Anti-Heroes escrita por Thalia


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu olhava para o prédio sem nenhum remorso aparente em meu rosto. Eu queria poder sentir a dor que todos esperavam que eu sentisse, mas isso não havia acontecido. Eu estava quebrada demais para isso. 

Meu cabelo preso em um rabo de cavalo balançou pelo vento forte da mudança de estações, o que quase me impediu de desajeitadamente tragar mais uma vez o cigarro. 

Ser viciada em nicotina é uma merda 

Coloquei minhas mãos no bolso do casaco cheirando levemente a cigarro, na esperança, fracassada, de aquecê-las. Não que fosse isso que estivesse me deixando irritada. Eu sempre gostei de lugares frios, mas esperar por uma tia desconhecida as 7 da noite em uma cidade desconhecida, não estava em nenhum dos meus planos para hoje. 

Olhei para os lados à procura de alguém que viesse ao meu encontro, mas ninguém veio. O que, por um lado, me deixava estranhamente aliviada. 

Graças a isso, agora eu tinha algum tempo para tentar me acalmar. Eu não era considerada uma pessoa agradável de se estar por perto quando estava com raiva. Para dizer a verdade, eu não era uma pessoa considerada agradável. 

O celular vibrava no meu bolso alertando que eu havia recebido uma nova mensagem. Provavelmente era de Thomas, que havia me mandado dezenas mensagens pedindo desculpas, mas como todas as anteriores, eu decidi apenas ignorar. 

Ele preferiu ir embora com aquela vadia, não havia o porquê eu perdoar ele. 

Suspirei quando percebi o carro negro ir se aproximando até finalmente parar bem na minha frente. Eu se quer me lembrava da mulher que deveria encontrar hoje, mas pelas poucas mensagens que havíamos trocado, eu sabia que aquele era o carro dela. 

Mas depois dos acontecimentos da noite passado e da decisão dos meus pais eu não tinha muito do que reclamar, mesmo que estivesse sendo jogada goela abaixo da pobre mulher. Os três haviam concordado que isso era o melhor para mim. Como se eles realmente soubessem o que era melhor para mim. 

Meus pais haviam me enxotado na primeira oportunidade que tiveram, ou melhor, assim que meu irmão, Apolo, nasceu. Eu se quer tinha 16 anos quando eles alugaram um apartamento a poucos quarteirões da casa deles e me jogaram lá como um simples estorvo. 

Um ano depois de ser "expulsa de casa", quando eu comecei verdadeiramente ser um estorvo, eles haviam gritado e se desesperado, dizendo que eu queria apenas chamar a atenção. Mas tudo começou a piorar realmente depois da noite passada, quando invadiram meu apartamento junto a um policial. E então, eles tomaram, segundo eles, a decisão mais difícil de suas vidas, me mandando para longe. Mais especificamente, para a pequena cidadezinha onde minha mãe havia crescido no interior da França. 

A janela do carro desceu devagar, revelando uma mulher um pouco mais velha que eu, com cabelos longos e pintados de um rosa choque extremamente chamativo. Os olhos, preenchidos com uma lente também rosa, eram acompanhados por um sorriso gentil da parte dela, que eu, naquele momento, estava incapacitada de retribuir. 

— Olá, querida. Vamos, entre, você deve estar congelando. 

Dei a volta no carro até a porta do passageiro. Entrei com um suspiro pesado ajeitando a mochila leve, até demais, em meu colo e subindo o capuz do casaco negro que eu usava. 

— Como foi sua viagem? - Ela perguntou com uma voz doce. 

Eu não respondi, a fazendo se remexer no banco do motorista desconfortavelmente. 

— Eu pensei em irmos jantar fora hoje. Faz tanto tempo que não nos vemos, você era apenas um bebê na época. - Ela deu um sorriso sem jeito. - Mas olha pra você agora, uma bela mulher e – Sem mais paciência eu a interrompi, não querendo mostrar qualquer emoção. 

— Só quero ir para casa, por favor. Foi uma viagem longa. 

O cigarro que estava na minha boca voou pela janela no momento em que ela acelerou o carro se ajeitando no banco. 

Eu preferi me manter quieta, calada, mesmo quando o celular voltou a vibrar em meu bolso. 

Minha tia estava claramente desconfortável, eu podia perceber pelo jeito que sua respiração acelerava a cada vez que a velocidade do carro aumentava. O fato de sua garganta estar se mexendo com um movimento descompassado. E o fato das mãos dela estarem apertando tão fortemente o volante a ponto do couro que o revestia suar. 

Eu sempre fui boa em ler pessoas. Eu podia detectar uma mentira antes mesmo dela ser contada. O jeito que a pessoa respirava, o olhar lacrimejante e até mesmo o compassar da pulsação que era aparente nas cordas vocais enquanto a mentira era despejada como um rio sem freio. 

Eu havia adquirido essa habilidade a muito tempo. Provavelmente, na mesma época em que eu adquiri o meu interesse por observar as pessoas, seus atos, seus jeitos, suas manias... 

— Eu fiquei surpresa com o telefonema de sua mãe. - Minha tia falou, tirando minha atenção da vidraça escura ao meu lado. - O apartamento estava fechado, então o cheiro dele pode não estar muito agradável, mas antes de você chegar eu corri para ele e abri as janelas, descobri os moveis. Se você quiser, vou estar livre durante a semana, então, podemos arrumar tudo aos poucos. - Ela tinha um sorriso fraco no rosto desenhado. 

Dei os ombros e voltei minha atenção novamente para a vidraça escura que havia sido fechada ao meu lado. 

Encarei meu próprio reflexo e vi como estava pálida, mais do que o normal. Minha franja caia levemente sobre meus olhos que estavam circulados por olheiras negras e muito aparentes. 

Eu estou uma merda. - Pensei 

Me ajeitei uma vez mais no banco quando minha mochila escorregou um pouco do meu colo, fazendo, pela primeira vez, minha tia prestar atenção na minha minúscula bagagem. 

— Sua bagagem chega quando, querida? - Ela perguntou, depois que fez uma curva entrando em uma rua que eu me lembrava vagamente. 

Eu não queria ter que falar para ela que eu não tinha mais do que essa mochila de bagagem. Ela não precisava saber o que eu havia feito com as minhas coisas na noite anterior. 

Minha cabeça lateja quando as memorias de todo o caos da noite passada insistem em aparecer. 

— Não sei ainda. - Falei sem tirar meus olhos da janela. 

As casas continuavam as mesmas. A praça que eu tanto amava quando criança ainda estava lá também, com suas barraquinhas de lanches e algumas crianças brincando nos velhos, porem inteiros, brinquedos de madeira. 

Um sorriso ameaça tomar meus lábios quando as lembranças daquela época aparecem. 

— Entendo! - A voz da minha tia aparece uma vez mais. - Vamos fazer compras amanhã! Não posso deixar minha única sobrinha sem roupas para seu primeiro dia de aula, certo? - Ela me dá uma piscadela quando me viro para encara-la. 

Ela estava tentando me agradar. 

Aquilo não podia ser mais ridículo. 

Ela não era diferente do meu pai que tentava me comprar com presentes caros que eu se quer dava a menor importância. 

Ou da minha mãe, que vivia me jogando para os mais diferentes tipos de garotos que ela considerava serem o tipo certo. Aquilo que ela não considerava que Thomas era. 

Para eles, Thomas era tudo de errado que havia. Mas para mim, ele era um fodido anjo caído. Minha fodida alma gêmea. A única fodida coisa certa na minha vida. Bom, pelo menos até algumas horas atrás. 

— Chegamos. - Minha tia anunciou, parando o carro em frente a um prédio que obviamente havia sido recentemente pintado. 

Jogo a mochila em minhas costas e saio do carro. 

Eu vou voltar a fingir que está tudo bem. Eu vou voltar a dizer que está tudo bem. Eu vou voltar a desejar que tudo esteja bem. 

Porque, tudo tem que estar sempre bem.


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Notas finais do capítulo

Olááá, minhas flores...Essa é minha primeira fic, então estou muito ansiosa. Comentem, favoritem, acompanhem...Obrigado por lerem e espero que gostem.
Bye bye, flores, até o próximo capitulo



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