Meu nome é Yuna Masaya. Sou a garota mais popular do colégio Sakurazaka. Todos os dias, no intervalo, eu escolho três pessoas para sentar comigo na mesa do refeitório - é quase um evento escolar - e ninguém, além daquelas pessoas, pode dirigir a palavra a mim, a não ser que seja bonito, popular, ou o diretor, claro. Mas naquele dia um garoto estranho quebrou as regras. As minhas regras!
    - Masaya-sama? - A voz era imponente, virei de frente para o indivíduo que parecia ter saído de um filme de horror.
    - A Masaya-sama está comendo. Não incomode - a garota - qual era mesmo o nome dela? - respondeu por mim.
    - Licença querida. Eu posso falar sozinha - Respirei fundo e então me dirigi ao rapaz - Estou comendo, não incomode!
    - Eu preciso da sua ajuda.
    - Eu tenho cara de bem-feitora? Peça aos seus amigos nerds.
    - Duvido que eles possam me ajudar.
    - Eu muito menos. Vá embora - voltei a comer, mas ele insistiu.
    - Preciso da sua ajuda - bateu com a mão na mesa há centímetros da minha bandeja.
    - Olha aqui garoto. Eu não sei de onde você veio, mas se pensa que vai vir aqui me ameaçar e conseguir o que quer está muito enganado!
    - Eu não quis ser grosso, desculpe.
    - Assim está melhor - voltei a comer.
    - Me ajude a conseguir uma namorada.
    - Quê?
    - Me ajude a...
    - Eu ouvi.
    - Então...
    - Ainda não entendi.
    - Me ajude a con...
    - Eu já entendi!
    - Então por que disse que não entendeu?
    - Argh. Deixa pra lá. O que quer que eu faça? Pergunte se alguém quer namorar você? É isso? E então você me deixa em paz?
    - Bem... Na verdade queria que me ajudasse a ficar mais atraente pra que alguém se apaixone por mim.
    Ele só podia estar brincando. Olhei dos pés à cabeça. Sapatos xadrez, camisa por dentro da calça, óculos fundo de garrafa e Oh meu Deus! O que é aquele volume na...? Ah, é uma bombinha pra asma. Deixa-me ver os cabelos... Será que é a mãe dele que o penteia? Deve passar bastante gel pra ficar tão lambido.
    - Sem chance.
    - Eu faço o que você quiser!
    - O que você teria de interessante pra me oferecer?
    - Eu... Posso fazer seus deveres de casa!
    - Já tenho quem faça - Levantei da mesa, sendo seguida pelas outras três garotas - Boa tentativa, garoto.
    - Você tirou nota baixa em química, não é? Se não se der bem no exame da semana que vem vai ter que ficar aqui nas férias de verão. Você não quer isso, quer?
    - Como ficou sabendo disso?
    - Eu tenho minhas fontes - ajeitou os óculos com o indicador. Nojentinho.
    - O que tem a me propor?
    - Vou fazer de você um gênio da química até o dia da prova.
    Hesitei. Como ia fazer alguém gostar daquela... Coisa? Bem, eu poderia enrolá-lo até o dia do exame. Ninguém merece ter aulas em plenas férias de verão...
    - Está bem. Eu gosto de desafios.
    - Obrigado!! Não sabe o quanto fico feliz por isso!
    - Tá, tá... Agora vá embora.
    Quando aceitei, esqueci de uma coisinha: Aquela coisa ia atormentar minha vida até o dia do exame. O que as pessoas pensariam se me vissem andando com ele?
    Tarde demais. No dia seguinte senti cutucarem minhas costas na aula de literatura. O encarei de lado extremamente incomodada. Ele me entregou um recadinho que dizia: "Quando começamos?"
    Ignorei o rapaz e a paz voltou a reinar... Pelo menos durante cinco minutos, até eu receber uma nova cutucada do indivíduo.
    Levantei da cadeira e fui até a lixeira jogar o papel fora. Seria horrível se alguém lesse. Quando voltava para o meu lugar disse "Depois da aula".
    Eu posso ser uma pessoa orgulhosa, metida, fútil, desprezível e falsa, mas, quando dou minha palavra, não volto atrás. Por isso, depois que o sinal bateu fui até o nerd para tentar fazer da vida dele algo mais agradável.
    - Para onde está indo agora? - Antes de falar, me certifiquei de que não tinha ninguém olhando ou ouvindo.
    - Eu ia para casa.
    - E... Onde fica sua casa? - Não acredito que estou fazendo isso.
    - Há duas quadras daqui, podemos ir juntos de bicicleta - meu olhar disse tudo - Ou... Eu posso ir à pé mesmo e você vai com a minha bicicleta. Eu vou à frente e você me segue disfarçadamente.
    - Ótimo.
    No meio do caminho tivemos que parar. A corrida o deixou com falta de ar. O garoto se apoiou nos joelhos e então sacou a bombinha do bolso da calça para retomar o fôlego.
    Ao chegarmos em frente à casa dele, desci da bicicleta e me deparei com uma mulher na porta, que acenava e sorria. Fiquei com medo. Mesmo.
    - Você pode entrar enquanto eu guardo a bicicleta - ele disse.
    Quando me aproximei da porta, a mulher, que devia ser a mãe dele, me cumprimentou.
    - Você é amiga do Mamoru?
    - Quem? Ah... Sou sim - forcei um sorriso.
    - Seja bem vinda - abria caminho para a sala.
    - Obrigada.
    - Quer que eu prepare algo? Um chá, biscoitos, um sanduíche quem sabe...
    - Não precisa não, obrigada.
    - Ah, tá bem então. Qualquer coisa é só chamar viu?
    - Tá certo... - Assim que ela virou as costas meu sorriso se desfez. Manter aquela cara por tanto tempo fez meu maxilar doer.
    - Desculpe a demora - o garoto entrou e sentou ao meu lado. Estava notavelmente tenso.
    - Seu nome é Mamoru?!
    - Ah, sinto muito, acabei esquecendo de me apresentar - levantou novamente e reverenciou - Saitou Mamoru. É um prazer conhecê-la.
    - Tá, tá... Vamos começar com isso - ele obedeceu prontamente, voltando a sentar no sofá ansioso - Primeiro preciso saber mais sobre você... Quantos anos você tem?
    - 19.
    - Mentira!
    - É verdade.
    - Já teve alguma namorada?
    - Er... Não.
    - Já saiu com alguém?
    - Não.
    - Já beijou uma mulher?
    - Não.
    - Nem na bochecha?
    - Já.
    - Ufa. Já é alguma coisa... Quantas?
    - Uma... Não, não. Duas!
    - Que ótimo...
    - Uma é minha mãe e a outra é a minha avó.
    - ...
    - AH! Foram três!
    - Sério?!
    - Beijei minha professora no jardim de infância. Tenho até uma foto!
    - ...
    - ...
    - Temos um longo caminho pela frente.
    A mãe dele apareceu de repente.
    - Vou fazer um lanchinho. Vocês querem?
    - Ah, não, obrigada...
    - Queremos sim, mãe!
    - Okay, vou fazer! - e voltou para Deus sabe onde.
    - Ela não descansa enquanto não aceitarmos - Fiquei quieta - Então, o que você sabe sobre ligações iônicas?
    - Hein?
    - Você sabe o que é íon?
    - Claro que sei! Acha que sou o quê? Burra?
    - E o que é?
    - Você sabe... Você é nerd. Por que tá me perguntando?
    - Pra saber o que vamos estudar. Então me diga, o que é?
    - Ah, que pergunta mais ridícula. Em que nível você acha que eu estou?
    - Se é tão ridícula por que não responde.
    - Ah, porque... Você sabe...
    - Sim, eu sei.
    - E eu também, então deixemos isso pra lá.
    - Tá bem então.
    - TÁ, eu não sei o que é!
    - Como conseguiu passar todos esses anos?
    - Eu colava ué. Aliás, nem sei porque estou aqui! Eu posso fazer o mesmo e passar no teste sem precisar da sua ajuda!
    - E se você colar de alguém que não saiba o assunto?
    - Você só tá querendo me enrolar.
    - Pode acontecer. Não acha que é melhor se garantir?
    - Olha, quer saber... Eu não preciso disso. E por mais que eu me esforce pra te fazer atraente, nenhuma garota vai se apaixonar por você! Eu vou embora daqui, pega sua bicicleta - levantei quando a mãe dele chegou com uma bandeja de cookies de chocolate.
    - Já está indo, querida?
    - Não, mãe. É que... Ela sentiu o cheiro dos cookies e queria ir até a cozinha.
    - Ah então é isso? Tome, querida. Está quentinho - tirou um cookie da bandeja e o estendeu em minha direção.
    - Ah, eu... Não sei se...
    - Ora, não precisa ficar com vergonha, tome! - A maluca enfiou o biscoito dentro da minha boca à força - E então? Como está?
    - Tá... Bom - falava com dificuldade enquanto tentava engolir.
    - Mãe, por que não deixa a bandeja aqui? Precisamos estudar química. Não é, Yuna-chan? - Do que ele me chamou???
    - Ah, seu nome é Yuna? Que nome bonito...
    - Mãe!
    - Tá certo. Vou deixar vocês estudarem - Ela sumiu novamente.
    - Olha... Pra mim chega! - Saí às pressas. Voltei segundos depois para pegar mais cookie.
    - Espere, por favor - Ele correu para tentar me alcançar, mas tropeçou no caminho e derrubou os óculos.
    - Não adianta insistir! - Ao vê-lo tatear o chão para achar os óculos um fio de bondade encarnou em mim e eu abaixei para pegar os óculos e entregar a ele - Toma.
    - Obrigado - ele pegou os óculos e olhou para mim. Corei. Era muito diferente sem aqueles óculos fundo de garrafa de mil graus. Nem parecia o mesmo garoto.
    - Espera, não põe os óculos ainda!
    - Mas, eu sou quase cego sem eles.
    - Calma - Levei as mãos até o cabelo dele e baguncei um pouco o penteado certinho.
    - O que está fazendo?!
    - Já pensou em usar lentes?
    - Eu... Tenho medo de enfiar qualquer coisa dentro dos olhos, até colírio.
    - Está decidido. Você vai usar lentes.
    - O quê?
    - E amanhã vamos ao cabeleireiro dar um jeito no seu cabelo.
    - Mas...
    - Ah, precisa de sapatos novos também! E de roupas mais legais, vi um retrato seu na sala que deu vontade de chorar! Você tem 19 anos, tá na hora de dizer isso pra todo mundo!
    - Hã?
    - Pela aparência.
    - Mas, ainda não entendo.
    - Pára de usar essa camisa por dentro da calça! Fica horrível. Ah, não dobra a calça desse jeito também! Você é alto, não precisa disso.
    - Você disse que tinha desistido - O ajudei a levantar.
    - Os cookies da sua mãe são uma delícia.
    - Quê?
    - Nos vemos amanhã - Peguei a bicicleta dele e saí.
    - Espera!! Como vou pra aula amanhã??
    - Você precisa fazer exercícios! - gritei já longe dali.
    É, talvez ele ainda tenha jeito.