I am already gone escrita por Camy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A fanfic se passa depois de "Don't let me go"

Trata-se de SUICÍDIO, então tenha cuidado ao ler. Sua saúde mental é importante, procure ajuda se preciso.

~~enjoy



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Naruto chegou uma pilha de nervos do velório de Itachi. Kushina e Minato fizeram o possível para tentar acalmá-lo, mas ele não conseguia ficar parado. Precisou explicar a história toda em partes, sem conseguir respirar.

— Mãe, ele vai bater no Sasuke!

— Calma, meu amor.

Ela tentou abraçá-lo, porém não conseguia chegar perto o suficiente. Minato, depois de vê-lo caminhar em círculos pela sala, segurou o filho pelos ombros.

— Naruto, respira.

— Mas ele vai bater no Sasuke! Ou fazer sei lá eu o quê!

— Você ficar andando em círculos não vai mudar isso, ok? Nós precisamos pensar com calma no que fazer agora. Mas não se preocupa, a gente vai dar um jeito.

Um pouco mais calmo, acenou com a cabeça. Logo depois seu celular tocou. Atendeu-o em desespero, precisando ter certeza de que o namorado não estava machucado de nenhuma forma. Ficou mais tranquilo ao ouvir a voz dele.

— Ele tá bem — disse aos pais. — Não bem de verdade, porque o Itachi…

E todo o drama o atingiu de novo. Naruto apertou o próprio peito como se pudesse fazê-lo parar de doer e, dessa vez, aceitou o abraço da mãe.

— Mãe, eu queria tanto estar com ele.

— Nós também, meu amor.

Ficaram os três no meio da sala, em pé, abraçados como se só isso pudesse acalmar a dor do momento. Naruto desejou, do fundo do coração, que Sasuke estivesse ali junto para entender que não estava sozinho.

As semanas que se seguiram foram uma verdadeira tortura para a família Uzumaki. Naruto não tinha contato algum com Sasuke, o que o fazia imaginar as coisas mais terríveis. Chegou ao ponto de tentar invadir a casa dele e ser expulso com um olho roxo de lá. Minato, advogado, não pôde nem tentar processar os Uchiha por isso, visto que era Naruto quem estava invadindo.

— Eu preciso saber como que ele tá!

— Eu entendo, filho. Eu entendo mesmo — Kushina disse. — Mas invadir a casa dele não é a solução.

— Se eles mantiverem o Sasuke afastado da escola por muito tempo, então a diretora vai ter o direito de entrar em contato com o Sasuke pra saber se está tudo bem. Tsunade é nossa amiga, vamos conversar com ela — Minato o acalmou.

Mesmo que devesse ficar menos agitado depois disso, seu coração estava aos saltos. Confessara todo o romance para Kiba e Sakura, que não gostavam muito de Sasuke, mas compreenderam que a situação dos dois era complicada e concordaram em ajudar como possível. Isso se Sasuke retornasse às aulas, é claro.

Tudo foi por água abaixo quando conseguiu falar com ele; terminaram o namoro, por mais que Naruto não quisesse isso. Já fazia quase um mês desde que haviam se visto, e a ânsia que sentia de desabafar com alguém foi mais forte. Correu escadaria abaixo e tropeçou perto dos últimos degraus, caindo com a testa no chão.

— Naruto!

Kushina apareceu correndo, mas ele nem sentia o sangue descer pela testa. Deixou que a mãe fechasse seu machucado com as lágrimas ainda escorrendo, e ela confundiu sua dor emocional com a física.

— Quer ir prum médico, amor? Não acho que foi tão sério, mas-

— Mãe, ele vai mandar o Sasuke pra longe.

Um soluço. Ela sabia que não conseguiria ouvir a história inteira até o choro passar, então só puxou o filho para o seu colo como se ele tivesse seis anos de novo e o embalou enquanto ele deixava seu sofrimento transbordar.

O barulho chamou a atenção de Minato, que se sentou ao lado dos dois e encostou no ombro dele para lhe dar apoio. Depois de muito tempo em que ficaram em silêncio, ouvindo o pranto angustiado, Naruto conseguiu falar:

— O Sasuke me ligou. O pai dele vai mandar ele pra um outro país ou algo assim. Uma viagem. Ele não vai voltar até ser maior de idade.

Mas a questão não era apenas conquistar a maioridade legal. Havia muito além disso: Sasuke precisaria de dinheiro para as passagens e para sobreviver, de um lugar para morar.

— Fugaku vai mesmo fazer isso? — Kushina perguntou assuntada.

Minato fez um movimento com a cabeça que indicava que não era a hora, e ela precisou morder o lábio enquanto apertava seu Naruto nos braços. Ter Sasuke longe, depois de tanto tempo, era como perder um filho.

— Isso não é justo, mãe.

Ela concordava, mas não havia nada que a família pudesse fazer. Fugaku, como pai, tinha todo o direito de mandar o filho estudar no exterior se quisesse. Com as mãos atadas, a família Uzumaki esperou.

Naruto voltou a sair com seus amigos, ciente de que Sasuke não apareceria de repente dizendo que fora tudo um engano. Sakura e Kiba eram os únicos que sabiam o motivo de ele estar tão abatido, e evitavam conversar sobre o assunto. Ino, que tinha uma queda por Sasuke desde o primário, vivia trazendo memórias dolorosas de volta, sem saber o quanto machucava seu amigo ao fazer isso.

Os dois meses seguintes foram sombrios e escuros.

Perto da sexta semana sem Sasuke, Naruto começou a escrever cartas. Sabia que não poderia enviá-las para ele, porém escrever suas memórias e contar sobre seu dia o faziam se sentir mais próximo do namorado. Na primeira página escreveu que essa besteira de terem terminado não contava e que recomeçariam de onde pararam assim que Sasuke voltasse. Porque com certeza voltaria.

Numa quinta-feira à tarde, a campainha tocou. Naruto preparava um chá para sua mãe na cozinha (ela gostava de tomá-los depois do almoço) e deixou tudo sobre a bancada para atender a porta. Quase desmaiou ao reconhecer Mikoto.

— Olá — ela cumprimentou.

Naruto sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e precisou fazer o impossível para não chorar.

— Dona Mikoto.

— Posso entrar? Eu preciso falar com você.

Concordou com um aceno e ouviu passos atrás de si. Kushina descera ao ouvir a campainha, e ela também paralisou ao reconhecer a mulher.

— Kushina.

— Oi… Você é a mãe do Sasuke, certo?

Concordou com um aceno e foi pega de surpresa pelo abraço que se seguiu. Kushina a mantinha presa com força, e sussurrou em seu ouvido:

— Eu sinto muito por Itachi. Não posso nem imaginar.

Nenhuma das amigas de seu marido lhe dissera aquilo com a voz marejada, e nem lhe abraçara desse jeito tão intenso. Retribuiu um pouco tímida.

Sentaram-se na cozinha. Kushina preparou os chás, porque Naruto tinha as mãos trêmulas demais para fazer qualquer coisa.

— Você é o namorado do Sasuke, certo?

Essas palavras fizeram seu peito apertar e uma lágrima escapou. Naruto a limpou bem rápido e assentiu.

— Eu sou.

— Eu preciso te perguntar uma coisa, Naruto, e quero que seja sincero.

— Ok.

— Você ama meu filho?

A pergunta o deixou com a garganta apertada, e Naruto não conseguiria dizer uma palavra se tentasse. Estava tendo notícias de Sasuke depois de tantas semanas de angustia e tudo o que queria fazer era chorar de alívio por Mikoto estar ali.

Concordou com a cabeça.

— Por favor, diga com palavras.

Mais algumas lágrimas escaparam, e sentiu as mãos da mãe nos seus ombros.

— Eu amo sim — disse com a voz chorosa. — Eu amo muito.

Um soluço escapou, e Naruto precisou fechar os olhos para se recompor um pouco. Paciente, Mikoto esperou.

— A senhora pode me dizer se ele tá bem?

Silêncio. Mikoto remexeu suas mãos e suspirou.

— Eu também não sei.

Isso alarmou Kushina.

— Como assim?

— Fugaku mandou Sasuke para a Inglaterra. Ele está num retiro de reorientação.

Naruto piscou confuso, mas olhou preocupado para a mãe quando sentiu os dedos dela o apertarem como garras.

— Mãe? O que isso significa?

— Um acampamento de cura gay, não é mesmo?

Mikoto concordou num aceno.

Essas palavras fizeram Naruto se levantar quase em desespero e andar de um lado para o outro. Ele mordeu a própria mão, tentando evitar o choro que subia pela sua garganta.

— Eles tão torturando o Sasuke! Ai, meu Deus!

— Naruto, meu amor, respira.

— Mãe, eles tão torturando o Sasuke!

Mikoto apenas observou enquanto o namorado do seu filho (como era estranho pensar isso) tinha um ataque de pânico. Sentiu-se um pouco em paz consigo mesma ao ver como Kushina tomou o controle da situação, apesar de ela parecer preocupada.

— Naruto, não entre em pânico. Não vamos conseguir ajudar o Sasuke se você entrar em pânico agora.

— Meu Deus, mãe! E se eles estiverem fazendo aquelas terapias de choque, ou cirurgias, ou tortura? E se ele estiver sem receber comida? E se mandaram ele pra um lugar cheio de prostitutas? Meu Deus, tu sabe como o Sasuke sente nojo dessas coisas! E se obrigarem ele a transar com estranhas, mãe?

— Naruto, se acalma.

— Eu não consigo!

Ela o puxou para um abraço forte, e ele parou de se debater depois de alguns segundos. Chorou contra o ombro da mãe sentindo que o mundo desabava ao seu redor. Mikoto os interrompeu.

— Eu quero tirá-lo de lá.

Isso foi uma surpresa para os dois. Kushina limpou as próprias lágrimas e assumiu uma postura um pouco mais rígida.

— Me desculpe a indelicadeza, mas Sasuke deu a impressão de que você não é muito presente na vida dele. E de que nunca iria contra seu marido.

Ela concordou com um sorriso um pouco triste. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas não chorou.

— Fugaku matou meu filho. Eu não acho que suporto perder mais um.

Isso deixou a sala num clima pesado. Naruto se recompôs como pôde, com os olhos ainda vermelhos e o rosto inchado.

— Como a gente vai tirar ele de lá?

— Eu tinha, primeiro, pensado em me divorciar, mas isso demoraria muito. Além do mais, Fugaku tem os melhores advogados. Então pensei em, ainda casada, pedir a guarda total do Sasuke pra mim.

Isso trouxe um pouco de calma para os Uzumaki, que concordaram num aceno. Kushina entregou o chá que antes preparava e fez o filho voltar a se sentar. Naruto estava assustado demais para falar, então deixou a mãe assumir a conversa:

— Mas o Sasuke não vai poder voltar praquela casa. Se você conseguir a guarda dele e depois o divórcio-

— Não sei se vou pedir o divórcio. Tendo Sasuke sob minha tutela, eu posso pagar um apartamento para ele fora de casa, ou alguma coisa assim.

O coração de Kushina ficou apertado.

— Ele é tão novo pra morar sozinho. Eu…

Ficou calada. As palavras não ditas estavam claras para todos. Ela queria que Sasuke viesse morar com eles, longe de sua família original. Mikoto olhou ao redor, assimilando aspectos da cozinha pequena. De alguma forma, parecia mais aconchegante do que a sua própria, que possuía diversos eletrodomésticos e deveria ter duas vezes o tamanho dessa.

— Sasuke me disse que você e Minato são mais família para ele do que eu e Fugaku.

Kushina manteve-se quieta, esperando.

— Você ama meu filho, Kushina?

— Como se fosse meu.

Mais lágrimas encheram os olhos de Mikoto, que continuou sem chorar. Ela concordou devagar, absorvendo com mais cuidado a imagem dos dois à sua frente.

— E você cuidaria dele pra mim?

A voz de Kushina ficou rouca pelo choro, mas ela respondeu mesmo assim:

— Como se fosse meu.

Sabendo que fazia a coisa certa (mas ainda com uma sensação de perda), Mikoto sorriu.

— Então vamos trazê-lo pra casa.

Os próximos meses foram pensados com muito cuidado. Minato dispôs-se a representar Mikoto nos tribunais e, apesar de não ter a influência dos advogados de Fugaku, tinha muito mais motivação.

Quando o marido soube de seus planos, Mikoto compreendeu que precisaria sair de casa. Apareceu nos Uzumaki com o rosto roxo e precisou ser levada para a emergência, mas mesmo assim não prestou queixas contra Fugaku (ele precisava disso. Nunca aconteceu antes e nunca mais vai acontecer. Vamos nos concentrar em Sasuke agora, não em mim). Ela alugou um apartamento no centro com dois quartos. Prometera que deixaria o filho sob os cuidados de Kushina, porém, depois de alguns meses, se conseguisse criar um laço com ele (qualquer tipo de relacionamento já seria um avanço), talvez Sasuke concordasse em vir morar com ela.

Minato usou as fotos que tirara de Mikoto como ameaça e como evidência. O fato de ela não ter denunciado Fugaku acabou servindo a favor deles (porque grande parte de esposas abusadas não os denuncia, mas isso não diminui o abuso). Estavam ganhando. Era uma batalha lenta e prolongada, mas todos tinham certeza de que conseguiriam. E, quando Kushina conseguiu aliviar seu coração ao pensar que logo teria Sasuke seguro (porque ela também pensava nas torturas que estavam fazendo com ele, talvez mais ainda do que Naruto), ela começou a investir na saúde de seu filho de sangue. Naruto voltou a sair com os amigos para acalmar os nervos dos pais, e sua vida pareceu normal de novo.

Ainda era complicado dormir de noite sabendo que Sasuke estava sofrendo em algum lugar, porém a ideia de tê-lo de volta em breve o acalmava.

Kiba, por outro lado, tornara-se um pé no saco. Naruto já dissera que não precisava de mais ninguém e que queria esperar Sasuke voltar, porém foram sair uma vez e houve pressão por todos. Neji e Chouji não entendiam por que ele estava na seca e colocavam lenha na fogueira. Ino os incentivava e, mesmo com Sakura mandando todos pararem de incomodar, Naruto acabou se levantando.

— Vocês querem tanto que eu fique com alguém? Então eu fico e vocês param de me incomodar.

Beijou uma menina qualquer e acabou se empolgando no beijo. Já fazia um tempo, e seu corpo estava carente desse tipo de atenção. Além do mais, não estava traindo ninguém, porque concordara em terminar o namoro. Ficou com ela quase a noite toda até se arrepender. Era ridículo procurar carinho sendo que Sasuke estava quase voltando para si. Pediu desculpas a ela e se afastou, mas não sem antes perceber que Kiba postara fotos em seu facebook. Babaca.

Kushina achou graça da situação quando o filho contou tudo, e disse que Sasuke morreria de ciúmes quando voltasse. Isso o fez perguntar sobre Mikoto (que se tornara muito próxima de sua mãe nos últimos tempos) e descobriu algo ainda mais revelador: ela havia ido procurar Deidara.

— A Mikoto tá num momento muito complicado, Naruto. Nós duas conversamos e ela sente tanta falta do Itachi… Conversar com a Deidara é a melhor forma de diminuir essa saudade.

Sem se conter, ele revirou os olhos.

— Ela nunca foi mãe de nenhum deles. Agora que o Sasuke se ferrou e o Itachi morreu, ela quer consertar as coisas.

O olhar de Kushina ficou sério.

— Não diga uma bobagem dessas. A Mikoto tem sido muito forte. Você lembra como o Sasuke falava dela pra gente, não lembra? Ela quer ser uma mãe melhor, uma pessoa melhor. É complicado viver num relacionamento como o dela, e não cabe a nenhum de nós julgar.

— O Sasuke sofreu pra caramba com a indiferença dela.

— E acha que a Mikoto não sofreu também? Ela me contou que o Itachi a chamou de decoração na última vez que foi pra casa deles. E ela concordou. Ela esteve apagada por muito anos, meu filho. Agora ela tá fazendo o melhor que pode pra se redescobrir como pessoa.

Naruto bagunçou os cabelos.

— O Itachi chamou ela pra ir morar com ele. E ela disse que não podia largar o pai deles. Foi o Sasuke que me contou.

Silêncio.

— Ela deve se culpar pela morte do Itachi.

— Meio que é culpa dela, né, mãe. Se tivesse defendido o filho quand-

— Não fala isso.

— Você nunca deixaria o pai me bater.

— Isso porque seu pai é um homem bom. E nós temos um relacionamento saudável. Eu já te mandei não julgar, Naruto. E você vai precisar convencer o Sasuke também. Ela tá movendo o mundo pra trazer ele de volta.

Isso era verdade.

A conversa foi dada como interrompida, mas ainda voltaria. Naruto sentia aquela raiva de Mikoto por todo o tempo que Sasuke vivera sozinho, precisando dela sem tê-la. Kushina, como mãe, tentava compreender o que Mikoto deveria estar sentindo naquele momento e não conseguia nem imaginar.

O importante era que tudo estava dando certo. O processo ia bem, a guarda seria de Mikoto em menos de dois meses.

O único problema foi que ninguém avisou Sasuke. Sasuke, preso e sozinho sem saber que as pessoas que o amavam estavam se mobilizando para retirá-lo daquele inferno. Sasuke, que teve suas certezas arrancadas e já não sabia mais quem era. Sasuke, que se enforcou quase sete meses depois de ser internado. Sasuke, que morreu pensando que isso era o melhor para todo mundo.

A notícia chegou para Mikoto por um telefonema, e ela não pensou muito antes de caminhar em choque até os Uzumaki. Foi recebida com sorrisos, porque Minato finalmente conseguira a confirmação de um dos juízes responsáveis pelo caso. Todos pararam de rir quando perceberam que ela chorava, ainda agarrada ao celular. Kushina viu que havia algo de errado ao perceber as roupas dela.

— Mikoto, você veio até aqui de pantufas?

Mas ela não conseguia dizer nada. Só encarou as três pessoas que a haviam acolhido como família, sabendo que só o fizeram por amarem seu filho. Viu o olhar preocupado de Naruto e se lembrou de quando viera ali pela primeira vez e ele tivera um ataque de pânico ao saber que Sasuke estava num acampamento de cura gay.

— Mikoto? — Kushina chamou de novo.

Ela piscou e olhou para o telefone. Havia uma foto. Um bilhete. Estendeu-o para Naruto.

— Isso foi pra você.

Ele abriu um sorriso de orelha a orelha ao ver o cartão.

— É a letra do Sasuke! Como você conseguiu esse bilhete? Quem mandou a foto? Pera… Quê que não é minha culpa? Do que ele tá falando?

Silêncio.

Kushina deixou um soluço escapar e cobriu a boca com as mãos, porque ela soube sem que nada fosse dito. Precisou se sentar no sofá enquanto encarava Mikoto sem acreditar no que pensava ter entendido.

— Diz. Diz que não é isso.

Minato cobriu os dedos com os olhos e limpou algumas lagrimas que saíram. Jogou com raiva os papéis que lutara tanto para conseguir: a certeza de que a guarda seria de Mikoto.

— Naruto — Mikoto começou.

— O que foi? Por que tá todo mundo assim?

No fundo, ele sabia. Uma parte sua já tinha entendido, só não queria acreditar. Encarou-a com os olhos desafiadores, sem sequer cogitar a certeza que já tinha.

— O que foi que aconteceu? — repetiu.

— O Sauske — Mikoto começou. Um soluço a fez cobrir a boca e se sentar. — Ai, meu Deus.

Percebendo o estado dela, Kushina se aproximou do filho. Sabia que Mikoto também precisava de um abraço, mas Naruto entraria em pânico em alguns segundos e ele era sua prioridade.

Naruto balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Fala!

— Ele…

— Eu não vou acreditar até você dizer!

Algumas lágrimas escorreram por seu rosto, e Mikoto encarou aquela dor como complementar à sua.

— O Sasuke…

Fala!

— O Sasuke se matou.

Aquelas palavras ecoaram na sala por um tempo, mas Naruto não as assimilou de pronto. Era simplesmente ridículo escutar aquilo, porque estavam a poucas semanas de ter Sasuke de volta, então ele não poderia ter se matado.

Não mente pra mim!

Ele tremia, sem se controlar. Sua boca mal formulava palavras enquanto os soluços escapavam.

— Eu sinto muito…

Não! Não mente pra mim! Ele não fez isso!

Mikoto só escondeu o rosto entre seus braços e chorou. Naruto buscou conforto nos olhos de Kushina, mas ela o encarava como se seu mundo também tivesse desabado. Balançou a cabeça em negação.

Ele não pode! Ele não pode morrer!

Minato esfregou o rosto e caminhou até ficar atrás do filho. Foi afastado com toda a força enquanto Kushina só chorava ao olhá-los, mas se manteve firme até ser preso num abraço cheio de angústia.

Ele não pode ter morrido, não pode!

— Eu sinto muito, filho.

Kushina se juntou aos dois, mas não conseguia dar suporte a ninguém, porque Sasuke era seu filho mais do que de Mikoto. Sentiu raiva ao ver a amiga chorando, mesmo sabendo que não deveria, porque uma parte sua a culpava tanto quanto culpava Fugaku. Uma parte terrível sua queria que ela sofresse mais, porque seu menininho estava morto e era tudo culpa de Mikoto.

É sua culpa! — Naruto gritou, querendo sair do abraço dos pais. — Ele tá morto por sua culpa!

As palavras do filho trouxeram Kushina de volta à realidade.

— Mikoto, fique aqui embaixo, ok? Eu e Naruto vamos subir.

Minato entendeu que estava excluso da conversa e observou sua esposa levar Naruto para cima. Ele não queria ir, mas foi mesmo assim. Quando os dois já haviam sumido, sentou-se ao lado de Mikoto e segurou a mão dela.

— Ele tem razão. É minha culpa.

Um momento de silêncio.

— Isso importa?

— Claro que importa. Eu matei meus dois filhos.

— Isso não vai trazer nem Itachi e muito menos Sasuke de volta. Você errou, mas fez o impossível para corrigir esse erro. Você lutou pelo Sasuke com tudo o que tinha nesses últimos meses. Naruto só está abalado demais para perceber isso agora.

— Ele morreu pensando que eu não me importo. Ele disse para Kushina que eu não me importava. E eu acho que, na época, isso era verdade.

Não havia o que dizer depois disso. Ele só ficou segurando a mão dela, tentando não pensar que também perdera um filho, porque Sasuke passava mais tempo na sua casa do que junto dos Uchiha. Chorou baixinho também, sem conseguir deixar de imaginar o quanto ele deveria ter sofrido para resolver tirar a própria vida.

No andar de cima, no quarto de Naruto, Kushina chorava com o filho. Estavam abraçados na cama dele.

— É tudo culpa dela, mãe.

— É culpa do Fugaku.

— E da Mikoto também. Eles mataram o Sasuke.

— Ela fez o que podia por ele nesses últimos meses. Pode ter sido uma mãe terrível antes, mas fez isso por ele.

— Mas o Sasuke nunca vai saber. Ele morreu pensando que tava sozinho.

Isso a quebrava. Imaginar seu menino sozinho num quarto escuro, decidindo qual a melhor maneira de tirar a própria vida. Não sabia como ele havia feito, então o imaginava numa banheira cheia de sangue.

— Ele pensou em mim antes de morrer — sussurrou Naruto. — Ele me escreveu um bilhete e pensou em mim.

— Eu sei. Ele te amava.

— Eu ainda amo ele, mãe. Só que ele morreu, mas eu ainda amo ele.

Kushina se sentia da mesma forma. Não soube quanto tempo ficaram ali, mas o abraço e o conforto não aliviaram a dor. Não chegaram nem perto.

O velório de Sasuke foi uma confusão. O corpo dele chegou direto para Fugaku, que ainda tinha sua guarda. Minato protestou, dizendo que o processo já estava encaminhado e que Mikoto deveria ter o direito de organizar tudo, mas acabou perdendo. Sasuke morrera, quem tinha sua guarda já não importava mais.

Isso não impediu a família Uzumaki e Mikoto de aparecerem no mesmo cemitério em que Itachi fora sepultado. Chegaram quando o caixão ainda estava aberto, e ver todas aquelas pessoas estúpidas (amigos de Fugaku) rodeando seu namorado o fez sentir raiva. Ninguém ali conhecia ou amava Sasuke, eles não mereciam estar ali.

— O que vocês fazem aqui? — A voz de Fugaku era como um trovão.

Pela primeira vez em público, Mikoto o desafiou.

— Eu vim ver meu filho.

— E por que essa gente está com você?

— Porque eles amavam nosso filho mais do que você jamais amou. E merecem estar aqui. Porque Sasuke ia querer que eles estivessem.

Silêncio. Fugaku não poderia fazer nada contra ela em frente a tantas pessoas, mas sinalizou para que seus seguranças se aproximassem. Mikoto também fez sinal para eles, e ninguém soube quem obedecer.

— Você matou nossos dois filhos. Não ouse expulsar a família de Sasuke daqui como fez com Deidara.

Como se invocada pelo nome, ela também entrou no salão. Vinha com a cabeça erguida e ficou ao lado de Mikoto, que entrelaçou seus dedos. Fugaku os encarava como se não acreditasse nisso.

— O que ess-

— Deidara está aqui porque eu chamei. Porque ela é cunhada do Sasuke, e o Itachi ia querer que ela estivesse aqui.

Os presentes estavam surpresos com Mikoto. Ninguém havia visto esse tipo de olhar no rosto dela antes.

— É um absurdo que essas pessoas estejam aqui.

— Não, Fugaku. É um absurdo você estar aqui.

— Ele é meu filho.

A voz de Naruto saiu quebrada quando ele gritou.

Você matou o Sasuke!

— Eu? Eu? Foi você com essas suas ideias ridículas de homossexualidade que o matou!

Mikoto deu um passo a frente.

— Não ouse dizer esse absurdo. Sasuke amava Naruto. Você leu o bilhete, você sabe disso. Se não tivesse mandado nosso filho praquele lugar horroroso, ele estaria vivo hoje!

— Se não fossem essas ideias na cabeça dele, eu não precisaria ter mandado o Sasuke pra lugar nenhum! Eu protegi ele!

— Você matou ele!

Silêncio. Nenhum dos convidados ousava respirar, porque a tensão preenchia cada centímetro do ambiente. Naruto passou por Mikoto e caminhou até Fugaku, mas não disse nada ao passar por ele. Todos o observaram chegar perto do caixão e cobrir a boca ao vê-lo. O choro compulsivo fez Kushina ir atrás do filho, e Fugaku permaneceu parado com o olhar preso na esposa.

— Você acha mesmo que eu matei Sasuke?

— Eu sei que sim. Eu tenho culpa também. Nunca deveria ter te deixado mandar nosso bebê para lá.

Abalado, Fugaku deixou que Minato e Deidara também se aproximassem do caixão. Olhou para aquelas quatro pessoas que choravam ao redor do corpo de Sasuke sem entender o vazio em seu peito e o porquê de o pranto delas o incomodar tanto.

— Eu queria salvar o Sasuke — murmurou.

Mikoto, ao seu lado, concordou com a cabeça.

— Eu sei. Mas deveria ter feito isso ouvindo o seu filho, não mandando ele para longe.

Queria se aproximar dos Uzumaki, mas não pôde. Parecia errado, de alguma forma. Como se fosse interromper um momento de família. Observou Kushina e o desespero dela, a dor de Minato e o desamparo de Naruto.

— Eles amavam nosso filho mais do que nós, Fugaku.

— Não diga asneiras.

— Ok. Eles amavam nosso filho mais do que você já amou qualquer pessoa na vida.

Saiu para se juntar a eles e sentir o mundo sumir de seus pés mais uma vez. Sasuke parecia dormir como um anjo. Naruto agarrara uma mão dele e não o soltava de jeito nenhum.

— Naruto — chamou.

— Ele morreu mesmo. Eu sabia disso, mas ver… tocar… Ele tá tão frio.

— Eu sinto muito.

Não obteve resposta. Sentiu um braço ao seu redor e percebeu Deidara ali. Sorriu para ela.

— Desculpa ter dito que você não era mãe deles.

Mikoto concordou.

— Eu não fui por muito tempo.

Ficaram ali, perdidos na dor, querendo que um milagre acontecesse. Mas milagre nenhum aconteceu, e Sasuke foi enterrado ao lado de Itachi.


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Notas finais do capítulo

Olá, gente linda!
Eu sei que só causei dor em vocês nesses últimos dias, mas eis a dor suprema numa fanfic.

Eu não poderia acabar sem mostrar como o Naruto ficou mal, porque ele ficou mesmo. E eu gosto de mostrar mais da Mikoto aqui. MUITO obrigada a quem me acompanhou, vocês são demais

♥ ♥ ♥ ♥

Bjs e teh + ^3^//



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