Newton's Nonsense escrita por Szin


Capítulo 1
All the action has a reaction ...


Notas iniciais do capítulo

Então eu demorei muito para escrever isso, porque simplesmente é algo dificil de se lidar.
Eu queria dedicar essa fanfic à fer que teve muita paciencia comigo, à Liids também por me motivar a postar isso aqui. E mais importante também: a todo o mundo que já reagiu com a ação de alguém....

Spoiler Alert!
Na minha cabeça a fic tah dividida em 3 musicas...
"Onde Day " do Kodaline na primeira primeira parte onde tudo parece estar correndo bem...
"Breathe me" da Sia - na cena mais pesada que vocês sabem qual eh...
e "I Wanna Be Yours dos Artick Moneys" quando começam os FlashBacks de Percy e Annabeth após mudar de escola.

Então ela está gigante porque eu queria meter tudo aquilo que imaginei aqui... eu espero que gostem e dêm uma chance sim?



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Não é engraçado que as coisas mais idiotas acabam sempre por fazer o maior sentindo na vida de alguém? Na vida de todos nós?

A terceira lei de Newton por exemplo.

Toda a ação tem uma reação. Tudo o que você faz vai afetar alguém.

Mesmo sem querer, mesmo sem intenção… sempre afeta.

Uma vez falaram que ninguém é inocente na vida social adolescente… e talvez seja verdade, ninguém é.

Garotas Malvadas é oque retrata melhor a vida social adolescente. E querem saber? Todos nós somos uma Regina George esperando destruir a vida de alguém.

Uns por diversão. Outros por querer fazer parte algo. E outros acabam sendo sem nem mesmo se dar conta.

Até você e eu já fomos uma Regina George para alguém. Se fizer um esforço e tentar se lembrar vai concordar comigo.

É bem legal ser a Regina George que faz a ação, não é? Eu admito que sim.

Mas como é quando somos nós quem reage? E é isso que eu quero mostrar para você… que a qualquer momento você pode sofrer com a ação de alguém…

Prazer, Annabeth Chase aqui. E eu vou contar como foi que eu virei um par ação-reação.

Quando eu percebi que a terceira Lei de Newton se aplicou na minha vida de um jeito tão intenso quanto os braços que estão me segurando agora.

Vamos começar com o inicio, quando toda a ação começou… então por favor leia com calma e no final você vai repensar bastante… eu pensei.

Eu estava correndo pela rua. Era um daqueles dias que parece que nada vai dar certo.

Nada. Não importa o quanto positivo você seja. Parece que quando bate a meia noite o universo resolve aplicar ás 24 horas do dia seguinte a lei de Murphy.

Se algo poder dar errado dá. E era isso que estava acontecendo hoje, tava tudo dando errado. O celular não havia carregado hoje porque misteriosamente a luz havia desligado durante a noite. O Celular desligado fez com que o despertador não tocasse, e isso fez com que eu acordasse 30 minutos depois da hora.

Viu? Olha a Lei de Newton se aplicando perfeitamente na nossa vida.

Eu estava correndo pela rua, eu só queria chegar na paragem do ónibus o mais depressa possível nem que para isso eu teria que passar por cima de uma velhinha ou de um carrinho de bebé…

...

Okay eu não sou tão má pessoa assim. Mas eu estava realmente atrasada e como eu falei tudo parecia estar dando errado.

Estava eu virando a rua quando eu o vi. O Onibus havia arrancado no preciso momento em que eu – Annabeth Chase – havia chegado. E de novo, a lei de Murphy havia feito questão de me relembrar que nada estava dando certo.

Me sentei no banco esperando o próximo ónibus. Eu já tinha aceitado o facto que eu ia perder a primeira aula. Tentei enviar mensagem a Thália, minha melhor amiga, avisando que ia chegar atrasada e que não esperasse por mim… mas o celular não havia carregado durante a noite lembra? Ou seja, para além de perder a ultima aula eu iria ouvir um grande sermão de Thália depois.

E de novo, a lei de Murphy continuou abençoando meu dia.

Mas às vezes o cara lá de cima parece ter pena da gente e resolve dar uma virada boa e te compensar por tudo certo? Errado, as coisas só pioram, sempre pioram.

Foi quando eu ouvi alguém buzinando. Eu não estava prestando atenção, nunca na vida eu iria perceber que era para mim que o carro havia estacionando e buzinado para mim.

— Hey – alguém chamou. Foi preciso ele apitar pela terceira vez pra eu compreender que era a minha pessoa o destinatário do garoto. Ele abriu o vidro sorrindo para mim com o sorrisinho adorável e aquele olhar penetrante. E isso é o inicio.

Quando Luke Castellan me deu aquele olhar. Aquele maldito olhar.

— Quer carona? – ele perguntou. Eu sabia quem ele era, tínhamos Inglês os dois. E ele havia se lembrado disso eu acho.  Eu fiquei meio acanhada mas ele abriu a porta para mim ainda com aquele sorriso no rosto.

— Vamos entra, eu não mordo – ele sorria. Caramba como ele sorria.

E eu entrei… e só eu sei o quanto me arrependo de o ter feito...

— Annabeth não é? – ele perguntou me fitando.

— Sim – eu respondi, não conseguindo evitar sorrir que nem uma garota apaixonada – você tem Inglês comigo.

— Bem me pareceu que conhecia você de algum lugar – ele desviou o olhar do meu por longos segundos – Eu não lembro muito de você do ano anterior.

— Normal – eu respondi ainda com aquele sorriso bobo que parecia ter sido colado ao meu rosto – Eu não gosto de me expor muito. Sou meio que invisível.

— Uma garota linda como você? Ate parece crime isso. 

E mesmo antes de terminar a frase eu já havia caído na rede de Luke Castellan.

Nesse momento, a Lei de Newton começou se aplicando.

Quando eu e Luke nos tornámos um par ação-reação. Onde Luke agia e eu reagia… mal eu sabia que nem sempre as ações são boas. E nós acabamos reagindo… sempre acabamos.

 Não é preciso falar que cheguei com um sorriso no rosto naquela manhã certo? Graças a ele eu tinha chegado na sala minutos antes do toque.

E eu não estava conseguindo evitar aquele sorriso, aquela maldita reação por Luke Castellan. Thália já estava na sala conversando com alguém. Percy Jackson, o garoto que sentava do meu lado.

Eu o conheci no Verão passado. Eu estava tentando arranjar um trabalho de verão que servisse para pagar o notebook que precisava pro cursinho que queria depois desse ano. Ele não era caro, mas era o suficiente para minha mãe não conseguir comprar.

Então eu procurei emprego em todo o lugar. E foi nesse dia que eu conheci Percy Jackson, a primeira vez que ele havia falado comigo.
 

Eu estava na livraria da cidade comprando os manuais desse ano. A moça os arrumava num saco de plástico enquanto sorria para mim. Mas não era aquele sorriso de “Uao você é uma cliente simpática, dá vontade de sorrir para você” não… era aquele sorriso, o sorriso de “Estou fingindo sorrir para você me achar simpática e me ajudar a subir o saldo da balança comercial desse estabelecimento aqui”.

Esse sorriso mesmo… O mundo ficou meio assim não acham?

Dar sorrisos falsos em troca de algo virou algo comum no mundo. Eu não gostava disso… era estranho mas, às vezes eu desejava que o mundo fosse que nem aqueles filmes antigos onde todos parecem ser felizes, onde parece que tudo na vida deles o faz querer sorrir.

Chuva lá fora? Bora sorrir.

Sol e calor extremo? Bora sorrir.

Passeio no parque? Bora sorrir de novo.

Falar com alguém? Ah que se dane, é continuar sorrindo porque mesmo que pareçamos lunáticos é divertido fazer isso.

O mundo podia ser mais lunático de vez em quando…

— Deseja mais alguma coisa? – ela perguntou sorrindo.

“Um sorriso sincero pode?”

— Obrigada, está tudo – sorri também. Ela fez a conta me apresentando a fatura. Peguei no dinheiro que mamãe havia dado e entreguei à moça sorridente.

— Obrigada e volte sempre – ela falou sorrindo tanto que parecia até que os músculos da cara haviam travado naquela expressão.

Eu ficava me perguntado se não doía estar assim o dia todo.

Aqui entre a gente fico imaginando se ela não se fecha no banheiro e passa relaxante muscular no rosto toda a vez que alguém sai.

Eu estava saindo da papelaria quando senti o celular vibrando. Estranhei… eu não conhecia aquele numero.

— Sim?

— Alô? Você é a Annabeth? Annabeth Chase? – o garoto perguntou.

— Sim… quem fala?

— A Thália Grace me falou que você estava procurando trabalho. Se quiser arranjo uma vaga para você.

— Sério? Onde?

— Onde você está? Eu posso me encontrar com você? 

— Eu estou na Papelaria da Rose, sabe onde é?

— Espere eu estou aí perto, chego em 2 minutos.

— Tudo bem.

Promessa cumprida. Em poucos segundos, Percy Jackson havia chegado com sua bicicleta e seu sorriso simpático. Eu o conhecia, mas sem o conhecer na verdade. De facto… eu nunca na vida pensei que conheceria Percy Jackson como agora.

Ele parou na minha frente retirando o fone do ouvido e penteando os seus cabelos negros cor de petróleo. Vestia as habituais jeans rasgadas e uma camiseta branca com o logotipo dos AC/DC estampado sobre o peito.

Percy Jackson tinha bom gosto musical pelos vistos.

Ele olhou para mim sorrindo e estendendo a mão.

— Ei sou o Percy – ele falou de um jeito apressado - Thália me contou que estava procurando emprego.

— Sim, eu estou. Prazer.

— Então…er… se você quiser eu posso… quer dizer eu não neh? Mas… er… - ele gaguejava coçando a nuca.

Eu lembro de achar engraçado isso. Mais tarde eu descobri que era uma característica própria de Percy Jackson.

Ele não se associava com quase ninguém, porém ele era amigo de todo o mundo.

Ele não atraía muita atenção, mas falava o suficiente para não o acharem estranho.

E era esse o segredo de Percy… era muito bom em estar sozinho, sem se sentir sozinho.

Algo que me arrependo de não ter notado antes.

— Eu iria adorar – sorri para o garoto confuso na minha frente.

Então ele sorriu.

Lembram de eu ter falado que todo o mundo sorri para obter algo em troca… Percy Jackson não era assim. Ele sorria de um jeito meigo e sincero.

Como se sorrir pra ele fosse a coisa mais natural do mundo.

E não importa quantas vezes eu repita: Eu lamento tanto não ter notado Percy Jackson antes.

Ele ficou de falar com o chefe sobre mim. E dois dias depois eu recebi o telefonema.

— O que vamos ver hoje docinho? – Thália sorriu enquanto se deitava sobre a grana do parque da cidade. Estava sol naquele dia, eu lembro porque fiquei me perguntando como raio aquela garota conseguia estar de jaqueta num dia assim.

Thália Grace gostava de ser do contra. Sempre!

Aos 7 anos a turma combinou que todos iriamos fantasiados do universo Disney para o Carnaval da escola. Thália Grace foi de Samara assustando todos aqueles que encontrava.

Aos 10 anos todos combinamos trazer comidas vegetarianas para celebrarmos o dia da Árvore na escola. Thália Grace trouxe Hamburger e panadinhos de frango.

Aos 15 o grupo combinou sair no Hallowen nos fantasiando do vilão mais assustador que conhecíamos. Todos escolheram personagens de filme de Terror. Thália Grace não, ela apareceu vestida com as roupas da mãe falando que “não existia coisa mais assustadora que a mãe na tpm”.

Thália Grace era um espirito que não podia ser domado. Nunca.

— Quer ir na locação de filme? Escolhemos um e assistimos em minha casa, minha mãe vai estar atendendo pacientes hoje.

— Sua mãe não cansa de trabalhar no Hospital?  

— Ela é médica Thália, ela precisa trabalhar.

— Se eu tiver emprego eu não quero um que ocupe meu dia – ela resmungou fechando os olhos – Quero dormir dia todo.

— Ué vai trabalhar como então? As contas não se pagam sozinhas.

— Sei lá – ela falou tapando o rosto com um dos braços dando um sorriso travesso. – Não tem emprego que se durma não?

— Infelizmente… mas se o encontrar a gente vai trabalhar juntas então.

— Ah vamos nada, eu sei que você quer ir tirar aquele cursão que você tanto quer.

— Eh… de fato eu quero. – sorri olhando para as minhas mãos.

Ser arquiteta era o sonho da minha vida. Sempre fora.

— Loira? Loira! Seu celular está tocando. - ela resmungou agitando a mão na minha frente.

Saí do “incrível mundo de Annabeth Chase” e peguei no meu celular.

O numero desconhecido apareceu de novo na tela do celular. Eu não  tinha salvado ele pelos vistos.

— Sim?

— Annabeth? É o Percy. Percy Jackson.

— Ah sim… está tudo bem?

— Era só pra falar que se você ainda quiser emprego meu chefe ofereceu entrevista para você.

— Sério?

— Sim, pode vir amanhã de manhã? Ele está aqui a essa hora.

— Pode contar.

— Então tá – ele deu uma pequena risada. Fiquei imaginando se ele estaria coçando a nuca enquanto falava ao celular como naquele dia – A gente se vê então.

— Tudo bem. Até Percy. 

E desligou. Thália me olhava fixamente enquanto sorria para mim.

— Você está saindo com o Percy?

— Oquê? Não! Claro que não!

— Hmm… ele é um cara legal – ela falou pra mim – bem legal aliás.

— Se você o diz.

Ele era… de facto era. E pela milionésima vez eu me arrependo tanto, mas tanto de não ter notado antes.

Eu acabei por ficar com o emprego graças a Percy Jackson. E foi aí que eu comecei conhecendo ele… conhecendo ele de verdade. Nós não eramos muito próximos na escola, falávamos o básico e apenas botávamos assunto nas aulas que tínhamos os dois. A escola começou em Setembro porém eu continuei trabalhando no Mc visto que os horários combinavam. Percy Jackson se tornou meu companheiro de turnos, pelo menos era isso que ele havia chamado.

— Bem, eu vou estar no mesmo turno que você – ele falou pra mim no meu primeiro dia. – Serei seu “companheiro de turnos”.

— Meu que?

— Companheiro de Turnos – ele falou limpando a bancada com um dos panos fedidos da cozinha. Eu juro que não sabia como aquele garoto conseguia aguentar trabalhando ali. Só o cheiro do óleo dava náuseas – Eu ajudarei você enquanto não se acostumar com esse Inferno. Depois eu vou voltar para os meus horários.

— Okay, entendi. – sorri pra ele. Era bom ter amigo ali.

— Bem… vamos, vou te mostrar o que deve fazer, o que não deve fazer, e aquilo que talvez deva fazer caso seja necessário.

Eu gargalhei, o seguindo.

Percy Jackson era uma bagunça completa. Eu notei isso.

Ele era um garoto espontâneo e imprevisível que, por mais estranho que pareça, acabou se tornando uma pessoa especial pra mim… mesmo que eu não soubesse o quanto isso significava ao certo.

E a cada dia que passava, as coisas iam tomando o seu rumo. Pena que por vezes os rumos nem sempre acabam sendo os certos. E por mais que as pessoas tentem avisar você, por mais que elas tentem te alertar das coisas, você acaba por ser ingénuo demais e acredita na bondade de pessoas… e é aqui que se dá a ultima ação. A ultima de todas que desencadeou todas as outras reações. Quando Luke Castellan tirou aquela porcaria de foto.

— Você vai sair de novo com ele? – Thália me olhou. Faltava dois minutos para o toque e todo o mundo havia saído. Thália e eu sempre tínhamos o costume de ficar. Era sossegado o suficiente.

— Claro porque não? Ele tem sido bem legal comigo.

Ingénua Annabeth… você está sendo Ingénua.

— Você tem certeza do que está fazendo? – Ela perguntou arqueando a sobrancelha.

— Sim porquê a pergunta? Não é como se algo de mal fosse acontecer Thália.

— Se você o diz…

— Porque está fazendo essa cara?

— Porque eu não confio nele – ela falou retirando o fone direito do seu ouvido – Não sei Annabeth a maneira como ele fala e age. Não sei dizer… algo me diz que ele anda aprontando.

— Você está fazendo filme – sorri – Acredita tudo vai dar certo.

— Annabeth… apenas não baixe a guarda. Luke tem fama nesses corredores e eu não quero que você acabe sendo sugada para ela.

— Luke não é assim, ele tem sido simpático para mim. Nunca fez nada de mal comigo e eu confio nele – assegurei.

Ingénua… eu era tão ingénua.

— Bem… se você tem assim tanta confiança – ela encolheu os ombros – Quem sou eu para contradizer você.

— Acredite em mim… as coisas vão dar certo. Sempre deram.

— Sempre é uma palavra muito forte Annabeth – ela falou simplesmente.

E realmente o era. Mas eu estava tão perdida por Luke Castellan. E naquela noite a ação foi se intensificando… o problema é que nem sempre as coisas se intensificam da melhor forma.

Eu estava tão animada naquela noite. Demorei horas escolhendo o vestido e ficava ensaiando o que falar na frente do espelho. Tudo para impressionar aquele estúpido garoto.

Ele foi me buscar pessoalmente a casa. O meu coração parecia derreter cada vez que o via e naquela noite as minhas pernas haviam se transformado em gelatina.

“Você está linda”— ele elogiou com aquele olhar. Aquele maldito olhar que fez tudo isso começar. A noite não foi muito longa, jantamos pizza num dos restaurantes do seu pai enquanto contávamos historinhas bobas sobre a gente.

— Você é de Nashville? – ele sorriu para mim

— Sim mas me mudei há uns 10 anos. Minha mãe sempre preferiu cidades mais pequenas então meu pai decidiu virmos para Benicia.

— Deve ter sido duro pra você.

— Ah nem por isso, eu logo fiz amigos novos e tudo mais… me adaptei bem rápido.

— Fico feliz por ter se mudado… assim pude conhecer você – ele sorriu pegando na minha mão.

Para mim Luke Castellan era o cara perfeito, o garoto ideal de todas as minhas fantasias… mas para ele? Para ele eu era apenas uma presa, um peixe na sua rede. E quanto mais ele me elogiava, mais eu me prendia nela sem me conseguir soltar.

— Onde vamos? – eu perguntei sorrindo. Eu não me conseguia controlar perto dele. Era como se aquele garoto tivesse me lançado uma mágica de “sorria como uma idiota sempre que eu estiver por perto”.

— Você vai ver – respondeu me guiando até ao carro. Não tardou a chegar onde ele queria. As docas. O porto marítimo da cidade.

— Nossa, nunca tinha vindo aqui de noite.

— É meu espaço, trago apenas pessoas importantes aqui – e no seu dicionário pessoas importantes correspondia "metade das garotas da escola".

— Isso é muito bonito. – eu não conseguia parar de sorrir, nunca. Ele pegou na minha mão entrelaçando os nossos dedos.

— Você é mais, a garota mais bonita que eu alguma vez vi… acredite em mim.

Obvio que eu acreditei. Acreditei nisso como havia acreditado em todas as mentiras dele.

Ele aproximou o rosto do meu e foi então que senti os seus lábios. Eu juro que naquele momento eu me sentia a garota mais sortuda e feliz do mundo.

Eu não sei se foi cansaço ou do jeito que ele me fazia sentir protegida e segura, eu apenas acabei adormecendo no seu ombro por leves minutos… Minutos suficientes para Luke Castellan enfiar o celular por debaixo do meu vestido e dar inicio ao Inferno que se tornou minha vida no dia seguinte.

— Onde vamos almoçar? – Thália perguntou sorridente.

Eu estava tão sorridente naquele dia… tão sorridente.

— Onde você quiser – eu respondi.

— Encontro correu bem hein? – ela perguntou com um sorriso sincero.

— Correu muito bem – falei, depositando todos os livros no armário o trancando – Como viu não precisava de se preocupar tanto.

— Pelos vistos não – ela sorriu encolhendo os ombros olhando para todos aqueles que passavam nos corredores – bem, vamos almoçar?

— Vamos.

— Estava pensando em ir-

E foi quando aqueles sons percorreram todos os corredores. Os celulares tocavam todos juntos anunciando a primeira fofoca dessa semana.

— Espere, meu celular está vibrando – Thália sorriu pegando o celular do bolso – Talvez tenham enfiado a cabeça do Monttez de novo na privada.

— Será?

— Com certeza o Montez ac-

Thália arregalou os olhos observando a tela do celular.

E foi quando todo o mundo começou olhando pra mim como se eu tivesse uma doença auto-imune.

—  Thália o que se passa?

A morena olhou para mim e depois para todo o mundo que agora cochichava e sorria continuando com os olhos postos em mim. Eu não estava entendo nada do que se passava.

— Annabeth – ela murmurou me mostrando a tela do celular.

E foi como se tivessem tirado o chão de mim. Como se toda a minha vida tivesse sido exposta em uma apenas uma imagem que agora estava no celular de todo o mundo.

E tudo começou se desmoronando aí… quando a ação desencadeou todas as reações.

Luke Castellan não olhou para mim naquele dia. Sorria e gargalhava para os amigos como se todas as saídas comigo tivessem acontecido em algum mundo paralelo que não esse aqui. Eu agora já não era o centro das atenções de Luke Castellan, mas sim do publico que o rodeava.

Eu chorei naquele dia… me fechei no banheiro das garotas e chorei.

Eu nunca havia sido traída antes, não desse jeito. E isso era novo para mim… passar de uma garota apaixonada por um cara, a uma garota que tem suas partes intimas expostas para a toda a escola. Mas não parou por aí… nunca para.

Eu sempre aprendi que as coisas ruins vêm aos pares.

E foi exatamente isso que se aconteceu. A foto não foi simplesmente partilhada sozinha. Luke Castellan foi mais longe… muito mais longe do que alguma vez eu pensei que fosse. Ele contou como tudo aconteceu… ou na verdade… como não aconteceu. 

Eu sempre ouvi falar que os garotas gostam de exagerar nas historias que contam.  Eles sempre querem se expor mais, nem que para isso precisem de exagerar um pouquinho nas coisas. Na terceira classe Billy Andrews falou para toda a turma que Alice, a menina que sentava com ele, havia beijado ele.

Mas não havia. Ela havia dado um simples abraço nele… apenas um abraço.

E agora o mesmo estava acontecendo, Luke estava fazendo exatamente o mesmo que o Billy Andrews da terceira classe havia feito.

Mas a sua versão era muito mais estendida e erótica que um simples beijo… muito mais.

E foi assim que a Lei de Newton tomou conta da minha vida.

— Você está bem? – Percy perguntou enquanto me observava limpando uma das mesas.

Não.

— Sim, porque pergunta? – falei continuando com o que estava fazendo.

— Você está limpando essa mesa à uns 10 minutos – ele falou me olhando.

— Eu estou bem – assegurei.

Mas eu não estava. Claramente não estava.

— …

—…

— Sabe que as pessoas vão acabar esquecendo – ele sussurrou.

— Eu sei.

— Então trate de colocar um sorrinho no rosto sim? – ele sorriu para mim se aproximando pegando na minha mão.

— Vou tentar.

— Não – ele sorriu mais ainda – Você vai conseguir.

— Eu não devia ter saído com ele… você me avisou, Thália me avisou. Eu fui burra.

— Você simplesmente seguiu seus instintos… você gostava dele. – ele sussurrou se sentando comigo na mesa – Você não teve culpa.

Será que não?

— Eu apenas preciso sentir que não fui abandonada – murmurei olhando para a minha mão ainda entrelaçada na dele. Engraçado, elas pareciam se encaixar tão bem.

— Você não foi. Thália está do seu lado.

— Eu sei.

— Você vai ultrapassar isso, eles se esquecem vai ver. Logo estará tudo ocupado comentando sobre outro coisa.

— Você acha?

— Você não?

— Talvez… tem razão.

E eu pensei isso. Pensei que passado alguns dias todos iriam se esquecer, porque maioria das vezes é assim. Histórias dão lugar a outras historias. Um rumor acaba por perder interesse ao fim de uns dias e logo acabam por criar outro novo.

Mas isso não aconteceu.

As coisas começaram a piorar, e reação foi atingindo proporções inimagináveis… proporções tão grandes que se tornou algo incontrolável.

E sabe uma característica dos adolescentes? Limites… eles não conhecem limites… e foi isso que aconteceu.

Quando eu comecei atingindo meus limites.

A aula de Química havia terminado. Assim que deu o toque todos se levantaram pegando nos livros e mochilas. Arrumei meu estojo e minha apostilha pegando na minha mala.

— Cuidado garotas – Rachel Dare se pronunciou enquanto passava por mim com um grupo de garotas – Tenham cuidado com essa daqui, porque de santa só na roupa que veste.

E elas riam… sempre riam.

— Então Chase – a ruiva me olhou com um sorriso no rosto – Tem ninguém pra mostrar calçinha hoje?

— Me dá licença por favor – pedi baixinho.

Rachel Dare havia se tornado rotina do meu dia. Eu não sabia porquê, na verdade acho que nem ela sabia… talvez achasse divertido não?

Se lembra do que eu falei no inicio? Todos nós gostamos de ser a Regina George. Todos nós gostamos de participar em algo que nos faça sentir superiores, parte de algo? Era isso que Rachel estava fazendo. Sendo uma Regina George.

— Pelo menos é educada para uma Biscate - ela riu.

“Pare, por favor”

— Me diz Annabeth, Luke falou verdade? Você fez tudo aquilo? – ela sorria para mim – Nossa bem folgada você não?

“Pare… por favor… pare”

— Me deixe passar Rachel – pedi de novo. Eu sentia o meu rosto esquentando e os olhos se molhando com o passar dos segundos.

— Calma Annabeth, estamos apenas conversando querida – ela sorriu se aproximando de mim – Que foi? não está gostando da companhia?

“Cala a boca… cala a boca por favor”.

— Aposto que ela prefere outro tipo de companhia não? – a menina por trás sorriu também.

— Garotos por exemplo não? Quantos passaram por você Annabeth? – Rachel sorriu mais ainda.

Num gesto brusco as empurrei contendo o choro que ameaçava sair. Caminhei pelos corredores ainda ouvindo as suas risadas, querendo chegar o mais depressa possível no banheiro e chorar. Chorar até não conseguir mais.

Eu só queria pegar meus livros e ir pra casa.

Porém, assim que cheguei no corredor 3 eu reparei que todo o mundo se reunia no meio do corredor. Eu estava sem entender nada e tudo o que ouvia era risadas e gente sussurando.

“Não… não… por favor”

Eu só queria que não fosse aquilo que estava pensando.

“por favor… hoje não”.

“Isso não… por favor”.

Mas repito: As coisas ruins sempre vêm aos pares.

Até que eu vi… todo o mundo tirando foto ao armário – o meu armário – e ria como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

Encarei aquilo enojada.

Porquê? – era essa a pergunta que martelava na minha mente o tempo todo.

Porquê me odeiam tanto?

Avancei até ao armário decorado de embalagens de camisinhas usadas e rabiscos de batom usado.

“Porquê? Me expliquem, por favor. Porquê?”

Toquei sobre a fechadura. Tudo o que eu senti no momento era Nojo.

Nojo daquilo.

Nojo das pessoas

E pior… nojo de mim mesma.

— Hey amorzinho quer me ligar? — um garoto gritou atrás de mim.

“Não chore… faça o que fizer, não chore”

Abri o cacifo sentindo todos os olhares postos em mim.

Como se eu fosse alguma aberração no meio daquilo tudo.

Peguei em dois livros e tranquei o cadeado observando de novo “vadia” escrito a batom vermelho.

“Não chore! Não! Você não vai chorar diante deles”

— Hey quanto leva à hora?

“por favor… por favor… não chore”

E eu me afastei repetindo essa ordem mentalmente pela milionésima vez naquele dia.

E nesse dia tudo saiu fora de controle. Quando tudo à minha volta ruiu.

Tudo o que eu era, tudo o que queria e gostava, tudo isso começou desmoronando com mais intensidade. Eu estava me afundando cada vez mais… e o pior? É que eu estava levando quem eu mais gostava junto comigo. Isso foi a terceira reação da Lei de Newton. Quando tudo virou ruínas.

Naquela tarde, eu havia decidido algo.

Tentar me apegar às coisas boas. Tentar viver novamente no meio daquela confusão e me agarrar a algo bom que eu tinha comigo.

Eu havia decidido que iria tentar de novo, tentar me recompor e esquecer tudo o que estava se passando. Dar uma nova oportunidade à vida, uma nova chance.

— Sabe a gente podia ir tomar o pequeno almoço amanhã aquele pub – eu comentei sorridente.

Thália não respondeu continuando a arrumar as coisas do armário em sua mochila.

— Podíamos beber um capuchino e ir-

— Melhor não Annabeth – ela respondeu sem nem me olhar.

“Por favor… eu estou tentando”

— Ah… tudo bem – respondi. Eu sabia o que se passava… eu só não queria saber como isso iria terminar  — … A gente se vê depois? – tentei novamente. Mas no fundo, bem lá no fundo, eu já sabia a resposta.

— … Não sei – Ela me olhou passado uns segundos – Sinceramente não sei mesmo.

— Você está diferente comigo… não perceb-

— Não Percebe? – Ela me olhou unindo as sobrancelhas. Como se as minhas palavras fossem um insulto. – Não percebe? Uma coisa é você ir ao fundo outra é você me levar junto okay? Não está sendo fácil para mim sim?

“Eu sei… me perdoa”

— E acha que para mim está? Você acha que é fácil ouvir a escola comentando sobre você?

“Não vá… por favor… não faça isso”

— Annabeth não torne isso mais difícil do que já é… por favor.

— Deixa… pode ir… não quero que se afunde comigo.

“Não me deixe sozinha… por favor”

— Annabeth não era isso que… as coisas estão complicadas sim? Não é só você assunto do momento. As pessoas falam de mim também agora. Se você não tivesse se metido com o Luke talve-

— Talvez oque? Eu não era a vadia da estrada? Eu não era o assunto dos corredores? Você não se afastaria? – eu não conseguia parar de chorar. Parecia que cada vez que eu me tentasse levantar, a vida insistia em me jogar para baixo.

“talvez você não mereça uma segunda chance mesmo”

— Me desculpe – ela sussurrou me virando as costas - eu só… não consigo mais.

“Somos duas”

Olhei em volta tentando limpar o choro.

Até que o vi. Percy Jackson me olhava fixamente.

“Me abraça?”

—...

—...

“Diga que está comigo por favor”

—…

—...

“Diga que vai ficar tudo bem”

—...

—....

E tudo desabou. Tudo.

Desse mesmo jeito que vocês estão vendo.

E naquele momento eu percebi.

Eu estava sozinha… e por mais que tentasse as coisas iriam continuar assim… sempre.

Naquela tarde eu voltei para casa. Arrumei os livros na estante e tomei um banho. Limpei o pó dos porta retratos e passei a roupa a ferro para o dia seguinte.

Fiz o jantar para mamãe e para papai que chegariam tarde e me arrumei. Fiz a cama e meu dever de casa para que não ficasse nada acumulado.

E mais tarde, devolvi o uniforme do MC após ligar para o chefe.

Percy Jackson ainda lá estava.

“Desculpe nós ainda não abrimos” – ele gritou do outro lado da divisão. Dei um pequeno sorriso e larguei o uniforme numa das mesas.

“Até depois companheiro de turnos” – eu sussurrei dando um pequeno sorriso – “vou sentir sua falta”.

E saí antes que ele voltasse.

Faltava pouco para as 5 da tarde quando regressei a casa. Me certifiquei que tava tudo no lugar antes de subir no banheiro. Caminhei até ao armário do espelho em cima da pia. Abri a pequena porta sem encarar a garota no reflexo. Peguei no pequeno frasquinho de vidro que mamãe guardava junto dos pensos rápidos e aspirinas que sempre tomava quando lhe doía a cabeça como na semana passada.

Apertei  o frasco com mais força.

Dr. Marvin havia receitado as pilulas para dormir havia uns três meses. Mamãe sempre os tomava quando tinha turnos da noite do hospital e precisava descansar antes. Me sentei sobre o chão segurando ainda o frasco.

“Você é mais, a garota mais bonita que eu alguma vez vi… acredite em mim.”

— Mentiroso – sussurrei deixando que o choro tomasse conta de mim.

“Tem ninguém pra mostrar calçinha hoje?”

Segurei o frasco com mais força.

“Quantos passaram por você Annabeth?”

— Porquê? Porquê comigo? – sussurrei.

“Hey amorzinho quer me ligar?

Derramei todo o frasco sobre a palma analisando os pequenos comprimidos brancos amontoados.

— Bota abaixo Annabeth – sussurrei... e num gesto brusco os levei à boca engolindo todos aqueles que conseguia deixando os restantes cair sobre o chão. Respirei fundo.

Será que ia doer? Seria como dormir? Iria sonhar?

Suspirei, alcançando o celular que havia guardado sobre o bolso.

Procurei o numero e coloquei o aparelho sobre o ouvido... esperando.

— Annabeth? Annabeth eu liguei para você e-

— Me perdoe… me perdoe sim?

— Annabeth você está chorando? Loira onde você está? Eu precis-

— Eu só… eu só queria ter aguentando firme…  - Funguei limpando as lágrimas à manga da blusa – Eu pensava que as coisas iam melhorar

— Annabeth! Annabeth para por favor! O que raio você está falando!?

— Me perdoe por não ter escutado você – chorei baixinho soluçando. - Me perdoe se afundei você comigo Thália.

— Ann-

— Me perdoa s-…s-se não fui uma boa amiga, eu sempre-

— ANNABETH CALA A BOCA E ME ESCUTA POR FAVOR!

— Eu estou sozinha – solucei de novo sentindo o rosto se molhar cada vez mais – Eu pro-prometo que vou levar  as m-melhores memorias que tenho de você.

— O que você está falando?! Onde você está??

— Você foi a melhor amiga que alguém podia ter sabia? E-Eu não fico chateada.

— ANNABETH EU ERREI. EU D-

— Não… v-você não teve culpa – funguei de novo – eu que fiz isso tudo.

— ANANBETH! PARE COM ISSO!

— Obrigada… obrigada por ter me aguentando - apertei ainda mais o celular em minha mão tentando não ceder ao choro – O-Obrigada por ter me apoiado até onde aguentou….

— ANNA!

— … Adeus, amo você.

Relaxei e apenas deixei acontecer… um dia aconteceria mesmo, não é? Estamos destinados a morrer algum dia… todos nós.

Os minutos se passaram e de repente foi como se um filme estivesse passando na minha cabeça. Relembrei das saídas com Thália Grace até a lanchonete da esquina. Me lembrei de Percy Jackson, meu companheiro de turnos sorrindo para mim. Me lembrei de mamãe me preparando o café da manhã e painho lendo o jornal todas as manhãs.

— Me perdoem… eu só… não aguento mais. – Sussurrei me deitando sobre o chão frio.

O que aconteceu depois foi um borrão. Eu só me lembro de ouvir Percy Jackson sussurrando meu nome. Me lembrei dele se abraçar a mim e de sentir seu rosto molhado encostando no meu.

— Hey garota – ele chamou. Os seus braços envolveram os meus me abraçando – Olha para mim hey! Olha para mim!

— Per… Per…cy? – ele era real? O perfume que eu sentia era real?

— Sou eu sim… eu estou aqui! – senti os seus lábios encostarem na minha testa.

Estava tudo tão turvo.

— V… Voc-Você entou – murmurei.

Eu tinha tanto sono.

— Seu pai não vai gostar do estrago que fiz – eu conseguia ouvir o seu riso.

O riso de Percy Jackson…

— Me… Me perdoe – eu podia sentir meus olhos humedeceram de novo – eu… eu pensei que… que estava sozinha.

— Você não está sozinha. Nunca esteve – a voz dele estava trémula… parecia estar chorando.

Fechei os olhos. Eu só queria dormir.

— Vai ficar tudo bem sim? Vai ficar tudo bem – ele continuou.

“Obrigada”

— Pro-Promete? – murmurei fechando os olhos me aninhando em seu peito.

— Prometo – ele sussurrou. Eu sentia seus dedos penteando meus cabelos – Você nunca vai estar sozinha.

— Nunca?... Nunca?

— Nunca – ele assegurou me abraçando ainda mais contra si  – me perdoe.

Eu me sentia tão pesada.

— Eu agora estou aqui – a sua mão roçou nas minhas bochechas – não durma sim? Estou aqui.

Mas eu adormeci…

***

— Annabeth você está me ouvindo? – ele me chamou mais alto.

Nossa… eu apaguei? Eu bem falei que filme dava sono.

— Que? Sim estou ouvindo – me virei para ele sentindo os seus braços relaxarem sobre o meu corpo enquanto estávamos deitados sobre o sofá de sua casa.

Ele arqueou a sobrancelha dando um sorriso de lado.

— Mentirosa – ele riu, beijando a minha testa – Você estava fazendo tudo menos me ouvindo.

Eu sorri me aninhando mais nele.

Percy Jackson era meu aninhador pessoal preferido. Meu sofázinho particular que só eu podia ter.

— Me desculpe estava pensando -  sorri tentando entender a que ponto do filme eu havia parado.

Talvez no inicio não?

— Em que tanto pensa? Oh espera já sei. – ele deu aquele típico sorriso de novo. Aquele sorriso de “estou sorrindo porque eu gosto de sorrir e não quero nada em troca”

— Ai sabe?

— Em mim, óbvio. – riu ele entrelaçando as suas mãos nas minhas.

Outra característica de Percy Jackson? Convencido. Muito, mas muito convencido mesmo. Mas ele estava certo.

Esse garoto passou a ocupar maior parte da minha mente de um jeito que até eu desconheço como. E era estranho porque… eu não me importava.

Era engraçado… eu nunca pensei em ver Percy Jackson do jeito que vejo agora.

Percy se revelou um apoio enorme depois que mudei de escola. E acho que foi aí que ele passou de “companheiro de turnos” a algo mais… muito mais.

— Você não precisa fazer isso – falei ao encontrar o garoto esperando na minha porta naquela manhã– Eu posso ir sozinha.

— Eu já disse que vou com você – ele ripostou ajustando a sua mochila sobre o ombro – Eu pego o metro, acompanho você até à sua escola e volto a tempo do primeiro toque.

— Eu já disse você não precisa – eu sorri para ele.

Havia se passado três dias após a alta do hospital e Percy insistiu em me acompanhar para todo o lugar. Mamãe me havia contado que foram preciso 3 enfermeiros para o tirar da ambulância na tarde em que me levaram. Ela também me contou que o hospital ameaçou processar ele por agressão física a um dos paramédicos ao quebrar o nariz dele.

Mas felizmente mamãe impediu. Eu não queria causar mais problemas para ele… para mais ninguém aliás.

 Mas por dentro: Eu quero que você vá comigo porque estou muito nervosa e não quero ir sozinha. Por favor insistia em vir comigo mesmo que eu diga que não, porque sou uma teimosa e orgulhosa e não quero pedir isso para você.

Por fora:

— Percy, você vai fazer uma viagem desnecessária eu fico bem, não se preocupe já disse que posso ir sozinha.

— E eu já disse que não vou mudar de ideia, - ele falou me olhando - vamos se não perdemos o metro – ele pegou em minha mão me obrigando a seguir caminho. O olhei de novo. Ele usava uma camiseta com uma das suas bandas rock preferidas e uma jaqueta escura por cima onde mantinha as mãos nos bolsos.

— Não vale a pena eu reclamar pois não? – resmunguei dando um pequeno sorriso.

— Nop, eu vou com você quer você queira ou não – ele sorriu colocando a mão no bolso das jeans rasgadas que ele sempre usava.

Será que esse menino cortava os próprios jeans?

— Como você está? – ele perguntou enquanto caminhávamos pela rua. Ainda era cedo então pouca pessoas estavam acordadas já. O céu ainda variava entre tons de azul claro e escuro e o ar frio da manhã insistia em permanecer.

— Estou bem melhor agora – sorri olhando para a rua vazia – os médicos me falaram que depois da lavagem ao estômago eu fiquei livre de problemas já que meu organismo ainda não tinha ingerido os remédios.

— Fico feliz por isso – ele sorriu para mim.

Porque eu sempre ficava fitando o seu sorriso? Porquê?

—Ainda não perdoei você por não me deixar quebrar a cara do Castellan – ele resmungou unindo as sobrancelhas – Eu queria tanto esmurrar ele.

— Minha mãe falou que eu precisava esquecer isso e sinceramente eu prefiro assim Percy. Eu só quero ir para as aulas acabar esse ano e não me meter em mais problemas.

— Certeza?

— Sim… eu só quero ter paz agora – sussurrei.

Logo senti a sua mão alcançar a minha. Era bobagem mas… eu sentia que elas se encaixavam tão bem quanto duas peças de um quebra-cabeças.

Naquela manhã pegamos o metro das 7.

— Vem, vamos nos sentar – ele segurou novamente minha mão me guiando para um dos lugares vazios do metro. — Você está nervosa? – ele perguntou passado uns minutos.

— Um pouco… - respondi. Ele me olhou de novo. Parecia que aqueles olhos conseguiam enxergar através da minha alma – Okay sim estou muito nervosa.

— Vai dar tudo certo – ele sussurrou do meu lado – Eu estou aqui.

“eu nunca vou abandonar você”.

— Eu sei… eu sei que sim. – murmurei observando as nossas mãos ainda interlaçadas.

Percy se remexeu continuando a acariciar os meus cabelos. Ele estava sentando sobre o sofá enquanto eu me mantinha do seu lado me encostando sobre a curva do seu pescoço, o observando.

Os seus olhos se mantinham concentrados no ecrã do televisor enquanto a sua boca repetia cada fala dos personagens denunciando a quantidade extrema de vezes que ele já havia assistido àquele filme.

— Olha é agora! – ele sussurrou ao ver o garotinho da Tv sorrindo para o Projetor.

Percy Jackson era um poço cinematográfico de filmes antigos. Ele não contava para ninguém , mas em seu quarto ele guardava todas as fitas VHS dos seus filmes preferidos numa caixa de cartão por debaixo da cama.

Era estranho? Não, apenas… diferente.

E eu gostava dessa diferença em Percy Jackson. Era isso que o tornava único.

Domingo era o seu dia preferido. Sua mãe fazia sempre os turnos da tarde então ele tinha a casa só para ele. Preparava uma taça de pipocas (as salgadas eram as suas preferidas), o suco de laranja que sua mãe trazia do mercado todas as manhãs, e se deitava sozinho no sofá assistindo um dos seus filmes.

Não mais sozinho agora…

“Cinema Paradiso” foi o filme que calhou na rodinha da sorte de hoje.

— Você ama esse filme não é? – eu perguntei, não consigo conter o sorriso.

— Amo mais outra coisa também – os seus olhos me fitaram por um longo segundo.

Era estranho, mas… o verde das suas íris tinha virado a minha cor favorita nesses últimos meses.

— Ai é? – arqueei a sobrancelha devolvendo o sorriso (gesto que eu havia aprendido com ele) - Quem então?

— Hummm – ele olhou para nenhum lugar especifico fingindo pensar – Não sei… Uma certa pessoinha que adora roubar meus CD’s por exemplo

— Essa pessoa é uma sortuda então. — E era. Muito sortuda mesmo.

— E eu sou um sortudo também – os lábios vermelhos moldaram as palavras num sussurro baixo. Os olhos verdes me encaram de novo mas de um jeito tão profundo que parecia querer despir todas as camadas do meu ser.

… eu me lembro a primeira vez que ele me encarou desse mesmo jeito.

— Ei Annabeth – Piper Mclean me cutucou – Você quer ficar e ir com a gente à livraria? Silena pediu para convidar você.

— Obrigada mas já tenho gente esperando por mim – sorri desviando os olhos me certificando que o professor não estava nos observando.

— Certeza? Pode vir se quiser – ela sorriu para mim.

Piper Mclean foi a primeira amizade que fiz nessa escola. A conheci no primeiro dia em que Percy me acompanhou  até à sala (acompanhado pelos protestos dos funcionários que avisaram que era proibida a entrada de “não-alunos” na escola). A garota me apresentou a escola e logo me convidou para se juntar a ela na hora de almoço. Em semanas, Piper Mclean se tornou uma pessoa próxima, tão próxima de mim quanto Percy Jackson se tornara também.

— Obrigada mas eu já tenho coisas combinadas – respondi olhando discretamente para o relógio.

— Hmmm… o seu xodó está lá fora já? – A garota sorriu para mim – É o cara que vem sempre buscar você né?

— Oquê? O Percy? Ah ele é apenas um amigo.

Mas amigos não me parecia certo… eu o considerava mais. Muito mais.

— Ouvi falar que tem um monte de garotas perguntando quem é ele – Ela riu baixinho – Seu xodó anda colecionando admiradoras por aqui.

— Ele não é meu xodó – adverti – Percy apenas… gosta de estar por perto.

Eu ficava me perguntando o porquê.

Nas duas semanas após o acidente (como minha mãe o havia chamado) – Percy Jackson passou a ser algo recorrente na minha rotina. E eu não percebia o porquê disso. Às vezes dava a sensação que ele se sentia culpado de alguma forma, mas eu não tinha a certeza se era isso ou outra coisa.

“Eu nunca vou deixar você sozinha… nunca mais”.

Talvez ele estivesse mantendo a promessa não? Era o que parecia…

Mas eu não gostava disso.

Eu não queria que a nossa amizade se contruísse através de promessas e sentimentos de culpa.

Não queria.

O sinal bateu minutos depois. Arrumei meus livros na mochila enquanto Piper Mclean olhava para mim com um sorriso no rosto. Percy já não era o único de sorriso sincero agora. Piper também entrava nessa categoria pelos vistos.

— Certeza que não quer vir? Pode convidar ele se quiser, a gente adoraria ter ele com a gente – ela se ofereceu num tom meigo – A gente não se importa sério.

— Percy é um pouco tímido. Eu não sei se ele iria se sentir confortável. Além disso, conhecendo ele com certeza já tem algum lugar para a gente ir.

— Uao bonito e tímido – as suas sobrancelhas se arquearam num gesto malicioso – Seu xodó é um principe então.

E era... certamente que era.

— Eu vou indo e-

— Ah não calma aí eu quero conhecer ele – ela sorriu pra mim – Tem que passar no meu teste.

— Que teste?

— Teste de “se ele é bom o suficiente pra estar com minha amiga”. Faço isso a todos os xodós das minhas amigas.

Onde você estava há semanas atrás quando eu precisava de uma amiga assim?

— Vamos! – ela agarrou em minha mão me puxando – Vamos quero conhecer seu xodó!

— Fale baixo!

A gente caminhou até à saída tentando passar pela monte de alunos que se juntava nos corredores da entrada. A mão de Piper me segurava com tanta segurança enquanto tentava abrir caminho até à saída.

— Ai olha ali! É ele não é? – ela me perguntou apontando algures para a entrada. Percy Jackson esperava sorridente nos portões da escola enquanto conversava animado com a senhorita da entrada.

Percy seduzia todo o mundo com seu charme e simpatia… até as funcionárias pelos vitos. Eu não as julgava… a personalidade de Percy encantava qualquer um… e qualquer uma também.

— É ele é… - eu sorri observando os movimentos do garoto ao longe. Ele estava apoiado nas barras de metal do portão, se mantendo na conversa sorrindo e gesticulando para a senhora baixinha que parecia se perder de amores por ele.

Percy Jackson era uma tentação para as senhoras de idade não é mesmo?

— Vamos ele deve estar esperando você – ela sorria me puxando até à entrada.

— Sim eu estudo em outra escola mas eu venho buscar ela todos e dias e- Annabeth! – os seus olhos se fixaram em mim interrompendo a conversa – Estava demorando já.

— Me desculpe eu me atrasei – sorri estupidamente para ele – Espero que não tenha se aborrecido.

— Ah claro que não, Senhorita Mary é uma companheira de conversas muito legal – ele sorriu gesticulando para a senhorita do portão que sorria atenciosa – Eu não posso entrar mais aí lembra?

— Você sabe que só podem entrar alunos e professores – Mary advertiu com um sorriso. Ela era uma mulher baixinha, cabelo curtinho e claro e um sorriso amigável que nos fazia lembrar aquelas titias simpáticas dos desenhos animados – E você não é execeção mocinho.

— Ah eu sei eu sei – ele sorriu galante – Mas bem que podia me deixar de vez em quando não?

— Não abuse – ela sorriu gentil.

— Ah Percy – chamei – Essa é a Piper. Piper esse é meu amigo Percy.

— Prazer – ela estendeu a mão para ele com um sorriso. – Percy Jackson não?

— Prazer – ele sorriu de lado. – Sim sou eu.

— Então você é amigo da Annabeth não é? – ela desviou o olhar para mim por leves segundos.

Os olhos verdes se fixaram em mim. Eu podia sentir cada pedacinho do meu ser se desfazendo ao sentir os olhos de Percy Jackson me mirarem daquele jeito, sem nenhum declínio ou expressão. Parecia um fotografo querendo captar uma paisagem, ou um artista expressando sua arte. Não de um jeito estranho mas sim intenso, penetrante, e envolvente, esboçando um sorriso meio torto no rosto.

E naquele momento eu entendi duas coisas:

1º - O olhar de Percy Jackson era perfeito quando dirigido a mim.

2º - Eu queria ser a única pessoa a quem Percy Jackson dirigisse aquele olhar.

—  Amigos? - ele sorriu ao fim de um minutos continuando com os olhos postos em mim - Não... Somos mais que isso...


— Hey, você quer ou não?

— Oque? – pisquei os olhos atordoada - Querer oque?

— Você hoje tirou o dia para não me ouvir?

— Me desculpe eu fiquei pensando – falei sorrindo para ele.

— Você anda pensando muito hoje – ele gargalhou exibindo as covinhas perfeitas que possuía no rosto – Em que tanto pensa?

— Não sei… não da para explicar – respondi encolhendo os ombros – Em muitas coisas.

— Muitas coisas hum? – ele repetiu para si próprio como se estivesse memorizando cada letra embutida na frase. Ele inclinou a cabeça ligeiramente e franziu a testa meditando - … E eu sou uma dessas coisas?

— Você é definitivamente uma dessas coisas – sussurrei apertando a sua mão me aconchegando ainda mais no sofá. Ele riu permanecendo em silêncio. Passou o braço em volta do meu ombro, depositando um beijo na testa.

— Fico feliz por isso – ele murmurou como se fosse um segredo. Um segredo só nosso.

— O que você estava perguntando afinal? – as minhas mãos continuaram entrelaçadas com a dele. Era algo comum na gente. Eu me sentia bem em fazê-lo.

— Estava perguntando se você não queria ir fazer nossa tradição semanal – ele propôs sorridente – Ainda não fizemos essa semana.

Percy Jackson era um adepto de tradições. Tradições que ele fazia questão partilhar comigo. Mas há 2 meses a gente iniciou uma nova tradição, a nossa tradição… só minha e dele.

Eu estava no meu quarto. Era o ultimo Domingo de Março o que significava que logo o tempo começaria aquecendo dando lugar à Primavera.

O que era ótimo eu já não aguentava tanta chuva.

Reli o ultimo paragrafo de uma das páginas do livro de Filosofia, tentando decifrar o que raio aquilo significava. Papai falava sempre que “a filosofia é o elemento mais importante do conhecimento”

Eu discordava. Filsofia era uma droga completa.

E pior, eu era uma droga a ela também.

Ajeitei o fone no meu ouvido que repetia pela trilionésima a ultima faixa do álbum dos Artick Monkeys que Percy havia me oferecido na semana passada.

Às vezes eu queria matar Percy Jackson por ter um gosto melhor que o meu em música. Pior disso… eu estava sendo corrompida por ele.

Em apenas uma semana eu colecionei uma pilha dos seus Cds em meu quarto.

Tudo por culpa dele e do seu bom gosto mesmo.

— “Maybe I just wanna be yours” – cantei baixinho enquanto anotava tudo o que conseguia na folha à minha frente –" “I wanna be yours... I wanna be yours”

Mas tem vezes que o cara lá de cima nota que você está quase – quase mesmo – pegando fogo no livro, e como ele é adepto ao não gasto desnecessário de dinheiro ele resolve dar um presente para você. E no meu caso foi uma chamada de Percy Jackson.

— Que foi? – resmunguei já cansada daquele inferno de matéria.

— Nossa, interrompi algo importante? – ele sussurrou num tom estranho.

“Nota do dia: Não voltar a ser grossa ao celular com Percy"

— Me perdoe… eu só estou de volta de um problemão aqui.

— Hummm então que me diz sair e esquecer esse problemão por uma hora?

— Do jeito que estou, aceito qualquer coisa.

— Ótimo, então desça rápido porque eu estou à sua porta.

E desligou.

Outra característica de Percy Jackson? Insistente… 

Me arrumei mais depressa que carro de formula 1 descendo as escadas aos tropeções.

— Onde você vai querida? – mamãe perguntou ainda deitada no sofá.

— Vou sair com o Percy mãe. Precisa de algo?

Ela me deitou um sorrisinho.

Aquele mesmo sorrisinho que todas as mães deitam quando você vai sair acompanhada.

— Vocês andam muito amigos não é verdade?

— Sim, já que foi ele que impediu de eu ir  pros anjinhos – atirei pegando no casaco.

— Annabeth! – aí esta uma coisa que eu preciso parar de usar: sarcasmo.

Sarcasmo acompanhado de humor negro que minha mãe odeia.

E só piora quando eu fico mencionando o episódio da tentativa da palavra começa por “s”.

Mamãe e Papai choraram naquele dia… e eu sabia o quanto eu tinha magoado eles.

Mas eu não queria que eles ficassem apegados a isso… eu mesma não queria ficar apegado a isso também. Apenas esquecer…

— Me desculpe – murmurei a olhando – Foi brincadeira…

— Eu sei… - ela murmurou fechando o livro. Demorou uns segundos até ela se recompor e me dar um sorriso – Se divirta sim?

— Pode apostar.

Acho que minha mãe tinha um carinho especial por Percy Jackson. Do género “você salvou minha filha de não morrer, vou estar eternamente grata a você, obrigado por existir”

...

Opps sarcasmo de novo… Talvez eu precise mesmo de parar com isso.

Dei um beijo em sua testa e saí. Ele me esperava como prometido.

E eu não sei se era da jaqueta escura, da larga camiseta branca que usava, ou das jeans escuras que condiziam perfeitamente com os cabelos cor de petróleo. Mas ele estava bonito… mais do que já era.

— Então garota. Estava demorando – ele sorriu para mim com aquele sorriso sapeca que só Percy Jackson tinha.

— Desculpe minha mãe estava na sala – respondi fechando o ziper do meu casaco.

— Não será melhor eu ir cumprimentar ela não? – ele falou mirando a janela – Não quero que ela pense que sou mal educado ou assim?

— Não se preocupe – assegurei me colocando ao seu lado – ela não pensa isso.

— Se você o diz… - ele sorriu.

Aquele sorrisinho perfeito que me deixava com dor de cabeça.

— Onde vamos?

— Não sei… estava pensando em você decidir.

— … Percy? Você quer cometer uma loucura comigo?

— Uma loucura? – ele arqueou aquela sobrancelha perfeita. – Que tipo de loucura você está propondo?

— Quer ir comer sorvete?

— Comer sorvete? – ele repetiu como se fosse uma piada - Com esse tempo?

— Ah qualquer altura é boa para comer sorvete – eu respondi encolhendo os ombros – Aceita? Eu pago.

— Você paga um de menta para mim? – ele sorriu divertido.

— Menta? Eca não.

— Você não gosta de menta? – ele franziu o senho se afastando – Você é doente?

— Caramelo é melhor – assegurei convicta. – Muito melhor.

— Eca, isso é enjoativo demais… até mau gosto em sabores você tem viu?

— Muito engraçado – revirei os olhos dando um pequeno sorriso – Tudo bem eu pago um de menta para você.

Ele deu um sorrisinho vitorioso se colocando ao meu lado estendendo o braço esquerdo – Então Annabeth Chase… Aceita que eu a acompanhe nessa sua loucura?

Cavalheiro… outra característica de Percy Jackson. Não importa onde ou quem… se houvesse oportunidade de Percy usar seu cavalheirismo, ele usava… sempre.

— Obvio que sim – eu sorri o segurando.

Mas como todo o mês de Março é um conjunto de instabilidade temporal e climatérica, começou chovendo.

Não chovendo de “hey olha está chovendo, que maravilha”

Não… era chovendo do tipo “Corra! Está chovendo muito e a gente vai pegar o resfriado de tão encharcado que estamos”.

Esse tipo de chovendo.

— Vamos! – ele pegou minha mão enquanto corríamos pela rua molhada. As pessoas abriam os guarda chuvas se abrigando enquanto a gente se mantinha correndo procurando algum lugar para conseguir nos abrigar da chuva. – Se não a gente apanha resfriado.

Não falei? Esse tipo de chovendo mesmo.

E eu ria… eu só ria com aquilo tudo. O passeio estava inundado e a chuva parecia cair com mais força ainda. As Árvores do passeio abanavam com o vento obrigando a chuva cair com tanta força que pareciam várias agulhas se espetavam na pele.

— Vamos, encontrei um lugar – ele me puxava correndo na minha frente. Parámos debaixo de uma das varandas de um prédio. Ele respirava com dificuldade enquanto me fitava com as sobrancelhas arqueadas.

— Você está bem?

— Eu sei que Dançando na Chuva é um dos seus filmes preferidos mas isso foi longe demais  - eu ri. Ele sorriu penteando os cabelos molhados.

Eu travei.

Os meus olhos o analisaram. A camiseta branca se mantinha colada ao seu corpo torneado permitindo ver os gominhos perfeitos do seu abdómen enquanto gotas de chuva escorriam do cabelo até à pele do seu pescoço.

Jesus amado!

— Que foi? Está tudo bem? – a sua mão agarrou no meu ombro.

Meu coração parecia acelerar a cada segundo que passava com aquele Deus Grego na minha frente.

Os olhos verdes me encaravam sem nem desviar uma única vez.

— Annabeth você está me preocupando diga alguma coisa!

— Eu… eu estou… molhada.

Não pense besteira! Eu sei que passou isso pela sua cabeça!

Ele arqueou as sobrancelhas, parecia surpreso. Rapidamente despiu a sua jaqueta colocando em meus ombros.

— Me desculpe… não era para ser desse jeito. -  ele gemeu frustrado ajustando o seu casaco no meu corpo

— Não faz mal, você não manda no clima Percy – eu sorri.

Ele estava tão perto…

— Seu eu mandasse nele você não estaria encharcada agora – ele resmungou me olhando. Pareciam mais brilhantes e mais intensos que nunca.

— Repito, você não consegue parar a chuva. – eu ri baixinho.

Eu pude ver o seu maxilar se contrair.

— Por você eu tentaria – ele sussurrou pegando na minha mão.

— Oque?

— Por você – ele se aproximou mais um pouco – Eu tentaria parar a chuva… eu tentaria afastar as nuvens também.

— Não diga besteira Percy.

Porque eu estava rindo que nem idiota?

— Não é besteira – ele sussurrou. As suas mãos subiram até a minha bochecha. Os seus dedos dedilharam cada centímetro da minha face – Eu faria isso tudo por você… basta você pedir.

Ele se aproximou encostando o seu corpo ao meu.

Percy mordeu o lábio observando cada movimento meu. Eu podia ouvir os batimentos do seu coração vibrando com o meu. Podia ouvir cada respiração sua que provinha dos seus pulmões.

Eu tinha total acesso a Percy Jackson.

— Percy…

Porque eu não conseguia falar nada?

— Basta você pedir… eu faço isso tudo – ele sussurrou. A sua mãos agarraram a minha face, prendendo-a gentilmente – Porque eu não consigo fazer mais nada agora…

— Você não está fazendo sentido nenhum – eu sussurrei conseguindo sentir a sua respiração quente batendo contra a minha.

— Eu sei… eu sei disso… eu quero tanto você do meu lado – ele sussurrava baixinho – quero tanto você.

— Tanto assim? –porque eu estava assim? Porque parecia que meu corpo iria virar cinzas a qualquer momento?

— Você não imagina… - a sua boca continuou proferindo cada palavra num tom baixo e gentil. Como Percy Jackson sempre fazia – Eu não quero deixar você sozinha… nunca mais… porque eu amo você, sempre.

Então eu o beijei.

E foi exatamente como eu sonhei que seria. Os lábios dele, os lábios de Percy Jackson estavam agora centrados nos meus. Sabiam a menta do sorvete e a Percy Jackson. Um gosto tão peculiarmente bom.

As suas mãos viajaram até a minha cintura me obrigando – ou nem tanto assim – a me manter junto dele. A sua boca ousada conjugava a minha, me fazendo sentir nas nuvens como sempre imaginei que faria.

Eu podia sentir a pulsação dele enquanto a sua boca encontrava a minha resistência passiva. As mãos dele continuaram a descer pelo meu braço, encontrando o meu pulso e colocando o meu braço ao redor do seu pescoço. Mal nos separamos para respirar de novo e os seus braços já me haviam segurado de novo me impedindo de escapar.

Mas eu não ia escapar... não ia.

— Annabeth?  - ele chamou roçando os lábios vermelhos contra os meus.

— Sim?

— Tem razão – ele sorriu me olhando de um jeito tão intenso quanto o beijo de há segundos – Caramelo sabe muito melhor mesmo.
 

Essa virou nossa tradição.

Todas as semanas a gente ia a uma gelataria e comprava dois sorvetes.

Não importava se estava frio ou vento… era algo nosso.

Só nosso.

— Que me diz – ele sorriu repetindo o gesto de há meses oferecendo o seu braço – Vamos?

Segurei o seu braço não conseguindo conter o sorriso - Vamos… eu prometo.

E iriamos sempre… porque nenhum de nós iria ficar sozinho se nos tivéssemos um ao outro.

E era isso que eu mais amava em Percy Jackson

A capacidade cumprir promessas e as tornar em algo tão maravilhoso quanto ele.

Porque a vida é como a Lei de Newton. Onde à uma ação à sempre uma reação. E se a ação for má, não espere que a reação seja melhor… mas por vezes isso não acontece… por vezes você acaba reagindo a alguém que sempre comete as melhores ações.

E vocês se tornam um par ação-reação. Onde um acaba sempre reagindo ao outro… nos melhores e piores momentos.


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Notas finais do capítulo

Então é isso gente.
Ela deu mô trabalhão e espero mesmo que tenham gostado
Nos vemos em breve eu espero...



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