3 anos e 9 meses para o fim

Uma música ao fundo e um copo para bebidas ao seu gosto, apenas isso queria para um dia perfeito. No entanto, na empresa Uchiha, é um dia tumultuado e é necessária a presença do dono o dia inteiro, para seu total descontentamento. O único dia especial para si e está tudo um caos.

Papelada e mais papelada sobre sua mesa, quanto mais preenchia e olhava tudo isso, mais sua secretária trazia. Dificilmente fica no escritório o dia todo resolvendo problemas da empresa, as coisas andam estranhamente calmas e esse é um dos poucos dias depois do anúncio do novo presidente que sua presença é tão necessária. Até sua secretária, Karin, está enlouquecendo.

O seu celular vibra e deseja profundamente que seu namorado também esteja enrolado.

De: Naruto

Podemos nos encontrar no restaurante? Eu pego carona com o Kiba até lá.

De: Sasuke

Ok. Eu também estou enrolado. Vou trabalhar. Amo você.

De: Naruto

Saudades de quando éramos apenas jovens sem preocupações com trabalho. Também amo você.

— A regra de sem celulares dentro da empresa se aplica ao presidente? — Pula na cadeira pelo susto e já sabe quem fala — Seu namorado?

— Por que raios existe uma porta se você não bate para entrar? — Seu conselheiro, Orochimaru, sai da sombra e se senta na cadeira à sua frente de modo informal — Eu sou solteiro, Orochimaru.

— Ah, tá. Com seu pai funciona, mas comigo nem adianta — Evita o olhar de seu conselheiro, parece que ele olha sua alma toda vez, uma de suas bizarrices é sua habilidade de observação — Você irá no jantar da Tsunade?

— Eu devo perguntar por que você irá? — Ainda há tentativas de uma confirmação do envolvimento dele com Tsunade e Jiraya, mas todas são tentativas frustradas e questionáveis — Eu já tenho uma reserva num restaurante com meus amigos. Deixo para outra ocasião esse jantar. Gratidão pela recomendação do restaurante mais reservado.

 — Apenas sou um amigo de muitos anos dos dois e fui convidado — Como ele disse... Tentativas frustradas e mais questionamentos — Algum evento importante?

— Só uma comemoração — Digita no seu notebook respondendo alguns e-mails e apenas para quando sente o olhar divertido de Orochimaru — Que foi?

— Nada. Apenas será uma noite interessante. — Há um sorriso perverso em seu rosto, enquanto ruma até a porta — Tenha um bom jantar.

Uma palavra define seu conselheiro e é: estranho.

~*~

É um restaurante de classe alta, sabe que sua raposinha irá reclamar pelos preços e pelo excesso de gastos seus, porém é uma data especial para eles. Seu aniversário de namoro de três anos e esse restaurante é o único que seria bom para a comemoração.

Está adiantado para a reserva que fez para o restaurante, tão ansioso pela noite que fez todas as papeladas possíveis hoje e lá está no carro com seu motorista.  Este o olha de modo divertido pelo seu estado nervoso, algo bem claro pelo movimento incessante da sua perna cruzada sobre a outra.

É seu motorista há, no mínimo, dez anos e Kakashi mantém sua lealdade a si, mesmo tendo outras oportunidades e talvez outros tipos de empregos melhores — ele tinha um rol de habilidades surpreendentes que interessaria qualquer pessoa. O dono da empresa recusou veemente a proposta daquele homem mais velho para mudar de cidade consigo e deu uma folga para ele durante seu tempo na faculdade. Com a sua volta, no dia seguinte, o grisalho já estava a postos para o seu serviço.

— Você sabe que o Naruto vai ficar bravo com esses excessos, não? — O Hatake aponta para o buquê de flores e chocolate que o moreno comprou para o loiro, talvez tenha exagerado — Mas é surpresa, Sasuke Uchiha fazendo isso por alguma pessoa.

— Por ele, compensa tudo e ainda é pouco — Ele é sua salvação de sua personalidade fria e calculista — Desculpa por essa demora, o seu expediente já acabou e você está aqui.

— Sem preocupações quanto a isso, Sasuke.

A conversa é interrompida pelas batidas no vidro do carro, é a Sakura. Poucos entenderiam os motivos de sua presença nesse dia. A volta de Sasuke gerou uma quebra na rotina com poucas restrições quanto a saídas suas com seu namorado. E a rosada gentilmente ofereceu uma ajuda ao sempre acompanhar seus amigos nos encontros... Uma situação perfeita? Nem um pouco, entretanto, nenhum dos três reclama e conseguem um disfarce ótimo.

— Você já pode sair do carro, moreno lindo — Abre sua porta e ambos se despedem do motorista dele — Achei que o Naruto estivesse com você.

— Ele enrolou-se com o trabalho, chegará um pouco atrasado — Evita o olhar questionador de sua amiga para sua pequena carranca e responde a contra gosto com um tom arrogante — Kiba dará carona.

— Ele arranjou um emprego ao menos — Concorda com o comentário da sua amiga e suas memórias voltam para aqueles momentos de puro tédio do seu namorado — Kiba é apenas um amigo e Naruto é gamado em você, idiota.

— Duvido muito se a cópia de um cachorro pensa o mesmo — Fica feliz pelo seu namorado, só é difícil toda essa situação para si... Nunca fora uma pessoa muito social, seu número de amigos limitado é uma prova disso, diferentemente do seu namorado comunicativo — Só suporto-o por causa do Naruto.

— Você jura? Eu jamais imaginei isso nas diversas vezes que resmungou sobre Kiba — Uma carranca faz-se presente em seu rosto e direciona sua cabeça para o lado oposto de sua amiga, em uma atitude birrenta — Ciumento que só.

— Está abusando da minha paciência.

— Rabugento. — Depois dele e da raposinha assumirem seu namoro para a melhor amiga de ambos, ela não tem mais papas na língua e sempre há espaço para seus comentários ácidos para o moreno — Esperamos pelo Naruto ou é melhor já garantir a reserva?

A resposta veio por uma mensagem de celular.

De: Naruto

Melhor você irem já garantindo a reserva no restaurante, chegarei em menos de vinte minutos.

Mostra a mensagem para a Haruno e os dois suspiram em resposta. Algo típico do Uzumaki.

Acostumados com restaurantes de classe alta, suas roupas estão perfeitamente delineadas e, claramente, de grifes caras o suficiente para um pagamento de meses de um salário de um trabalhador simples. O restaurante, em específico, promovia a privacidade e bem-estar de seus clientes, caso precisasse. Precisa de tamanha formalidade nas vestes? Para a filha de político e dono de uma empresa, com toda certeza. É necessário poder e respeito nessa sociedade e, mesmo que não percebessem, foram criados para isso.

Os bons modos fizeram-no entrelaçar seu braço ao de sua amiga até a entrada ao restaurante em gesto cavalheiresco.  Suas privacidades são mantidas, apenas dando o número de sua reserva sem mais perguntas e são guiados por um garçom até uma área com poucas mesas, consequentemente, a mais cara e difícil para uma reserva, se fosse uma pessoa normal reservando.

— Flores e chocolate, hein? — Sakura pergunta com sorriso sacana após dispensarem o garçom pedindo um vinho caro do cardápio oferecido — A noite renderá. Seu safadinho.

— Sem comentários sobre isso, é apenas uma comemoração de um ano de namoro e nada mais — Corta a provável conversa desconfortável, sabendo das possíveis provocações dela sobre essa ação sua — Agradeço pela sua presença hoje, está nos ajudando demais.

— O que não faço pelos meus patetas? — É de fato uma ótima amiga, ele sabe sobre os sentimentos da outra e já pediu desculpas várias vezes pelo envolvimento dela nos seus encontros. Ela percebendo o rumo dos pensamentos de seu amigo, comenta — Eu faço isso com o maior prazer, a dor é mínima, pois você é feliz com ele e somente isso importa. Eu cuido do meu próprio coração e você cuida do seu e do meu melhor amigo, ok?

— Gratidão, Sakura — Segura a mão de sua amiga sobre a mesa em um gesto reconfortante e lança um olhar questionador para as coisas sobre a mesa, buquê e chocolate — Naruto irá gostar?

— Com toda certeza — Ela aproxima o buquê de seu rosto e o cheira de forma até exagerada — É tão romântico isto, Sasuke. Tudo isso.

— Sasuke, uma grande coincidência você aqui — Um voz feminina aproxima-se da mesa e reconhece sua mãe com o braço entrelaçado ao de seu pai — O que faz por aqui, querido?

Dentre todas as possibilidades e lugares, aquela situação é a mais catastrófica para si e, mais uma vez, teme a presença do seu pai no recinto. O que era para ser uma noite especial, se tornou isso.

— Olá, senhora Uchiha, nos vimos poucas vezes, eu sou Sakura Haruno — A rosada ofereça a mão em um cumprimento formal, realmente foram poucas as vezes que Mikoto estava na casa com o Sasuke — Um grande prazer.

— Filha de Kizashi Haruno? — O patriarca da família assume uma pose interessada para a possível situação à sua frente e sorri contente com a resposta afirmativa daquela mulher mais nova — Ele é um grande homem.

— Meu pai tem seus ideais bem justos, de fato — A Haruno sorri minimamente para os elogios do mais velho e o cumprimenta rapidamente — Vocês vieram jantar por uma data especial?

— Minha jovem, depois de tantos anos casados... Já perdeu a graça de todas as comemorações, eu e meu marido jantamos todas as quartas-feiras nesse restaurante — Os pontos são ligados na sua cabeça e percebe o motivo do sorriso de Orochimaru mais cedo — E vocês? Algo especial?

O casal mais velho está de costas para a entrada dessa área mais reservada e apenas Sakura e Sasuke percebem a chegada do Uzumaki ao recinto. O olhar dele mostra o perigo da situação para o seu namorado e o faz hesitar, esperando o desfecho da situação.

— Apenas um jantar normal, mãe — Responde ceticamente à pergunta com duplo sentido da mãe e treme com a cara em resposta do seu pai — Um jantar de negócios.

— Por que dessas coisas na mesa, então? — A matriarca aponta para os objetos românticos na mesa com um sorriso irônico — Apenas um jantar de negócios, Sasuke? Eu conheço meu filho bem demais.

Responderia de forma irônica, mas está divido entre o olhar de seu pai e olhar de seu namorado atrás desse primeiro. Ambos cheios de significados e tão opostos entre si.

Só Sasuke saberia do peso de sua resposta para sua mãe, todas as possíveis consequências de suas escolhas.

De um lado, o amor da sua vida segurando uma sacola de presente para a comemoração de três anos de namoro e esperando ansiosamente o desfecho. Ele é seu tudo, a pessoa mais importante de toda a sua vida e jamais o magoaria de propósito, foram anos para estarem desse jeito e agradece todos os dias por ter ele ao seu lado. Sentia ao seu lado, o poder para enfrentar todos. Naruto sempre será a solução.

E do outro, o seu genitor e pessoa mais influente, positivamente ou negativamente, em sua vida e suas ações. Aquele capaz de destruir todas as coisas pelo seu puro prazer e faria de tudo para a proteção do nome da tão sagrada empresa herdada pelo mais novo. São inestimáveis os danos que seu relacionamento sofreria caso viesse ao conhecimento do seu pai, nem conseguia uma garantia se teria alguma duração seu namoro. E, nesse momento, é muito poderoso na empresa. Sua raposinha nunca mereceria isso, machucado apenas para o prazer daquele sádico. Fugaku é o problema.

Após toda uma análise fria e calculista da sua situação, olha em direção ao seu namorado e enfim olha para o seu pai. Toma a sua decisão.

— É um encontro amoroso, pai — Entrelaça a mão da rosada e sorri forçadamente para seus pais — Desculpa mentir, mãe. Eu e Sakura somos namorados.

Um breve aperto em sua mão e sabia a opinião da Sakura sobre isso, entretanto, é totalmente necessária sua decisão para a proteção de seu namoro e, consequentemente, de Naruto. Sempre visaria seu melhor, mesmo co9m essas consequências. As coisas com Sakura resolveria depois, explicaria seu ponto de vista e daria uma desculpa de que terminaram  para seus pais mais para frente. Melhor do que assumir um  namoro com um homem para eles, do nada. 

— Quando iria apresentar esta linda moça, meu querido? — Mikoto abraça sua nova “nora” em um ato mais informal, demonstrando sua felicidade quanto à informação dada — Bem-vinda à família, querida.

— Preferimos mais discrição, por isso o jantar aqui — Sakura responde pelo moreno e este está intimamente aliviado pela ajuda da sua amiga, sabia dos seus esforços para isso — Gratidão, senhora Uchiha, é um honra essas suas palavras.

— Sakura, né? Tudo relacionado ao meu filho é do meu interesse — Sua mãe prontamente ignora seu olhar cético na direção dela, mentiras e mais mentiras — Estaríamos incomodando caso jantássemos juntos?

— Mikoto, deixa os jovens curtirem seu encontro — Seu pai comenta e o Uchiha jovem deseja intimamente que façam isso — Vamos, querida.

— Eles nem se importariam, meu querido — A matriarca responde ao seu marido e chama um garçom parado em um canto do recinto — Há uma mesa aqui para quatro pessoas?

— Sempre teremos uma mesa reservada para você, senhora.

Sasuke sabe o fim da noite e pensa em seu namorado. Intimamente, sabia qual seria a cena, mas teimosamente olha para o lugar que ele estava.

Ele já tinha partido e, no lugar dele, está um garçom segurando o seu presente de aniversário de namoro.

~*~

A porta do seu apartamento está semiaberta, uma pequena divisão para o que está prestes a enfrentar. Dúvidas e mais dúvidas sobre a situação do seu namoro passam pela sua cabeça, acovardando-o para seguir em frente.

Respira fundo e abre mais a porta. O blazer cinza do seu namorado está jogado desleixadamente sobre o sofá, assim como os sapatos sociais. Em qualquer outra situação, brigaria com seu namorado por causa dessa bagunça, porém hoje não.

O silêncio é um inimigo seu. Nenhuma televisão ligada, nenhum papel sobre a mesa de centro da sala e, principalmente, sem seu loiro dormindo no sofá por causa dos trabalhos até tarde. Medo define sua noite e este momento ao se aproximar do quarto deles.

— Naruto? — Pergunta ao abrir a porta, temendo a ausência dele no seu apartamento por sua causa — Está dormindo?

Silêncio. A presença do Uzumaki é denunciada por um barulho vindo da cama.

— Minha raposinha, fale comigo — Aproxima-se do canto da cama e faz um carinho na perna dele em um gesto carinhoso — Amor.

— Eu quero ficar sozinho, Sasuke — Ele afasta a perna, negando o carinho seu — Por favor.

Com a teimosia no alto, deita-se no pequeno espaço na fresta entre ele e o fim da cama. O rosto dele está iluminado pela pouca luz vinda do outro cômodo.

— Vamos conversar, meu amor. — O loiro está olhando para baixo, evitando o olhar do moreno — Desculpa, mas entenda que foi necessário.

— Você vem na maior cara de pau e fala isso? — Seu corpo treme com o olhar raivoso de Naruto, começou errado — Tchau, Sasuke.

— Meu amor, olhe para mim— Segura o queixo dele e o força a olhar para si, é necessário uma conversa sobre o que aconteceu mais cedo — Meu pai é alguém muito influente ainda na minha vida.

— Você é o lacaio dele por acaso?

— Eu sou o atual dono da empresa e eu preciso do apoio dele nesse momento de início de posse. Todos os meus atos e eu ter feito aquilo... Foi necessário — O olhar dele aos poucos se torna mais neutro comparado ao anterior — Ele é capaz de tudo e eu realmente me importo com sua segurança.

— Ele sempre estraga tudo, amor. Se você me ama, entenda meu lado.

— Eu entendo o seu lado, claro, porém entenda nossa situação — Enfim consegue amansar a fera e continua seu carinho no rosto dele — Será melhor para nós dois se meu pai achar que eu e a Sakura estamos namorando, pelo menos estamos em segurança e fora do radar dele.

— Nós moramos juntos, amor, sempre estaremos no radar dele — Seu coração está se partindo com o olhar magoado de sua raposinha — Foi difícil hoje.

— Eu imagino, raposinha — Beija gentilmente sua testa como uma forma reconfortante — Eu amo você, muito. Fiz por você tudo aquilo, para sua proteção e a segurança do nosso namoro. Entenda o meu lado, foi necessário.

— Por nós, né?

— Sempre por nós dois — Abraça fortemente como pode o corpo do seu namorado e ele esconde seu rosto no vão do moreno — Quer pedir alguma coisa para uma comemoração?

— Sem pique para comemorar, só quero dormir — O loiro afasta-se e abre espaço para o moreno ter um espaço digno na cama — Foi um dia e tanto.

— Posso dormir com você?

— Tudo bem. É seu quarto também.

Com um beijo estalado na bochecha do loiro, Sasuke abraça o namorado e eles dormem assim.