A Lenda dos Dragões escrita por Hakiny


Capítulo 5
Amizade: Rumo ao Ocidente


Notas iniciais do capítulo

Os segredos de Karin e Chow estão sendo muito nocivos a relação deles com Ana.



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A luz alaranjada do sol de fim de tarde, faziam sombra nas duas silhuetas paradas no topo de um morro.

— Eu tenho sentimentos por você…

A voz suave da garota sussurrava com timidez. O rapaz  segurou as mãos da garota e levou uma delas até o seu peito.

— Meu coração está quase explodindo de felicidade, consegue sentir?

Antes que pudesse dizer alguma coisa, a garota sentiu sua garganta fechar. Desesperada ela se afastou do garoto e caiu de joelhos. Suas mãos clamavam por socorro, mas tudo o que ela pôde ver antes de perder a consciência foi um sorriso de satisfação no rosto de seu amado.

O sol ainda não havia nascido, mas Ana estava acordada.

— Malditos pesadelos.

A garota levava a mão ao rosto suado. Sua respiração estava muito alterada.

O sono já havia a deixado, mas a sensação real daquele pesadelo ainda permanecia.

Pensativa, ela caminhava pelo castelo, sem destino.

— Ana, está tudo bem?

A voz de Kishan fez o coração da sacerdotisa disparar.

— O senhor me assustou.

Ana sorria um pouco sem graça.

— Uma garota de branco perambulando pelo castelo durante a madrugada, não está entre os acontecimentos mais tranquilos de minhas insônias.

Kishan também sorriu. Nos sonhos de Ana, ela era a garota envenenada, mas o garoto ela não conhecia, pois as feições eram confusas, elementos típicos de um pesadelo. Olhando fixamente para Kishan, ela encontrava certa familiaridade.

— Não sabia que o senhor sofria com insônias.

Ana desconversava.

— Os acontecimentos, bem… são perturbadores! Afinal eu sou o rei, toda a responsabilidade recai sobre minhas costas.

A garota estalou os dedos, demonstrando certo nervosismo.

— Eu entendo.

Kishan observou o ato.

— Vejo que seu braço está melhor.

Ana escondeu o braço na manga com certo receio.

— É… está.

— Ana…

Kishan se aproximou da garota — Está tudo bem?

Ana parou por alguns segundos, mas acabou confessando.

— Tenho tido pesadelos todos os dias desde as notícias do dragão negro. Em quase todos eles há uma garota e um garoto. Eu me sinto no corpo da garota, mas sou incapaz de controlar minhas atitudes, e o garoto…

Ana mordia os lábios.

— Apesar de não o conhecer, ele me lembra o senhor.

Kishan permaneceu em silêncio. A garota sentiu seu rosto queimar, ela não conseguia descrever o quanto se arrependia de suas palavras. Perguntava a si mesmo como poderia ter coragem de dizer AO REI que estava tendo sonhos com ele. Naquele momento, Ana se sentiu vulgar.

— Eu sinto muito senhor, não tinha nada que dizer essas coisas. Eu não estou muito sensata ultimamente.

Ana se defendia, enquanto instintivamente se afastava do rei. Antes que pudesse tomar alguma distância, sentiu a mão de Kishan pousar sobre seu ombro.

— Ana, não tem com o que se preocupar. Todos estamos sofrendo com tudo isso, e cada um reage à sua maneira. A semelhança entre eu e o garoto, pode ter a ver com a influência atual que eu tenho nessa situação.

As palavras de Kishan eram acolhedoras, Ana se sentia tranquila por saber que o rei não via segundas intenções em sua confissão. O que não seria nem sequer estranho, já que muitas garotas de sua idade suspiravam pelo rei na cidade. Kishan beirava os 40 anos, mas aparentava muito menos, foi pai quando era jovem e o resultado foi uma filha adulta muito cedo. Mas para Ana essas coisas não importavam, tinha pouca idade quando foi adotada, e por ser criada com Karin, tinha por ele o respeito de uma filha. Qualquer sentimento adicional seria severamente repreendido por ela mesma.

— Provavelmente.

Ana disse em voz baixa.

— Ana, ouça…

Kishan se aproximava da garota e a olhava firme nos olhos — Se quiser falar comigo sobre os pesadelos, não hesite! Sei que Karin e Chow estão distantes depois do ocorrido, mas eu ainda estou aqui e posso te ouvir.

A fala de Kishan, fez uma certa irritação brotar no coração de Ana. Karin e Chow estavam estranhos, cochichavam pelos cantos, e sumiam durante a noite. Ela não sabia o que estava acontecendo, apenas tinha certeza de estar sendo excluída.

— Muito obrigada majestade.

Ana se curvou em reverência.

— Não sei por quê ainda carrega consigo essa formalidade toda, somos uma família.

Kishan deu alguns tapinhas nas costas de Ana e saiu sorrindo.

A garota permaneceu ali, silenciosa, debruçou-se sobre a sacada e observou o nascer do sol. A imagem daquela imensidão de luz se deitando sobre o oriente, era uma das coisas que ela mais prezava assistir, mas desde que assumiu o papel de sacerdotisa do santuário do castelo, seus horários não batiam com o evento diário.

Pequenos ruídos tomaram a atenção de Ana, induzida pela curiosidade, ela se aproximou de uma pilastra e espreitou a origem dos barulhos.

Lá estava Chow e Karin, andando em passos lentos até a cozinha, eles estavam cautelosos, como se escondessem algo. Ana teve vontade de gritá-los, perguntar o porquê dos segredinhos e o motivo de a tirarem disso, mas se calou, preferiu seguí-los na surdina.

— Não me sinto confortável em fazer coisas escondidas.

Já fora do castelo, Karin resmungava.

— Já é bem natural pra mim.

Chow dizia com certo orgulho.

— É, eu imagino.

A garota carregava rancor em suas palavras. O guerreiro respirou fundo toda a sua angústia.

— Não vai me perdoar?

— Não sei do que está falando.

A princesa acelerava os passos, com uma expressão de desdém.

— Não deve saber mesmo.

Chow dizia com sarcasmo. Depois de alguns quilômetros de caminhada, eles finalmente chegaram ao santuário da floresta.

— Mestre Zeng?

Chow chamava pelo monge enquanto andava pelo templo.

— Não acha que está meio cedo rapaz?

Zeng caminhava em direção ao guerreiro.

— Foi o melhor horário para sair do castelo sem ser notado Mestre.

Karin explicou.

— Eu trouxe biscoitos!

Chow esboçava um sorriso amarelo.

— Acha que pode me comprar com biscoitos, rapaz?

O velho o encarava.

— Não seria a primeira vez, mestre.

Chow mantinha o sorriso.

— Abusado.

Zeng arrancou a sacola das mãos do garoto e se afastou.

— Que falta de respeito com um monge!

Karin cochichou enquanto cutucava as costelas de Chow.

— Ele é um velho sem vergonha e interesseiro!

Chow também cochichava.

— QUEM ESTÁ AÍ?

A voz firme de Zeng estremeceu o santuário, os dois garotos se assustaram.

O silêncio prevaleceu por alguns segundos, até que o intruso saiu de seu esconderijo.

— Ana?

Karin demonstrava surpresa.

— O que fazem nesse santuário antigo?

Ana se aproximava de Chow e Karin.

— Por que nos seguiu?

Chow se mostrava irritado.

— Por que estão escondendo coisas de mim?

Ana também estava irritada.

— Não somos obrigados a te contar tudo o que acontece!

Chow retrucava. Ana se calou.

— Não fale assim com ela!

Karin se posicionou em defesa de Ana.

— Karin isso é necessário! Mestre Zeng, diga a ela que isso é importante.

Chow estava nervoso.

A voz de Chow parecia não chegar ao velho que mantinha seus olhos fixos em Ana. Em seu rosto carregava uma expressão que se alternava entre pavor e incredulidade.

— Mestre Zeng?

Zeng recuperou o controle de seu semblante, então calmamente se virou de costas para Chow e andou em direção aos seus aposentos.

— Cuide dela.

A porta se fechou.

— Qual o problema dele?

Chow estava confuso.

— Ana!

Do lado de fora do templo, Karin gritava pela sacerdotisa. Ana ignorava solenemente a amiga enquanto descia as escadas em silêncio.

— Me escuta!

A princesa havia alcançado a garota e segurou firme um de seus braços.

— No início achei que vocês dois finalmente haviam assumidos seus sentimentos e estavam juntos...

O rosto de Karin ficou vermelho instantaneamente com as palavras de Ana, ela continuou.

— … mas o que diabos um monge tem a ver com tudo isso?

— Ana, estamos tentando cuidar da situação que envolve o dragão negro.

Karin explicou.

— Por que fazem isso escondido do rei? Por que fazem isso escondido de mim?

— Por que foi a condição do monge!

Ana libertou o braço que ainda estava sob o domínio de Karin e sem falar mais nenhuma palavra, desceu as escadas correndo.

— ANA!

O grito de Karin foi em vão, pois a garota já havia se embrenhado na floresta.

Desanimada, a princesa se sentou em um degrau e apoiou a cabeça em seus joelhos.

— Está tudo bem?

Chow se sentou ao lado dela.

— Você foi um idiota lá dentro.

Karin sussurrava.

— Eu sei.

— Nós a magoamos com nossos segredos....

— sim

— Acha que ela será capaz de nos perdoar algum dia?

— Claro que vai! Eu te magoei com os meus segredos e você está aqui não está?

Chow sorriu para Karin.

No pátio do castelo, Ana corria sem se importar com o que estava a sua volta, com os olhos marejados de lágrimas, ela nem sequer sabia direito por onde estava indo até esbarrar em alguém.

— Está tudo bem, Ana?

Os olhos vermelhos da garota aos poucos se levantavam na direção do rosto do autor da voz.

— K-Kishan?

A garota não teve tempo de processar o que estava acontecendo, pois logo foi envolvida pelos braços do rei. Ela não resistiu, não se afastou ou tentou parecer forte, apenas se deixou ser cuidada e aceitou o conforto que aquele abraço proporcionou.

No santuário, Chow, Karin e Zeng, planejavam a viagem.

— Vocês precisam tomar cuidado com saqueadores! O ocidente é muito mais violento que aqui.

Zeng explicava.

— Eu nos manterei seguros, mestre.

Chow fazia uma referência respeitosa.

— Mestre, se por acaso encontrarmos os dragões, como os reconheceremos?

Karin perguntou.

— Primeiro, um dragão naturalmente é capaz de reconhecer o outro, apenas sentindo a sua presença, mas como vocês são novos nisso, tem algo que pode ajudar.

Zeng que estava sentado, se levantou e andou até Chow.

— Todo dragão possui um selo, facilmente confundido com uma marca de nascença em forma de dragão em algum lugar do corpo.

Zeng puxou a camisa de Chow, revelando uma marca em seu peito.

Karin ficou corada ao perceber os olhos de Zeng e Chow estavam fixados nela.

— A-A Ana já disse que tenho algo parecido nas costas.

Os dois garotos já haviam levado suas bagagens para o templo, e agora se preparavam para partir.

— Tomem cuidado.

Os dois dragões se depediram do velho monge e seguiram viagem, rumo ao desconhecido e assustador... ocidente.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem!
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Vocês não tem ideia do quanto isso me incentiva a continuar!



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