Meu nome é Hellen, já faz quinze dias desde que essas coisas apareceram. O governo mandou a população que pudesse ir para o leste, para aqueles que não conseguissem, eles providenciariam algum tipo de regaste. Eu e meu irmão não conseguimos ir e até agora nada apareceu. Nenhum helicóptero, nenhum tanque, nem sequer outro aviso, é como se eles simplesmente tivessem esquecido de nós, sobreviventes.

Escrevo desesperada, com a esperança de alguém um dia nos ache, mas a cada segundo que passa ela apenas diminui. Estamos trancados em um apartamento que achamos sem dono. Nossa comida está acabando e ir buscar mais é morte, aquelas coisas que vieram dominam as ruas como ratos nos esgotos. Não posso mais sair, ver o sol além das janelas, dar minhas caminhadas tão amadas. Qualquer um que vá ao meio dele, eles devoram. Mataram meus vizinhos, amigos, minha namorada, meus pais...

Um garoto se juntou a nós lá pelo quinto dia, Adan, acho que esse era o nome dele. Ele saiu para buscar comida, quase o pegaram, quando voltou estava todo arranhado e mordido no pulso. Estava cuidando dos ferimentos quando virou um deles. Mesmo depois de uma semana, ainda não entendi oque aconteceu. Só estava febril, não aparentava nada de mais.

Só me salvei por sorte. Na casa na qual nos hospedamos tinha um cutelo. Estávamos na cozinha quando isso aconteceu, no desespero só peguei a primeira coisa no balcão e... Bem, acho que já dá para entender. Lembrar-me disso já me revira o estomago.

Só tenho dó do meu irmãozinho. Phillip só tem 13 anos, não é justo ele estar vivendo tudo isso. Foi ele quem viu nossos pais serem devorados e achou Maria, minha namorada, aos pedaços. Surpreende-me ele conseguir dormir tranquilamente como agora, mas sei que no fundo está muito assustado, rezando a cada dia para se transformar, contudo isso não transparece, ele nunca deixa seus sentimentos à mostra. Mesmo cinco anos mais novo, sempre foi mais forte que eu, mais sensato que eu, melhor que eu em tudo.

O real motivo de eu estar escrevendo isso é o som de passos ecoando. Talvez minha letra tenha saindo um garrancho, mas é muito difícil não tremer. Não paro de rezar para serem outros como nós, humanos. Mas eu não vou deixar chegarem em meu irmão, infelizmente meu dever como irmã mais velha é acorda-lo para que consiga fugir.

Desde o incidente com Adan, sempre carrego uma faca comigo, espero conseguir segura-los com isso, caso necessário. Estamos no primeiro andar, se Phillip tiver que pular, ele não vai se machucar, pelo menos não como se fosse eu. Não há motivos para não escapar, Ele não daria uma morte tão cruel a uma alma tão doce.

Por favor, que Deus nos ajude.