Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 22
19.


Notas iniciais do capítulo

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Beautiful Soul - Boyce Avenue cover



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Beautiful Soul - Boyce Avenue cover

 

 

Eu não quero outro rosto bonito
Eu não quero apenas alguém para abraçar
Eu quero você e sua alma bonita
Você é a única que eu quero perseguir
Eu não vou deixar mais um minuto ir para o lixo
Eu quero você e sua alma bonita


19|

Kellen Brice ou a menina de cabelos azuis

Todo dia, ao acordar, eu tinha um ritual. Observar minhas nuances no espelho, por longos minutos. Fitar o nariz arrebitado que eu não gostava muito e por isso havia posto um piercing, como também para me desvencilhar de qualquer lembrança que ele pudesse me trazer. Não vou dizer que adiantava muito.

Minha boca quase sempre estava machucada porque eu tinha o péssimo costume de mordê-la e, mesmo que ardesse, eu não conseguia evitar, era uma forma de externar a confusão da minha mente.

Meus fios de cabelo eram azuis, do tom que eu gostava. Eram não, estavam. Eu precisava me lembrar de que eles eram, em uma época que eu ainda estava inteira, de um tom acastanhado. Marrom como chocolate, minha eu de sete anos adorava sair repetindo isso para as pessoas.

Toda manhã eu tinha que ver cada parte de mim e me lembrar até onde cheguei, sozinha, e que eu ainda não estava morta. Mesmo que minha mente gostasse de frisar 'não por muito tempo'. Será que estar morta era de alguma forma diferente de como eu já me sentia?

E estava muito magra, tinha notado aquilo, mas também meu biótipo não ajudava. Eu não sentia muito prazer em comer, de qualquer jeito.

Às vezes, eu fechava meus olhos antes de iniciar mais um dia e conseguia recordar dos campos verdes do País de Gales. Conseguia visualizar minha infância correndo entre as ruínas de castelos e de me sentir completa, realizada. Tudo fantasia de criança. Hoje eu era a Kellen ou a Senhorita Brice, na verdade, melhor dizendo, era só a menina do cabelo azul.

Era só mais uma garota que olhavam e saiam julgando por qual louco motivo alguém teria para colorir o cabelo daquele jeito espalhafatoso.

"Aposto que quer chamar atenção." E isso não podia ser mais errado porque meu desejo extremo era o contrário, era passar despercebida para que não precisasse falar ou manter contato além do necessário. Eu só existia ali, no canto da sala, dentro da minha própria mente. Queria que me vissem assim.

Depois do que aconteceu comigo, meus pais decidiram sair de Gales quando eu já tinha 14 anos e fomos para Londres. Por causa das minhas atitudes reclusas e introspectivas, eles acharam que seria melhor me colocarem em um colégio interno, assim não precisavam lidar comigo e meus assombros a não ser nas férias, já que eu tinha que voltar.

Assim eu cresci, cheguei, não sei como, aos 17 e só procurei uma ajuda profissional porque meus pesadelos tinham se intensificado, eu já não conseguia fechar os olhos e ver a cena se repetir na cabeça.

Eu havia conseguido sobreviver até o último ano no colégio e me deixava aliviada o fato de que eu pudesse escolher uma universidade e viver longe dos meus pais, de sua casa, das minhas lembranças.

Naquela amanhã, depois de me arrumar para ir à aula, recolhi meu caderno de desenho e minha bolsa para sair. Eis que no salão comunal da Sonserina, sou abordada pelo meu - único— amigo.

— Bom dia, galesa. Será que a gente pode conversar um minutinho, Kellen?

— Bom dia, Scorpiuszinho, mas agora a gente tem aula e não quero faltar. - eu adorava brincar com Scorpius, mas dessa vez ele nem fez careta, só os olhos cinzentos mostraram um tipo de angústia que eu raramente via nele.

— Para de me assustar com esse olhar, Scorpius, não dá mesmo pra gente se falar depois?

— Não, Kellen, preciso mesmo falar com alguém e....

— Fala aí, puto! Vamos pra aula dar aquele cochilo maroto?!

Fechei os olhos quando ouvi a voz de Thomas Uckermann e estremeci.

Nada pessoal, nossos santos só não se batiam. Sabe quando você sente aversão por uma pessoa assim que a vê? E aumenta à medida que você observa as atitudes dela e então qualquer coisa serve para corroborar seu ódio e assim vai criando um redemoinho de difícil saída. Foi assim comigo e ele, e é recíproco.

— Ah, Thomas, agora não dá, tô atrasado pra um negócio com a Kellen.

— Estamos? - perguntei sem pensar enquanto Scorpius já me puxava o braço.

— Ei, Scorpius, sério, você é minha companhia! - Thomas apareceu em meu campo de visão, do outro lado, puxando o braço de Scorpius. - Ah, bom dia pra você também, Avatar.

— Thomas... - Scorpius o censurou.

— Chega disso. - reclamei e tirei meu braço do aperto. Thomas tinha a estranha capacidade de me fazer ficar irritada com pequenas coisas como ninguém. Me tirava a paz com poucos segundos. Aquele sorriso arrogante e apelido idiota; ninguém podia me chamar de algo que eu claramente não gostava. - Vamos logo, Scorpius, quero ficar longe desse seu amiguinho.

— Tenho certeza de que quer, Kellen. Agora se me dá licença, deixa Scorpius comigo que é melhor.

— Não estou obrigando ninguém a vir comigo, Uckermann. Foi o próprio Scorpius quem me chamou, tente lidar com o segundo lugar, filhinho de papai!

— Parem vocês dois! Que saco! Eu adoraria que meus dois melhores amigos se dessem bem, mas se não é possível, se tolerem! - Scorpius espalmou as mãos em mim e em Thomas para nos separar de uma iminente briga. Eu sabia, só em como ele deformava o rosto, que Thomas odiava a forma como eu o chamava, e me deixava eufórica poder atingi-lo da mesma maneira como me atingia.

— Thomas, depois vou te procurar, cara, se manda, preciso falar com ela. Kellen, não pira e vamos logo, por favor.

Thomas bufou e tentou arrancar os cabelos negros espetados da cabeça. Sorri satisfeita quando o vi sair batendo o pé.

— Você ainda o vai deixar louco, Kellen.

— Ele também faz isso comigo. - me justifiquei, mas aposto que soou como uma criança falando seus porquês infantis. - O que é tão sério que precisa falar comigo agora e vai nos fazer perder aula? Sabe que não sou tão boa quanto você nas matérias, não é?

Scorpius sorriu de lado.

— Ajudo você, criatura estranha. Mas então... Como está sua terapia?

— Sabe que só posso fazer quando não tô no colégio, acho que nessas festas de fim de ano terei que ir pra casa. Ir à médica é mais importante do que aturar meus pais. - disse e observei Scorpius confirmar com a cabeça. Ele sabia empiricamente como era pertencer a uma família que não necessariamente te causava a sensação de ser de uma.

— Mas garanto que não quis faltar urgente comigo só pra saber dos meus bichos papões, né?

— Não... É que eu preciso falar pra alguém sobre algo idiota que passou e o que fazer. - Scorpius disse e nos sentamos no banco perto de uma árvore. A manhã estava fria e tentei me agasalhar ainda mais no casaco. - Ontem também aconteceu algo.

— Você está cheio das novidades, ora essa. Fala logo, ser estranho.

— Eu e Rose nos beijamos ontem. - ele soltou a bomba e me olhou, esperançoso por uma resposta. Só pude deixar meu queixo se abrir enquanto ele apoiava os cotovelos na perna.

— Eu sei, eu sei, parece muito estranho essas mesmas palavras na mesma frase, mas é a verdade. O pior é que nem sei por que, só me senti muito diferente perto dela e então pareceu a única coisa que conseguia pensar. Acho que ela também, não me afastou, só perguntou o que significava.

— Por favor, não me diga que disse que era só um beijo, Scorpius. - reclamei com meu amigo por imaginar as complicações daquela resposta. - Rose Weasley não é qualquer garota, pelo amor de Deus, não fode com isso.

— Sabe que não sou nenhum virgem, não sou de ficar sem saber o que falar a uma garota, principalmente depois que a beijo, mas tudo com ela é imprevisível, Kellen. Não soube o que fazer e disse exatamente isso aí.

Scorpius riu de nervoso e bati minha mão na testa.

— Você é um trouxa, Scorpius Malfoy. Como ela reagiu?

— Ficou confusa, mas voltou a me beijar porque parecia que estávamos ligados, sei lá, foi estranho, mas também foi muito bom. Depois nos despedimos sem saber como e pronto. Não sei como serão as coisas daqui pra frente.

— Olha que eu também não sei, viu, Scorpius, ela é a Rose. Não pode brincar com ela, ouviu? Não merece. Se bem que pelas suas palavras, não tem intenção de usá-la.

— Claro que não, Kellen! Ela virou uma amiga. Tudo bem que uma amiga que me dá uma vontade extrema de beijar, mas ainda assim. E tem outro lance nisso também.

— Mais que isso? Mais babado além do fato de que você está caidinho pela Rose Weasley? - arquei as sobrancelhas e Scorpius riu. Parou de torcer as mãos e desviou o olhar pro chão.

— Não tô caidinho por ela, que piegas. Só evoluímos para um estágio de amizade carnal.

— Hahahaha, faz-me rir, Scorpius. - debochei de meu amigo, mas preferi não dizer o que realmente estava achando da novidade. Algo me dizia que Scorpius ia se apaixonar pela primeira vez na vida, e eu não queria estragar a surpresa de vê-lo descobrir sozinho que havia se enroscado na teia da paixão.

— Deixa de graça, galesa. Agora a parte ruim disso tudo.

— Não me diz que enjoou da "extrema vontade de beijá—la".— fiz aspas com a mão na tentativa de imitar sua fala. Scorpius me empurrou com o ombro.

— Não, palhaça, nem sei se tem como isso enjoar.  Mas é que fui um idiota no começo do ano e cai na provocação de Scott sobre uma coisa.

Então Scorpius me falou do dia em que Montanha o convenceu, estupidamente, a assumir uma aposta.

— Mas deixa de ser idiota, Scorpius, Scott foi expulso da escola, então tá livre dessa palhaçada toda.

— Mas a questão é que me sinto culpado quando estou perto dela, porque lembro disso e me parece extremamente errado. O que eu faço, Kellen?

Scorpius Malfoy raramente demonstrava alguma incerteza naqueles olhos acizentados, então quando os vi cheio daquilo, me preocupei.

— Ah, Scorpius, então você tem que falar pra ela ao menos pra se sentir melhor. Se disser da mesma forma que está me dizendo, com essa cara de cachorro que caiu da mudança, tenho certeza que o coração de certa ruiva vai se amolecer e vocês vão sair se beijando e saciando sua amizade carnal.

— Você é uma ótima conselheira. Foi bom desabafar com você - Malfoy me abraçou de lado e nos levantamos. - Só preciso de coragem. Me sinto estranhamente fragilizado quando estou perto de falar a ela.

— Acho que você tem medo de que ela se afaste.

Ele me fitou longamente.

— Talvez seja isso. Não sei.

Pobre Scorpius, descobrindo sentimentos que nunca habitaram dentro de si. Tive que rir por sua confusão.

— Por que está rindo sozinha? Por acaso está com algum segredinho, minha amiga?

Scorpius começou a me fazer cócegas e tive que me desvencilhar de seu abraço.

— Para com isso, idiota! Não, Scorpius, não faz isso!

O Malfoy sorriu perversamente e começou a correr atrás de mim. Nossa brincadeira - que eu achava extremamente desgastante, oras, eu não gostava de cócegas - parou quando um trovão fez barulho.

— Uh, acho que vou entrar porque não quero molhar minha camisa, afinal minha empregada já tem roupa demais essa semana.

— Sua empregada é sua avó! - rebati sua fala. - Vou deixá-las todas amarrotadas e então quero ver reclamar!

— Sua horrorosa! Vamos que vai chover! - Scorpius exclamou e correu para dentro das muralhas do castelo.

Diminui o passo, eu gostava da chuva, do barulho e de sua cadência, a liberdade. Ninguém a impedia de cair da forma que quisesse.

Tão logo o barulho voltou a soar, as pesadas gotas de chuvas caíram. Não tentei correr, ao contrário, aproveitei o frio que escorria por minha pele, meus cabelos, ensopando-os, entrando por meu pescoço e deslizando corpo abaixo. Meus materiais estavam protegidos dentro da mochila e agora eu já não me importava em faltar aula.

Tinha raros momentos na minha vida pós-terror em que eu me sentia como a velha eu; completa, com aspirações, com a mente positiva, quase como se nada de ruim pudesse me estragar. Mesmo que a realidade tivesse sido de forma inversa.

Olhei para o céu fechado, quase negro, as gotas chicoteando em meu rosto. Eu poderia até sorrir.

Até que o som de passos ecoando nas poças que já se formavam no campo me despertou e vislumbrei a figura odiosa de Thomas se aproximando. Parecia um touro, todo determinado em seus passos e uma cara sisuda.

Olhei para trás procurando até quem ele estaria tentando chegar por debaixo da chuva, mas não havia ninguém.

— É com você mesmo que quero falar. - ele disse e notei que já estávamos frente a frente. A chuva o molhara todo, deixando a blusa branca colada ao corpo atlético. Os cabelos pretos já caíam no olho, e os pingos vertiam por seus lábios.

— O que você quer, Thomas?

— Odeio a forma que você faz eu me sentir, Kellen. - ele despejou rispidamente. - Odeio como me sinto pequeno. Odeio porque me lembra das péssimas coisas com as quais cresci e que não quero me tornar.

— Eu não faço você se sentir de nenhuma forma. Deixa de conversa, porque você quem começou com essa atitude idiota de me chamar de algo que claramente eu não gosto, Thomas! - gritei para que ficassem claras minhas palavras mesmo que a chuva tentasse silenciá-las. Agarrei fortemente a bolsa à frente do peito a fim de me livrar do tremor que percorreu meu corpo.

— Porque eu tentei me distanciar de você! Me distanciar do que você me causa, do que me tenta!

— Para de dizer essas coisas, eu não quero mais escutar. - tratei de calá-lo e me virei para sair.

— Você não vai sair. - Thomas segurou meu braço com força e me puxou para si. - Preciso acabar com esse desejo insano de você. Sem explicação.

Olhei estarrecida para ele e abismada com suas palavras. Para meu espanto, seus olhos azuis não demonstravam nada que me pudesse apontá-lo como louco. Insano, como ele mesmo disse.

— Você quer sair? Se quiser mesmo, vai agora. Te dou um segundo.

Ainda espantada demais para reagir, não me movi. Um meio sorriso apareceu em seu rosto. Seus dedos se moveram para tirar uma mecha azul que caia em minha testa.

— Ótimo. Era isso que eu queria.

Então Thomas me tomou nos braços e me beijou. Um beijo urgente e molhado como a chuva que nos cobria.

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Oi, gente querida! Pois bem! Tive que vir com esse capítulo porque essa personagem chegou ao meu ouvido e disse: que tal contar um pouco da minha história? Quero dividi-la.
E então pensei que não seria nada mal, afinal eu não queria trazer os bffs dos principais como joguetes, apenas para figurar. Gostaria de dizer que eu, Kellen e Thomas adoraríamos dividir um pouquinho deles com vocês, então me falem se está tudo bem pra vocês! Obviamente o foco é o crazy couple ScorRose, eles seriam contados também nas visões deles, afinal fazem parte da vida. Tal como eu selecionei que falar de Scorpius e seus sentimentos nesse capítulo seria adequado para a história no momento.

 

 

Por favor me dêem o feedback para que eu possa saber se tá tudo bem! Beijos!


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