Lily não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo com ela. Nunca havia acontecido antes. Era impossível que estivesse acontecendo justo agora. Exceto pelo fato de que era possível e estava acontecendo.

Durante anos Lily escrevia sua saga de livros Peculiarmente Eu e, ao longo destes, conseguira um público fiel que amava seus personagens tanto quanto ela. Era um sonho que havia se tornado realidade e Lily vivia a vida que sempre desejou quando decidiu ser escritora.

E, durante todos aqueles anos, ela nunca tinha passado por um bloqueio criativo. Nunca. Nem mesmo quando ela era apenas uma escritora de fanfics de Percy Jackson. Então era impossível para Lily imaginar que teria um bloqueio criativo logo no último, o mais importante de todos. O que daria um desfecho para seus personagens tão amados.

Cansada de tentar escrever por horas sem sucesso algum, Lily decidiu que era hora de se afastar um pouco. Dar uma volta, talvez tomar um chocolate quente. No caminho até sua cafeteria preferida, ela observava tudo e todos com a ínfima esperança de que a inspiração iria aparecer. O céu estava lindo pelo fato de o sol estar se pondo. Várias pessoas corriam de um lado para o outro, provavelmente a maioria delas atrasada para algum compromisso.

Lily apreciou cada detalhe da paisagem e pensou em como aquelas pessoas apressadas nunca conseguiriam notar a beleza do mundo ao redor delas se não parassem pelo menos por alguns minutos para prestar atenção. Ela achava isso muito triste, afinal, que graça tinha viver a vida sem aproveitar cada momento?

Logo havia chegado e feito seu pedido, chocolate quente sempre ajudava a jovem escritora. Após pagar, decidiu que iria caminhar até a praça que sabia ficar ali perto. Chegando lá sentou-se em um dos bancos e continuou observando as pessoas distraidamente enquanto pensava ainda em como acabar com a saga dos personagens que foram seus amigos por anos da melhor maneira possível.

Estava tão distraída que não percebeu quando um homem sentou ao seu lado e começou a fazer a mesma coisa que ela. Só foi perceber a presença do homem quando ele se manifestou.

“Aqui é um lugar muito bonito, não é mesmo?” Lily deu um leve pulo pelo susto e rezou para que ele não tivesse notado.

“É, realmente. Muito bonito mesmo.” Disse suspirando depois de se recuperar do leve susto que levara. Olhou para o homem que estava ao seu lado e não precisou analisar muito para saber que ele era lindo. Cabelos castanhos bem despenteados, olhos caramelo que ficavam escondidos por trás dos óculos e uma barba por fazer que aumentava ainda mais a impressão de que ele tinha acabado de acordar. Lily podia dizer com plena convicção que ele era um dos homens mais bonitos que já vira em toda a sua vida.

Os dois ficaram novamente em silêncio. Mas, por algum motivo, não era constrangedor. Era até confortável. Tão confortável que Lily acabou voltando a se perder em seus pensamentos. Aparentemente, sair de casa não havia ajudado. Continuava sem ideia alguma para completar seu livro e todas as ideias q tinha não pareciam ser boas o suficiente.

“Alguém já te disse que quando você está pensando faz caretas?” o homem ainda desconhecido se manifestou novamente.

“Já, minha amiga Marlene vive me falando que eu preciso parar de viajar tanto mentalmente porque um dia as minhas caretas ainda vão me fazer passar mais vergonha do que eu já passo.” Eles riram e, de repente, Lily se sentiu muito atraída pelo som da risada dele.

“Bem, talvez ela tenha razão. Aliás, eu sou James. James Potter.” Disse o homem que agora ela sabia se chamar James enquanto lhe estendia a mão para que ela apertasse.

“Eu sou Lily. Lily Evans.” Disse enquanto apertava a mão dele.

“Eu sei. Sou um fã dos seus livros.” Falou enquanto abria um sorriso de lado, Lily sentiu seu rosto esquentando em um claro sinal de que estava corando, mesmo que ela não soubesse por quê.

“Desculpa, eu conheço seu nome de algum lugar...”

“Talvez você já tenha visto uma das minhas ilustrações.” Disse tentando ajuda-la.

“Isso! É isso mesmo, eu estava procurando ilustradores para a capa do último livro de Peculiarmente Eu...” os olhos de James pareceram ter brilhado de forma mais intensa.

“Aliás, como está indo a escrita do último livro?” com essa pergunta ela voltou a pensar no desastre que estava acontecendo.

“Nada bem. Estou passando pelo primeiro bloqueio criativo da minha vida e não faço nem ideia de como dar um final digno para a saga.” James parecia prestar atenção em tudo que ela falava, ele a encarava o tempo inteiro demonstrando interesse enquanto Lily falava e gesticulava com as mãos.

“Por que você está bloqueada?”

“Eu não sei! Nunca aconteceu antes e foi acontecer no pior momento possível, no livro mais esperado de todos. O que deveria ser o mais especial. Eu devo isso aos meus fãs, aos meus personagens e a mim também. Tem que ser perfeito.” James continuou a encarando, dessa vez pensativo.

“Talvez esse seja exatamente o seu problema.” Disse repentinamente.

“O que?” Lily perguntou surpresa.

“Você está colocando muita pressão em você mesma, isso está te atrapalhando. Você está tão crítica que toda ideia que você tem, rejeita na hora porque não acha que seja boa o bastante. Talvez devesse pensar nesse livro como outro qualquer, apenas mais um na saga.” Eles ficaram em silêncio de novo. Lily pensando no que ele disse e James apenas a observando atentamente, parecendo decorar cada detalhe de seu rosto.

“É, você provavelmente tem razão. Eu preciso ir, tenho um livro para escrever.” Disse se levantando, mas não indo embora.

“Bem, vou esperar ansiosamente pelo livro.” James falou enquanto ainda olhava para ela.

“Faça isso. Aliás, tem como você me passar seu número? Preciso de um ilustrador. E quem seria melhor do que o que me ajudou a escrever, não é mesmo?” Ela disse com um leve sorriso que foi rapidamente retribuído por James.

“Talvez a gente possa se encontrar para tomar um café e conversar sobre, o que você acha?” Ele disse também se levantando e ficando perto dela de um jeito que fazia com que Lily sentisse o cheiro de menta que saia da boca de James. Perigosamente perto.

“Por mim seria ótimo.” Alargou o sorriso e se concentrou em não ficar tonta pelo cheiro que saia em ondas de James.

Ele deu seu número a ela e marcaram de se encontrar ali no dia seguinte. Ela foi para casa e se focou em escrever como se fosse apenas mais um livro da saga, sem pressão. James tinha razão, as palavras fluíram de maneira automática como sempre haviam feito depois que parou de se pressionar.

Realmente, caminhar tinha sido uma ótima ideia...