Sasagawa Ryohei não era um idiota, muito menos alheio aos sentimentos dos outros. Ele apenas seguia seu próprio ritmo, não se importando com o que os outros pensassem de si. Mas ele sabia que era barulhento e muito extremo, que ele era exageradamente protetivo de sua irmã e mais que qualquer coisa ele sabia que Tsuna a amava.

Da primeira vez que ele falou com Tsuna, Kyoko apareceu e foi difícil não notar a face vermelha e o gaguejar do garoto. Ryohei sentia pena dele, afinal sua irmã era muito lenta e não estava interessada em ninguém.

De primeira, o Sasagawa mais velho não apoiava o amor de seu novo amigo, ele nem mesmo pensava sobre isso. Mesmo que ele se importasse com Tsuna, Kyoko era sua irmã mais nova e sua felicidade e bem estar vinham em primeiro lugar. Sem dizer que o que Tsuna sentia poderia ser uma quedinha, nada mais — Kyoko não era a ídolo de Nami-chuu por nada, era normal isso acontecer.

Mas...

Não era isso e Ryohei ficou mais e mais envolvido com Tsuna e no final eles se tornaram família. Tsuna era seu irmão mais novo e Céu.

Com o passar do tempo Ryohei viu o garoto, que um dia foi debochado como Dame-Tsuna, crescer em um forte, gentil e respeitado chefe. E ele sabia que esse homem merecia muito mais que qualquer um. Ele era, afinal de contas, um grande Céu, aceitando tudo.

Ryohei estava lá enquanto Tsuna lutou para chegar no topo e ele entendeu que Kyoko era uma de suas razões para continuar lutando, para continuar seguindo em frente. Claro, o castanho queria proteger sua vida mundana e fugir da máfia, mas mais que tudo ele queria proteger o sorriso de Kyoko. Tsuna era movido pela necessidade de proteger sua amada,  mesmo que isso significasse arriscar sua vida.

Quando ele lutou contra Mukuro, ele queria deixar Kyoko viver em uma cidade pacífica. Quando ele batalhou contra Xanxus, ele sabia que tinha a possibilidade da vida de seus guardiões serem perdidas e isso significava que Ryohei poderia morrer e deixar Kyoko triste. No futuro, ela era um dos alvos e Tsuna não conseguia aceitar isso, então ele precisava ter certeza que tal futuro perigoso nunca viesse a ocorrer. Nas batalhas seguintes ele veio a entender que ele não podia morrer para protegê-la, mas viver para fazê-la sorrir. Então ele lutou para viver e nunca parou.

Seu amor não sumiu.

Ele cresceu.

E porque Ryohei sabia de tudo isso, ele desejava que os dois ficassem juntos. Mas Kyoko era muito lenta e Tsuna muito abnegado. Seu Céu fez tudo possível para dar para as garotas uma vida normal sem máfia e isso significou desistir de seu amor. Ele não podia envolvê-las mais do que ela já estava envolvida.

O castanho ainda a amava, mas nunca seguiria seus sentimentos, então ele os trancou no fundo do seu coração.

Tsuna era um idiota, Ryohei pensava.

Era tão idiotamente obvio que ele a amava tanto e a queria ao seu lado. Doeu ver seu Céu com olhos desejando-a cada vez que a via. Ryohei sentiu-se ainda mais em dor quando ele viu o castanho se desesperar ao saber que ela  conseguiu um namorado, mas continuava sorrindo como se fosse a melhor noticia que ele poderia receber.

Ele se lembra. Ryohei se lembra dos dias depois da noticia ( ou foram semanas?Talvez meses... ). Os sorrisos — tão plásticos, tão falsos, tão machucados— nos lábios de Tsuna matavam internamente seus guardiões. Era errado, ele não deveria sorrir assim. Seus sorrisos deveriam ser brilhantes, acolhedores, cheios de alegria.

Ryohei era seu guardião, amigo, irmão mais velho e junto com os outros ele devia ter protegido o sorriso de seu chefe. Mas o que eles poderiam ter feito quando não havia inimigos para derrotar? Eles estavam perdidos. Frustados. Envergonhados.

E com isso Ryohei não conseguia resistir e pensar que sua irmã fosse um pouco idiota. Tsuna era uma opção melhor, um homem melhor... mas ele não podia reclamar, não quando ela, sua irmãzinha mais nova, sorria brilhantemente ao lado de seu namorado. Ele realmente não podia e mesmo assim as memórias de seu chefe tão triste apertavam seu coração.

Por quê, ele pensava, por quê Tsuna não conseguia ter o que ele mais queria? Era injusto.

Ele era o Guardião do Céu perfeito. Ele aceitava tudo, mesmo a dor. Então ele aguentou e continuou a agir como um chefe, como um irmão, como um amigo.

O Guardião do Sol continuou a refletir sobre o amor de Tsuna enquanto via Kyoko colocar o anel no dedo de seus marido e declarar seu amor por ele.

Ele está em um casamento.

O casamento de Kyoko.

O homem ao lado dela não era Tsuna.

Não, o castanho estava lá, assistindo a mulher que ele ama casar-se com outro que não era ele, e com um sorriso tão perfeito que poderia ser tão mais bonito se ele não parecesse que fosse quebrar a qualquer minuto.

Olhos vidrados como se ele não estivesse vendo nada. Isso era sua proteção. Um escudo para proteger seu frágil coração.

Os próximos dias seriam dolorosos não apenas para Tsuna, mas para seus guardiões também. E o quanto mais ele tentar não preocupá-los, mais eles vão.

Ryohei não era um idiota. Ele conhecia muito bem seu irmão mais novo. Ele sabia o quão Tsuna amava — ainda ama e sempre amara — Kyoko. Ele sabia o quanto isso machucava o homem, como isso quebrava seu coração, sua alma. Ele sabia que seu Céu sorriria e desejaria a felicidade dela não importa o que, ele a aceitaria mesmo quando ela fosse embora.

Ryohei sabia.