Annabeth acordou com o alto barulho do despertador, a garota estava atordoada ainda sentia seu braço queimando de dor e a marca das lágrimas que haviam escorrido por ontem pelo seu rosto. Fechou novamente os olhos e flashes da surra de ontem a noite invadiram sua cabeça, o jeito como seu pai gritava com ela, o jeito em como ele apertou seu braço... Abriu os olhos e novas lágrimas escorriam pelo rosto. Não - pensou a garota decidida - Não vou chorar, ele não merece minhas lágrimas tenho que ser forte!

Levantou-se da cama decidida a não pensar em Frederick e caminhou até o armário, separou um short jeans e uma blusa de manga comprida mais bem leve além do mais estava quente lá fora porém tinha que cobrir o enorme roxo que estava no braço. Foi até o banheiro e olhou-se no espelho, viu uma garota alta e magra com 16 anos, com o rosto inchado e os olhos vermelhos por causa do choro de ontem a noite deu mais uma espiada e viu a marca dos dedos de Frederick em sua pele branca. Fechou os olhos respirou fundo e entrou no chuveiro, ligou a água fria para dar alívio a dor em seu braço. Annabeth já tivera machucados o suficiente para saber que água gelada amenizava dores. Deixou a água escorrer pelo seu corpo sentindo-se mais leve, a mente ia se esvaziando aos poucos e um único pensamento invadiu sua cabeça, uma lembrança... Ela estava no parque, sua mãe estava lá... Athena segurava Annabeth no colo e a rodava com um enorme sorriso no rosto, Annie tinha três anos.

Lembrava-se muito bem daquele dia foi uma semana antes de sua mãe morrer, também lembra-se claramente de pedir a mãe no final daquele dia que nunca a abandonasse, Athena deixou uma lágrima escorrer por seu rosto e fez que sim com a cabeça um tanto insegura. Depois Athena deu a Annie um ursinho de pelúcia, pedindo que a filha nunca se esquecesse dela e Annabeth prometeu que nunca esqueceria. Desde a morte da mãe Annie ficava com seu ursinho todos os dias, o abraçava e lembrava de como sua mãe era carinhosa com ela, do cheiro inesquecível que ela tinha, de todo o amor que Athena sempre deu a ela. O ursinho esteve com Annabeth por toda a vida dela, estava abraçada a ele no dia que tomou a primeira surra do pai... Annabeth lembrasse que um dia quando tinha uns doze anos escondeu o ursinho no sótão da casa, para que Frederick não o pegasse e depois nunca mais voltou lá.

Respirando fundo, a garota limpou as lágrimas que caiam pelo seu rosto, se confundindo com a água gelada do chuveiro. Fechou a torneira e pegou a toalha se secou sem a menor pressa e se vestiu. Saiu do banheiro calçou o all star pegou a mochila desceu as escadas como de costume silenciosamente para que Frederick não acordasse pegou uma maçã e foi até a garagem onde havia escondido seu caderno na noite anterior, colocou dentro da mochila e seguiu seu caminho pela escola. Se pudesse teria ficado o dia todo no banho, tentando resgatar mais lembranças com sua mãe... Definitivamente a garota sentia muita falta dela, desejava todos os dias que o pai tivesse morrido no lugar de sua mãe que ao contrário dele era uma pessoa doce.

Um pouco longe dali um garoto de olhos verdes havia acabado de se levantar com muita dor de cabeça, se sentou na cama e passou a mão pelo rosto, flashes da noite anterior invadiram sua mente.

Flashback on

Eram altas horas da noite, Percy estava caminhando por um beco onde seu amigo Luke se encontrava com vários outros garotos alguns da escola e outros desconhecidos.

—Hey Percy! Fale-me já experimentou algo antes? – perguntou o loiro com uma garrafa de vodka na mão

—Não – respondeu Percy meio inseguro o garoto não sabia ao certo o que estava fazendo ali só queria esvaziar sua mente, queria parar de pensar em seus problemas já havia tentado várias vezes antes parar de pensar mas os pensamentos sempre o invadiam, sempre dominavam sua mente, o modo como seu pai havia lhe abandonado, a forma como sua mãe estava sempre ausente por causa do trabalho pois tinha que sustentá-lo sozinha...

—Bom, me fale o que você quer, bebida, drogas, cigarro? – perguntou Luke virando a garrafa de vodka na boca

—Eu quero algo que me deixe mais leve, que me faça esquecer meus pensamentos – disse Percy um pouco mais seguro

—Hum... Muitas coisas aqui fazem isso... Mas acho que a bebida pode ser um bom começo – disse o loiro – Adam traga uma garrafa de vodka aqui!

Um garoto que no mínimo era uns três anos mais velhos do que Percy e Luke foi até uma parte mais escura do beco atrás da garrafa que Luke pedira. O garoto tinha braços musculosos e tatuados, tinha uma expressão carrancuda no rosto, Adam com certeza era o tipo de cara que você não gostaria de se meter. Alguns minutos depois Adam voltou com uma garrafa igual a que Luke estava na mão e entregou a Percy.

—Espero que volte mais vezes Percy, até amanhã! – disse o loiro dando uns tapinhas nas costas do moreno

—Até amanhã Luke – disse Percy colocando a garrafa em baixo do casaco e indo em direção a sua casa.

Durante todo o caminho Percy ficou com dúvida se iria beber ou não a garrafa de vodka que Luke o havia dado. O moreno de olhos verdes queria mais do que tudo esquecer aqueles problemas que o atormentavam durante tanto tempo, porém ele sabia que se bebesse poderia ficar viciado e acabaria dando mais um problema a sua mãe.

Chegou em casa e subiu as escadas até o seu quarto já eram 23:00 da noite e sua mãe ainda não havia voltado do trabalho, a mãe de Percy era médica e muitas vezes passava a noite toda fora no hospital, sempre fazendo turnos extras...

Percy tirou a garrafa de baixo do casaco e deitou-se na cama, olhou bem para a bebida e logo seus pensamentos foram parar em seu pai, em sua mãe trabalhando, em sua mãe chorando pelos cantos da casa se lamentando porque o pai de Percy havia ido embora... Decidido o moreno abriu a garrafa e deu uma golada na bebida que rasgou sua garganta de tão forte que era, deu mais uma e mais uma logo começou a se sentir mais leve a visão ia ficando destorcida. Pela primeira vez desde que se entendia por gente Percy sentia-se bem, tomou mais um gole aproveitando aquela sensação que dominava seu corpo. Entornou a garrafa pela ultima vez e a fechou deitou-se na cama e apagou completamente.

Flashback off

A cabeça do moreno latejava e a luz que entrava pela janela não estava ajudando, Percy viu a garrafa pela metade jogada no chão. Levantou-se a pegou e guardou bem escondido no armário caminhou até o banheiro jogou um pouco de água no rosto, apoiou a mão na pia e abaixou a cabeça sentiu-se um pouco tonto e uma sensação de enjoou o invadiu, cambaleou até o vaso sanitário e vomitou tudo o que havia bebido ontem a noite. Entrou no chuveiro e ligou a água fria sentou-se no chão e deixou que a água gelada escorresse pelo seu corpo, a dor de cabeça havia amenizado um pouco ao contato com a água, mas ainda incomodava o garoto.

Saiu do chuveiro sentindo-se um pouco melhor pegou a toalha se enxugou colocou uma roupa qualquer pegou sua mochila desceu as escadas, pegou um sanduiche e saiu de casa a caminho da escola.

Annabeth ainda pensava em sua mãe quando chegou a escola, sentou-se em um banco mais afastado das pessoas e tirou o caderno de desenhos da mochila. Começou a pensar naquela lembrança que tivera no banho, o rosto da sua mãe aparecia claramente em sua mente, parecia tão real, havia cada mínimo detalhe como se a Athena em pessoa tivesse parada a sua frente. Quando olhou para baixou viu uma perfeita réplica de sua mãe desenhada igual a imagem que apareceu em sua mente poucos minutos atrás. Annie deu um enorme sorriso ao ver o desenho.

—É sua mãe? – perguntou uma voz atrás de Annie que se assustou um pouco mas logo reconheceu a voz como a de Thalia

—É sim – disse sorrindo a amiga que agora estava sentada ao seu lado

—Ela era linda, igual você Annie – falou a morena

—Obrigada – agradeceu Annabeth deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto, Thalia que percebeu a lágrima no rosto da amiga passou um braço pelo ombro da loira a abraçando.

—Ei qual sua primeira aula? – perguntou Annabeth desviando de assunto enquanto guardava o caderno na mochila

—É biologia e a sua? – perguntou a morena

—Também, vamos juntas? – perguntou a loira sorrindo

—Claro – disse retribuindo o sorriso e acompanhando a amiga até a sala de biologia.

Percy havia chegado à escola pouco tempo depois de Annabeth, logo foi-se juntar ao grupinho de populares. Rachel estava conversando com as amigas, falando alguma coisa sobre como ela era bonita. Percy achou aquela atitude totalmente ridícula, até porque Rachel nem era tão bonita assim havia várias outras garotas mais bonitas do que ela e Annabeth era uma delas pensou o garoto dando um sorrisinho de leve.

—Ei Pers posso falar com você? – perguntou Luke colocando um braço por volta do ombro de Percy

—Claro – disse o moreno e eles se afastaram um pouco dos amigos.

—Iai a vodka ajudou? – perguntou Luke

—Claro, eu botei tudo pra fora hoje de manhã, mas fez efeito ontem a noite – falou o moreno de olhos verdes

— A maioria bota pra fora mesmo, depois você se acostuma – falou Luke com um sorriso no rosto – Volte lá quando precisar de mais!

—Claro cara – disse o moreno meio hesitante – Vamos para a aula?

—Não eu vou matar o primeiro tempo não estou a fim de assistir aula – falou o loiro dando de ombros Percy assentiu e foi até a sala de biologia.

Achou que a sala estaria vazia pois o sinal ainda não havia tocado mas quando entrou encontrou duas garotas que conversavam e riam. Percy as reconheceu era Thalia e Annabeth, a morena estava de costas e Annabeth de frente para ele porém as duas não haviam percebido a presença do garoto... Annie tinha um sorriso perfeito no rosto o que foi o suficiente para fazer Percy ficar atordoado olhando para a loira. O sinal tocou e logo vários alunos entraram pela sala acordando do seu transe.

O professor entrou na sala com uma pasta na mão e uma mochila nas costas.

— Bom dia – disse o professor enquanto colocava a pasta na mesa e tirava à mochila das costas a turma murmurou um bom dia desanimado.

—Abram seus cadernos e copiem a instrução do trabalho que eu irei passar, por favor – pediu o professor

—Ai professor agente mal começou o ano e você já está passando trabalhos – reclamou Rachel com uma voz irritante

— Senhorita Dare o trabalho que eu irei pedir é uma simples revisão do ano passado – respondeu o professor enquanto começava a escrever no quadro as instruções.

Annabeth pela primeira vez em toda sua vida concordou com Rachel, eles mal haviam começado o ano e já estavam pedindo trabalhos! Pegou seu caderno e começou a copiar as instruções.

—Vejamos vocês preferem fazer os trabalhos em duplas ou individuas? – perguntou o professor assim que acabou de escrever as instruções e sentou-se na cadeira abrindo a pasta.

—Em dupla – respondeu a maioria dos alunos

—Pois bem, vou sortear as duplas – falou o professor

—Ah não professor deixa agente escolher – pediu Rachel

—Não, vou sortear as duplas assim podem conhecer pessoas novas! – disse o professor ainda com os olhos fixos na pasta

—Ah mais professor eu não quero conhecer pessoas novas! – insistiu Rachel

—Senhorita Dare pare de insistir! – falou o professor que estava começando a se irritar, Annabeth e Thalia seguraram para não rir.

—Muito bem, vejamos... – começou o professor – Senhorita La Rue com a Senhorita Grace, Senhor Rodrigues com a Senhorita Di Ângelo, senhorita Dare com o senhor Di Ângelo... – o professor parou por um segundo avaliando a pasta com uma expressão pensativa – Alguém, por favor, diga ao senhor Castellan que ele fará dupla com a senhorita Gardner, o Senhor Beckendorf com a senhorita Beauregard e por fim a Senhorita Chase com o Senhor Jackson. Não tentem trocar de dupla, pois eu não irei trocar! – disse o professor por fim

O resto do dia passou extremamente chato, Annabeth estava indo para casa ao lado de Percy combinando os dias para fazerem o trabalho de biologia.

—Hum... Então que dia podemos começar trabalho? – Percy perguntou

—Eu não sei quando você está disponível? – perguntou Annie

—Amanhã eu posso e você? – perguntou o moreno

—Também, depois da aula, aonde? – perguntou Annabeth

— Que tal no lago do central park? – sugeriu Percy

—Por mim tudo bem – falou Annie parando em frente a porta de casa sorrindo, Percy era um cara legal.

—Ótimo então até amanhã – disse o garoto retribuindo o sorriso e dando um beijo de despedida na bochecha de Annabeth que corou fortemente.

Percy deu as costas indo em direção a sua casa e sorrindo abertamente por Annie ter ficado corada, ela tinha uma pele quentinha pensou ou será que era só por causa da vergonha mesmo?

O moreno de olhos verdes entrou em casa e deu um pulo de susto.

—Mãe? – perguntou

— Oi filho que saudade, me desculpe, mas o hospital tem estado uma loucura! – disse Sally sorridente abraçando o filho, Percy sorriu e retribui o abraço da mãe – Vou jantar com você hoje!

—Jura? Que ótimo mãe, o que teremos para comer? – perguntou o moreno feliz

—Lasanha, sua preferida – disse Sally

—Oba! – disse Percy sorrindo – Amo sua lasanha!

Sally deu uma leve gargalhada e foi até a cozinha para começar a arrumar o jantar. Percy subiu as escadas fez seus deveres de casa e foi tomar um banho relaxante, estava muito feliz por sua mãe está em casa!

Desceu as escadas e encontrou sua mãe colocando a mesa.

—Deixa eu te ajudar! – o moreno começou a por a mesa e sua mãe trouxe a lasanha. Os dois haviam acabado de começar a comer e Sally contava ao filho alguns casos que ela resolveu no hospital. Percy não gostava muito de ficar ouvindo sua mãe falando sobre o trabalho mas pelo menos estava com ela ali, mas estava bom demais para ser verdade, Sally recebeu uma mensagem avisando que havia uma emergência, uma batida de carro e precisavam dela lá.

—Percy eu sinto muito, mas ouve uma batida e eu tenho que ir – disse Sally com a expressão triste

—Ah tudo bem – respondeu o garoto fingindo estar tudo bem, mas por dentro ele estava morrendo de raiva.

Sally saiu apressada de casa e assim que a mesma se foi Percy subiu até o quarto pegou a garrafa de vodka escondida no armário e a entornou, sentiu- se leve a raiva ia saindo do seu corpo, a mente começava a ficar mais limpa e a visão embaçada. Quando percebeu Percy já havia terminado a garrafa e ia deitando-se na cama.

A algumas casas dali uma garota loira de olhos acinzentados dormia abraçada com o ursinho que a mãe havia lhe dado antes de morrer. Hoje Frederick resolveu não bater em Annabeth já que estava muito cansado, por isso a garota teve sonhos tranqüilos diferente de quando ele a batia, quando ele a batia Annabeth sonhava com várias cenas dela mesma apanhando... Mas não hoje, hoje Annabeth sonhava com sua mãe, sonhava com todas as memórias que ela tinha dela…