Incógnita escrita por Lua Chan


Capítulo 4
O Chefe




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— O que significa isso?! - o homem do terno negro gritou, aparentemente para Tiberius, que em um segundo chegou em seu escritório. Então aquele era Black Hat? Ele realmente parecia tão ruim quanto o Garoto Smurf me falou.

— D-Desculpe, chefe. - disse o garoto, tremendo de medo - Isso não vai acontecer de novo.

— É claro que não vai. Se acontecesse, eu arrancaria seus membros e os devoraria no café da manhã. - Tiberius se encolheu, enquanto recebia as reclamações daquele cara bruto. Tive vontade de defendê-lo, mas o medo me impedia de dizer algo - E o que é essa coisa?

Black Hat apontou para mim, com seu dedo esquelético e pontiagudo. Virei a cabeça para ambos os lados, tentando confirmar se era comigo mesmo que ele estava falando.

— É, inútil! Você. - ralhou ele, como se tivesse lido meu pensamento - Que ideia absurdamente patética foi essa de invadir meu escritório?!

Não consegui respirar de novo, eu estava tendo uma crise de pânico no pior momento possível. Meu amigo "azul" gesticulou com a cabeça, obrigando-me a dizer algo, mas nada saía de mim.

— Vou te dar apenas 5 segundos. - disse Black Hat - Se você não me der o que eu quero, sua morte será lenta e dolorosa.

— T-Tudo bem! - me rendi, com medo de ser devorado vivo - Sou seu novo empregado.

Houve 1 minuto de silêncio. Black Hat e Tiberius trocaram de olhares e eu olho para o lado. Em seguida, um barulho estridente, que presumi ser uma gargalhada, se forma no local. Ao olhar para o homem de terno, percebo que era ele quem estava rindo. Tiberius encontrou uma forma - até agora, nem sei como - de se encolher mais ainda.

— Você só pode estar brincando. - prosseguiu Black Hat, virando-se para Tiberius - Diga-me que essa foi uma piada, 5.0.5!

— Mas é verdade, chefe. Esse daqui é... uhm... - o garoto pensou por alguns instantes. Meu estômago já estava tremendo de tanto medo - Doutor... Flug. Sim! Doutor Flug.

— Doutor? - eu e Black Hat gritamos em uníssono.

— É. Doutor. - "5.0.5" confirma - Hector é um cientista super renomado. Devia saber mais sobre ele em seus jornais, chefe.

— Não pedi sua opinião, 5.0.5. E nem um nerd. Quero um lacaio! - Black Hat cerrou o punho de raiva. Tiberius deu um passo a frente, talvez o ato mais corajoso e idiota que ele fez.

— E ele será seu lacaio, chefinho. - murmura - É assim que ele contribuirá para a Black Hat Corp.

— Ele não durará um dia!

— Ele pode se acostumar. - rebateu Tiberius.

O homem ficou pensativo, coçando o queixo com os dedos. Enquanto fazia aquilo, uma estranha fumaça saiu de seu chapéu. Talvez aquilo fosse um teste para ver se eu me assustava. Ele, por fim, revirou os olhos e bufou.

— Mostre-o os cômodos da casa e encontre um lugar para que ele possa trabalhar. - Tiberius fez uma expressão de alívio e Black Hat notou - Mas se estiver errado, 5.0.5, vou arrancar sua língua. E espero que saiba que isso não foi uma simples ameaça.

— Não vai se decepcionar, Mestre da Vilania. - ele fez uma breve mesura e me puxou para fora do escritório, deixando Black Hat sozinho e contemplativo.

— O que foi aquilo? - perguntei, desesperado, falando o mais baixo possível. Tiberius não havia me respondido, acho que estava procurando por um lugar mais calmo.

— Aquilo, Hector, é seu novo chefe. De nada, por sinal.

— Eu não pedi pra você mentir sobre a minha identidade. - retruquei - E falando nisso, qual foi aquela de "doutor Flug"? Já viu as minhas experiências? Não sou que nem meu p...

Interrompi a minha fala, antes que eu terminasse a frase que me abalaria por toda a noite. Lembrar de Stanley, ou "meu pai", era tão prazeroso quanto triste. Ele não estava mais aqui. Ninguém estava. Éramos apenas eu, Tiberius e essa corporação do mal, literalmente.

— Seu pai? O que tem ele?

— Deixa pra lá. - falei, escolhendo a opção mais plausível de todas - De qualquer maneira, eu não tenho conhecimentos científicos suficientes para me classificar como doutor.

— Não esquenta. A gente resolve isso. - ele estendeu a mão e afagou meu ombro. Com isso, a tatuagem que ele possuía no braço estava a mostra. Tiberius notou e curvou os ombros.

— Por que ele te chamou de 5.0.5? - questiono, apenas, tentando retirar todos os pensamentos que me lembravam do quão ferrado eu estava.

— Assim como Clary tem apelido, eu também tenho um por aqui. Talvez o seu possa ser mesmo "Dr. Flug". Cai bem em você.

Clary? Oh, sim. Demência. A garota lagarto. Assim que ele disse aquelas palavras, um vulto esverdeado passou pelas minhas costas. Descobri ser Demência apenas quando ela abraçou 5.0.5 pelas costas e beijou sua bochecha esquerda.

— O que meu nome tá fazendo numa conversa alheia? - pergunta ela. Um calafrio se forma dentro de mim quando ela se movimenta. Parecia o serpentear de uma cobra.

— Nada não, querida. Só estava falando sobre nossos apelidos para o novo cientista de Black Hat.

A garota me olhou de cima a baixo - qual é a desses dois?! - e lançou-me um sorriso perverso.

— Oooh, cientistas. Eu gosto de cientistas. - à medida que ela se aproximava de mim, eu me afastava dela. O que ela tinha na cabeça? 5.0.5 se colocou na minha frente e fez uma cara de raiva.

— Já chega, Clary! Pode parar.

— Tá com ciúmes, amorzinho? - perguntou, rindo feito uma foca engasgada - Você não tem mais o direito de me chamar pelo nome. Não estamos mais juntos.

— Vocês namoravam? - questionei, surpreso com a possibilidade de Tiberius ter namorado alguém mais estranha que ele.

— Águas passadas. - replicou sem muita consideração - Venha, Demência. Black Hat pediu para mostrarmos o quarto dele.

— Não temos mais quartos aqui. Talvez ele possa morar no porão.

— Demência! - Tiberius revidou, parecendo chateado com ela. Para minha surpresa, ele não estava - Essa até que é uma boa ideia. Hector pode construir o laboratório dele por lá.

É... até que era uma boa ideia. Suspirei e segui os dois para o lugar que seria, futuramente, meu local de trabalho. Isso não era a minha maior preocupação, na verdade. O que realmente me importunava era o seguinte: como eu conseguiria criar invenções que fossem do agrado de Black Hat?

— Não se preocupe, docinho. - sussurrou Demência, o que me assustou. Ela conseguia ler os meus pensamentos ou só foi uma coincidência macabra? - Você vai ficar bem, aqui. Se precisar de ajuda, é só falar.

— E mais uma coisa. - advertiu Tiberius - Nunca chame Black Hat pelo nome.

— Por que? Ele tem vergonha?

Demência e 5.0.5 se entreolharam, como se eu fosse uma criança e estivesse começando a aprender a falar.

— Ele é o Mestre da Vilania. É nossa obrigação tratá-lo como tal. Pode chamá-lo de chefe ou adjetivos como "Senhor da Vilania" ou algo assim. Só não apenas Black Hat.

— É para seu próprio bem.

Depois de tantos avisos, eles finalmente me deixaram sozinho. Eram em momentos como aquele que eu gostaria de receber o abraço da minha mãe, de brincar com o meu irmão mais velho ou até ouvir as broncas do meu pai. Mas... eu não tinha mais isso. Provavelmente, não conseguiria esse desejo por um bom tempo.

Olhei para toda a bagunça do "quarto" e comecei a organizá-lo à minha maneira. Pus algumas canetas e papéis sobre a mesa e liguei uma pequena luminária. Abaixo dela, havia uma foto relativamente antiga e cheia de poeira. Limpei o vidro que a preservava e tossi quando o pó entrou em minhas narinas. Agora consegui visualizá-la com mais facilidade.

Era Black Hat com um sorriso maligno junto a três pessoas e um urso negro. Ao seu lado esquerdo havia dois adolescentes: um garoto e uma garota - talvez tinham uns 14 ou 15 anos de idade -. Eles eram muito parecidos com Tiberius e Demência, até fiquei surpreso. Ambos alisavam o pelo espesso do animal, que tinha os olhos fechados (acho que ele estava gostando do carinho). Ao lado esquerdo dele, havia um homem de jaleco claro. Seu rosto era escondido por uma máscara esquisita, mas apesar disso, eu sabia que ele era um cientista.

Seriam eles a antiga equipe do mal de Black Hat? E esse cara misterioso ao seu lado? Será que era ele que eu havia substituído? O que havia acontecido com ele? Eram tantas perguntas que invadiam minha mente, que até me deixaram tonto. Pelo menos de uma coisa eu tinha certeza: eu tiraria minhas dúvidas amanhã mesmo.


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