ter ninguém.

  Tom entende isso como patético. Ele sabe o que penso, mesmo que eu não diga. E acha que sou tola e a dona dos pensamentos mais estúpidos. Como se os insultos não fossem o suficiente, Tom adora provar quão real e aterrorizante ele pode ser. Como tenho medo, estou sempre a fugir dele.

  Em um momento de fuga, o líquido escarlate foge de minhas veias e faz com que um alívio entorpecente me atinja à medida que lágrimas peroladas escorrem por minhas bochechas. Por desgosto, Tom faz cara feia e nega-se a assistir, mas não tenta impedir o ato. As águas que umedecem meus pés turvam-se enquanto o diabo encara seu rosto refletido no espelho e diz:

 —Você é realmente fraca, Camila — posso ver seu lábio inferior tremer de maneira involuntária. — Sequer consegue chegar ao fim disso.

 E, pela primeira vez, seu deboche fracassa. Tom está assustado, mal consegue esconder seu medo. Também está sempre sozinho. A garota desprezível que ele tanto odeia é sua única companhia. Quanto mais perto da morte estou, mais preocupado ele fica. O que ele fará sem mim? O que ele é sem mim? Sou o ar dos seus pulmões e seu motivo de existência.

 Então, consigo me sentir poderosa. Tom também tem fraquezas e eu sou capaz de expô-las. Mesmo rastejando em minha própria miséria, posso causar nele a inquietação que ele me faz sentir. E é incrível, porque, sob essa perspectiva, por poucos minutos, sou eu quem está no controle.