Hydra estava tomando coragem havia dias para fazer um pedido especial aos seus pais, seu aniversário de 11 anos havia acontecido no dia anterior e sua carta de Hogwarts já havia chegado, estava tudo certo para que ela fosse para a mesma escola que seus pais frequentaram, mas esses não eram os planos que Hydra queria seguir, ela queria uma vida diferente para ela, não queria ser conhecida como mais uma Malfoy, ela havia lido, lido muito sobre escolas na Europa, sabia que Hogwarts não era a sua única opção, seu pai queria lhe enviar desde o começo para Durmstrang, mas isso Hydra também não queria, sua mãe havia pedido por favor para que seu pai não a enviasse para lá, mas existia mais uma opção, Beauxbatons, a escola da França, lá ela poderia ser livre, sabia francês muito bem, sua tutora a ensinou, só faltava convencer a seus pais e era isso que ela iria tentar fazer naquele momento.

— Com licença, posso entrar? – Perguntou Hydra timidamente, batendo na grande porta de madeira que dava para uma das salas da mansão aonde morava.

Uma voz fria e apavorante que costumava congelar Hydra por dentro respondeu.

— Entre. – Era Lúcio, ele estava em sua cadeira alta de veludo verde, com sua esposa, Narcisa sentada na sua frente brincando com Draco, o irmãozinho de Hydra de 8 anos, um menininho louro e magro que lia e ouvia atentamente enquanto sua mãe recitava trechos do seu livro preferido para ele e ele tentava ler junto.

Hydra tremeu e entrou na sala, ela puxava as mangas das vestes para esconder o resultado do seu último castigo recebido de seu pai, apenas 2 semanas atrás, algumas cicatrizes mágicas demoravam a sarar, mesmo tendo recebido do elfo doméstico da família, Dobby, algumas poções que seu pai mandou comprar para ajudar o processo de cura. Narcisa nunca ficou sabendo daquele castigo, ela quase nunca sabia e seu pai a obrigou a garantir que continuaria do mesmo jeito, esse era um dos motivos de ela querer tanto ir para longe de casa, era a terceira vez que seu pai lhe machucava e temia que não seria a última.

— Eu posso sentar? – Perguntou Hydra sem jeito, indo até o centro da sala.
— Mas é claro Hydra, que ideia. –Disse Narcisa achando graça na situação e acenando para que Hydra sentasse ao seu lado e de Draco. – Gostou da sua festinha ontem? – Perguntou ela alegremente.

— Sim, foi ótima mamãe, muito obrigada. – Respondeu Hydra.

— O que você quer? – Perguntou Lúcio friamente, cortando o assunto e fazendo com que Hydra olhasse assustada para ele.

— Eu andei pesquisando. – Disse Hydra com todo cuidado. – eu sei papai que o senhor não me quer por perto, – Lúcio olhou espantado e Narcisa também – não precisa fingir que não, eu sei que desde o começo queria me mandar para a Durmstrang e realmente não é um lugar que eu queira ir, mas nem Hogwarts!

— Do que você está falando, Hydra? Hogwarts é a escola que eu e seu pai frequentamos e é para onde você vai! – Disse Narcisa, mas Lúcio continuava olhando intrigado, deu para ver que a ideia de ter Hydra longe o agradava.
— E para onde você sugere que pudesse ir? – Perguntou ele.

— Beauxbatons, eles aceitam alunos daqui e é na França, eu sei falar francês muito bem. – Disse ela, sob protestos de Narcisa.

— Você vai para longe Hydra? – Perguntou seu irmãozinho de forma triste.

— Não o tempo todo – Disse Hydra segurando em sua mão.

— E você espera que eu te leve para perto daquela sua tutora? Para colocar mais ideias erradas na sua cabeça já tão... Confusa... – Disse Lúcio.

— Não, eu vou morar na escola, eu não vou ver a Madame Bouvier e nem seus amigos vão me ver, vai ser como se eu não existisse. – Disse Hydra.

— Não, Hydra, eu não quero você longe, isso é um absurdo! – Disse Narcisa meio desesperada com o rosto de aprovação de seu marido.

— E você não faria nenhuma cena nem nada? – Perguntou Lúcio, convencer ele estava sendo mais fácil do que Hydra esperava.

— Sim, nada papai, prometo, além do mais, se alguém perguntar, você pode dizer que eu estou querendo conhecer novas culturas e foi uma oportunidade que surgiu, que você queria me colocar em contato com novas pessoas.

— NÃO HDYRA! VOCÊ TEM UMA VAGA TE ESPERANDO EM HOGWARTS. – Gritou Narcisa.

— Não precisa de escândalos Narcisa, não é como se você não fosse ver a menina tanto quanto se ela estivesse em Hogwarts. – Disse Lúcio – E por quê não lhe enviar para a Durmstrang? Você fala Búlgaro muito bem também. – Perguntou Lúcio.

— Porque eu não quero ir para lá e as coisas seriam bem mais fáceis para nós dois se eu fosse para um lugar onde ambos ficassem satisfeitos. – Disse Hydra se enchendo de coragem.

Lúcio refletiu por um minuto enquanto Narcisa gritava que não iria aceitar isso e Draco apenas parecia estranhamente calado.

— Hydra, saia com o seu irmão e me deixe falar com a sua mãe, lhe respondo no jantar. – Disse Lúcio.
Hydra pegou seu irmãozinho pela mão e juntos saíram da sala ainda sob os berros de protesto de Narcisa.

— Por que você vai embora? – Perguntou Draco parecendo triste.

— Porque eu sou infeliz aqui, Draco. – Respondeu Hydra caminhando com o rapazinho de 8 anos pelo corredor.

— Por quê? – Perguntou ele.

— Porque o meu pai e o seu pai são pessoas muito diferentes... – Respondeu Hydra com tristeza.

— Mas como assim? O meu pai e o seu pai são a mesma pessoa! – Disse Draco surpreso.

— São por fora, não por dentro, mas deixa para lá...– Comentou Hydra.

— E você não gosta de mim? – Perguntou Draco agora com a voz de choro.

Hydra parou na frente do menino e abaixou para ficar do seu tamanho, ela era muito mais alta que o irmãozinho.

— Eu te amo, você é uma das pessoas que eu mais amo nesse mundo todo, mas eu juro que não é você que eu vou estar abandonando, a gente pode se escrever o tempo todo se você quiser. – Disse ela alisando seus cabelos quase brancos de tão loiros.

— Eu vou ficar sozinho? – Perguntou Draco.

— Isso nunca. – Disse ela o abraçando.
Hydra passou o resto do dia em seu quarto lendo com Draco, ele gostava que ela lesse para ele um trecho de um livro enquanto ele lia o outro para mostrar o quanto ele já sabia ler bem.

— Papai disse que sou muito mais inteligente que os sangue-ruins que podem estudar comigo – Disse Draco pomposo.

Hydra se incomodava muito com os preconceitos que Draco já estava aprendendo a ter desde cedo, mas pouco fazia diferença quando ela falava com ele que seu pai estava errado, Draco amava e seguia muito Lúcio para não acreditar nele.

— Você é inteligente, Draco, mas não é por ser sangue-puro, não ter sangue mágico não faz de ninguém pior que você, eu já te disse isso... – Hydra se arriscava muito, esse era o motivo de seu último castigo, ter contado a verdade ao seu irmãozinho.

— Eu sei, mas o papai já disse que você estava mentindo para brincar comigo...

— Draco, não conta para ele que eu te disse isso, por favor... – Pediu Hydra meio desesperada agora. – Vamos fazer disso nosso segredinho, ok?

— Ok! – Confirmou ele parecendo animado com a ideia de ter um segredo com Hydra.

Depois de algumas horas, o elfo doméstico malvestido entrou no quarto de Hydra batendo na porta.

— O mestre Lúcio espera a Mestra Hydra e o pequeno Mestre Draco na sala de jantar. – Disse o elfo amedrontado como sempre.

— SAI DAQUI SEU ELFO FEDIDO! – Gritou Draco.

— PARA DRACO! Não é assim que se trata o Dobby, ele só quer ajudar! – Disse Hydra enquanto o elfo tremia de medo mas parecia agradecido e emocionado com suas palavras – Obrigada Dobby, nós já vamos...

— Por que você fala assim com ele? Ele é só um elfo! – Disse Draco sem entender.

— Por que você fala assim com ele? Ele nunca te fez nada, ele sempre nos ajudou tanto... ele não merece ser mau tratado desse jeito Draco!

— Porque ele é um elfo doméstico e é assim que eles devem ser tratados, papai que me disse!

De novo, Hydra ficou enojada com as atitudes de Lúcio e o que ele ensinava para Draco.

Na sala de jantar, Hydra encontrou Narcisa e Lúcio já sentados, ele na cabeceira da mesa e ela ao seu lado direito, Draco se posicionou animado ao lado esquerdo do pai enquanto Hydra sentava ao lado esquerdo da mãe que parecia ter chorado recentemente.

— Nós chegamos a uma conclusão, Hydra. – Disse Lúcio enquanto Dobby o servia.

— E qual foi? – Perguntou Hydra com a resposta.

— Amanhã iremos enviar uma coruja para a Beauxbatons perguntando se aceitam a sua ida ao local, se a resposta for sim, você pode ir... – Disse Lúcio de forma seca e satisfeita ao mesmo tempo.

— Jura? – Perguntou Hydra com o rosto se iluminando de felicidade – Isso é maravilhoso! Obrigada papai, obrigada mamãe. – Disse ela, abraçando Narcisa ao seu lado, que parecia querer chorar novamente.

— Eu não estou satisfeita com isso Hydra, mas respeito a sua vontade. – Disse ela chorosa.

— Eu estou tão feliz! Como vai ser tudo? O material? A minha varinha? – Perguntou ela excitada.

— Calma, saberemos apenas depois da confirmação da escola, só lembre do que me prometeu, sem escândalos Hydra! – Disse Lúcio de forma ameaçadora.

— Sem escândalos papai... – Confirmou Hydra alegremente.

— A varinha podemos ir ao Olivaras, independente de como for, quero que compre sua varinha lá, assim como eu fiz... – Disse Narcisa ainda muito chorosa.

— Eu vou mamãe, sem problemas! – Disse ela.

— É claro que vai, você vai fazer tudo que mandarmos Hydra, teve sua vontade feita, agora é bom que faça por merecer... – Afirmou Lúcio de forma agressiva.

— Sim papai... – Disse Hydra enquanto pensava "só mais vinte e dois dias e eu saio daqui, só mais vinte e dois dias..."

— E o que você sabe dessa escola? – Perguntou Narcisa desgostosa.

— Eu sei que ela fica em algum lugar fresco da França, que é antiga e tem uma ótima reputação, acho que o resto aprenderei quando chegar lá. – Disse Hydra ainda muito alegre.

— E eles aceitam todo tipo de gente? – Perguntou Lúcio.

— De várias partes da Europa, sim... – Respondeu Hydra, sabendo que não era disso que ele se referia.

— Você sabe muito bem o que eu quero dizer, Hydra. – Disse Lúcio mais irritado.

— Sim papai, eles aceitam mestiços e nascidos trouxas. – Disse Hydra rapidamente.

— Bem, infelizmente Hogwarts também tem esse mau hábito... Quanto a isso, a Durmstrang ainda está muito a frente deles... – Disse Lúcio secamente.

— E você vai ficar bem morando tão longe de casa? – Perguntou Narcisa com os olhos tristes e vermelhos para a filha.

— Mamãe, eu vou voltar nas férias, eu só quero um pouquinho de distância durante o resto do ano... – Disse Hydra sem jeito, não queria ferir os sentimentos da mãe.