Lufano sim, alegre também escrita por Maga Clari


Capítulo 4
A vez em que os biscoitos amanteigados tinham cheiro de queimado


Notas iniciais do capítulo

Oi, meu povo! Sim, eu voltei. Não é uma ilusão!
O próximo capítulo está quase terminado, mas por motivos de força maior, tive que interromper, por isso ainda não finalizei.
Beijos no core



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Alice me deu quase uma semana de gelo (tudo bem, só três dias, mas pareceu uma eternidade). Não é que eu já não esteja acostumado a ser ignorado pelas pessoas, mas Alice é minha amiga. Pelo menos, nunca imaginei que ela fosse ficar brava o bastante para destruir nossa amizade.

Mas depois do incidente do beijo, Alice parou de acenar pra mim no corredor. De me desejar bom dia. De perguntar se eu posso passar o suco de abóbora na mesa das refeições. E de sorrir e me abraçar sempre que eu digo algo engraçado. Alice também costumava apertar minhas bochechas. E por incrível que pareça, nada disso me irritava. Eu até gostava. Pra valer.

― Pelo amor de Merlim e Morgana, Hugo, esquece isso! ― foi Rose, minha irmã mais velha, transbordando impaciência durante o jantar ― Nem teve protesto! É a sua chance de relaxar um pouco, tomar um ar puro, ler um livro, nadar no lago, qualquer coisa! Não quero saber de você indo parar na ala hospitalar de novo, está me ouvindo?

― Positivo e operante, irmãzona.

― Acho bom.

Então, Rose enterrou-se em seu sanduíche do tamanho do Everest e revirou os olhos. Sempre achei engraçado o jeito mandão e preocupado dela. Me lembra a mamãe de vez em quando.

― Ei, Weasley ― o monitor-chefe da Sonserina, Cornelius Goyle, colocou-se bem na frente dela ― Achei que a regra fosse cuidar de sua própria mesa.

― Jura? Achei que a regra fosse cuidar de sua própria vida! Dá o fora daqui, cobra!

― Perdão? Acho que não ouvi direito. O que disse?

― Isso mesmo que você ouviu.

― Terei que reportá-la à Professora McGonnagal?

― Faça o que quiser, não lhe devo satisfações.

― Cinquenta pontos a menos para a Grifinória, monitora.

― Monitores não tem permissão pra tirar pontos, seu ignorante! Você chegou a ler as regras ou é burro demais pra isso?

Eu observava a tudo completamente assustado. Principalmente quando Goyle partiu para cima de Rose e ela lançou-o contra a parede com um feitiço de defesa. Os professores se levantaram e, aí sim, ela levou uma detenção. Não aguentei. Aquilo era o cúmulo do absurdo.

― Detenção?! ― eu e Rose gritamos ao mesmo tempo.

― Professora ― intervi, aproximando-se dela ― Foi legítima defesa!

― Não é permitido atacar alunos, Senhor Weasley.

― Mas foi ele que começou!

― Também não se deve dar falsos testemunhos. Controle-se, Senhor Weasley. A Senhorita ― ela apontou para Rose, que tentava não explodir ― Vem comigo.

A Professora McGonnagal seguiu junto com minha irmã e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa para detê-las, Lysander surgiu de repente, tomando o lugar onde Rose havia acabado de desocupar.

― Hugo. Temos uma emergência.

― E-emergência? Grave?

― Mais ou menos. Você acreditou mesmo nessa besteira do protesto ter sido adiado por questões de logística? Estão ameaçando a gente, Hugo. Querem a cabeça do Louis. Ele só não quis fazer alarde. Aí inventou essa história de que precisava de mais dias para finalizar os preparativos.

― QUEREM A CABEÇA DO LOUIS?!

― Shhhhh! Fala baixo, Hugo ― Lysander ficou olhando para todos os lados, paranoico, antes de voltar a prestar atenção em mim ― O ponto é que precisamos fazer isso logo. Nunca imaginei que Louis fosse tão medroso. Ele não entende que é justamente contra isso que temos que lutar.

― Tem razão, Lys.

― Vá espalhando. Vamos nos encontrar à meia-noite na Sala Precisa.

― Ei, Lys! ― chamei-o novamente, quando ele já estava para sumir do meu campo de visão ― Onde está Louis, afinal?

Lysander hesitou por alguns instantes antes de responder.

― Meia-noite na Sala Precisa, Hugo.

E foi tudo que meu amigo enigmático falou, antes de ir-se embora de vez. Eu nunca entendi os Scamander. Lysander e Lorcan não falam coisa com coisa e me deixam confuso pra burro (e eu sendo burro mesmo, só piora a situação).

De qualquer maneira, eu não esperaria meia-noite porque sou ansioso. Algo estranho estava acontecendo, e eu precisava descobrir. Hogwarts parecia ter-se banhado numa gosma suja e sombria, cheia de maldade e faíscas. Brigas o tempo todo, detenções fora de hora, pessoas se escondendo. Os meninos tinham razão. Já havia passado da hora de revolucionar aquela escola.

O pior de tudo é que existe uma cadeia social dentro de Hogwarts. Sonserina e Grifinória se estapeiam pelo primeiro lugar; Corvinal fica em terceiro; e nós, os lufanos, o usual e sempre último lugar. O problema da Corvinal é que eles são frios e não se misturam. Parece uma casa de fantasmas esnobes, que não se levantam para ajudar os amigos. A não ser que isso interfira em algo que os atinja. Covardões!

Fiquei pensando nisso um tempão, enquanto caminhava de um lado para o outro, esperando que a porta da Sala Precisa aparecesse. Consultei o relógio algumas vezes, mas já havia se passado mais de quinze minutos e nada de porta. Eu parecia um maluco desequilibrado (o que eu talvez até fosse, a julgar por minha ansiedade crônica) e cheguei ao ponto de esmurrar a parede e gritar pela porta que nunca vinha.

De repente, um bilhete surgiu sob meus pés. Olhei para os lados, buscando o remetente, quem sabe uma coruja, mas não havia nada. Dei de ombros e abaixei para pegar o pergaminho velho e cortado.

“Não quero falar com você. Por favor, vá embora. Estou ocupada.

Ass. AL.”

Franzi um pouco a testa, tentando entender aquilo. Não somente o bilhete, mas o cheiro, ah, o cheiro de biscoitos amanteigados que havia na Amortentia. Aquele cheiro gostoso e adocicado, que poderia muito bem se transformar num perfume dos deuses da fome. Voltei a esmurrar a parede. Outro bilhete.

“Já mandei você ir embora, Weasley!”

― Ei! ― gritei, agora com fervor ― Quem está aí? Me deixe entrar!

― Deixa ele, Lil. ― escutei uma voz abafada, muito familiar, falar provavelmente com a pessoa que brigava comigo.

― Não! ― ela respondeu.

Então, senti ser impulsionado para trás, para a parede dos fundos.

― Ficou maluca?! ― a voz familiar parecia nitidamente Louis agora. E ele estava furioso.

A porta então surgiu junto ao rosto de Louis que inclinou a cabeça, chamando-me para entrar e acompanhá-lo.

O cheiro de biscoitos amanteigados já não estava mais lá.

Ao invés disso, havia uma Alice Longbottom suja de chocolate, farinha e uma travessa com bolotas de carvão ao seu lado. Ela tinha os braços cruzados e um olhar fuzilante.

― Hugo ― Louis tinha o semblante extremamente sério, nem parecia que era ele ― Nós três precisamos conversar.


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