Marcas - Dramione One Shot escrita por Mad Hatter


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Tive um tempinho e depois de alguma reflexão, acho que esse seria um bom começo pro casal Draco Malfoy e Hermione Granger.



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Era apenas mais um dia ruim depois de tantos dias ruins que todos os alunos já haviam passado. O pós- guerra havia mexido com todos nós, mas quando Draco Malfoy voltou a pisar no castelo a surpresa havia sido tamanha que nem mesmo ele parecia acreditar. Se mantinha recluso, calado. Só era visto pelos corredores durante a troca de aulas ou pouco antes do toque de recolher, voltando da biblioteca para o dormitório da Sonserina. Mas naquele dia específico, em que um resquício de sol havia iluminado o céu para beijar a pele dos estudantes, e todos haviam colocado camisetas mais por agradecimento que por calor, e ele surgiu no salão principal igualmente vestido, ele se tornou realmente o único assunto discutido nas mesas.

— Olhe pra ele... Andando por aí, mostrando suas cicatrizes assim... Parece até que se orgulha daquilo! – exclamou Ron, indignado com a suposta audácia do sonserino. Mas eu o entendia. O entendi no instante que percebi que ele não se esforçaria nem um pouco para esconder a marca negra, mesmo depois de todo sofrimento e dor que ela lhe havia causado.

— Devo esconder as minhas também? – perguntei a ele,em tom neutro, enquanto estirava o antebraço direito sobre a mesa. Não queria brigar, mas queria que ele notasse o quão injusto estava sendo. – Eu me orgulho do que eu sou. E mesmo que não me orgulhasse, esconder a cicatriz não apagaria as memórias de ninguém. Todos sabem que sou nascida trouxa, então porque me daria o trabalho de fingir que não?

Ron me encarou, engolindo em seco e baixando a cabeça, assentindo. Harry, no entanto, me encarou preocupado. Ele sabia que a guerra havia marcado a todos nós, mas ainda se preocupava comigo mais do que deveria. Gina apenas segurou minha mão sobre a mesa, em sinal de apoio, e logo voltamos ao silêncio comum do pós guerra.

Estava cansada. Mentalmente e fisicamente. Para falar a verdade, acho que nenhum de nós havia realmente superado o período de guerra, mas estávamos tão felizes por ainda termos uns aos outros que ignorávamos a destruição para podermos nos reconstruir aos poucos... Mas não Draco Malfoy.

Ele não tinha mais ninguém.

Lucius havia sido enviado a Azkaban.Narcisa era mantida presa em sua própria casa pelo Ministério, e só recebia visitas quando o Ministro se sentia caridoso o suficiente para permitir. Seus amigos simpatizantes de Voldemort haviam fugido de Hogwarts para sempre. Sua tia Andrômeda e Ted Lupin eram tudo o que ele tinha além da mãe, mas ele mantinha distância deles, segundo Harry, que ia ver o afilhado sempre que surgia uma oportunidade.

Malfoy se manteve tão calado e distante dos outros alunos que por vezes tinha que parar e lembrar que ele havia sobrevivido, e que o que rondava silencioso pelo castelo não era seu fantasma, mas um garoto que havia sido tão despedaçado que nem mesmo sua voz conseguia sair.

Nunca pensei que Draco Malfoy fosse digno de qualquer coisa minha além de asco. Mas parece que estava enganada, pois agora ele era a pessoa com quem eu mais gostaria de conversar no castelo. Não Ron, que podia se apoiar na família e nos amigos. Não Harry, que tinha Gina - e agora Ted – para tentar juntar seus pedaços. Não as aulas, não os livros...

Malfoy – Agora somente Draco. Não tinha nenhum amor por seu sobrenome -, o novo garoto que sobreviveu, continuava a apenas sobreviver.

Com sua recente mudança de atitude, sua popularidade caiu, e os sonserinos que antes o idolatravam, apenas conviviam com ele normalmente, senão o ignorando. E eu sabia disso.

Ele havia se tornado Hermione Granger, a primeiranista.

Por isso soube que ele precisava de alguém com quem conversar de verdade, antes que começasse a passar suas tardes chorando no banheiro. Quando dei por mim, já havia caminhado atrás dele até a biblioteca, que me acolhera em meus momentos de solidão por tanto tempo que nem me lembrava mais.

Talvez Hermione e Malfoy tivessem mais em comum do que eu pensava...

—Hey, Malfoy? – ele me olhou com desconfiança, parando seus movimentos, mas mantendo a compostura típica que havia dominado a anos. – Calma, não vim aqui discutir...

—É, eu sei. Você é mais do tipo que bate antes da discussão começar. – Ele voltou a arrumar os livros nas prateleiras, e depois de enfileirar três deles, suspirou, percebendo que eu ainda estava ali, e que não pretendia ir embora. – O que quer, Granger? Não tenho tempo para ouvir piadas sobre minha família, ou te explicar porque fiz o que fiz, nem nada do tipo...

— É, eu sei. – o interrompi, me sentando na mesa a sua frente. Não gostava de pensar no número de pessoa que realmente o procuraram por essas coisas – Só achei que precisava conversar... Vejo todos no castelo tentando juntar os prórpios pedaços, e progredindo nisso, mas você... Parece que desistiu de si mesmo.

—Acha que preciso de sua amizade para seguir em frente? – perguntou, em tom de escárnio. Cruzei os braços sobre o peito, endireitando a coluna na cadeira.

— Não, mas acho que seria um bom começo ter um amigo.

Ele sorriu, não mostrando os dentes, de forma tristonha. Abaixou a cabeça e a balançou, como se não acreditasse que eu, justo Hermione Granger, estava ali, lhe oferecendo ajuda, quando ninguém mais se daria esse trabalho. Acho que refletia sobre o quão fundo era o poço em que se encontrava, para que chegasse a esse ponto.

Ele levantou o rosto, finalmente me olhando nos olhos. Seus olhos eram de um azul tão claro que chegavam a ser cinza, e por um momento me perdi neles. Até que ele assentiu e se sentou na cadeira em frente a minha, visivelmente desconfortável com a situação, e com as mãos tão apertadas sobre a mesa que os nós de seus dedos estavam brancos.

— Tudo bem, então. – ele respirou fundo, e voltou a olhar para a mesa.

Estava intrigada com a situação tanto quanto ele, acredito. Quer dizer, ele jamais teria aceitado uma oferta de paz vinda de mim, uma sangue-ruim, antes da guerra. E então percebi que eu também não teria aceitado.

Estava julgando um Draco Malfoy que nem ao menos conhecia mais. Não faço ideia de quem é esse garoto sentado em minha frente, e nem como começar uma conversa com ele.

Começo a corar ao notar que o encarei em silêncio por mais tempo do que gostaria de admitir, e ele me encara de volta, esperando uma frase qualquer que dê início a uma conversa de verdade.

Respiro fundo, e percebo que nunca tentei conversar com garoto algum como estou prestes a fazer com ele.

— Você...

—Espero que não comece isso perguntando se estou bem, porque obviamente eu não estou, ou me dizendo que vai ficar tudo bem, porque obviamente não vai. – Ele me cortou, esticando suas costas no encosto da cadeira. – Isso seria um péssimo começo se quiser mesmo continuar com essa conversa, Granger.

Revirei os olhos para ele. Bem, pelo menos não era um Malfoy completamente desconhecido.

—Bem, se quiser começar então... Faça as honras. – disse, desafiante.

— Tudo bem, então. – ele começou, jogando os braços cruzados abaixo do peito também, deixando um pouco do desconforto de lado. - O Weasley gosta de você.

Corei fortemente com sua prepotência, me culpando por tê-lo desafiado a trazer um assunto a tona.

— Sei disso. – comecei, respirando fundo, juntando alguma coragem. - E, apesar de não ser da sua conta, nós nunca daríamos certo. Não somos... Compatíveis.

— Compatíveis... Escolha interessante de palavras, Granger. – Ele observou. Estava começando a ficar incomodada com seu olhar sobre o meu, e aparentemente o meu desconforto o fazia se sentir mais confortável, já que sabia que não era o único ali a se sentir assim.

— Porque não foi ver Andrômeda e Ted? – perguntei, tentando mudar de assunto, e o fazendo desviar os olhos de mim, mas antes que ele pudesse expressar seu descontentamento, continuei. – Ela sente sua falta, sabia? E Ted não pode crescer só com Harry de exemplo a se seguir.

—Acha que sou um bom exemplo a ser seguido?

— Não tente mudar de assunto. – pedi, percebendo o que ele estava tentando fazer.

— Não estou. – Afirmou. – Não fui vê-los exatamente por isso. Eu vou ficar longe até que percebam que eles mesmos deveriam manter distância de alguém como eu.

— Alguém como você? – indaguei, confusa.

— Vamos, Granger. Você sabe tão bem quanto eu que eu era o cachorrinho de Voldemort, para que ele chutasse e mandasse como quisesse, assim como meu pai. – Malfoy respondeu, encarando o teto. – Eu não consegui fugir, não consegui me negar a fazer as coisas que ele pedia que eu fizesse...Sou um fracassado, como meu pai. E a única diferença é que meu coração ainda está batendo.

— Essas são suas próprias palavras, ou foram os outros alunos que te convenceram disso? – Ele me encarou, pedindo que eu parasse de insistir com os olhos. – Não, Malfoy...

— Draco.

— Draco. – Disse, vencida. – O que te faz achar que não merece uma segunda chance, quando todos os outros conseguiram? – perguntei lentamente, olhando em seus olhos.

Draco simplesmente esticou o antebraço esquerdo sobre a mesa, olhando dele para mim.

A marca negra era uma marca que nunca seria apagada. Era magia negra, afinal de contas.

Estiquei o meu antebraço sobre a mesa pela segunda vez no dia. Os traços do punhal de Belatriz Lestrange ainda quimavam meu braço em meus pesadelos, riscando a palavra que havia ouvido desde os meus 11 anos.

SANGUE-RUIM.

Draco encarou minha cicatriz, e depois meu rosto, recolhendo seu braço de volta para seu colo, vencido.

— Sabe que não é a mesma coisa.

—É exatamente a mesma coisa. – Me estiquei sobre a mesa, alcançando seu braço e o estendendo novamente sobre a mesa, ao lado do meu, enquanto segurava sua mão. A marca agora era desbotada, e sabia que não poderia mais causar mal a nenhum de nós.

— Hermione, chega. – Ele pedi, tentando se soltar de mim, mas segurei firmemente sua mão.

— Andrômeda, Ted, sua mãe... Eles todos precisam de você. E ficar se culpando por uma escolha que você não teve não vai fazê-los se sentir melhor. Não fará você se sentir melhor. – Respirei fundo, e os olhos azuis de Draco ainda estavam nos meus, acompanhando minhas palavras e, agora, com lágrimas descansando nos cantos. – Você precisa seguir em frente. Seguir em frente de verdade. Por eles, e por você mesmo. – finalizei, soltando lentamente sua mão, percebendo que meus olhos também estavam molhados.

— Desculpe por isso. – Draco sussurrou, tocando minha cicatriz, enquanto a encarava com o olhar perdido.

Em algum lugar dentro de mim, achei espaço para um sorriso em meio as lágrimas.

— Sabe, vai ter que fazer melhor do que isso se quiser ser perdoado. Afinal, foram só 6 anos de tormento... – lembrei, divertida. E valeu a pena, pois consegui arrancar o sorriso verdadeiro que jamais vira da boca de Draco Malfoy. E após algum tempo rindo do quão pequenas as nossas desavenças pareciam agora, 6 anos depois, passamos o resto da tarde apenas nos encarando, com ambas as marcas sobre a mesa, num silêncio mútuo e agradável que acabou por selar nossa recente amizade.


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Notas finais do capítulo

Ficou bom, gnt? :)



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