Prelúdios Etéreos I: A Ascensão escrita por Raffs


Capítulo 5
Capítulo 4




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Sophie certamente não era uma entusiasta de cerimônias.

Para ser mais claro, ela não gostava de nada que envolvesse contato social.

Tantas pessoas

A garota se sentia desconfortável como nunca. E desconforto era algo que ela compreendia como poucos.

Talvez fosse pelo garoto sorridente situado na primeira bancada, ou pelo jovem indígena a alguns metros de distância, cercado por guerreiros tribais. Sophie não sabia ao certo porquê. Mas sabia, com toda a certeza, que aquelas pessoas, todas elas, como grupo e individualmente, fariam sua vida mudar de uma maneira que ela nunca imaginara.

Talvez tivesse sido má ideia participar do exame de seleção para a Grande Academia.

Seus pais não estavam lá.

Estavam ocupados conversando com um dos ministros do Rei.

Sophie riu para si mesma; a ironia fazia parte da sua vida desde sempre. Seus pais nunca estavam com ela, ocupados demais para isso. Ocupados tentando dar um fim à cultura de desprezo à raça dela. Eddarus e Giselle sequer eram feciter. Eram humanos comuns. Ricos e influentes, porém comuns.

O velho Grão-Mestre cujo nome Sophie não fazia a menor questão de saber mandou todos os novos alunos, ou melhor, os classificados abaixo da quinquagésima posição, se levantarem e proferirem o juramento. Sophie hesitou, mas o fez. A situação, incrivelmente, conseguiu ficar ainda mais desconfortável. Pelo que ela notara, era uma das únicas que não estava com mãe ou pai (ou guarda-costas) ao seu lado. Estava sozinha naquela infinidade de bancadas, e sozinha estaria dentro daqueles muros, atrás do altar. Também estaria sozinha quando saísse de lá. Estaria sozinha quando seus pais morressem. Estranhamente, isso era um dos poucos aspectos em sua vida que não a incomodavam; Sophie se sentia contente em resumir sua vida a estar solitária.

Após o garoto tribal fazer seu juramento, mais um daqueles cansativos juramentos, era a vez do sorridente primeiro colocado. O segundo colocado do exame não deu sorte durante a viagem, e por um momento Sophie pensou que seria melhor estar no lugar dele.

Mas um fedelho estúpido atraiu sua atenção tentando escalar o maldito muro.

Qual é o problema dele? Se precisa tanto assim de atenção, deveria ter se esforçado mais para não ficar na última colocação.

Deixe o pobre garoto. Você não entende o que se passa na cabeça dele, respondeu outra voz, em sua cabeça.

Embora ela apenas soasse em sua mente, Sophie reconheceu aquela voz como se ela estivesse gritando em seu ouvido.

Saia daqui. Sophie já havia ordenado inúmeras vezes para a voz que nunca voltasse.

A voz riu, e a risada inocente ecoou pela sua cabeça de forma assustadora. Por enquanto, eu vou embora. Aproveite a cerimônia. Ao final da frase, a voz já soava distante, se ofuscando até sumir.

Finalmente. Sua mente estava em paz novamente.

Após aquilo, a cerimônia chegou ao fim, com pais e filhos se abraçando enquanto choravam copiosamente. Sophie, para variar, ficou sozinha, apenas observando o momento de emoção.

Quando o portão surgiu (e finalmente o nome “portão” fez algum sentido), se abrindo, o Grão-Mestre ordenou que todos se dividissem em fileiras de acordo com as bancadas onde se sentavam. Sophie estava na vigésima terceira fileira, pois sua posição no exame fora…

Ela se deu conta de que sequer se lembrava disso. Muitos números para decorar. Não devia ser tão importante, afinal.

Quando a última fileira passou pelo muro, o portão se fechou com um estrondo. Sophie se virou, e notou que não havia mais portão algum; o que se via era um muro maciço de pedra muito antiga.

Já a visão do interior da Academia era simplesmente incrível. Parecia impossível que uma estátua daquele tamanho pudesse realmente existir, como se a visão que se tinha de fora dos muros não passasse de uma ilusão. Mas era real.

O grandioso monumento, com no mínimo duzentos e cinquenta pés de altura, reluzia em ouro. As formas eram óbvias: um gigantesco ser humano coroado em sua cabeça, segurando uma balança enquanto uma espada se fincava aos seus pés, na base da estátua. A balança parecia estar em equilíbrio; caso contrário o mundo estaria supostamente chegando ao seu fim.

Era o que diziam os supersticiosos.

De repente, a maldita voz voltou.

Detesto ter que atrapalhar esse momento, e devo admitir que essa estrutura é impressionante, mas…

VÁ EMBORA!, gritou mentalmente Sophie.

Apenas… ouça.

A voz riu baixinho, mas ainda com eco na cabeça de Sophie. Ela percebeu que estava com enxaqueca.

Não. Não quero, nunca mais. Dar ouvidos a você foi o pior erro que cometi. Não o farei de novo.

Não há controle. Estou em você, então você me ouvirá, querendo ou não.

A voz fez uma pausa.

Eu disse para ir embora.

Não pode me impedir, Sophie.

Esperei, cegamente, é claro, que você tivesse a educação de me obedecer. Já que fez o favor de invadir minha cabeça, poderia ao menos seguir minhas ordens.

Invadir? Não… Eu sou parte dela. Você sabe disso.

Então se você é parte de mim, por que continua a me chamar pela segunda pessoa?

É diferente. Não somos os mesmos. Pare de fingir que não me conhece. Você sabe bem como surgi.

Não ouse me lembrar disso.

Sophie, embora maravilhada com a estrutura da Academia, sentia-se prestes a explodir por dentro.

Eu sou seu melhor amigo. Seu único, aliás. Quem sabe você não consegue novos por aqui? Lembre-se de me apresentar a eles.

A voz desgraçada riu novamente; talvez se divertisse com aquilo, e Sophie sabia disso. Ela se esforçava para parecer forte e segura por fora, mas era impossível esconder isso de algo que vivia em sua mente.

Sentiu um impulso para gritar, tentando afastar aquela maldita persona de sua mente, mas a última coisa que Sophie queria era ser notada em meio àqueles estudantes todos. Ela vira o constrangimento pelo qual o garoto-escalador-de- muros passou.

Vai me ouvir agora?, perguntou a voz.

A garota não precisou fazer esforço para formular uma frase, pois o nem morta já estava gravado no seu subconsciente.

Oh, Sophiedesculpe-me por isso.

Sophie notou a malícia subliminar na frase, mas não a tempo. De repente sua mente pareceu esvaziar-se, e sua visão escurecer. Tentou controlar a sensação horrível de cansaço que surgira subitamente, mas seus músculos lhe diziam para fazer o contrário.

No meio de uma nova palestra do Grão-Mestre aos novos estudantes, Sophie caiu no meio do grande pátio.

Droga, pensou antes de apagar de vez, desmaio de novo.


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